" É Você"

 Essas palavras chegaram aos ouvidos da doutora e mesmo sem nenhuma explicação adicional,ela sabia o que significavam. Ele sabia.. E ela sabia que ele o fez. O segredo havia sido revelado. Não existia um motivo para esconder agora; não havia nem como. Ela poderia mentir, inventar uma desculpa ou qualquer coisa do tipo, mas ela não corromperia esse momento com uma, isso seria apenas... Errado.

 No momento que ele a beijou seu mundo inteiro foi virado de cabeça pra baixo. Tudo que uma vez foi cinza, parecia gritar em cores vibrantes agora. Como se todas as peças de um quebra cabeça fossem finalmente reunidas e revelassem algo extraordinário. Por alguns segundos, ela soube como se sentia ser finalmente; verdadeiramente completa.

  Ainda sentindo os efeitos do beijo a pouco tempo recebido, ela queria mais. No momento que seus lábios tocaram os lábios de sua alma gêmea, ela estava viciada. Ela precisava sentir isso de novo, e de novo, e de novo. Seu coração, seu corpo, sua alma, todos eles estavam gritando por Barry Allen, e pela primeira vez em um longo tempo, ela apenas escutou...Escutou e se permitiu ser feliz.

 Cait então apenas balançou sua cabeça em concordância, libertando a verdade das corrente que ela mesma tinha colocado.

 Tão de repente como tudo começou, Barry se afastou dela. Confusão tomando seus pensamentos, enquanto a bolha mágica que havia se formado em torno deles foi quebrada, fazendo-a sentir o peso de voltar a realidade.

 Enquanto os braços de Barry estavam em volta de sua cintura e suas respirações tão próximas que conseguiria beija-lo novamente com apenas um pequeno movimento,  sua mente se encontrou um pouco nublada, não processando o que havia acontecido com total clareza.

 Barry Allen havia beijado-a; descoberto a verdade, e agora não parecia muito feliz sobre isso.

Ele ficou lá, encarando-a a poucos passos dela, enquanto sua mente parecia tentar achar sentido em tudo aquilo.

Caitlin não conseguia compreender claramente todas as emoções que invadiram seu ser. Talvez pelo fato de que nem ele conseguia. Ela sentiu alegria, tristeza, raiva, decepção, amor, confusão, e tantas outras, todas ao mesmo tempo. Isso sem contar suas proprias emoções.

 — Você sabia! Todo esse tempo...Você sabia e... — Barry não conseguia colocar em palavras tudo que estava se passando em sua cabeça.

— Barry... Eu — Ela não sabia como começar a explicar; pânico tomando conta de sua voz.

— Apenas não — As palavras saíram duras de sua boca, e ele simplesmente se virou e saiu.

 Barry não queria ouvi-la naquele momento...Não queria sequer vê-la. Ele precisava de tempo para entender... Entender o porquê

 Assim que o velocista deixou aquela sala, foi como se o chão fosse tirado debaixo dos pés da doutora. Lagrimas ameaçaram cair de seus olhos. As emoções do Allen ainda eram intensas o suficiente para que ela pudesse senti-las, e não era nada boas. Ele estava magoado, e ela sabia qual era a causa...Ela era. Será que tinha acabado de arruinar tudo? Tinha acabado de perder uma das coisas mais maravilhosas de sua vida, minutos após finalmente consegui-la? E se fosse esse o caso, o que mais doía era que a culpa seria dela. Não dele; não do universo...Dela. Ela escondeu a verdade, ela tentou mantê-lo longe... Ela. E por quê? Bom...Ela sabia o porquê, apenas não queria admiti-lo ainda.

 Ela não percebeu que havia começado a chorar, até que Cisco apareceu em sua frente com um semblante preocupado.

 — Caitlin, o que aconteceu?

 Ela não respondeu, apenas o abraçou forte. Ela precisava de um amigo agora.             

 O engenheiro tinha ido aquela sala a procura de Barry, mas em vez disso encontrou sua amiga naquele estado. Ela não sabia o que estava acontecendo, estava totalmente alheio a situação. A doutora Snow não era muito uma pessoa de abraços. Pelo menos ele não se lembrava quando foi a última vez que ela havia o abraçado; talvez nunca. E agora ela não estava só fazendo isso, como chorando em seu ombro, e isso era no mínimo incomum, pois se tinha algo que Caitlin Snow normalmente também não fazia, era externalizar seus sentimentos na frente dos outros.

 Cisco deu tapinhas de leve em suas costas na esperança de que isso de alguma forma ajudasse. Consolar pessoas chorando não era exatamente uma habilidade que exercia com maestria.

— Esta tudo bem — Ele tentou conforta-la, mesmo sem saber exatamente do que.

— Não, não esta! Eu... Acho que estraguei tudo.

 Cisco não disse mais nada, apenas esperou que ela desabafasse, se é que ela o faria.

— Eu escondi algo e ele tinha o direito de saber. Eu devia ter sido sincera. Explicado tudo do jeito que era. Ele iria entender. Mas eu menti,pois apesar do que dizem, uma omissão é sim um tipo de mentira. Eu menti, e agora eu acho que posso ter jogado minha felicidade pela janela.

— Oh Cait... — Não haviam palavras a serem ditas.

 A doutora se permitiu desmontar por mais algum tempo, até que percebeu o quão patética devia parecer. Nada havia sido descidido ainda. Barry estava magoado, mas ainda havia uma chance. Os dois precisavam conversar e ela tinha muito o que explicar. Não havia acabado... Não ainda.

 Ela então se desvencilhou do abraço, secou suas lagrimas e assumiu sua postura firme de sempre.

— Desculpe-me. — Ela pediu

— Não precisa. É pra isso que servem os amigos, não são?

 A doutora deu um pequeno sorriso e foi em direção ao banheiro para lavar o rosto e se recompor.

 Ela esperava que ainda tivesse uma chance, que Barry a escutasse e entendesse seus motivos. Que ele pudesse perdoa-la por esconder aquela verdade tão importante, pois... Droga, ela o amava com tudo  que tinha. Ele era a outra parte dela, a parte faltando, e ela simplesmente não podia deixa-lo lhe escapar pelos dedos. Ela se rendeu á seus sentimentos, á seu coração, e não iria de dar por vencida agora.

 Caitlin Snow agora sabia que o que diziam era verdade. Que o que todas as histórias sobre almas gêmeas eram verdade. Ela havia provado o gosto de se sentir finalmente completa, e não estava desistindo disso. Não estava desistindo dele.