Primaveras escrita por Melli


Capítulo 51
Capítulo 51




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Era hora do intervalo. Eu e minhas colegas estávamos sentadas em alguns bancos no pátio. Estava um pouco frio para ficarmos dentro do refeitório, por mais que estivesse cheio e calor humano nos fizesse bem. Então, decidimos ficar um pouco no sol para nos aquecer. Desta vez, os irmãos de Sagi estavam longe de nós, pois não gostariam de ouvir a conversa das meninas. Aliás, eles ficavam bem desconfortáveis perto das demais garotas, mas quando se tratava somente de mim, a situação era diferente. Talvez porque eu passasse bastante tempo com eles, ou que tivesse um bom tempo de amizade. As meninas conversavam a respeito de roupas e eu estava um pouco quieta, pois não tinha muito o que falar a respeito do assunto. Estava mesmo era observando tudo o que estava acontecendo no pátio, mas sequer havia reparado que os meninos estavam sentados há alguns metros de nós.

— Ei Melli... – Caitlin sussurrou em meu ouvido.

— Oi?

— Tem alguém olhando para você...

— Hm? Jade está por aqui?

— Não, não é o Jade...

— Ah, então é o Lysandre!

— Também não. Olhe para frente e verá...

— Oh... – Meus olhos brilharam ao perceber Sage encostado em uma parede olhando diretamente para mim. – M-mas... Que gracinha...

— Vá lá falar com ele! Acho que está sentindo sua falta!

— Será? Mas eu... Não namoro com ele...

— Não mesmo? Vocês ficam tanto tempo juntos... Nunca rolou um beijinho?

— Não. Embora ele goste de  mim como sua namorada, nunca nos beijamos. Bem... Só no rosto.  Faz algum tempo que não fico bem próxima a ele, já que tem alguns dias que não vou até a casa dos Yamazaki.

— Ah, que chuchuzinhos... – Caitlin apertava de leve minhas bochechas. – Será que ele é tímido? Você eu tenho toda certeza... Mas não parece que o Sage é tão tímido assim.

— Bem... Eu acho que ele é um pouco tímido, mas não deixa isso transparecer.

— Ainda acho que você tem que ir falar com ele... Está te secando!

~ enquanto isso...  no lado dos meninos...~

— Olha, Saga... Ela está olhando para ca. – Sage cutucava o irmão.

— Va lá com sua namorada... – Saga revirava os olhos, como se estivesse farto daquela situação melosa.

— Ela não é minha namorada!Já te disse milhões de vezes! 

Lysandre não estava muito longe e em sua companhia, estavam alguns amigos, e ao perceber que o assunto era a minha pessoa, resolveu ir  até os dois e se pronunciar.

— Desculpe interrompe-los e me intrometer no assunto... – Lysandre se aproximou dos dois, e com voz calma, assim disse. – Estão falando da Melli?

— É... Sage está de olho nela, mas nem a beijou ainda! Hahaha – Saga debochava do irmão.

Lysandre estranhava um pouco o tom de voz com que conversavam os meninos, já que ele sempre fora tão calmo e de poucas palavras. Entretanto, para os Yamazaki conversar alto era algo comum em seu dia a dia.

— Porque você sempre diz coisas no momento errado? Fica quieto, idiota!... – Sage fuzilava o irmão com o olhar.

— Bem... Se aceitar, eu posso lhe ajudar com a Melli, Sage...

— Hm... Por mim tudo bem! Mas... porque quer me ajudar?

— Bem... – Lysandre olhava para baixo, como se escondesse algo. –  Você me parece um cara legal...

— Saquei e valeu pelo elogio! – Feliz por escutar aquilo, Sage sorria. 

— Você gosta muito dela... Espero que a faça feliz. – Lysandre esboçava um discreto sorriso.

— De novo a melação... Me poupem!– Saga revirava os olhos e logo saía dali.

— Não dê atenção ao Saga... Ele não gosta desse tipo de assunto.

— Ah, sem problemas. Melli vai muito até a casa de vocês, não é mesmo?

— Sim, ela sempre vai... Faz algum tempo que não aparece por lá, mas mora perto de casa, então é fácil ela ir ou irmos até a casa dela.

— Acho que você deve gostar de passar um momento somente com ela, não é mesmo?

— Sim, eu gosto. Mas é difícil fazer isso. Ela é muito tímida e a qualquer sinal de intimidade mais intensa ela foge.

— Poderia chama-la para sair somente vocês dois! Não precisa ser um jantar romântico, mas a chame para fazer algo que goste muito!

— Será que ela aceitaria escalar uma montanha comigo?

— Você poderia tentar convida-la...

— É... Eu vou tentar. Não custa nada, né...

— Tente. E depois me conte o que ela te respondeu.

— Ok, eu conto.

— Ela está sozinha agora... O que acha de ir até lá?

Lysandre mal tinha terminado a frase, quando Sage já estava vindo em direção a mim. Ao perceber que  olhava em minha direção, sorri, enquanto ele mirava em mim seus olhos maliciosos. Não que sua intenção fosse outra, mas para mim, seus olhos exibiam certo ar de “ eu te quero, sua linda!” e eu achava engraçado e ao mesmo tempo era algo que eu gostava muito. De imediato sentou-se ao meu lado com aquele jeito largado, mantendo as pernas separadas e “escorregando” no encosto. Minhas pernas tremiam, meu coração disparava e meus olhos estavam voltados para o chão... Tudo aquilo porque estava ao meu lado. Eu não gostaria que ele soubesse dos sentimentos que estavam se passando dentro de mim, pois na certa acharia graça, ou diria que tudo era bobagem. Ele mexia comigo, isso era certeza. Sempre evitei o olhar muito nos olhos, pois as sensações aumentavam e eu me sentia ainda mais envergonhada, por mais que seus olhos fossem lindos e que em meus sonhos eu os olhava sempre. Não sei porque sentir tanta vergonha ao observar olhos tão bonitos como os dele. Talvez porque seu olhar para mim fosse profundo e ali eram revelados detalhes ocultos de sua personalidade.

— O que há de errado? Porque faz isso? – Ao perceber que eu estava cabisbaixa, ele me questionou, quebrando o silêncio que havia entre nós dois.

— Isso o que? – Eu permaneci olhando para o chão.

~~~~~~

Sage’s  pov

Eu me pergunto as vezes... Por que com frequência esconde o seu olhar? Sempre tão doce e tranquilo... Eu não entendo o motivo pelo qual você vive a se esconder, se para mim os seus olhos são tão bonitos e meigos. Me arrependo amargamente por ter maltratado alguém que eu gosto muito. Se tivesse algo que eu pudesse fazer para apagar de vez tudo o que de mal eu lhe fiz... Talvez por este motivo você evita o eu olhar. Não mais encontro em mim capacidade para lhe ferir. Agredir você é como apunhalar um botão de rosa ou ainda o despedaçar, pois és tão delicada quanto as flores. Gosto da cor de seus olhos e sempre quando me olha por pouco tempo, acabo gostando ainda mais de você, pois seu olhar expressa todo o sentimento que carrega dentro de si, sendo assim, toda vez que me olha, sinto seus braços se envolvendo em mim, sinto o carinho que tem por mim, sinto algo mágico, meio que inexplicável...

~~~~~~~~

— ... Você ainda tem medo de mim? Acha que eu vou te bater? – Ele buscava o meu olhar.

— Não, não é isso... – Sorri e tentei o olhar. – É só... Vergonha...

— Poxa, Melli... Isso não pode continuar assim! – Percebi que ele parecia um pouco bravo.

— Me desculpe... Eu não queria te desapontar... – Abaixei a cabeça novamente.

— Escute... Esqueça tudo o que eu te fiz na infância, certo? Esqueça que eu te maltratei. Eu não sou capaz de fazer isso com você nunca mais! Só meto a mão na fuça dos idiotas que te tratarem mal. Não vou fazer nada que não queira. Eu gosto muito de você... Sou seu amigo, só quero te fazer bem!  Ou você sente vergonha de mim?

— Não... Na verdade.. – Percebi que as meninas se aproximavam dali e logo davam meia volta quando me viram sozinha com Sage. – É timidez minha. Eu não sei porque eu sinto isso, mas... Eu também gosto muito de você, gosto quando me olha... Gosto da sua companhia... – Timidamente eu tentava colocar a mão no rosto dele.

— Você só precisa se soltar... Vamos. Nos conhecemos há tanto tempo... Não há porque ter vergonha só agora... – Ele avançava o rosto para próximo de minha mão.

— Eu... Não posso fazer isso... – Retornei minha mão ao lado de meu corpo, temendo ser alvo de olhares.

— Ai Melli... Mas porque? Está com medo por acaso?

Me aproximei do ouvido de meu amigo e em voz baixa assim disse:

— Por favor... Não desista de mim. Não é nada com você, mas... O pátio está cheio de gente e eu não quero que as outras pessoas fiquem olhando.

— Não se importe com os outros... Se você tem vontade, faça! Que se dane as outras pessoas!

Vagarosamente me coloquei frente a ele, segurei minhas mãos e olhei para o chão. Escutei todo o barulho ao meu redor e pensei que não seria possível todo o pátio parar somente para olhar o que eu estava fazendo. Mas eu sempre tive medo de que alguém pudesse ficar olhando e nos zombar, pois eu nunca me relacionei amorosamente com um menino. Entretanto... acho que ninguém tem nada a ver com a minha vida, não é mesmo? E talvez nem fosse tão interessante para as pessoas assistirem aquilo. Dei um passo para frente e fiquei mais próxima do Sage. Ele me olhava, aguardando a minha ação e não se importando nem um pouco com as pessoas a nossa volta. Estiquei minha mão, até suavemente tocar seu rosto. Curvei-me até que meus lábios ficassem bem próximos a sua bochecha e então, suavemente beijei o seu rosto e então me afastei.

— Oh me desculpe... Manchei sua bochecha de batom. Me deixe limpar por favor...

Ele logo se colocou em pé.

— Ah, pode deixar. Doeu? Você ficou incomodada?

— Não... Na verdade... Eu até pensei mais a respeito desta questão, e... – O sinal para o retorno as aulas me interrompeu.

Ao final das aulas, Sage apareceu todo feliz quando eu colocava alguns livros no armário. Estava sorridente e bem empolgado.  Quase saltitava pelos corredores e era muito fofo ve-lo tão feliz, como estava naquele instante.

— Ah, oi! Hoje irei para casa com vocês... Vamos andando, certo?

— Sim, nós vamos andando... E... – Acho que ele queria dizer algo

— Onde estão seus irmãos? Eu preciso falar com sua irmã a respeito de uma coisa...

— Ainda estão na sala resolvendo algumas coisas com o professor... Falando nisso, você precisa me dizer uma coisa...

— Claro! Uma, duas, quantas você quiser... – Escondi meu rosto nas mãos após me dar conta da dimensão da besteira que eu havia falado.  – Digo... O que você quer saber?

— Hahahaha! – Ele ria da minha reação. – Quer escalar comigo?

— Como assim? – Arregalei os olhos, me espantando.

— Escalar, oras... Montanhas! Nunca viu isso?

— Oh céus... Mas isso não é muito perigoso? Não me diga que...

— Não... – Ele colocou o dedo em minha boca, interrompendo a minha fala. – Não aceito não como resposta. Vamos, aceite...

Oi – Mas eu nunca fiz isso... Minha mãe não iria deixar...

Oi – Relaxa. Eu vou estar lá com você. Aliás, faço isso praticamente todos os finais de semana... Escalo uma montanha de olhos fechados! Então sua mãe não teria porque se preocupar.

— Hahaha! Puxa vida... Isso é incrível mas...

— Esperavam por nós? – Logo Saga e Sagi chegavam por ali e o assunto terminava.

— Mas porque pararam de falar assim tão de repente? – Sagi questionava, enquanto envolveu um braço em meus ombros. – Estavam namorando, não é? – sussurrou e eu neguei agitando a cabeça, enquanto minhas bochechas começavam a ficar avermelhadas.

— Porque vocês dois não se assumem logo? – Dizia Saga, parecendo um pouco furioso diante da situação.

Oi – Porque você não fica de bico fechado?c- Sage quase avançava sobre o irmão.

— Talvez... – Eu começava a dizer, enquanto os três olhavam para mim, espantados. – Vocês estejam certos... Mas eu acho que não tem nada de mal nisso... Ou tem?

Os três ficaram parados no meio do corredor e Sage estava um pouco pasmo.

— Se vocês dois nos enxergam como namorados, tudo bem. Mas eu não gosto quando você fica zoando o Sage por causa disso, Saga...

— Eu não tenho nada contra vocês dois, mas eu só brinco com isso porque ele pega ar. – Saga explicava, quando voltamos a caminhar em direção a saída da escola.

— ... O que é pegar ar? – Inocentemente perguntei.

— Ele quis dizer que fico irritado quando ele me zoa, Melli... Isso é pegar ar. – Sage me respondia.

Oi – Ah sim, agora entendi! Hahaha.

~ Alguns minutos mais tarde... Na residência dos Hollister...~

— A Sara sabe que o Sage quer te levar para escalar? – Mamãe me perguntava.

— Bem, eu não sei...

— Eu acho isso muito perigoso, minha filha... E se você cair?

— Eu também tenho medo, mãe... Mas Sage quer muito que eu vá e eu queria poder acompanha-lo.

— Eu já estou percebendo o que acontece com vocês dois...

— Hm??

— Talvez seja hora do Sage conversar com seu pai...

Em meio a uma mistura de medo, vergonha e espanto, meus olhos se arregalaram. Por mais que eu estivesse querendo que Sage fosse meu namorado, só de imaginar nós quatro conversando na sala de casa já me deixa nervosa. Eu imaginava um clima tenso, um silêncio infinito entre eu, papai, mamãe e Sage e todos se olhando para o coitado, que deveria estar com um pouco de medo do futuro sogro e eu... Certamente estava desejando que tudo terminasse em um piscar de olhos, para que minha vergonha não tornasse aquela experiência ainda mais tensa.

— M-mas... Porque? – Senti meu rosto em chamas.

—Ele te quer mais do que uma amiga... Sara já conversou comigo a respeito e disse que o Sage sente um carinho muito grande por você.

— Oh céus... Mas porque você foi conversar com ela sobre isso? – Escondi meu rosto nas mãos, não querendo demonstrar a minha mãe o quanto eu me sentia envergonhada.

— Calma... – Minha mãe se aproximou de mim e me envolveu com um braço. – Não precisa ter medo ou vergonha por causa disso. Não conversamos nada de mais! Só  fizemos isso porque tanto ela quanto eu suspeitávamos que tinha algo entre vocês dois.

— Eu não quero namorar agora... Não sei... Estou um pouco confusa... Se eu disser isso ao Sage, ele não vai mais me querer...

— Se ele gosta mesmo de você, vai saber respeitar o seu tempo e vai aguardar até você estar preparada. Se por um acaso ele vier te pedir em namoro, converse com ele na boa... Ele vai entender, com certeza!

— Essa coisa de namoro me constrange um pouco...

— Porque, minha filha? Faz parte da vida... Você está crescendo...

O– Eu tenho vergonha... Você... É  adulta e conversando comigo sobre isso é...

— Sou sua mãe, Melli... Já tive a sua idade e já namorei. Sei como são as coisas... E um dia eu teria de saber que você estava gostando de alguém. Foi até bom saber que você gosta do Sage, porque eu não gosto dessa coisa de namoro escondido e já que conhecemos ele e a família faz muito tempo, então as coisas ficam mais fáceis.

— Tudo bem... Mas a senhora vai me deixar escalar com o Sage?

— Escalar não... Vocês podem fazer outra coisa menos perigosa, o que acha?

— Eu concordo, mas acho que não vai ser tão fácil fazer a cabeça dele... Eu vou tentar. Obrigada, mãe! – Dei um beijo na bochecha de minha mãe e fui em direção ao meu quarto.

~ Enquanto isso... Na residência dos Yamazaki...~

— SAGEEEEEEEEEEEE!! – Sagi gritava bem perto do irmão.

— AAAAAH! Mas o que foi? Não posso mais mandar uma mensagem de texto? – Ele estava no sofá, com o celular em mãos.

— Sai desse celular e vem comer! – Dizia Saga.

— Por um acaso você está falando com a Melli?

Oi – Aaaah, mas sempre acham que estou falando com ela. Existem outras pessoas no mundo... – Guardou o celular no bolso. – Vamos comer logo porque estou com fome!

— Sage vai sair com a Melli amanhã... – Saga fazia uma cara maliciosa.

— Ah, que bonitinho! Não esquece as rosas, tá maninho! Ela gosta... Penteie o cabelo e amarre com uma fita de cetim que sua mina pira!– Sagi zoava ainda mais o irmão.

— Vou sair mesmo e não vai ser nenhum encontro romântico! – Cruzou os braços, demonstrando seu descontentamento.

— Mas eu acho que você deveria leva-la para jantar algum dia... Sem zoeira. Ela iria gostar muito! Ela nunca teve coragem de te contar, mas já contou para mim que curte um jantar a luz de velas! – Sagi aproximou-se de um lado irmão, enrolando o cabelo do mesmo no dedo.

— Hmm... Que amor, hein Sage! Eu concordo com a Sagi. Você poderia leva-la para jantar algum dia. E depois ainda leva-la para dançar!  – Saga apoiava o cotovelo no ombro de seu irmão.

— ... – Sage permaneceu quieto, enquanto os dois lhe diziam tais coisas.

— Ei meninos... – Tia Sara apareceu na sala, onde os três lanchavam.

— Mãããe!  O Sage vai sair com a Melli amanhã... – Sagi dizia alegremente para a mãe.

Oi – Ah, eu estou sabendo filha! Acabei de conversar com a mãe da Melli pelo telefone. Eu vou dar uma saidinha, mas já volto! Tudo bem?

— Vai levar o alienígena? Digo... o Aoi? – Sage perguntava.

— Não diga isso do seu irmão, filho! Sim, ele tem consulta marcada com o pediatra. Aliás, preciso conversar com você depois, Sage...

— Ishhhhhh!!! – Repetiam Saga e Sagi.

— Não tem porque se preocupar. Agora estou saindo... Por favor, nada de bagunças, ok? Se comportem e Rachel é quem dará as ordens na minha ausência.

— Sim, mamãe! – Repetiam os três, em uma só voz.

No outro dia, combinei com Sage que eu iria até a sua casa para que fosemos até o local onde iríamos fazer uma trilha. Sim... mudamos o nosso passeio, pois minha mãe estava um pouco preocupada de me deixar escalar uma montanha com ele. Ela havia conversado com tia Sara e até mesmo ela preocupava-se um pouco com a segurança do Sage, mas disse que ele já estava acostumado a fazer isso, e que ela enviaria um instrutor junto a nós para que tudo ficasse bem, mas Sage decidiu que era melhor mudar o nosso passeio. Talvez ele achasse que não precisava de um instrutor, pois não era mais um iniciante e que poderia muito bem se virar sozinho. Eu conhecia tanto seus pensamentos, que até mesmo o imaginava dizendo isso. Haha!

Para que eu me sentisse bem confortável, coloquei uma calça comprida e tênis nos pés. Preparei minha mochila com uma garrafa de água e algo para comer que eu mesma tinha preparado e esperava dividir com Sage. Quando cheguei na casa dos Yamazaki, Rachel me disse que Sage me esperava dentro do carro. Será que já estavam de partida? Cumprimentei tia Sara, que me disse para tomar cuidado, e me desejou um ótimo passeio. Tudo isso feito em poucos minutos. Logo após isso,  entrei no carro e lá estava sozinho no banco de trás: O meu ruivinho de cabelos compridos.  Aquilo era estranho, pois sempre que eu entrava no carro estava habituada a ser recepcionada com as zoeiras dos três, mas naquele instante, somente Sage estava ali, me olhando com um sorriso de orelha a orelha. Me sentei ao lado dele e após uma hora de viagem, o motorista nos deixou perto de um parque.

— Aqui estamos! – Dizia Sage. – Bem, eu já vim até aqui algumas vezes mas já faz algum tempo. Você já conhecia este lugar?

— Não... É minha primeira vez aqui. – Olhei em volta sentindo um pouco de medo em ver tanto mato e árvores.

Eu poderia ter morado em uma fazenda com o triplo de árvores que continha ali, mas o ambiente me era desconhecido, por isso fiquei um tanto quanto insegura.

— Está com medo, Melli?

— Sim... – Me escondi atrás dele. – Ouvi um barulho vindo atrás dos arbustos... – Apontei.

— Talvez seja um lobo... Relaxa! Hahaha!

— Ai! Um lobo? Vamos sair daqui então! – Segurei no braço dele e tentei o levar para longe dali.

— Calma... Não se preocupe! Não é um lobo...  Deve ser algum cachorro... – Dizia, me puxando para perto dele.

— Ufa! – Coloquei a mão no peito, me sentindo aliviada.

— Você já fez uma trilha alguma vez? – Sage começava a andar e eu seguia ao seu lado.

— Bem...  Eu já andei nas matas da fazenda de minha avó... Isso conta?

— Acho que sim... Pelo menos você já está um pouco habituada com o ambiente, então por favor, não se desespere se ver algum animal selvagem.

— Bem... Se estiverem longe, eu não ligo. Mas eu tenho medo de cobras e aranhas... – Somente por falar nelas, eu sentia meu corpo se arrepiar.

— Não mexa com elas e não farão nada para você. – Sage dizia em meio a uma expressão tranquila.

Eu ficava um pouco espantada pela calma que ele mantinha em um ambiente como aquele. Ele não tinha medo de nada, então não era de se estranhar que ele mantivesse uma postura como essa diante de bichinhos tão pequenos como cobras e aranhas. Mesmo passando boa parte de minha infância na fazenda, eu me assustava ao ver algum animal peçonhento. Era frequente meus pais e minha avó encontrarem animais deste tipo em alguns lugares da fazenda, mas sempre tomaram os devidos cuidados para que não entrassem dentro de casa. Talvez por conta do fato de nunca me mostrarem os bichinhos, é que eu sentia tanto medo.

— Tudo bem... Eu espero. Mas... Você sabe para onde vamos? Quanto iremos andar?

— Vamos andar bastante. Iremos até uma cachoeira escondida dentro dessa mata. – Sage apontava. – Vamos  ter que escalar algumas pedras, mas não se preocupe. – Disse, sorrindo como se quisesse me acalmar daquela forma.

—... – A minha cara deveria ser de espanto naquele instante ao imaginar toda a nossa aventura. – Puxa... É bastante mesmo, hein!

— Vai ver que no final vai valer a pena. – Sage me olhava com aquele ar malicioso.

— O que vai ter no final? Me diga, Sage... Por favor! – Seguei no braço dele e o agitava sem parar.

— Surpresa! Apenas ande ao meu lado e tome muito cuidado onde pisa. – E ainda ele mantinha aquele olhar que tanto me deixava sem graça.

Andávamos entre uma floresta um tanto quanto sombria para mim. As árvores eram altas, e tão grande eram suas copas, que não era possível observar direito o céu, garantindo talvez por isso o aspecto escuro e misterioso. Ninguém passava por ali, nem mesmo um animal. Isso me deixava um pouco tranquila, pois eu certamente eu morreria de medo e gritaria se algum animal aparecesse. Ao mesmo tempo, eu ficava com medo de estar em um local tão  deserto como aquele, entretanto, acho que eu não deveria temer a nada, pois Sage estava junto de mim.

— Está cansada? – Sage, que andava em minha frente, parou e olhou diretamente para o meu rosto.

— Não... Digo... Talvez um pouco, mas eu ainda posso prosseguir, se quiser...

— Quando se sentir cansada, me avise, viu? Você não é acostumada a fazer isso, né?

— Ah, tudo bem... Na verdade eu nunca fiz uma trilha... – Me encostei em uma árvore.

— Bem, então é sua primeira vez! – Ele se aproximou de mim, no mesmo instante eu me encolhi. – O que há de errado com você? Está com frio? Um inseto te picou?

— Não, não... Foi só... Um galhinho que me espetou aqui nas costas. Hehehe. – Disfarcei, para que ele não soubesse que na verdade eu estava sentindo um pouco de vergonha.

— Então vamos seguir! Está com fome? – Me perguntou, logo iniciando sua caminhada.

— Um pouco... Mas pare quando quiser. Faça como de costume! Estou aqui somente para te acompanhar.

— Nada disso. Não quero te deixar exausta. Depois sua mãe vai me dar um fumo daqueles! 

— Bem, eu agradeço a sua preocupação, mas...

Vamos Melli, diga! Deixe a vergonha de lado, o encare. Diga tudo o que pensa, força!

— Você está somente preocupado com a minha mãe ou comigo também? – Ele estava de costas para mim, mas eu o olhava diretamente.

Sage permaneceu quieto e apenas andava, mas o que eu não percebia era que tal pergunta havia mexido com ele. Porque será então que não me respondeu? Ele sempre me dizia para esquecer a minha vergonha, deixar a timidez de lado... Talvez eu tinha falado alguma besteira, então é melhor eu ficar quieta.

Continuamos nossa caminhada até encontramos algumas formações rochosas. Sage então quebrou o silêncio e me disse que teríamos de “ escalar” aquelas pedras, pois ele gostaria de me mostrar uma cachoeira que ali existia. Dizia ser linda, e que eu gostaria de estar ali, pois na certa me lembraria muito da casa de minha avó. Enquanto passávamos entre as pedras, ele segurava em minha mão  para que eu não me desequilibrasse e sob seu olhar atento, eu me sentia protegida. Acabei obtendo a resposta da minha pergunta sem que ele me falasse. Era obvio que ele se preocupava comigo, se não, não iria segurar em minha mão e me olhar de uma maneira tão fofa... Ah...

— Aiai... Porque tanto você suspira? Tá doendo alguma coisa? – Sage me perguntava, parecendo incomodar-se com minha atitude.

— Ah, não é nada... Me desculpe. Já estamos chegando?

— Na verdade nós já chegamos... Veja! – Sage apontou para a grande cachoeira, há poucos metros de nós.

— Aaaah!! – Eu não conseguia tirar meus olhos um segundo sequer daquela coisa linda.

— Não preciso nem perguntar se gostou, né? Hahaha!

— Ela é...  Muito bonita!

Sentando-se sobre uma pedra , Sage retirava a mochila das costas e me perguntava se eu não iria sentar.  Encantada com tudo ao meu redor, eu olhava a cada canto daquele local e com certeza eu gostaria de voltar ali algum dia.

— Não vai comer? – Sage me perguntava, já abocanhando os salgadinhos que retirou da mochila.

— Ah sim, claro... – Sentei-me frente a ele, também retirando a mochila de minhas costas. – Fiz algo para você!

Sage enfiou a mão dentro da mochila, a remexeu e logo disse:

— Sério? Eu também tenho algo para você aqui... Não fui eu que fiz, poque você sabe que não levo jeito com isso... – Ele retirava de dentro, um saquinho amarrado com fitas coloridas.

— Seria uma graça receber algo que você fez... Se lembra de quando me fez um sanduíche de queijo? Estava uma delícia!

—  Sério? Não foi o melhor sanduíche do mundo, mas... Se você gostou, posso tentar fazer outra coisa qualquer dia, mas já te adianto que não vai ser algo sofisticado.

— Tudo bem... Como você quiser, mas... O que é isso que você me deu? – Olhando para o saquinho, eu tentava adivinhar o que era.

— É um pãozinho... Bolo...  Não sei muito bem, mas você irá gostar!

Já estava me esquecendo de entregar a surpresa dele e quando eu estava prestes a abrir o saquinho do pão que havia me dado, eu me dei conta.

— Puxa, eu estava me esquecendo... – Retirei de minha bolsa dois embrulhos. – Por favor, não repare nos embrulhos... Acabaram os saquinhos de casa, então tive de coloca-los em papel toalha. – Entreguei-os para o meu amigo.

No instante em que eu estava entregando os embrulhos, eu não reparei que ele olhava para o meu rosto. Mesmo que estivéssemos apenas os dois por ali, eu não o olhava. Como de costume, eu estava acanhada. Por mais que eu quisesse o olhar, eu tinha medo que pudesse acabar acontecendo algo, como o meu primeiro beijo. Sim, eu sentia um medo enorme de dar o meu primeiro beijo, porém, eu gostaria de ser beijada pelo meu amado amigo. Eu gostaria que Sage fosse o primeiro e único garoto a me beijar, pois éramos amigos há um bom tempo, eu confiava nele e ele já estava acostumado a lidar comigo e na certa daria o primeiro passo. Era lindo, e para mim ele sempre seria como um príncipe encantado. Eu nunca disse isso a ele, pois tinha medo que ele pudesse me zoar.

— De repente você ficou quieta... O que aconteceu?

Depois de ter pensado tudo isso, eu gostaria de ficar bem pertinho dele, mas mesmo estando em um local um pouco vazio, eu gostaria de manter um pouco a distância.  Eu não entendia muito bem o porque de sentir aquilo mesmo sendo bem próxima a ele. Acabei me lembrando do que me disse outro dia no colégio:

“– Você só precisa se soltar... Vamos. Nos conhecemos há tanto tempo... Não há porque ter vergonha só agora...”

— Melli? – Sage tentava chamar a minha atenção, estalando os dedos frente a mim.

— Oi! – Sorri, me sentindo um pouco sem graça por deixar ele falando sozinho. – Me perdoe... Estava perdida em meus pensamentos. Você dizia algo?

— Obrigado pelo sanduíche e pelos cookies... Em que mundo você estava? – Ele parecia me estranhar.

Eu não o respondi. Me levantei e pensava ainda do que havia me falado no colégio.

“– Você só precisa se soltar... Vamos. Nos conhecemos há tanto tempo... Não há porque ter vergonha só agora...”

Vou tentar, e sei que vou conseguir! Fui até o lado de meu amigo e me sentei bem próxima a ele. Quando percebeu que eu estava ao seu lado, rapidamente seus olhos miravam meu rosto e eu... Levantei o meu olhar e também o olhei, sorrindo.

— Uou... Mas... O que aconteceu? – Acho que ele estava um pouco nervoso ou envergonhado.

— Eu só quero... Me... Aproximar mais de você...

Sage ficou quieto. Alguns instantes olhava para minhas mãos, depois olhava para os meus olhos... Eu também olhei para seus olhos e desejava abraça-lo ou até mais que isso. Entretanto, segurei minhas vontades.

— Seus olhos são lindos... – Falei, enquanto ainda olhávamos um para o outro.

Suas bochechinhas coraram um pouco depois do meu elogio e eu me desmanchava ao perceber que ficava tão fofo quando ficava com cara de bravinho. Talvez ele também sentisse um pouco de vergonha e por  este motivo tentava encobrir tudo com uma carinha emburrada. Ele avançou sobre mim, fechei os olhos com força, me esquivei e senti que era naquele momento iria acontecer o beijo.

— Não fuja... – Senti suas mãos tocando meus cabelos. – Fique paradinha... – Ele olhava para cima da minha cabeça.

— M-mas... – Abri meus olhos, percebendo que não aconteceria nenhum beijo. – O que está acontecendo?

— Tinha uma borboleta na sua cabeça! – Sage me mostrava seu dedo e em cima uma borboleta amarela.

— Que gracinha! Vou tirar uma... – Não deu nem tempo de pegar a câmera na bolsa quando a borboleta já havia ido embora. – Puxa... – Mirei o chão, um pouco decepcionada.

— É só uma borboleta, Melli... Não se preocupe! Existem outras coisas mais legais que você pode fotografar!

— É mesmo? – Levantei meu olhar e olhei para meu amigo.

— Sim! Não vai chorar, não é? – Sage dava alguns passos em minha direção.

— Ah... Não. Isso não seria motivo para chorar...

Eu me sentia um pouco chateada por pensar que ele estava acarinhando meus cabelos, quando na verdade estava apenas retirando a borboleta da minha cabeça. O único instante que eu tentei me aproximar foi totalmente em vão e aquilo me frustrava ainda mais. Eu tinha dúvidas se eu iria me aproximar dele de novo depois daquilo. Parecia que ele queria fugir ou... Me evitar, pois sequer agradeceu o meu elogio. Sentei sobre uma pedra, encolhi as pernas em direção a meu corpo, cruzei os braços sobre os joelhos e escondi meu rosto ali. Era um pouco bobo me magoar por este motivo, mas constantemente eu me feria com uma facilidade imensa.  Não gostaria de mostrar a ele minha tristeza, pois certamente ele não aceitaria que eu me magoasse com aquilo ou até poderia achar que fosse fraqueza, entretanto eu estava prestes a chorar, era fato. Por mais que eu tentasse conter meu sentimentos e não deixar minhas emoções tomarem conta de mim, não consegui. Meus olhos se umideceram, e enfiei ainda mais a cabeça entre os braços.

— Ei Melli! Veja! – Sage me cutucava, enquanto eu ainda escondia meu rosto. – Olhe! Apareceu um patinho! – Com empolgação eu era chamada, mas eu sequer levantava a cabeça.

Eu não poderia ignora-lo, mas também não poderia deixar transparecer a minha tristeza. Ou será que eu deveria deixar claro para ele o quão triste eu me sentia? A dúvida permaneceu em minha mente por poucos segundos, quando temendo um pouco a reação de meu amigo, levantei a cabeça e de meus olhos, lágrimas escorriam.

 – Mas... O que aconteceu? Algum bicho te picou? – Logo ele segurou meu braço, percorrendo os olhos em busca de qualquer  ferimento que se assemelhasse a uma picada.

— Não... Não foi nada, mas... Me diz... – Olhei timidamente para a paisagem ao redor – Você gosta mesmo de mim?

Sua expressão preocupada mudou-se rapidamente para zangada. Bufou, cruzou os braços e franziu a testa. Será que eu fiz algo de errado?

— Ai Melli... Porque quer saber isso?

— É porque te elogiei e você não agradeceu...

— Por isso você está chorando?

— ... – Permaneci quieta e voltei minha cabeça no meio dos braços novamente.

— Me responda... E não precisa se esconder, é só uma pergunta...

— Sim... Foi por isso. Talvez você não goste de mais de mim... Desculpe se parecer exagero...

 Permaneci de costas, pois não gostaria de ver a sua cara de bravo, achando que toda aquela minha falação era puro drama. Me arrepiava ao perceber que algo se aproximava de mim. Senti algo tocar de leve meus cabelos, e quando me virei para ver o que era, vi que era Sage. Um pouco sem jeito, ele tinha em mãos uma flor, a qual havia sido recém retirada de uma árvore próxima.

 – Você ainda tem dúvidas? – Sage se aproximou de meu rosto e posicionou a flor em meu cabelo.

— Eu... Então você gosta mesmo... – Me espantava com o ato de meu amigo.

— Não tenho motivos para deixar de gostar, Melli... Eu fico calado as vezes porque sou um pouco fechado, mas não é nada com você.

— Me desculpe... Eu só te chateei... – Abaixei a cabeça, magoada por tudo o que eu disse a ele.

—  Não, não me chateou. Sei que você gosta muito de mim... Relaxa! Aliás, eu te trouxe aqui para nos aproximarmos mais, então vamos parar de pensar que não gosto de você.

— Então quer dizer que você me trouxe aqui para ficarmos juntos?

— Isso mesmo! – Sage respondia em meio a um sorriso. – Se não se sente bem em ficarmos próximos quando outras pessoas estão por perto, então talvez você se sinta a vontade aqui...

Será que Sage estava tímido? Porque não olhava para mim enquanto afirmava que gostaria de ficar sozinho comigo? Não sei, mas que ficava uma graça quando estava quieto, ficava. Era de derreter o meu coração e de sonhar acordada com o dia em que ele enfim, estaria ao meu lado como namorado. Aproveitei o momento em que não estava me olhando, e me coloquei a observar o seu rosto e a cada detalhe, eu me apaixonava ainda mais. Os Yamazaki sempre tiveram um comportamento um tanto quanto explosivo e isso não se modificava de um gêmeo para o outro, entretanto, eu sempre pensava no dia em que Sage estaria mais tranquilo. Éramos o oposto um do outro e talvez por isso eu colocava tanta fé de que um dia estaríamos juntos. Dizem que as pessoas de personalidades iguais ou parecidas se dão bem, mas será que as personalidades diferentes se completam? Talvez seja um pouco impossível as pessoas sempre se apaixonarem por outras de personalidades semelhantes, então, acho que as chances de se relacionarem com pessoas de personalidades distintas só cresce.

Nos sentamos no chão, um frente ao outro. Enquanto ele permanecia cabisbaixo, eu não desgrudava meus olhos dele. Estava tranquilo, quieto... Nem parecia o mesmo Sage que eu conhecia! Eu estava caindo de amores por perceber que ele poderia sim ser calmo e que sem aquela gritaria e gestos bruscos ele acabava mostrando uma feição tão angelical. Entretanto, algo ainda não me deixava ver seu rosto por completo. Frente um de seus olhos, estava caída a longa franja rubra, e isso acabava por dar certo ar de mistério para a face de meu querido amigo. Algo tão simples como uma franja caída nos olhos despertava em mim um sentimento intenso. Era como se algo me provocasse, me chamasse, me convidasse a tirar da frente dos olhos aquilo que não me possibilitava ve-los. Era misterioso, atraente e ao mesmo tempo fofo. Logo estava avançando a mão em direção aos rubros fios e os colocando atrás da orelha de meu querido. Pronto! Foi o suficiente para que seus olhos mirasses para mim, cheios de ternura.

— Eu... É um pouco estranho, mas eu gosto. – Falei, ainda olhando para ele.

— O que você acha estranho?

— Você não acha estranho que... Uma amizade tornou-se... Amor?

— Não, eu não acho. Talvez eu até esperava que isso acontecesse algum dia. – Sage olhava diretamente para a rocha que estava sentado, enquanto a a riscava com um graveto.

— Verdade? Eu achava que você nunca me notaria desse modo...

— Engano seu... Haha! Digamos que já tem um tempo que já não te vejo só como minha amiga... – Sage levantava-se da rocha onde estava sentado.

Não houve tempo para que eu perguntasse ha quanto tempo ele já sentia algo por mim, pois subitamente Sage caiu das rochas. Mais que depressa, olhei para baixo na esperança de ve-lo bem. Não estávamos alto, mas mesmo assim, desci com cautela para que eu não fosse a próxima a se machucar.

— Sage, Sage! Você está bem? – Preocupada, eu o ajudava a se levantar estendendo a mão.

— Estou... – Como se segurasse a dor, Sage levantava-se do chão segurando em minha mão.

— Eu acho que você não está... Bem... Minha mochila está ali em cima. Espere aqui um segundo só! Não suba mais, hein!

Tomando cuidado, subi até o local onde estávamos e guardei todas as coisas nas respectivas mochilas. Com as duas mochilas nas costas, desci novamente nas pedras e percebi que Sage estava em baixo de uma árvore.  Eu costumava a me arrepiar um pouco ao ver sangue, mas naquele instante, quando percebi que escorria um pouco da testa de Sage, me preocupei em apenas fazer com que tudo ficasse bem. Eu não era enfermeira, ou tinha algum conhecimento de primeiros socorros, mas ao perceber que o sangue não parava de escorrer, a primeira coisa que fiz, foi retirar de minha mochila a pequena toalha que envolvia minha garrafa d’água, lava-la e a torcer.

 – Está doendo? – Gentilmente, retirei da frente do ferimento os fios de sua franja.

 – Um pouco...

 – Bem...  Eu não sei se com isso vai parar de doer, mas talvez pare de sangrar... – Segurei o pano úmido em sua testa, de forma que estancasse o sangue.

 – ... – Sage apenas observava.

Eu percebia que de certa forma ele estava nervoso, mas ele não gostaria de demonstrar isso a mim, pois sempre fora muito corajoso e não deixava-se abater por nenhum machucado. Então, decidi contar a ele uma coisa que me aconteceu há muito tempo, na esperança de que ele não ficasse tão apreensivo.

 – Sabe...  Quando criança eu caí na quadra do meu apartamento. Eu estava brincando com as minhas colegas e não vi que no chão havia algumas pedrinhas... Acabei fazendo um machucado bem feio no joelho. Eu chorei bastante, mas para me acalmar, minha mãe acabou fazendo isso que estou fazendo em você! Só que depois eu tive de ir ao hospital para fazer um curativo...

 – Por isso então que você apareceu na escola com gaze no joelho? Eu me lembro!

Agitei positivamente a cabeça.

 – Você já deve ter visto a cicatriz que tenho no joelho... Mas... Acho que o seu não vai ficar. É um corte pequeno, então logo logo vai sarar!

 – Talvez seja hora de irmos para casa... – Sage parecia desapontado.

 – É mesmo! Tem algo que eu possa fazer para melhorar?

 – Não se preocupe. Bem... – Sage levantou-se do chão. – Vou ligar para o motorista. Até ele chegar aqui, o sol vai estar se pondo.

Olhei para seu rosto, percebendo se o ferimento ainda estava sangrando. Eu me preocupava sim, mesmo que ele me dicesse para fazer o contrário. Eu ficava triste ao perceber que ele estava ferido, sentia pena. Gostaria de abraça-lo, beija-lo, fazer com que de algum modo a sua dor fosse embora. Entretanto, eu não fiz nada dessa natureza. Apenas retirei da mochila o celular e liguei para minha mãe, avisando que já iríamos embora, e que ela não se preocupasse comigo. Nesse instante, me dei conta de que mamãe se preocuparia comigo, por mais que eu dicesse a ela para assim não fazer,  afinal, eu estava em um local um pouco deserto, em algumas horas ficaria escuro, frio e os animas com certeza sairíam de suas tocas. É impossível não se preocupar com as pessoas que amamos quando se está longe delas. Ou quando estamos perto...

 – Ainda dói? – Perguntei para Sage, enquanto fazíamos o caminho de volta até a frente do parque.

 – Sim, está doendo. Digo, na verdade está ardendo.

 – Quando chegar em casa, lave com água e sabão e vá até o hospital...

 – Foi só um cortinho, Melli... Não preciso de hospital.

 – Lá eles podem ver se não há nada por trás do seu machucado. Você caiu de cabeça no chão, então acho que o adequado seria fazer um raio-x.

 – Ah, nem. Eu odei hospital!

Percebendo a sua teimosia, eu parei frente a ele no meio do caminho, segurei seus ombros, e seriamente olhei para seus olhos.

 – Por favor, me escute! Me preocupo com você, querendo ou não. Não quero que nada de mal aconteça com você. Ok, é um cortinho... Mas será que não há fraturas? Nós não sabemos. Só o médico poderá dizer. – Falei, sendo um pouco ríspida.

 – Nossa... O que deu em você para estar tão agressiva?

 – Me desculpe... – Virei de costas para ele, escondendo meu rosto.

 – Entendi seu recado, não precisa ficar assim... – Ele se aproximava de  mim, por trás.

 – Eu não quis ser grossa... Mas é que... Te ver ferido me deixa mal.

 – Relaxa, tá? Já foi e eu estou bem! As vezes você se preocupa muito!

 – Tá... Mas por favor... Fica bem... – Aproximei-me de seu rosto e lhe dei um beijo na bochecha.

~ Mais tarde... Na residência dos Yamazaki...~

 – Mas eu já falei que não estou com dor, que saco! – Emburrado, Sage respondia para a mãe.

 – Sage, Sage... Não fale assim comigo! – Zangada, dizia tia Sara.

Os dois estavam indo para o hospital, enquanto Saga e Sagi ficaram em casa. No mesmo instante, Sagi me mandava algumas mensagens querendo saber o que se passou com o irmão.

~ Naquele instante... no apartamento dos Hollister...~

 – Então o Sage se machucou? Viu, eu te disse que seria perigoso ir a um lugar desse! – E lá começavam os sermões da minha mãe.

 – Ai mamãe... Não foi culpa do lugar! Poderia ter acontecido com qualquer um! Ele só se desequilibrou... – Respondi, um pouco brava.

 – Da próxima vez você não vai, mesmo sendo com o Sage. Este lugar é muito perigoso! Só te deixarei ir quando um adulto for com você.

 – Aaaaai... – Choraminguei.

 – Espero que não tenham aprontado nada. E se você tiver feito alguma coisa... Já te aviso que a responsabilidade será toda sua e do seu namorado, está me escutando Amellie?

 – Mãe... Eu quero que a senhora escute uma coisa...  Digo, duas. Se é que está falando do que estou pensando. Sage não é meu namorado ainda. E se a senhora acha que eu fui passear para... Para...  – No mesmo instante, meu rosto ficou vermelho. – A senhora sabe! Se engana. Eu não tenho coragem de ficar nua na sua frente, o que dirá na frente de um garoto! Eu sei que não é hora para isso, então por favor... Não diga mais isso.

 – Eu sou mãe, Melli... Sempre me preocupo com tudo. Não quero o mal para você...

Naquele instante, fiquei em silêncio. Me lembrei do momento que que me preocupei com Sage e me lembrei que, por mais que eu dissesse  para minha mãe não se preocupar, ela iria se preocupar, assim como eu também sempre me preocuparia com Sage. Talvez isso seja algo do amor... Preocupar-se com alguém, faz parte de amar esta pessoa. Preocupação nada mais é do que uma prova de amor! É querer amado por perto, é querer seu bem estar, é querer vê-lo sorrir e vivem sem preocupações. Talvez amar seja tomar para si todas as preocupações da pessoa amada, para que ela possa viver feliz.

Mamãe já estava na cozinha preparando o jantar, quando me peguei sentada no sofá da sala olhando para o nada. Próximo a mim, estava meu celular. Segurei-o e me coloquei a escrever uma mensagem para o Sage:

Oi  Sage! Como você está? Espero que bem... Como está seu machucado? Que você fique melhor logo e pronto para outras pancadas nessa sua cabeça dura. Hahaha! Brincadeira. Boa noite e bom descanso. Te adoro! Beijos!


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