Primaveras escrita por Melli


Capítulo 53
Capítulo 53




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" – Não, por favor... Não faça isso, moço... Eu imploro!

— Cale a boca!

Empurraram-na com toda força e você bateu com a cabeça no chão. Logo seus cabelos se ensopavam de sangue e seu rostinho manchou-se.  Eu não permito que alguém coloque as mãos em você e te faça uma maldade como essa, mas impossibilitado, nada pude fazer naquele instante. Estava amarrado e prometeram que iriam acabar com você na minha frente. Me senti fraco, impotente... Mesmo que eu sempre dissesse a você para se defender.

— Melli! Covardes... Se encostarem mais um dedo nela eu...

— Você faz o que, molequinho? Vai defender a namoradinha, é? Hahahaha!

Puxaram o seu cabelo, lhe fizeram chorar enquanto eu me debatia em uma falha tentativa de escapar.

— Até que sua namorada não é de se jogar fora... Veja só que belezinha!

— Imbecis! Larguem ela!

— Seria uma pena se... Ela te abandonasse para sempre! Hahahaha!

— Não... Sageeeee!

Como se ela fosse um animal, foi levada nas costas dos valentões, chorando e gritando por mim. Logo uma escuridão tomou conta do local.

           ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

— MELLI... NÃO! – Sage acordava eufórico de um pesadelo.

— Hm? O que foi Sage? – Sagi apontava a cabeça para dentro do quarto.

— Onde está a Melli? Ela não está na cama...

— Espere... Você dormiu aqui?

— Eu te conto tudo depois, ok? Mas me diga onde...

— Ah,  vamos até a cozinha. O café já vai ser servido! Mas antes... Acho melhor você tomar um banho e dar um jeito nessa juba! Hahaha! – Sagi fechou a porta e desceu até a cozinha.

~ Minutos depois...~

— Mamãe, mamãe! – Eufórico, Sage corria até a cozinha. – Você  viu a Me... Ooh... – Sage olhou através da porta quando me viu ajudando Rachel a levar as porcelanas para a mesa.

— Ela está ajudando a Rachel. Acordou bem cedinho e logo veio para cá! Por que a procura? – Tia Sara também estava chegando por ali.

— Ufa! Ah, não é nada. – Aliviava-se, soltando a respiração enquanto segurava no batente da porta.

— Algo aconteceu, meu filho?

— Ah, não foi nada. Nada que a mãe tenha que se preocupar.

— Sage está apaixonado, mãe! – Sagi, toda saltitante, apontou a cabeça na porta.

— Bem, não há nada de mal nisso. É impossível não se apaixonar por uma mocinha tão atenciosa quanto a Melli. – Sorria de forma elegante.

— Bah! É possível sim. – E la vinha Saga de cara fechada,  reclamando logo de manhã.

Deixando um pouco o mau humor do Saga de lado, lá na cozinha eu terminava de ajudar Rachel com os afazeres e acabava por me sentar em volta da mesa.

— Melli! – Sage apareceu atrás de mim.

— Ah, bom dia Sage! Você dormiu bem? – Me virei para ele e sorri.

— Bom dia! Mais ou menos. Eu tive um pesadelo. Nele você... – Os pulsos de Sage pareciam tremer um pouco, talvez por estar furioso.

— Calma... Bem, foi um pesadelo, não tem com que se preocupar!

— Tem sim. Eles queriam arrancar você de mim. Te bateram muito...

— Que horrível... Eu... Sinto até uma dor no coração... Mas eles quem?

— Não sei... Uns homens, bandidos... Não sinta mal... Mas veja, se algum dia uma pessoa quiser te bater, arrebente a fuça dela! Sem medo! – Sage ainda estava irado.

— Eu não sei como fazer isso, mas... Ok. Relaxe, tá? Talvez você fique mais tranquilo depois de ver o que preparei para você!

— O que é? Rosquinha de coco? Pão doce? – Perguntava ansioso.

— Não, não, não! Sente-se! – Levantei-me e puxei a cadeira para que ele pudesse se sentar.

— Own, o casal mais meigo da escola... Venha ver, Sagi! – Saga sentava-se a mesa.

— Primeiro vem o namoro, depois o casamento e logo chegarão os filhinhos! – Sagi, que também chegara por ali, participava da brincadeira.

— Sage... Não se irrite. Lembre-se que é isso mesmo o que querem. Tome o seu café, tá? – Me sentei ao lado dele.

O café foi agradável e parecia que eu conseguia mesmo acalmar o raivoso Sage. Motivo o suficiente para que eu me sentisse muito feliz. Horas depois, acabamos indo até a escola mas não pude ficar junto dos trigêmeos, pois tinha outros assuntos a se resolverem em outro local da escola.

— Então você dormiu com ela? – Saga e Sagi perguntavam maliciosamente.

— Dormimos no mesmo quarto, mas não dormi junto dela, seus maliciosos! – Sage dava as costas para os irmãos, mas antes que pudesse partir, o seguraram.

— O que aconteceu hoje pra você ficar tão preocupado com ela?

— Um pesadelo, só isso... E sim, foi com ela.

— Hmmmmm... – Mais uma vez os dois irmãos riam de maneira maldosa. – Isso tem cheiro de amor! – Sagi completava.

— Ok, chega dessa brincadeira. Vocês sabem que eu gosto dela, não sei porque insistem com essa coisa toda.

— Agora é sério Sage... Você diz que gosta dela, mas onde estão os beijos? Achava que você era mais esperto, cara! – Dizia Saga, dando alguns tapinhas nas costas do irmão.

— Não é porque eu não faço que não sinta vontade. Eu tenho medo que ela se magoe ou que eu a assuste... Vocês sabem como ela é.

— Eu posso te dizer coisas a respeito dela que nunca te contou. Sou amiga da Melli, sou menina... Tem coisas que só nós entendemos e posso te dizer que se você for um pouco mais ousado, ela vai assustar... – Sagi dizia ao irmão.

— Droga! Perceberam agora o porque de... – Sagi interrompeu o irmão.

— Mas ela vai amar... Ela só tem vergonha de atitudes mais corajosas, mas gosta. Por essa vergonha toda, em certas ocasiões ela acaba não tomando iniciativa e tal, e como sei que você não tem vergonha de nada, ou quase nada... Talvez devesse tentar algo.

— Hm... – Sage estava pensativo.

— Esteja sozinho com ela... Vai ser mais fácil.

Mais tarde, após as aulas, eu estava retirando alguns livros do armário, colocando outros... Como de costume. Ao findar a minha arrumação, retirei da bolsa uma revista que havia comprado ha alguns dias atrás. Era uma revista adolescente, a qual trazia entre os diversos assuntos, uma sessão horóscopo e cá entre nós, este era o motivo maior para que eu a comprasse. Eu tinha algum interesse em ler a respeito de primeiro beijo, moda e atualidades do universo teen, entretanto,  eu sempre acabava gastando mais tempo lendo a respeito do meu signo. Lia para as amigas a respeito de seus signos, para minhas primas e até mesmo mamãe se ligava no assunto.

Abri a revista logo onde encontrava os quadradinhos coloridos com as previsões para os doze signos do zodíaco. Mesmo não acreditando tanto que um horóscopo diário mudaria o meu dia, eu os lia, só para ver se alguma do que estava escrito ali realmente tivesse acontecido. Percorri os olhos até encontrar um quadradinho cor de salmão em que se destacava escrito: Câncer. Li tudo com a maior atenção e no final, achei graça.

— O que foi Melli? O que é tão engraçado? – Sage chegava ali, com a mochila caindo das costas.

— Esse horóscopo! Diz cada besteira... – Eu ainda olhava para a revista, rindo.

— Hm... Eu não acredito muito no que o horóscopo diário diz, mas me conta aê o motivo pra rir tanto...

—  Tá, escute: “ Um gatinho pode surgir onde você menos espera!” – Li o que estava na revista. – Acho que gatos não voam... Ou voam? Você já imaginou gatos no céu? Mas o que isso tem a ver comigo? Você saberia me dizer?

— Pffffff! – E Sage caía no riso. – Eles não estão falando de gatos animais, e sim de meninos! Meninos bonitos! Em outras palavras, o que diz aí é que um menino bonito vai aparecer para você, onde menos espera.

— Desde quando você entende de linguagem feminina?

— Sou irmão de uma e amigo de outra... - Ele dava alguns tapinhas em meu ombro. - Isso já basta para eu entender.

Depois de me sentir totalmente desconfortável com a minha confusão, ainda perguntei para ter mesmo certeza.

— Então, um menino bonito vai aparecer na minha vida?

— É isso o que estão dizendo...

— Acho que é besteira...

 De repente, ele começou a agir estranho. Aproximava-se de mim ainda mais e olhava diretamente para meus olhos. Retirou a revista de minhas mãos, a deixando cair no chão. Algo em mim dizia: É agora! Sempre que estávamos próximos um ao outro, eu começava a tremer, mas dessa vez, tudo em mim tremia, entretanto, eu tentava disfarçar. Juro que meu coração arrebentaria meu peito de tão forte que palpitava. Ele parecia perceber o quão nervosa eu estava e uma de suas mãos logo alcançou a minha e percebi que ele a acariciava e naquele instante, algo em mim derretia-se e deixava ser tomado pelos carinhos do meu amado. No momento em que senti sua respiração bem próxima a meu rosto, fechei os olhos, sem perceber os olhares que ele lançava. Algo quentinho tocou meus lábios de forma suave e logo quando abri um pouco os olhos, percebi uma mecha de cabelo do Sage em cima de meu nariz. O beijo cessou após alguns segundos, mas imediatamente senti a pressão de seus lábios sobre os meus e dessa vez, era mais intensa.

— Tem certeza que é besteira? – E lá estava ele com seu olhar malicioso.

— Hmmm... – Tapei o rosto com as mãos. – N-na-nanão!

— Foi ruim?

Tirei as mãos da frente do rosto percebendo que ele estava preocupado em me agradar.

— Não, não foi.

— Seu primeiro?

— Sim... Me desculpe se... Eu estava nervosa.

— Relaxa! – Ele colocava a mão em meu ombro. – Eu percebi, mas não tem importância.

— ... – Eu ainda estava em choque depois de tudo o que aconteceu.

— Eu... Desculpe se te parecer sem sentido eu dizer isso agora,mas... Por favor, não desapareça, não fuja, não... – Ele respirou fundo a fim de se acalmar. – Digo... Não é nada. – Sage voltou-se para seu armário.

— O que aconteceu? Me conte... Você confia em mim, certo? - Coloquei-me frente a ele.

— Sim, eu confio em você, mas... Não quero parecer bobo.

— São seus sentimentos, Sage... Eu não tenho o direito de julga-los e nem se quisesse, eu faria isso. Pode contar comigo para desabafar, mesmo que para você seja um motivo extremamente bobo... É sério...

— É sobre o pesadelo... Depois dele, eu senti como se... Como se eu fosse te perder. Eu sei que é tudo coisa da minha mente...

— Você não quer me perder? – Meus olhos começavam a se encher de lágrimas.

— Não quero te perder, não quero que você seja machucada, não quero vê-la triste...

—Isso te dói, certo? – Perguntei em meio a um mar de lágrimas.

Ele apenas balançou positivamente a cabeça, mantendo baixo o olhar.

— Não tenha medo de revelar coisas como essa, Sage... Eu te compreendo. Isso não te torna fraco, pelo contrário... Te faz humano! É a prova de que você é cheio de sentimentos bons! E amor é um deles...

— Eu... Não sei dizer coisas bonitas, mas obrigado.

— E quanto a não sair do seu lado... Pode ter certeza que nunca sairei. Por mais que fiquemos distantes, eu estarei em seu coração e você no meu.

Triste, ele parecia segurar lágrimas. Naquele instante, pude observar que seu olhar era uma mistura de sentimentos. De um lado a tristeza, a qual era aparente em seu olhar que perdia-se em algum canto do corredor. Do outro, o amor. Notava cada detalhe do que os outros olhares não foram atraídos. Era como se estivesse florescendo dia após dia, algo dentro de si, sempre mais forte que nos dias anteriores.

— Obrigado! – Ele pareceu entender o recado bem rápido, logo sorrindo.

— Por nada! Sempre que quiser conversar, estou a sua disposição!

~ Mais tarde... na residência dos Yamazaki~

— Cara... Eu pensava que era tudo zoeira! – Espantado, Saga dizia ao irmão.

— E eu tenho cara de quem iria brincar com os sentimentos da menina? – Sage exibia ao irmão um olhar zangado.

— Você sempre foi tão zoeiro... Porque não iria querer zoar ela?

— Cara, você é tão idiota! Eu não saio zoando todo mundo por aí, além do mais, porque eu iria querer zoar alguém que me ajuda tanto? Só se eu fosse um imbecil!

— Eu não sei o que você vê de tão bonito nessa menina...

— Eu vou me mandar. Não adianta eu ficar aqui discutindo com você! – Furioso, Sage retirava-se do quarto, e sem querer, esbarrou na irmã que estava na porta do quarto.

— O que houve com ele? – Sagi perguntava ao irmão, que dentro do quarto, não mostrava nenhum arrependimento por suas palavras.

— Está se doendo pela namoradinha!

— Hm... O que você disse a ele? – Sagi sentava-se na cama.

— Apenas a verdade. Eu ainda não consigo ver o que ele achou de interessante nela.

— Talvez porque você não é tão próximo assim da Melli. Ela é legal... É muito boazinha! Sage e ela passaram muito tempo juntos. Eu já esperava que um iria gostar do outro algum dia...

— Acho ela um pouco grudenta... – Saga revirava os olhos.

— Converse com ela, descubra coisas em comum... Você vai ver que ela não é nenhuma chata! Ela gosta muito do Sage e faz um bom tempo. Ela só quer faze-lo feliz! – Sagi exibiu ao irmão um sorriso, confiante de suas palavras.

Saga somente resmungou e depois de um rápido silêncio disse:

— Sage a beijou hoje, você viu?

— Aaaaaaai que lindooo!! É a coisa mais fofa que você poderia ter me contado, Saga! – Sagi saltitava pelo quarto e abraçava fortemente o irmão.

— Pff! Não pra que fazer um escândalo desse...

Saga não gostava nem um pouco de assuntos amorosos, e não gostava ainda mais de ter presenciado o beijo do irmão. Ameaçava sair do quarto, quando Sagi o chamou de volta.

— Ei, espere... Como a Melli reagiu depois?

— Porque não pergunta para a sua amiguinha? – Retirou-se.

Naquele mesmo instante, em minha casa eu estava fazendo lição dentro de meu quarto. Eu não conseguia me concentrar, pois a todo instante eu lembrava daquele beijo. Era como minha boca estivesse sendo tocada novamente, com a mesma delicadeza de horas antes. Um arrepio percorria meu corpo ao me lembrar de suas palavras, pelo som de sua voz e por seu cabelo tocando a ponta de meu nariz. Sentia em seu beijo, todo o amor que fora guardado, até ser expressado por um beijo breve, que para mim, fora tão marcante. Fechei os olhos e a cena se repetiu em minha mente mais do que uma vez. Jamais estive tão apaixonada quanto naquele instante. Lembrei-me também do dia da tempestade, quando acabei ficando abraçada a ele na biblioteca. Coloquei a mão no rosto ao sentir meu rosto queimar. Vergonha? Talvez não. Um coração em chamas? Provavelmente! Me olhei no espelho que havia em meu quarto e eu parecia estar rindo por nada. Coração apaixonado é mesmo bobo!

Alguém batia na porta e mais que depressa, voltei para a escrivaninha, para que ninguém percebesse o meu momento paixonite.

— Filha? – Mamãe colocou a cabeça para dentro do quarto. – Venha ver quem está aqui!

— Quem é, mamãe?

— Seus avós do litoral!

— Puuuxa! – Empolgada com a ideia, rapidinho me levantei da cadeira –Eles vieram sozinhos? Ou o tio Mark também veio com eles?

— O tio Mark também veio, mas ele está no hotel com a tia e seus primos.

— Que ótimo! Mas... A vó não liga de eu vê-la nesse estado? – Olhei diretamente para a minha blusa suja de pudim.

— Troque a blusa e depois venha, tudo bem?

— Tudo bem!

Não demorou muito para que eu entrasse na sala e percebesse meus avós sentados lado a lado no sofá da sala. Vovó estava sempre reclamando de suas dores nas pernas ou falando de algum problema de saúde e aparentemente, parecia ser o único assunto que ela tinha. Vovô era quem sempre animava o ambiente com suas piadas e as histórias contadas por ele sempre eram as melhores! Ele sabia colocar humor até mesmo em uma história sobre uma tempestade em alto mar e eu sempre achava graça nas interpretações que ele dava as mesmas.

— Oi gente! – Falei em voz baixa, me aproximando aos poucos.

— Aí está ela! Estava no quarto fazendo tarefa! – Papai dizia todo feliz, parecendo orgulhoso do seu filhote.

— Noooossa! – Vovó abaixava os óculos, a fim de verificar se o que estava vendo era mesmo verdade.  – Essa menina está uma moçona, né Liza?

— Hahaha! Nem parece a mesma que ia brincar lá na praia e corria das ondas! – Dizia mamãe.

— Não mesmo! Está diferente... Não a víamos desde o aniversário de quinze anos dela!

— Seu pai te contou da vez que você voltou do mar sem a parte de baixo do biquini? – Vovô ria sem parar.

Memórias sobre aquele dia tão constrangedor percorriam a minha mente. Eu era pequena, então a vaga lembrança que tenho, era de estar sem a parte de baixo do biquini e o Adrian ao meu lado olhando para o meu bumbum. Eu não sabia se ele ainda lembrava daquilo. Espero que não.

— Ah... Me contou sim. – Um pouco constrangida, eu continuava em pé no meio da sala, segurando os braços.

— Você está muito linda, Melli! Já é mocinha, não é mesmo?

— Hm... – Eu estava travada e minha vontade era fugir.

— É sim! E os namoradinhos já estão chegando! 

— Olha só! Como ele se chama? - Minha avó perguntava.

— É o Sage, filho de uma amiga minha. Nós conhecemos a família há um bom tempo, sabemos que é um bom rapaz. – Mamãe respondia por mim.

Não respondi. Somente retornei ao meu quarto depois de ouvir aquela chuva de perguntas constrangedoras. Embora estivessem sendo um pouco incovenientes, meus avós paternos não eram chatos. Eu gostava bastante dos dois, mas parece que quando a puberdade chega, é inevitável escutar estas perguntas No momento em que cheguei ao meu quarto, observei duas chamadas não atendidas em meu celular. Era Sagi. A essa altura, ela com certeza já estava sabendo do beijo, então, eu não poderia esconder nada. Aliás, acho que não faz sentido eu esconder isso de minha amiga. Se ela não soubesse por mim, saberia pelo irmão. Resolvi ligar de volta.

— Oi Sagi!

— E aí Melli! Estou sabendo, viu...

— Ah... Acho que sei do que...

— Abra o jogo, vamos lá! Sage não está aqui perto, podemos conversar!

— Ele te contou que... Me beijou?

— Ele não me disse nada, mas Saga sim! Own, que gracinha vocês dois! Eu sempre soube que um dia vocês iriam se beijar!

— Sério? – Percebendo que o papo iria ser longo, me deitei em minha cama.

— Sim! Acho que fiquei torcendo para vocês ficarem juntos desde quando começou a gostar dele!

— Que bonitinho... E aconteceu. Eu não acredito, Sagi... Aconteceu!

— O Sage está um pouco emburrado porque estamos zoando ele. Hahaha! Mas com certeza ele gostou do beijo.

— Eu estava nervosa, então não sei se foi tão bom para ele...

— Se ele não gostasse, teria te falado na hora.

— Bem... Então acho que gostou. Hahaha!

— Quer falar com ele?

— Não, pode deixar... Outra hora eu falo com... – Eu mal terminava a frase quando a ouvi gritar do outro lado da linha.

— Sageeeeeeeee!!!

— Nããão, Sagi... Não era pra...

— Oi Melli! – Ele atendeu o telefone e parecia feliz.

— Aaaaah que bonitinho! Sage tá falando com a namoradaaaa!! É o amoooor!!!– Eu ainda podia ouvir Sagi gritando.

— O-o-oi Sage... Tudo bem? – Eu não podia aguentar ouvir aquela voz linda depois daquele beijo.

— Tudo bem!

Permaneci em silêncio por alguns segundos.

— Tá! Hehehe... – Eu estava torcendo para que ele não percebesse  que estava morrendo de vergonha em falar com ele.

— Sage tá namorandoooo! Sage tá namorandooo! - Sagi deveria estar saltitando atrás do irmão ainda.

— Quieta, Sagi! Vai fazer algo hoje de noite?

— Ah, eu não sei... Meus parentes do litoral estão por aqui e talvez iremos fazer algo. Por que?

— Nada não...

— Ele iria te chamar para filar a boia aqui em casaaaa!!! - O fôlego da Sagi não parecia acabar.

— Hahahaha! Ah, Sage... Eu queria muito, mas vai ter que ficar para outro dia. Se eu não ficar por aqui, já viu.

—  Poxa... Que chato! Beleza então! Combinamos outro dia.

— Desculpa... Eu preciso desligar, vou acabar a lição. Até mais! Tenha uma boa noite!

— Relaxa! Curte aê com seus parentes! Hahaha! Boa noite pra você também!

— Obrigada! Beijo!

— ... Outro. – Por sua voz, eu suspeitava que ele estivesse com um pouquinho de vergonha.

Ambos desligamos o telefone.

~ Na residência dos Yamazaki...~

— Sério, Sage... Você está tão fofo apaixonado! – Sagi apertava as bochechas do irmão, enquanto ele tirava as mãos dela de seu rosto.

— Juro que no dia que você namorar... Eu não vou te deixar em paz!

— Então você e a Melli estão namorando sério já?

— Não mude o assunto! Foi apenas um beijo, Sagi...

— Vocês formam um casal interessante...

— Hm, é mesmo?

— Mesmo!

— Vai dizer que é por aquele lance de um ser o oposto do outro?

— Também... Mas sei la, cara... Parece que vocês foram mesmo feitos um para o outro. Acho que você deveria investir em algo sério.

— ... –Sage permanecia em silêncio, mantendo o olhar para o teto.

— O que foi? Porque ficou assim?

— Geralmente você não conversaria a respeito disso comigo... Zoaria até o fim da minha vida... O que você está querendo, hein garota? – Sage abaixava uma sobrancelha e erguia a outra.

— Quem disse que não vou te zoar até o fim da sua vida? – Sagi laçava o pescoço do irmão com o braço, bagunçando-lhe os cabelos em seguida. – Eu quero ver vocês dois felizes!

— Bem...  Eu pretendo ficar com ela mais vezes.

— Hmmmm safadinho! Logo vai ter que conversar com o tio Max, hein! – Sagi cutucava o irmão.

As sete da noite, me dirigi junto a minha família até uma churrascaria na cidade, onde estava combinado de nos encontramos com meus tios e primos do litoral. A ideia era bem animadora para mim, pois eu frequentei a churrascaria uma vez e achei um lugar aconchegante, além de servir uma ótima comida. Sentada no banco de trás com minha mãe e avó, eu ainda pensava no beijo. Era como se algo dentro de mim estivesse queimando, como se um fogo estivesse se alastrando. Eu estava me apaixonando ainda mais por ele, por seu toque, sua voz, seus olhos, seus cabelos e mais ainda, saber que sempre estivemos juntos era algo que despertava em mim um sentimento muito doce, de admiração e companheirismo. Naquele instante, eu viajava para longe em meus pensamentos e me recordava do dia em que tia Sara se casou. Mesmo que eu não me lembrasse de tudo, muitos detalhes daquela festa ainda permaneciam intactos em minha mente. A luz das velas,  as flores, o tapete vermelho, os doces... Me lembro de me sentar separada de meus pais e ficar juntinho dos gêmeos, que estavam elegantemente vestidos. Na época eu ainda trazia comigo resquícios de minha infância, afinal, talvez eu ainda fosse uma garotinha que sonhava com príncipes e contos de fada e por este motivo, em minha mente, Sage era como um príncipe e estava vestido como um, o que acabava me chamando a atenção. Me lembro que seus cabelos ainda não eram tão compridos quanto hoje e naquela época, ele ainda me via como uma amiga. Mas com o passar do tempo, ao voltar do Japão, eu notei o quanto ele tinha crescido e algo nele estava diferente de quando nos vimos pela ultima vez. Em minha festa de quinze anos, eu não percebia o quanto ele me observava, o quanto para ele, eu havia crescido e me tornado tão bela. Relembrar estes acontecimentos me doía por dentro. Não, eu não ficava triste por querer reviver tudo de novo, mas ficava feliz por estar cada vez mais me apaixonando por um rapaz que fez parte de minha vida. O sentimento era tão intenso, que me estremecia por dentro e fazia brotar lágrimas em meus olhos.

— Está chorando, filha? – Mamãe perguntava no momento em que eu saía do carro.

— Estou? Eu não tinha percebido... – Limpei com o dedo as lágrimas que no meu rosto estavam.

— Está forçando muito a vista, não é mesmo? Por isso que você reclama tanto de dor de cabeça. Preciso marcar o oftalmologista urgente!

— Ela estuda bastante né Liza? Deve ser por isso que está com o olho assim. – Dizia minha avó.

Logo eu tentava esquecer por questão de minutos o meu beijo e tentava focar no encontro com meus primos. De longe eu os observava sentados juntamente com meus tios e minha vontade era correr até eles para matar a saudade que eu sentia deles. Enfim, todos nos cumprimentamos e sentamos a mesa, mas logo começavam os assuntos chatos dos adultos. Foi então que resolvi conversar com meus primos.

— E aí, Melli, como estão as coisas por aqui? Estudando muito? – Minha prima Emily me perguntava.

— Tudo bem! Ah, tenho estudado bastante sim. Estudo ainda mais nas semanas de provas, mas isso quando não estou ocupada com meu trabalho.

— Hm, então você está trabalhando! – Admirava-se.

— Você não vai acreditar se eu te disser onde!

Enquanto nós duas conversávamos, meu primo Adrian jogava algo no celular, pois certamente não estava nem um pouco interessado no assunto.

— Em uma fábrica de doces? – Emily perguntava, logo arregalando os olhões brilhantes.

— Não. Eu trabalho na casa do Sage!

— Espera... O Sage é o japa ruivo que dançou com você no seu niver de quinze anos?

— Isso! Ele mesmo!

— Mas esse não é o menino que você gosta? – Minha prima quase gritava, e por pouco não chamou a atenção dos adultos.

— Shhhh!! – Coloquei o dedo na boca em sinal de silêncio.

Olhei para os lados a fim de verificar se alguém não estava vendo e confirmei fazendo que sim com a cabeça.

— Que sorte a sua, hein! Está gostando do trabalho?

— Estou sim! Eu cuido do Aoi, o irmãozinho mais novo dele. Aoi é um pouco sapeca, mas que criança não é?

— Hahahaha! Verdade. Acho que eu piraria ao ter que cuidar de uma criança...

No momento em que eu conversava com minha prima, os olhos de Adrian voltavam-se para longe. Esticava a cabeça como que para ver algo diante de uma multidão e realmente algo estava-lhe chamando a atenção. Cabelos acobreados presos por um coque bagunçado em que uma mecha ondulada caía na proximidade dos olhos acinzentados, que estavam voltados atentamente para um livro. Frente a ela, uma senhora bem vestida lhe olhava zangada, parecendo não gostar do que via.

— Tiffany... – A senhora empinava ainda mais o nariz.

— Sim vovó? – A menina sequer desgrudava os olhos do livro.

— Será que poderia voltar ao mundo real ao invés de ficar fissurada em seu mundinho de ficção? – A malvada fechava fortemente o livro nas mãos da menina.

— Perdão... Eu não... Ai!

— Eu te trouxe aqui para me fazer companhia e não para me deixar falando com as paredes!

— Me desculpe, senhora... – Falou em tom baixo.

— O que? Não escutei...

— Dizia para que me perdoe, senhora... – Seu olhar tristonho voltava-se para o chão.

— Quando sairmos, não quero nunca mais você lendo essas coisas, está me ouvindo?

— Mas a senhora é quem pede para que eu estude...Eu estava lendo para a prova da escola...

— Leia em casa! Aqui não é lugar para se fazer isso.

— Perdão, vovó... Estava ocupada em casa com minhas tarefas das aulas extracurriculares e não pude ler o livro.

— Isto é problema seu. Organize-se!

A menina parecia confusa e triste ao mesmo tempo. Sentia o peso de suas obrigações lhe caírem sobre os ombros e estava fazendo todo o possível para não se sobrecarregar, entretanto sua missão era falha, uma vez que tantas tarefas não cabiam em sua rotina. Sentia-se impotente. Nada mais poderia ser feito a não ser cumprir com todas as aulas que sua avó lhe obrigava a participar. Tiffany estudava incansáveis horas por semana e as horas dobravam mais ainda quando estávamos em semana de provas.  Sua diversão era encontrar os colegas na escola e poder desabafar sobre o quanto seus dias eram cansativos. “ Nunca tenho tempo para mim... Não posso sair sempre como todos os adolescentes” ela dizia. Com o passar do tempo, parecia que suas obrigações cresciam ainda mais e conforme chegava o ano dos vestibulares, a pressão para que ingressasse em uma faculdade de renome aumentava ainda mais. Ela gostava de estudar, mas sua avó lhe pressionava demais e lhe atribuía tantas tarefas que a pobre garota sentia-se completamente perdida.

— Onde vai, posso saber? – Perguntava a avó, enquanto Tiffany levantava-se da cadeira.

— Ao banheiro, senhora... Com licença.

No instante em que Tiffany se levantou, Adrian também saiu de seu lugar. Corri meu olhar até a direção em que meu primo estava se movendo e era a mesma em que também estava minha amiga.

— Se não estou enganada... Vi a Tiffany aqui.

— A ex do meu irmão? – Emily perguntou.

— Terminaram?

— Ah... – Suspirava. – Não durou muito, Melli... Mas como eu queria que no final de tudo os dois ficassem juntos.

— Mas por que terminaram? Eram tão fofos juntos...

— A distância os machucou... Ambos gostam de presença física e virtualmente não puderam manter o namoro.

— Coitados... Sinto muito pelos dois. Me dói saber que... Enquanto eu tenho o meu amado ao meu lado, existem pessoas que lutam para ficar juntos.

— É ainda mais triste saber que a velha trata a menina tão mal. Ela é uma gracinha...

— A vó dela só quer que ela faça sua vida sozinha. Não aguenta mais ter que sustenta-la e por isso quer que ela entre em uma boa faculdade, para que assim ela arranje um bom trabalho e tenha muito dinheiro para poder se sustentar.

— É isso mesmo? – Perguntou minha prima, torcendo o nariz. – Velha nojenta! Não que seja ruim a ideia de ela se sustentar, mas ela quer se desfazer da pobrezinha e isso é ruim.

— Bem, é o que ela diz... Eu concordo que ela tem de entrar em uma boa faculdade, mas  ela é órfã e na falta da avó, nenhum outro familiar está por perto para ajuda-la.

~ Enquanto isso... em um outro canto do restaurante...~

— Psiu! Tiffany... – Adrian a chamava , sentado em um banco.

A menina espantava-se ao ver seu amado tão perto. Com um pouco de receio, aproximou-se do rapaz e sentou-se ao seu lado. Ambos olharam-se por alguns instantes e não acreditavam que estavam juntos no mesmo lugar. Lágrimas escorriam do rosto da menina, demonstrando o quão emocionada estava. Adrian imediatamente a abraçou fortemente e aquele foi o momento em que ela chorou ainda mais.

— Sinto sua falta... – Dizia em meio aos braços do rapaz.

— Eu também sinto... – Adrian carinhosamente beijou a testa de sua amada.

Depois de tanto tempo fora da mesa, saí a procura de meu primo e ao encontra-lo junto de Tiffany, de longe fiquei observando os dois. Tão apaixonados, tão envolvidos... Não era justo que não ficassem juntos. Me imaginei por um instante no lugar da Tiffany e de certa forma, eu já havia passado pela mesma situação. A diferença era, que eu jovenzinha ainda não havia me declarado ao Sage no momento em que ele fora para o Japão e naquela época, meus sentimentos não eram tão intensos quanto hoje, mesmo assim, foi bem difícil me acostumar com a ideia de que ele estava longe de mim. Sentia-me apaixonada pois me lembrava do meu beijo. Gostaria de repeti-lo, mas de que maneira, sendo que meu amado não estava por perto? E voltava eu a me sentir como minha amiga. Sem perceber, eu estava aos suspiros, me escorando nos pilares.

— Eles precisavam disso... – Escutei uma voz conhecida atrás de mim.

— Eu também acho que sim... A história deles não pode acabar aqui!

— Com toda certeza! – Emily, que estava atrás de mim, respondia.

— Eles formam um casal tão fofo... – Deixando-me levar pela paixão do momento, olhei mais uma vez para o casal. Acho que deveríamos fazer algo por eles...

— Hmm... Parece que mais alguém aqui está apaixonada! –Emily me olhava, maliciosamente.

— Quem? Você? – Perguntei na inocência.

— Eu acho que não... Na minha opinião, uma menininha chamada Amellie está se apaixonando...

— Que sorte a dela, hein! – Brinquei. – Ok... Por qual motivo você acha que eu estou apaixonada?

— Por estar trabalhando na casa do seu paquera! Estou errada?

— Não... Na verdade, eu preciso te contar uma coisa mesmo, mas... Estou com um pouco de vergonha. – Segurei os braços, timidamente.

— Ah, que isso. Você é minha prima! Confia em mim, certo?

Respirei fundo, tentando mandar embora a timidez e logo falei:

— Hoje eu dei meu primeiro beijo...

Emily parecia não acreditar e admirada, me abraçava, amando a fofura da situação. Conversamos alguns minutos a respeito do acontecido e ela também me contava a sua experiência com o primeiro beijo dela. Dizia que assim como eu, ela havia ficado nervosa, trêmula e que a situação se agravou mais pelo fato de não conhecer o rapaz. Ela dizia ainda que o beijo dela não foi como ela esperava e que ela achava uma graça eu ter dado meu primeiro beijo em um amigo. Após muito conversar, nós voltamos para a mesa e pudemos ter um tranquilo fim de noite. Quanto a Tiffany? Ela voltou rapidinho para a mesa de sua avó depois de passar um tempo com meu primo. Eu gostaria muito que esses dois ainda pudessem ficar para sempre pertinho um do outro...


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