— Você tá tentando ser legal Vega? – Perguntou num tom irônico – Porque eu não preciso da sua ajuda – Fez uma careta raivosa e voltou a tirar e enfiar as tesouras da porta de seu armário. Tori não deixou de notar o quanto elas estavam cravadas no metal, Jade era uma garota muito forte e isso a assustava às vezes.

— Eu nunca disse que precisava, mas talvez você queira — Por um segundo ela pareceu ficar sem reação, não esperava que a garota com quem ela mais implicava se oferecesse para passar uma noite de sexta a ajudando em sua peça.

— Ótimo, mas não se atrase – Tori lançou um sorriso que ia de orelha a orelha para a gótica – E não me olha com essa cara, eu ainda não gosto de você.

—Ah, qual é! Eu sou a única pessoa que te ofereceu ajuda, você podia tentar ser legal pra variar – A morena disse quase como se estivesse pedindo. Já que ia perder sua noite desempacotando coisas para uma peça que ela não tinha nada haver, esperava pelo menos que as duas não brigassem tanto.

—Tanto faz – Jade começou a se afastar, mas de repente virou quando percebeu que Tori ainda estava parada no mesmo lugar – Você não vem Vega? – A morena encarou confusa – O sinal já bateu. Sikowitz – A gótica falou como se fosse óbvio. As duas começaram a andar lado a lado e foram para a sala. Tori sempre considerou Sikowitz seu professor favorito, não só pelas aulas de atuação, mas porque também gostava de seu jeito estranho. Ela se lembra do seu primeiro dia, quando deu dinheiro pra ele achando que era um mendigo, ou em como ela ficou confusa quando ele disse que água de coco o dava visões. As duas chegaram à sala a tempo, e cada uma sentou no lugar que estava acostumada. Estavam todos conversando quando de repente a musica de Missão Impossível começou a tocar e Sikowitz entrou pela janela dando uma cambalhota e parando em pé.

—Trilhas sonoras – Ele falou e a classe pereceu um pouco confusa – Elas fazem toda a diferença, elas podem marcar um filme por toda a eternidade. Afinal, quem não se lembra da musica de Psicose quando Marion Crane é assassinada no banho? – Todos na sala concordaram – Elas dão tom às cenas, e tornam as narrativas mais ricas e densas; Você já sabe o que vai acontecer apenas ouvindo as musicas. Por exemplo, sem a grande trilha de Missão Impossível eu provavelmente ia parecer só um louco pulando uma janela.

—Mas você é um louco pulando uma janela cara – Rex, o fantoche que não gostava de ser chamado de fantoche disse, na mesma hora Jade arremessou um caderno na cabeça dele.

—Ei! – Robbie gritou – Por que você fez isso?

—Porque seu boneco é estúpido – Os dois estavam prestes a começar uma discussão (de novo), mas Andre decidiu entrar no meio:

—Aí, tem como vocês dois pararem de brigar? A gente tá falando de música aqui.

— Exatamente Andre – Sikowitz retomou o controle da aula – Para a próxima tarefa de vocês ninguém terá que atuar, mas isso não significa que não esteja ligada a atuação. As musicas podem dizer tanto quanto os atores em cena – Ele se virou e pegou alguns papéis em sua mesa – Eu dividi a turma em duplas e cada uma vai ter que compor uma musica de acordo com o gênero de filme que vocês ganharem. Cat e Beck, comédia – “Yesss!” Cat gritou comemorando quase sufocando Beck com seu abraço.

—Eu adoro comédias – Ela disse pulando – Meu irmão uma vez atuou em uma peça de comédia, ele era uma velinha e aí... – Começou a rir – Aí ele... ele... – A ruiva começou a rolar no chão de tanto rir sem conseguir completar a frase. Sikowitz ignorou, como sempre fazia, e continuou falando.

— Andre e Jade, suspense – Andre pareceu um pouco preocupado por fazer um trabalho com a gótica, mas ela parecia... feliz? – E não faça muito assustador Jade, não queremos repetir o que aconteceu na sua segunda audição para essa escola – Quando a Hollywood Arts mudou de diretor todos foram obrigados a fazerem novos testes. Jade fez um filme tão assustador que todos os jurados saíram da sala gritando com medo. A garota tinha talento, isso ninguém podia negar – Dave e Sinjin, aventura, e finalmente Tori e Robbie, romance.

— É isso aí cara, romance com a gatinha – Rex disse.

—Rex! – Robbie gritou repreendendo seu próprio boneco.

— O que foi? Você deu sorte grande cara, aproveita – Robbie lançou um olhar de “me desculpe, foi ele e não eu” pra Tori. Ela não ligou, já estava acostumada com aquele tipo de comentário. Ela ficou feliz por fazer o trabalho com o amigo, mas ficou um pouco intrigada com o gênero. Romance? Já havia um tempo desde que Tori havia namorado alguém. Na verdade, seu último encontro havia sido com a Jade quando Sikowitz forçou as duas a ficarem juntas no Nozu. No começo foi terrível, mas as duas acabaram se dando muito bem. Mesmo assim ela não sabia se estava pronta para compor uma musica sobre amor, e Robbie? Ele não era exatamente o tipo de cara que as garotas querem.

— Se juntem com seus pares e podem começar a trabalhar com suas idéias, eu tenho que arrumar um jeito de abrir esse coco – Sikowitz disse saindo da sala pela janela.

—Eu não falei? Ele é louco – Rex praticamente gritou como se ele estivesse certo o tempo todo.

—Ah cala a boca! – Jade falou jogando outro caderno, mas dessa vez acertou Robbie, que caiu no chão se contorcendo de dor – Boa sorte tentando fazer uma canção de amor com isso Vega – E apontou para o garoto caído. Tori bufou e se encolheu em sua cadeira, sabia que essa seria uma tarefa difícil.