Desajustadas escrita por KitKatie


Capítulo 35
Torre


Notas iniciais do capítulo

Olá! Eu não tenho palavras para agradecer vocês, serio! Eu não imaginava cativar novos leitores a essa altura e fui surpreendida com uma recomendação, muito obrigada a Lady K, suas palavras aqueceram meu coração e me fizeram muito feliz!

O capitulo de hoje poderia chamar-se "A emancipação de Thalia", boa leitura!



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Silena não andava pelos corredores da escola, ela simplesmente flutuava. Sorrindo boba, só conseguia pensar em Charles. Ele era tão perfeito! Era até bobo, sentia-se como uma pré-adolescente no auge do primeiro amor, mas não podia evitar, o garoto veio brilhante e quente, como um raio de sol que termina a noite escura. Silena sentia que podia brilhar novamente com Charles ao seu lado.

Ele a buscou pontualmente e foi mais do que um cavalheiro, andou pelo lado da rua, ajudou-a desviar de buracos e até abriu a porta do armário dela. Conversaram sobre amenidades, coisinhas tão simples mas que a fizeram tão bem. Charles era doce e genuinamente interessado, mesmo quando Silena começou a falar sobre passarelas e coisas da moda, ele manteve toda a atenção em si, apreciando o que ela falava. Aquilo era tão incrível.

Nem sentiu a manhã passar, as aulas voaram e tudo que ela pensava era em rever Charles no almoço. Saiu da sala apressada e procurou pelo sorriso que tanto a encantava. No refeitório, numa mesa sozinho, Charles acenou para a garota, que foi quase correndo até ele.

—Charles, oi! Como foi sua manhã? –Sentou-se, sorrindo.

—Olá, Silena. Ótima e a sua? –Ele sorriu e esticou a ela uma bandeja. –Peguei o seu almoço, espero que não se importe.

—Ah, não, imagina. –O sorriso de Silena morreu lentamente, enquanto remexia no macarrão com queijo de seu prato. –Muito gentil de sua parte.

—O que foi? –O garoto notou a mudança de expressão e preocupou-se. –Não gosta de macarrão com queijo?

—Hum.... Não me dou bem como lactose. –Foi a primeira frase que passou por sua cabeça. –Vou ficar somente com a maça hoje. –Pegou a fruta, que deveria ser a sobremesa, e deu uma mordida pequena.

—Deveria comer melhor, Si, quer que eu compre algo na cantina para você? –Charles já estava levantando mas sentou-se novamente ao sentir a mão quente da menina em seu braço.

—Não se preocupe, Charlie. –Sorriu, tranquilizadora. –Tenho uma seção de fotos na sexta, divulgação de uma loja do shopping, vou manter a dieta bem restrita nos próximos dias. –Soltou uma risada, mas no fundo suas entranhas reviravam-se, precisava perder peso até o dia.

—Você é mais do que perfeita. –Charles a olhava nos olhos enquanto dizia aquilo, era uma certeza vibrante. Dentro de si, Silena ser a coisa perfeita que ele já viu era tão certo quanto o céu azul.

Silena não soube o que dizer, o coração disparou. Já ouvirá muitas vezes essa frase – de fotógrafos, agenciadores, seu pai, suas amigas antigas e meninos – mas nunca alguém disse com tamanha intensidade. Charles a fazia sentir-se linda e Silena nunca conseguiria expressar o quão grata era por isso.

—Eu... posso ir com você, sexta...? –Charles disse, após umas garfadas de macarrão, soou nervoso.

—Eu adoraria que fosse comigo. –Silena empolgou-se e passou a contar sobre os detalhes de sua seção. Discretamente, deixou a maçã no seu colo e não tocou mais nela.

E, numa mesa perto dali, Annie, Thalia e Katie, sorriam olhando o casal. As três estavam genuinamente felizes pela amiga. Annie não contou sobre o acontecimento com Percy pela manhã, não queria envolver as amigas em seus problemas e agradeceu aos deuses por não ter esbarrado nele em nenhum momento.

Katie estava aérea, pensava em Travis. Sua mente estava num looping, havia mesmo sido o Stoll a lhe mandar flores? Por que ele faria aquilo? Katie não era do tipo que julgava por aparência mas definitivamente flores não faziam o estilo do loiro.

E Thalia remexia em seu macarrão, sem ânimo. Uma sensação de vazio dentro de si. Odiava aquilo. Estava junto de meninas incríveis e ainda assim, de algum jeito auto-sabotativo, sentia-se sozinha.

—Vou fumar um lá fora. –Levantou-se e não deu tempo para as amigas reclamarem. Notou que elas estavam em seus próprios mundos e não queria as incomodar com paranoias infundadas.

—Punk! –A voz de Luke soou alta, a chamando.

Thalia suspirou e abaixou a cabeça, andando mais rápido. Não queria evitar o menino, mas ao ouvir a voz dele um turbilhão tomou conta de sua cabeça. A noite anterior bateu com força em seu coração.

“Eu estou amando” aquela frase dele fez todo o corpo de Thalia pesar. Lembrou-a do porquê fugirá tanto tempo das pessoas. Apegar-se e amar, duas coisas inevitáveis ao criar relações e elas levavam a um único caminho conhecido por ela: perder. Thalia não queria machucar-se mais.

—Está indo fumar? –Luke tinha o andar ligeiro e logo a alcançou. Thalia respirou fundo e mirou os olhos azuis do garoto. Aquele olhar animado, foi preciso somente alguns segundo de contato visual para a menina abandonar todas aquelas paranoias.

Aquele era seu Luke, o garoto que sempre aparecia quando ela precisava, que a animava e cuidava de si. Eles haviam criado laços, compartilhado segredos, trocado confissões pessoais. Thalia não podia dar as costas a isso e fingir que nada daquilo existia, era tarde para fugir do laço ali criado. Ela já estava apegada e já estava amando.

E mesmo que aquela parte machucada de seu coração, marcada pelo abandono, a mandasse gritar com Luke, mandando-o afastar-se, a outra parte de seus sentimentos, aqueles que ansiavam por um recomeço, a diziam para beija-lo.

Um turbilhão dentro dela. O mundo pesou em suas costas. Há quanto tempo guardava tudo dentro de si? A muralha que havia construído a estava sufocando.

—Thalia? –Luke assustou-se ao ver os vibrantes olhos da menina cheios de lagrimas.

—Dia difícil... –Thalia sussurrou. Nada havia acontecido, seu dia estava bom mas ela sentia-se mal.

Simplesmente foi até Luke e o abraçou o mais forte que pode. Ali, na saída do refeitório, com um cheiro de queijo e risada de adolescentes ao fundo, Thalia chegou a conclusão mais significativa de sua vida: era hora de sair de dentro da fortaleza. Deixara as amigas entrarem mas isso não era suficiente, ela queria sair, ver o mundo, viver intensamente. Machucar-se era parte de viver e Thalia estava disposta a assumir as consequências de finalmente viver. Perdeu tanto tempo com medo da vida que sequer existia.

Luke, a principio, assustou-se com Thalia chorando em seu peito, mas, mais do que depressa, a abraçou. Nada disse, ela não parecia precisar de palavras e sim de ações. Beijou os cabelos negros e prometeu-a: Sempre estaria ali para ela.

Thalia não seria mais a princesa da torre. Isolada do mundo por escolha, ela era a princesa e o dragão, ao mesmo tempo. Era hora de ver o mundo.

Sorriu e levantou o olhar a Luke. Naqueles olhos encontrou o conforto que precisava. Nunca deu credito a frases clichês mas naquele momento entendeu o “Um abraço pode colocar todos os caquinhos no lugar”. Thalia não sentia-se mais sozinha. Tinha amigas incríveis e Luke. Que se foda a torre, Thalia iria até o mundo.

Estava cansada de pensar, passava a maior parte do tempo pensando, enchendo-se de paranoia, machucando a si mesma com ideias. Não queria mais pensar, iria agir.

Passou o braço por trás da cabeça de Luke e o puxou, unindo os lábios num beijo incalculado e totalmente certo. O mundo era, definitivamente, melhor do que a torre.


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Notas finais do capítulo

Esse capitulo foi muito importante! Finalmente Thalia decidiu abandonar o próprio escudo!
Espero que tenham gostado, até a próxima!