Primaveras escrita por Melli


Capítulo 12
Capítulo 12




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Fazia exatamente um mês que mudamos para aquele apartamento, quando minhas aulas começaram. Pois é, eu estava indo para a primeira série do fundamental e ainda estudava no Red Roses. Me perguntava como seria estar no primeiro ano, e esta ideia me parecia um pouco tenebrosa, já que as coisas iriam mudar um pouco de rumo. Pensava também, se meus amigos da pré escola iriam estudar comigo, e também se iria aparecer algum aluno novo. E ali eu estava, diante do enorme corredor cheio de salas, de mãos dadas com a minha mãe, arrastando uma bolsa de carrinho e com uma lancheira nas costas. Enquanto procurávamos a minha sala, com um olhar admirado, eu observava as salas que passávamos. Alunos gritando, subindo em cima das carteiras, em outras salas era possível ver alguns alunos em silêncio, em outras, professores cantando canções de boas vindas juntamente com os alunos... Quando andamos o corredor inteiro, finalmente achamos escondida ali perto das escadarias, a sala de número 10, a qual apareceu na porta uma senhora com cara de brava.

— Boa tarde! Aqui é a sala da professora Thereza? – Dizia minha mãe.

— Boa tarde. Sou eu mesma, e quem é a garota? – Quis saber a professora que parecia brava.

— Esta aqui é a Amellie, mi... – Foi interrompida.

— Vamos entrando, Amellie. Seus amigos já estão aqui.

— Tchau filha, boa aula! – Mamãe deu um beijo em minha bochecha.

Entrei, e na hora conheci vários colegas que estudaram comigo na pré escola. Roxy estava ali, enrolando os cabelos no dedo, pensativa como sempre. Vi alguns meninos brincando com alguns bonecos de ação, onde ao lado deles, algumas meninas trocavam colantes de seus cadernos. Eu revirava a sala com os olhos na esperança de encontrar alguém que nunca tivesse estudado comigo, mas não percebi ninguém. Enquanto eu estava tentando arrumar um lugar para me sentar, uma voz conhecida me chamou:

— Ei, Melli... Oiiieee!- parecia uma voz bem empolgante!

  Olhei para a direção de onde vinha a voz, e vi aquela figura ruiva saltitar em minha direção.

— Obaaa, estamos na mesma sala! - Dizia a animada garota.

Era Sagi, que na hora me abraçou e começou a pular. Olhei para a carteira ao seu lado, e vi que seu irmão estava ali. Aos olhos dele, aquilo era engraçado de se ver. Espere... Sage sorrindo? Oh, mais um milagre acontecendo! Sagi me disse que ao seu lado, na fileira que ficava perto da janela, havia lugares sobrando, então decidi sentar ali, na primeira carteira. Abri minha bolsa, e tirei de dentro um caderno vermelho e meu estojo de ursinhos. No mesmo instante, passou ao meu lado uma garota bem alta, magra que tinha cabelos negros na altura dos ombros ajeitados em uma trança. Eram notáveis também, seus olhos azuis, os quais ficavam atrás de um óculos de grossas lentes e armação cor de rosa. Ela tropeçava em seus passos, e andava curvada para poder alcançar a bolsa de rodinhas, que não era apropriada para sua estatura. No momento em que passou ao lado dos meninos, todos pararam para vê-la, e logo quando sentou, era possível vê-los rindo dela. Eu não achava aquilo certo, mas tinha medo de dizer alguma coisa para eles. Continuei a observando, e vi que ela isolara-se do resto da classe, pois fora sentar no fundo da sala. Vi também, que ela soluçava, e que de seus olhos escorriam lágrimas. Virei-me para frente um pouco sensibilizada com o que acabara de ver, e logo a professora entrou na sala e fechou a porta, não bastando para encerrar as conversas paralelas.

—* Caham* Boa tarde. – Dizia com as mãos para trás e estufando o peito, demonstrando um ar superior.

Ninguém se calou.

— BOA TARDE! – Bateu o apagador na mesa.

Todos ficaram em silêncio.

— Bem vindos aos primeiro ano, eu sou a professora Thereza, e darei aulas á vocês. Farei a chamada, e peço que quando ouvir seu nome, por favor, fique em pé, assim seus colegas poderão vê-los.Muito bem, vamos lá. Alana?

— Presente! – levantou-se.

— Allan?

— Presente, professora.

— Alessa?

— Presente. – A menina dos óculos cor de rosa se levantou.

— Diga-me uma coisa... Você não enxerga, certo?

— Sim, eu tenho dificuldades pa... – foi interrompida pela professora.

— Sente-se ao lado desta menina aqui. – A professora apontou para mim.

Ela pegou seu material, e veio sentar-se ao meu lado, mas no caminho, acabou tropeçando nos cadarços do tênis, fazendo os meninos caírem na risada.

— Mas o que é isso? Poderia ter acontecido com qualquer um! Não permito que ninguém caçoe de um colega. Se rirem de mais alguém, irão todos para a diretoria! Continuando... Alexander?– Dizia a professora.

— Presente.

Aquela professora me dava medo. Só de olhar em seus olhos, já me dava vontade de chorar. Acredito que não só em mim existia essa sensação... Ui! Ela continuava a chamada, e a menina do óculos, digo, a Alessa, continuava quieta ali na carteira. De repente, Sagi sussurrou alguma coisa pra mim, e eu não entendi nada.

— O que? – sussurrei.

— Essa professora é brava!

— Sim, ela da medo.

— Ei, quer sentar comigo na hora do intervalo e repartir o lanche?

— Amellie? AMELLIE?? – A voz da professora findou a conversa.

— Eu! – me levantei.

Parece que minha resposta não agradou a professora, porque ela levantou-se da cadeira,andou em minha direção e me fuzilou com um olhar.

— Primeiramente, não se diz EU, se diz presente. Segundo, se você continuar conversando, te coloco pra fora da sala, está ouvindo? – Disse me olhando com aqueles olhos medonhos.

— Sim... – Abaixei a cabeça

— Diga sim senhora! –Pegou meu queixo e ergueu, fazendo com que eu olhasse para ela.

— Sim senhora... – Me sentei e comecei a chorar na carteira.

— Chora não... – Dizia Alessa.

— Deixe ela choramingar... Ela vai parar, você vai ver.

Continuei ali chorando por uns 5 minutos. Poxa, nenhum professor nunca brigou comigo, mas eu sei que eu não devia estar falando aquela hora, mas ela foi muito má comigo... Depois de acabada a chamada, a professora colocou na lousa alguns exercícios de caligrafia. Enquanto nós realizávamos os exercícios, ela passava ao lado das carteiras observando como estávamos nos saindo. Após isto, chegou a hora do intervalo, onde muito antes deste, os meninos já aguardavam de pé para o lado de fora da porta.

— Todos para dentro. Sabem que não podem ficar na porta ou sair antes do sinal. Se alguém sair antes do tempo, vai pra diretoria!

Eu fiquei sentada na carteira pegando minha lancheira, enquanto Sagi e Sage brigavam por uma barra de chocolate.

— É minha! – Sage puxou.

— Não, mamãe disse que esta é minha! – Sagi puxou.

— Ah... Fica pra você. Vou comprar uma bem melhor que essa, ali na cantina.

— Lalalala, não tô escutando. – Tapou as orelhas e saiu andando.

Antes que eu pudesse chamar Alessa, ela levantou-se e saiu andando em direção ao pátio. Procurei Sagi na sala, mas também não a vi. Roxy estava ali com algumas meninas, então, decidi me juntar á elas.

— Oi! – Disse me colocando em meio á rodinha formada ali.

— Oi Melli! Vamos lanchar juntas? – Roxy foi a única que respondeu.

— Sim... Nossa Karen, sua meia é das super poderosas igual a minha! - Falei, para a menina que aparentemente era a mais popular da sala.

— Legal. Vamos meninas, hoje eu trouxe as Barbies para brincar. – Não se importava nem um pouco com o que eu dizia.

— Eu... Eu vou com elas, depois a gente se fala, Melli! – Roxy foi em direção ao grupo de meninas.

— Tá...

Quando não tinha mais ninguém na sala, fui para o pátio. Me senti estranha naquele momento. Parecia que ninguém queria lanchar comigo. Fiquei um pouco triste, mas ao sair no pátio, encontrei Sagi, que novamente veio pulando em minha direção.

— Onde você tava? Te procurei em todo lugar!

— Tava na sala...

— Que foi?

— Eu queria brincar de Barbie com a Karen...

— Ah... A Karen é boba, Melli.

— Hm... Olha ali, a Alessa tá lanchando sozinha... Vamos chamar ela pra lanchar com a gente?

— Aaham!

Fomos até o banco onde ela estava. Parecia estar triste, pois estava chorando de novo.

— Oi Alessa! Quer lanchar com a gente?

— Não, me deixa sozinha... – Ela chorava ainda mais.

— Porque? – Sagi perguntou.

— Ninguém gosta de mim... Todo mundo ri de mim... - Dizia de cabeça baixa.

— Eu gosto de você... – Olhei para ela, que na hora parou de chorar.

— Verdade?

Balancei a cabeça que sim.

—Vem com a gente! – Sagi e eu a pegamos pelas mãos e a levamos até as mesas do pátio.

Sentamos nas mesas e abrimos nosso lanche. Olhei para o lado e vi Karen e as demais meninas brincando de boneca ali. Confesso que na hora fiquei com uma vontade imensa de brincar também, mas lembrei do que Sagi disse.

— Hoje tenho pão com queijo, alguém quer um pedaço? – Ofereci ás meninas.

— Eu quero! – Disse Alessa.

— Eu tenho chocolate! – Sagi cortava as barras com as mãos.

— Aqui é bolo... Mas não sei do que é. - Dizia a nossa mais nova colega.

— Hmmm eu gosto de bolo. Da um pedaço? – Os olhos de Sagi brilhavam.

— Eu amo bolo! Meu preferido é o de chocolate!

— O meu também!

— O meu também! Que legal, nós gostamos de bolo de chocolate. Hahahaha

— Olha o que eu tenho Sagi-i... – Sage apareceu com uma barra de chocolate branco em mãos.

— Eu não ligo. Sai daqui, seu besta! –Deu um empurrão no irmão.

— Hahaha Não saio. Oiii Melli cabelo de minhoca. – Ele começou a jogar meus cabelos pra cima.

— Páááraaa! – Empurrei a mão dele.

— É cabelo de cocô então... Haaaa! – Ele continuava mexendo no meu cabelo.

Alessa observava atentamente a cena.

— Para, Sage...

— Não paro lalalalala – Bagunçava mais ainda meu cabelo.

— Agora você vai ver! – Sagi levantou da mesa e saiu correndo atrás do dele.

— Hahaha Eles se parecem muito... – Alessa ficara admirada com a semelhança dos dois.

— São irmãos gêmeos.

— Ah... Legal! Você ter irmãos?

— Não... Minha mãe só tem eu! – Sorri.

— Você gosta de pular corda?

— Nunca pulei...

— Amanhã vou trazer a minha e te ensino tá?

— Tá! A Sagi pode pular também?

— Pode sim!

— Ele vai ver... Vou comer tudo o chocolate dele!- Sagi voltou á mesa, com o rabo de cavalo desfeito.

Passamos o intervalo todo conversando sobre várias coisas e trocando lanche. Alessa parecia estar mais feliz e a vontade com a gente. No final do dia, minha mãe me buscou na escola, e mesmo depois do episódio com a professora, eu estava ansiosa para voltar á escola no dia seguinte, pois desde que entrei no carro, até chegar em casa, não parei um minuto se quer de falar do dia que eu tive.


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