Annabeth correu dois quarteirões inteiros. Seus pulmões queimavam, nessa hora amaldiçoava a vida sedentária que levava. Mas a dor nas pernas não importava naquele momento, ela precisava achar Percy.

Sua mente fervia em questionamentos e ela não aguentaria esperar. Queria as respostas imediatas. Aquele cabeça de algas com certeza estaria na piscina e ali ela o confrontaria.

Não errou no julgamento e ao atravessar a porta do ginásio, esbaforida, pode ver Percy boiando na água, de olhos fechados.

—Percy. –Disse alto, entre uma respirada funda e outra. Anotou mentalmente que precisava começar a praticar exercícios, aquela corrida havia acabado com ela.

—Annie? –Percy achou que havia imaginado e ao levantar a cabeça e ver a figura loira descabelada, vermelha e com um avental marrom precisou esfregar os olhos para confirmar o que via.

—Precisamos... conversar. –Disse, séria, mas ainda ofegante.

—Hm, claro. –Percy tremeu internamente. –Só vou me trocar... –Fez menção de sair da piscina.

—NÃO. –Annie foi incisiva. –Fique ai mesmo, Perseu. –Firme, bateu o pé e cruzou os braços. –Não vamos perder tempo, eu preciso de respostas, agora.

—O que aconteceu? –Percy preocupou-se, realmente. Ele quase podia ver as engrenagens na cabeça dela trabalhando a todo o vapor.

—Você bateu no Ethan? –Annie respirou fundo antes de perguntar aquilo. Tinha medo da resposta.

—Sim. –Percy foi sincero, não adiantaria mentir naquela situação.

—Por que? –A pergunta não passou de um sussurro.

O garoto olhou o próprio reflexo na agua, refletindo sobre o que falaria. Valia a pena contar tudo a ela?

—Ele mereceu. –Foi simplista em seu resposta.

—Nada se revolve com violência. –Annie bateu o pé.

—Algumas lições doem mais que outras. –Ele deu ombros.

—Não pode simplesmente supor que alguém merece uma surra.

—Ele fez algo ruim e eu me exaltei, quando vi já estava em cima dele. –Percy apertou o próprio punho no alto e Annie pode notar as juntas machucadas.

—Você se machucou também? –Foi impossível não questionar.

—Está preocupada comigo? –Percy a olhou cheio de expectativas.

—Se você não tiver machucado... –O olhou sorrindo. –Eu mesma faço isso. Como pode bater no meu colega de trabalho?

—Está defendendo ele? –Percy não pode deixar de exaltar-se. Bateu os próprios braços na agua, frustrado. –Ele te desrespeitou, te tratou como um objeto. Agiu como se fosse um pedaço de carne que ele gostaria de comer. Eu bati nele para te defender a agora você vai brigar comigo?

Annie descruzou os próprios braços, era essa confissão que estava esperando. Ethan havia dito que Percy fez o que fez para defende-la mas ela precisava ouvir dele.

—E por que é tão importante me defender? –Annie continuou mantendo a pose, iria arrancar tudo dele.

—Você ainda não entende, né?! –A raiva passou e uma frustração tomou conta dele.

—Você poderia me explicar. –A loira se aproximou mais ainda da borda da piscina.

—Eu achei que a inteligente aqui fosse você. –Ele a olhou profundamente.

—Sempre há mais para aprender. –Annie deu de ombros.

—Eu sei que você me acha lerdo e talvez eu seja mesmo.... –Percy respirou fundo. –Mas eu sei que você sabe o que eu sinto. Por que você está fugindo disso?

Annie olhou para os próprios pés. Percy era esperto, afinal. Ponderou, nunca havia se aberto verdadeiramente com ninguém, contado seus medos mais profundos. Olhou fundo nos olhos verdes do garoto, cheios de expectativas e medos. Respirou pesadamente.

—Minha mãe me abandonou. –Annie respondeu. –Largou meu pai e a mim, disse que tudo aquilo foi um erro, que amor não enche a barriga nem traz felicidade. –A dor de dizer aquilo era real. –Hoje ela é, provavelmente, a arquiteta mais bem sucedida do estado enquanto eu e meu pai racionamos o almoço para ter a janta.

—Annie, você não precisa... –Percy tentou dizer que ela não precisava contar aquilo, quis ir até ela mas a menina fez um sinal de pare com as mãos.

—Por favor, só,,, só me deixe contar tudo. Meu pai nunca mais foi o mesmo, o amor destruiu tudo de bom que ele tinha, ele se tornou só uma sombra do que foi. –Os olhos cinzas marejaram mas ela manteve o tom de voz firme. –Eu nunca admiti isso mas tenho medo de viver o mesmo, de me apaixonar, amar e ser abandonada. Eu não aguentaria viver isso de novo. Eu demorei anos ate me reconstruir e não aguentaria ser quebrada de novo. Percy, eu não posso amar ninguém porque é amar é permitir alguém ter o poder de te destruir.

O ginásio estava em completo silêncio. Annie encarava Percy. Cinza no verde, verde no cinza.

—Você é tão... –Annie esperou que Percy a chamasse de “insensível” ou “megera”. –Burra.

—O que? –Não esperava por aquele termo, no entanto.

—Como pode dizer que o amor destruiu tudo que seu pai tinha quando o fruto dele foi você? Você é o grande amor da vida do seu pai. –Percy era firme em suas palavras. –Você acha que é muito inteligente e se quer nota isso. Sua mãe pode ter quebrado ele mas quem você acha que o manteve inteiro, de pé? Foi você! O amor dele por você o mantem vivo. Os sacrifícios que ele faz por você, tudo isso mantem ele feliz. Pode apostar que toda a noite, quando ele deita na cama ele tem a certeza que a vida dele está completa porque você existe nela. Acha que sua mãe é bem sucedida? Ela pode ter dinheiro e uma carreira mas isso nem de longe é o que importa na vida. O amor é o que importa, Annabeth. Quando ela estiver sozinha, triste, acha que o diploma dela vai a abraçar e dizer que tudo ficará bem? Quando ela chorar, as notas de 100 vão limpar os olhos dela e a consolarem? A felicidade só é completa quando existem pessoas que você ama e com quem você pode dividir o que é bom. Fomos feitos de amor e feitos para amar.

Annie nunca tinha visto Percy tão sério, falando com tanta propriedade.

—Você diz que não pode amar por medo de ser destruída. Como vai viver com esse medo? –Percy parecia triste. –Eu sei que existe a possibilidade de machucar-se quando ama mas não existe nada que traga mais alegria. E quer saber? Eu amo você, Annabeth.

Annie ofegou, não esperava por aquilo.

—Amar você me trouxe muitas coisas. Me tornou alguém melhor. Me trouxe alegria. Me trouxe bons momentos. Me trouxe dor também, mas quem liga? Ser machucado por você é quase uma honra. –Tentou fazer graça. –Quando eu vi você e o Ethan no cinema me machucou muito e a primeira coisa que eu quis foi machucar você de volta, por isso sai com a Febe. –Percy confessou. –Mas aprendi minha lição, fogo cruzado só nos queima mais. Nunca mais farei isso, amadureci. –Botou a mão no peito como se prometesse. –Te amar é como pular de um avião sem a certeza que tenho um paraquedas. A vista é ótima, a sensação indescritível mas tenho um certo medo. Me diz, Annabeth, você vai me dar o paraquedas?

Annabeth estava sem palavras. Não sabia nem o que pensar. Aquele era Percy Jackson, o atleta bobo que ela ensinava, sério, a olhando com uma intensidade de mil sóis, dizendo que amava num discurso que ela só vira em livros. A sua boca abriu mas nenhum som saiu dali.

—Não precisa me responder agora. –Percy sorriu, da maneira mais sincera que pode. –Meu amor não é frágil como eu já pensei que fosse. –Soltou uma risada. –Eu vou estar aqui, te esperando. Tire seu tempo e quando estiver pronta... Você pode segurar minha mão e aproveitar a queda livre comigo.

Percy nadou ate a borda e pegou impulso, saindo dela. Parou na frente de Annabeth.

—Talvez eu tenha exagerado um pouco. –Coçou a nuca. –Nunca me declarei antes. –Riu de novo. –Mas saiba que cada palavra que eu disse foi sincera. Passei muitas noites em claro ensaiado um discurso mas você me pegou de surpresa aqui então falei com o coração. Eu não sei como você se sente e, por favor, não se sinta pressionada a nada, eu só precisei falar tudo que estava dentro de mim.

Percy segurou a mão enfaixada dela e deixou um beijo sobre as faixas.

—Não teve um segundo do meu dia que eu não me senti culpado por ter deixado meu orgulho falar mais alto e não ter te ouvido nesse dia. Por isso eu decidi deixa-lo de lado, nada vai falar mais alto que o meu amor por você, Annabeth. –Ele sorriu. –Eu sei que você não aprova violência e sinto muito por ter machucado o Ethan, mas foi mais forte do que eu.

Annie continuava em silêncio, embasbacada. Mas conseguiu sorrir.

—Que fique claro, eu amo você, Annabeth Chase. E estou esperando por você. Me dê a chance de lutar por você.

Percy sorriu a última vez e deu as costas a loira, indo ate o vestiário, colocar sua roupa. Annie sussurrou mas ele não podia a ouvir “Você não precisa lutar, meu coração já é seu”.