Okaeri escrita por Jessie


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Olá, antes de começar a leitura sugiro que vocês olhem as notas da fanfic para entendê-la melhor.

Os trechos de música hoje são da banda Red . Musica : Pieces



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Capítulo 1

(Red-Pieces)

Estou aqui novamente

Mil milhas longe de Você

Uma bagunça

Apenas espalhando pedaços de mim

 

Tem coisa na vida que não tem explicação ou motivos. Coisas que simplesmente acontecem. Quando elas ocorrem não sabemos como agir e depois que o primeiro susto passa tentamos nos agarrar a qualquer lugar que pareça com o que tínhamos antes da mudança chegar. E nessa tentativa de nos manter seguros fazemos coisas que nunca imaginávamos fazer, dizemos coisas que nunca sairiam de nossa boca e quando percebemos o tempo de voltar atrás passou.

A vida era uma coisa engraçada, se é que podia colocar daquela maneira. Quando ele teve a oportunidade de seguir um caminho diferente não quis, e naquele momento o que mais queria era poder retornar e aceitar a oportunidade que lhe fora oferecida. As palavras que lhe diziam nunca fizeram tanto sentido. Toda vez que fechava os olhos se lembrava de cada vez que viu uma mão estendida pra lhe ajudar, mão que ele recusou.

Era doloroso agora perceber que havia outro caminho a percorrer , mas as coisas feitas não podiam ser mudadas e por esse motivo ele havia se conformado com a vida que agora levava. Após seis anos onde esteve afastado da vila decidira que era hora de voltar e organizar os cacos que deixara ali. Ele ainda não podia dizer que sentia em paz com a forma que aquilo acabara, mas pelo menos, acabara.

Sua vida fora dali se resumira a procurar uma vingança que alcançou, mas que não causou nenhuma satisfação. Depois de seis anos vagando pelo o mundo, vendo o mais belo e o mais desprezível ele percebeu que nada valeria a pena se tinha deixado para trás tantas coisas inacabadas. E esse foi um dos motivos que o fez dizer sim quando Naruto o encontrou durante uma de suas viagens pelo mundo.

Naruto fora até ali convicto que ainda valia a pena não desistir dele, e ele era obrigado a admitir que sentira algo bom ao perceber que ainda era importante para alguém. Após se separar do time Hebi vagara sozinho por longos anos, tendo em companhia apenas o vento. Encontrar alguém que ainda se preocupava foi como achar agua no meio do deserto, um alívio.

Estava em seu limite. Obviamente Naruto ainda precisou soca-lo para que ele finalmente percebesse o que estava fazendo consigo. E depois de seis anos de fuga ele resolvera que era hora de voltar pra casa. Claro que nem tudo foi tão simples assim. Tivera que enfrentar a fúria da Hokage, os olhos furiosos de seus antigos colegas de academia e o olhar reprovador de cada morador da vila que não concordava com a pena branda que Tsunade lhe concedera.

Alegando que ele tinha razões que o motivaram a procurar vingança contra a vila, Tsunade fizera com que o concelho oferecesse uma pena livre de prisões a ele. Sabendo do envolvimento da vila com o massacre foi mais fácil convencer os velhos anciões que um escândalo como aquele deveria permanecer enterrado.

E foi sob as condições de cumprir cinco anos de missões arriscadas sem receber recompensa e fazer todas as etapas do processo de patente ninja que ele fora aceito novamente em Konoha. Naruto na época zombou dele, por que enquanto o Uzumaki já havia recebido seu uniforme jounnin, ele ainda era considerado um ninja que mal saíra da academia. Foram necessários seis meses para que ele se livrasse da patente inicial e recebesse seu colete de jounnin e desde então não havia uma semana que não tivesse uma missão onde era obrigado a arriscar sua vida buscando a aceitação de uma vila que havia sido responsável pela sua tragédia pessoal.

Eu tentei tanto

Pensei que pudesse fazer isso sozinho

Eu me perdi tanto pelo caminho

 

Não havia porque continuar ali, ele sabia que se quisesse em menos de meia hora já estaria fora da vila em um lugar bem longe de tudo aquilo que continuava machucar. Então porque aceitar se submeter a aquela rotina que parecia que o sufocava toda vez que chegava de uma missão e entrava no seu apartamento escuro e solitário. Arrependimento? Quem sabe. Ela perdera as contas de quantas vezes parou pra pensar porque ainda não tinha largado tudo e voltado a viver a vaga pelo mundo. 

Apesar de toda angustia que aquilo acarretava ele sabia por que não tinha deixado Konoha. Ele não conseguiria viver mais nenhum dia carregando o fardo de abandonar mais uma vez aqueles que lhe estenderam a mão. Já era desesperador demais carregar o sangue de tanta gente em suas mãos, talvez permanecer ali, suportando todos os sentimentos sufocantes fosse sua punição, seu castigo por tudo que tinha feito, por todo mal que tinha causado.

Então era por isso que continuava a fazer missão após missão, sem se importar com os riscos ou qualquer coisa do tipo. Somente quando estava arriscando sua vida, muitas vezes para proteger completos estranhos, sentia que podia esquecer-se de tudo.  Os sentimentos de desespero, angústia e sufocamento sumiam. Ele conseguia respirar quando terminava de matar o inimigo e com seus olhos ainda injetados de vermelho sangue observar o mundo ao seu redor, que continuava a seguir seu curso, como se disse para ele que tudo aconteceria como devia ser, que ele não era o centro do universo.

Então Sasuke organizava suas coisas e voltava para a vila. Para seu apartamento escuro e frio, para os encontros semanais com Naruto e Kakashi. Para um lugar que fazia se lembrar de tudo o que deixara pra trás. Para um lugar que aos poucos foi fazendo o desespero sumir dando um lugar um novo sentimento que ele ainda não sabia classificar, mas que aparecia todas as vezes que Naruto falava que não via a hora que Sakura retornasse para a vila, que sentia saudades de sua amiga. Naqueles momentos Sasuke começava a se questionar o que sentiria quando a visse pela primeira vez depois de quase três anos.Então eu vejo sua face

Eu sei que finalmente sou seu

Eu acho tudo

Eu pensei que estava perdido antes

Você chama meu nome

Eu vou a você em pedaços

Então você pode me fazer inteiro

****

 O meio mais rápido de locomoção entre os ninjas ainda eram os bons e velhos pulos acrobáticos por entre árvores. Apesar de a tecnologia estar avançando cada vez mais algumas coisas ainda ficariam por um bom tempo vivas e passadas de geração a geração. Um velho costume era parar antes do anoitecer e encontrar abrigo contra tempestades e possíveis inimigos. Mas a dupla que corria no meio da floresta do país do fogo não estava preocupada em encontrar abrigo.

Dois anos depois da quarta guerra ninja o mundo vivia um período de relativa paz. Os ninjas mantinham seus empregos cuidando de pequenas tarefas para moradores ou casos de investigações que mantinham aquela paz estabelecida. Por esse motivo, e bem, por se tratar dos dois, quando a noite chegou nenhum fez menção de parar e descansar. O que mais queriam era chegar à vila e poder descansar depois de quatro meses longe.

 O vento estava bem gelado naquela madrugada, mas nem por isso se incomodava. Vento gelado não era nada em comparação aos que os dois amigos já tinha enfrentado. Ninjas renegados, bijus descontrolados, Uchiha’s renascidos e uma semideusa , era o começo de uma lista do que já tinha passado por suas mãos. Uma viagem no meio da noite era o mínimo de esforço para eles.

Nossa dupla tinha motivos diferentes para chegarem o mais rápido possível. O mais falante queria chegar a casa e ver o sorriso que mais amava no mundo, sorriso que não via há quatro meses, rosto que não tocava há quatro meses (se não levarmos em consideração os sonhos , é claro ).  O outro, bem, o outro só queria chegar em casa e poder dormir, voltar para seu mundo de pensamentos e análises, voltar pro lugar onde pagava seus pecados.

Depois de algumas horas começaram a ver as primeiras luzes que anunciavam que a vila estava próxima, seus pés aceleraram. Em poucos minutos chegaram ao portão de entrada. Antes de se separarem, e cada um seguir seu rumo, o ninja loiro se aproximou do outro que já se preparava para sumir sem ao menos se despedir.

— Nos encontramos as oito no escritório da Hokage, teme? — Perguntou o loiro. 

— Sim — Foi a resposta que deu, sempre o mesmo, falava apenas o necessário. 

— Nos vemos amanhã — O rapaz preparou-se para seguir seu caminho — Tenho que ir ver a Hinata. Boa noite, Sasuke. 

— Boa noite, Naruto — Respondeu enquanto já se distanciava, seu mundo lhe esperava. 

Naruto e Hinata ainda não estavam oficialmente casados, mas praticamente passavam todos os dias juntos, e havia sido um sacrifício enorme para o Uzumaki passar tanto tempo longe da moça que era a responsável pela sua atual felicidade, felicidade que não havia experimentado em toda a sua vida. Sasuke estava feliz por eles, sabia quanto tempo Naruto demorou até conseguir entender que o que sentia por Hinata era mais que carinho de amigo, e, além disso, havia presenciado o quanto ele sofrera ao crescer sozinho. Ter alguém para quem voltar, e por quem voltar, era algo que fortalecia o Uzumaki a cada dia.

E ele? Bem, ele tinha uma casa para onde voltar, e isso já era um começo. E pra ele ter aquilo já era muito depois de tudo que tinha feito. Ter uma pessoa pra quem voltar era uma coisa que não merecia, e que provavelmente não teria. Se ao menos tivesse prestado atenção nas coisas que sempre lhe falaram, naquele momento teria alguém para retornar, mas agora já era tarde demais. Afinal, a mesma pessoa que já lhe dera tantos conselhos na vida estava fora por quase três anos, e era difícil esconder, até mesmo para ele que sempre fora conhecido por não ter sentimentos, que sentia falta de ter alguém para estar ali.

Apesar de seus esforços para estar sempre sozinho, nunca atingiu seu objetivo. Ainda quando criança em Konoha tinha Naruto e ela para lhe imporem sua companhia. Ao sair de lá, apesar de não poder ser considerado companheirismo, Orochimaru e Kabuto estavam em seus dias. Deixando o sannin das cobras no passado encontrou presença em Karin, Suigetsu e Juugo. E ao retornar para casa, se é que já poderia considerar assim, foi pego de surpresa ao perceber que ele sempre teve necessidade de ter alguém. E esse alguém agora estava resumido a Naruto. Por que sobre ela não tinha notícias há três anos.

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Apesar do cansaço e da quase exaustão ela estava feliz por ter conseguido chegar a sua casa. O relógio já devia estar passando das cinco da manhã quando ela finalmente parou em frente aos portões verdes tão antigos e nem por isso menos bonitos. Apoiando as mãos nos joelhos se permitiu dois minutos para controlar a respiração que estava descompassada devido à corrida. Era reconfortante olhar para aqueles muros tão conhecidos. Mesmo há tanto tempo longe foi bom saber que sua memória continuava intacta, e sentir o ar puro daquele lugar tornou-se a melhor sensação que tivera nos últimos três anos.

 A garota de vinte e dois anos mal podia acreditar que estava ali. Ver os portões de Konoha depois de quase três anos fazia com que sentisse um misto de emoções que ainda não conseguia assimilar. Tinha alegria, saudades, tristeza, nostalgia, gratidão e muitas coisas misturadas. Seus últimos três anos passaram de uma forma tão conturbada que ela não conseguia se lembrar de há quanto tempo não sentia a sensação de paz que estava no seu coração ao olhar todos aquelas casas e templos tão conhecidos.  

Depois de três dias correndo com direito a pequenas pausas seu corpo estava pedindo um longo período de descanso. Seria preciso no mínimo doze horas de sono para recobrar um pouco da energia que gastou. Apesar de ser uma excelente ninja seu corpo ainda não era feito de titânio, então, atendendo aos seus desejos, decidiu seguir diretamente para a sua casa. A Hokage que a perdoasse, mas ela não tinha condições de reportar nenhuma missão àquela hora da noite.

Fez o caminho mais rápido que conhecia para chegar a sua casa, tentou evitar o máximo possível os lugares que sabia que poderiam estar movimentados mesmo naquela hora da noite. Apesar da saudade de seus amigos, o cansaço que sentia era maior do que qualquer vontade de vê-los.  Realmente as coisas mudaram muito, ela podia ver vários prédios novos na vila. Construções mais modernas que pareciam brotar do meio das clássicas casas em estilo oriental. O que mais notou foram os diversos bares que estavam abertos, torcia para que aquilo não tivesse tornado Konoha um lugar violento. Afinal, eles nem ao menos tinham um departamento policial... Afogou imediatamente aquelas lembranças que a conduziram por memórias que não gostaria de ter. 

Abriu a porta do seu pequeno apartamento e se surpreendeu ao ver que tudo estava na mais perfeita ordem. Nenhum grão de poeira sobre os móveis, nem um cisco pelo chão. Um sorriso se esbouçou em seus lábios finos. Hinata era tão gentil, e cumprira a promessa de manter as coisas em ordem. Logo compraria um presente para retribuir a Hyuuga aquele gesto tão singelo.

 A sala pequena acomodava uma estante com muitos porta-retratos. O sofá era creme, e estava coberto por uma manta amarela, com certeza obra de Hinata que sabia como a dona da casa gostava daquela cor. As paredes eram de um tom branco gelo e somente a central, onde ficava a estante, era pintada de amarelo. 

Jogou suas coisas no sofá, e subiu a escada em passos lentos. Seus músculos doíam devido à viagem exaustiva.  Chegou à porta do seu quarto e a abriu.  A cama de casal estava forrada com um belo edredom lilás, o guarda-roupa branco encostado na parede pintada de rosa, as demais eram brancas, uma escrivaninha e duas mesas de cabeceira completavam o dormitório.

Escolheu uma roupa confortável e se preparou para o banho que era necessário para conseguir relaxar e descansar. Foi até o banheiro e viu novamente a decoração verde e azul, se despiu, ligou o chuveiro e tomou um demorado banho quente. Secou-se, e vestiu a roupa que tinha escolhido. Desceu para o primeiro andar e chegou à cozinha. Teve sorte por ainda ter alguns alimentos que haviam sobrado da viagem, pois a dispensa, após três anos sem idas ao supermercado estava entregue as moscas. Terminou seu pequeno lanche e voltou para seu quarto, jogou-se na cama a fim de conseguir dormir e fazer com que todo cansaço e exaustão fossem em bora.

 Deitada há quase quarenta minutos ainda não conseguia fechar os olhos e embarcar no mundo dos sonos. Uma comichão no seu estomago não deixava o sono chegar. Por mais que tentasse dormir sua mente não desligava e cenas da viagem passavam em sua mente a todo o momento impedindo que conseguisse dormir.  Ela sabia que quanto mais tentasse mais demoraria a conseguir descansar, então resolveu se distrair organizando as duas caixas que havia deixado no canto de seu quarto com alguns objetos para guardar, resquícios de uma ultima mudança de endereço. 

Trouxe-as para cima da cama. Eram duas caixas, a primeira estava coberta de papel rosa e com letras grafadas dizendo: frágil. Ao abri-la se deparou com fotos antigas de sua família, passou os dedos pelos olhos para controlar as lágrimas que estavam aos poucos se aglomerando ali, ainda doía lembrar-se que não tinha mais sua amável família por perto, apesar de tê-los perdido há algum tempo a dor ainda continuava viva, como se tudo tivesse acontecido dias atrás.

 Depois de controlar suas lágrimas ela riu por encontrar uma foto dela com todas as amigas no aniversário de quinze anos de Ino, sentia tanta falta delas: Ino, Hinata, Tenten e Temari, todas estavam sujas de chocolate. Aquele havia sido um dos melhores dias de sua vida. Lembrava-se que rira tanto com as palhaçadas de Tenten que sua barriga chegara a doer. Lembrou-se de como riu ao ver a vermelhidão no rosto de Tenten quando para se livrar das indiretas que ela mandava a Ino sobre Sai foi cortada por uma loira que disse claramente que pelo menos ela não ficava se agarrando no meio do treino assim como Tenten e Neji. Seis meses depois o casal assumiu o namoro.

A outra caixa estava forrada com papel verde. E ela realmente não conseguia se lembrar do que estava ali dentro. Curiosa, abriu a caixa e encontrou alguns documentos de sua carreira ninja, prontuários antigos da época em que estagiava no hospital e envelopes com dinheiro que economizara durantes suas missões. Um envelope pardo com letras garrafais escrito: SECRETO chamou sua atenção, abriu rindo ao esperar alguma bobagem que teria feito com suas amigas e guardado ali, mas o riso sumiu ao retirar de dentro do envelope a foto de alguém que não esperava.

Em suas mãos estava a foto de identificação de Sasuke Uchiha. Depois de muito trabalho, e brigas com as outras meninas, ela havia conseguido aquela foto do garoto. Garoto? Sasuke aquela altura já era um verdadeiro homem. Quantos anos haviam se passado desde a ultima vez que o vira? Quatro anos... Quatros anos que fizeram com que Sakura percebesse o quão tola havia sido ao dedicar tanto carinho e amor a uma pessoa que não ligava a mínima para ela. Que nunca fora capaz de mostrar um simples gesto de afeição, nem mesmo uma palavra de conforto.

Ainda lembrava-se da dureza dos olhos dele ao encará-la antes dele e Naruto saírem para sua última batalha. Ao ver aquilo percebeu que não seria capaz de alcançar seu coração apesar de todo esforço que fizesse. Prometeu que curar o braço dele era a última coisa que faria, que a partir dali sua vida seguiria rumos diferentes. Gostaria de viver como sua mestra, vagando pelas aldeias e aprendendo cada vez mais sobre chakra medicinal.

O rosto sério, os traços duros, o cabelo desalinhado, ele estava perfeitamente impecável na sua fotografia de registro ninja, e mesmo por um papel a profundidade daquele olhar fazia com que algo fizesse um ruído, como se tivesse quebrando uma parte dela. Ao perceber que ainda tentava segurar suas lágrimas tratou de se controlar. Havia sido afetada pela foto, e questionava-se como aquilo ainda conseguia ter tanto controle sobre ela?  Enxugou as lágrimas teimosas e pegou novamente os papéis, só que foi impossível não sentir seu coração apertado ao encontrar uma página de uma carta que resolveu escrever quando Sasuke partiu.

Havia escrito aquilo na intenção de conseguir aliviar toda dor que sentiu ao ver aquele que amava se afastar da vila. Naquelas linhas que escreveu colocou toda sua raiva, frustação, medo , desespero, angústia e dor que sentia ao ver que tudo que tinha idealizado se acabara no momento em que Sasuke decidira que o melhor pra vida dele era sair da vila e conseguir o poder necessário para realizar sua vingança. Mesmo depois de tanto tempo ainda não conseguia entender as razões dele, porque não podia ficar na vila e treinar ali, crescer ali, se tornar forte ali e compartilhar sua vida com ela.

Dobrou a carta e guardou a onde tinha achado, secando o canto de seus olhos devolver a caixa para o canto do quarto e voltou a se deitar. Não queria pensar em nada que havia lido, eram palavras passadas, que tinham sido enterradas no dia em que viu Sasuke tentar verdadeiramente matar Naruto. Matar a pessoa que mais tinha feito coisas por ele, pra Sakura quem era capaz de fazer aquilo não tinha o direito de mais nada na vida e foi por isso que estava cada vez mais confiante de sua resolução, ele é passado, e o passado deve ser enterrado e já mais lembrado.

X~x~x~x~x~x~X

Quando acordou, por volta das onze horas, sentia-se revigorada. Os únicos vestígios dos sentimentos e do quase choro da noite anterior eram as caixas no chão do quarto. Recolheu tudo como se fossem papeis normais e os guardou em cima do guarda roupa, onde suas memórias não poderiam ser alcançadas. De forma apressada organizou o que faltava o mais rápido possível para poder ir logo ao escritório de sua mentora e também amiga Tsunade, a quinta Hokage. Sabia que se demorasse muito para ir vê-la ouviria um longo sermão.

 Pegou a primeira roupa que viu, consistia de uma calça jeans preta e uma regata branca. Tomou um pouco de suco e foi então para o escritório da sannin das lesmas. Enquanto caminhava pode ver melhor as coisas, pois na noite anterior estava escuro e a Haruno não conseguiu ver os detalhes, a vila tinha mudado muito. Enquanto andava viu várias pessoas conhecidas e os cumprimentavas, mas de seus amigos mais próximos não encontrou nem mesmo um clone.

Em pouco tempo já estava no escritório de Tsunade. A torre continuava do mesmo jeito que ela se lembrava. O clima de correria pelos corredores fazia ela se sentir  cada vez mais a vontade, cada vez mais em casa. Lembrava-se de quantas vezes entrou naquele prédio a espera de uma nova missão, ordem ou treino.

            — Sakura! — Exclamou Shizune ao ver a moça — Que bom que voltou. Estávamos morrendo de saudades. 

            — Também senti saudades Shizune-senpai. — Respondeu ela retribuindo o sorriso da outra. — Tsunade-shinshou está? 

            — Está sim. Pode ir até lá.  

         — Obrigada — Sakura respondeu já caminhando para a porta do escritório mais importante de todo país do fogo, o escritório da Hokage. Um sentimento de orgulho a encheu, pois ela conseguira se tornar aprendiz de Tsunade, e com esforço ganhou sua confiança. Ela realmente estava mais forte, mas os motivos eram diferentes do que estabeleceu quando tinha doze anos. Agora ela buscava força, não para salvar uma antiga paixão, mas para se estabelecer e afirmar como pessoa e proteger seus amigos e vila que tanto amava. 

Deu leves batidos na porta de madeira e ouviu um breve “entra” de Tsunade. Era tão reconfortante ouvir aquela voz tão conhecida novamente. Colocou a mão na maçaneta, e sentiu algo estranho. A mesmo comichão que a impedira de dormir. Mas respirou fundo e abriu a porta. Girou a maçaneta, entrou e se virou para encostar a porta.

Sua mente deu uma volta de trezentos e sessenta graus quando ela observou a cena a sua frente. Aquilo era o que ela jamais havia imaginado em sua vida. Tsunade a olhava com os olhos brilhantes de felicidade por de traz de sua costumeira mesa de trabalho. Ao lado dela um Naruto eufórico lhe olhava com um sorriso que ia de um canto da boca ao outro. Mas , apesar das duas figuras que tanto amava estarem lhe sorrindo o que lhe roubou toda atenção foi o homem com uma expressão estoica parado ao lado de Naruto.  

            O que Uchiha Sasuke fazia parado no meio da sala da Hokage? Ainda mais vestido com roupas comuns e com o hataite da folha amarrado na cintura.  Quando se deu conta estava procurando por todas as saídas possível para se ver livre daquele encontro, mesmo que as perguntas saltitassem em seu pensamento o que mais queria era se ver livre daquela situação. Forçando-se a manter a calma dirigiu seu olhar para Sasuke, que o retribuiu na mesma intensidade. Ele parecia surpreso ao vê-la ou era apenas coisa de sua imaginação?

            Conseguiu respirar novamente quando ouviu seu nome sendo pronunciado por Naruto.  

            — Sakura-chan— Berrou Naruto — Você voltou. Eu não acredito — Disse se aproximando da amiga e lhe dando o costumeiro a braço a la Uzumaki— Quando você chegou? Porque não avisou que eu e Hinata iriamos te receber. 

            — Eu... Eu... — Acalme-se Sakura, disse a ela mesma, respirou e conseguiu prosseguir vestindo-se de uma expressão que nada dizia além do que ela queria: que era uma situação em que nada lhe afetava. — Voltei ontem à noite, Naruto.

            — Já esperava por você Sakura. — Foi a vez de Tsunade falar — Já era a hora de você voltar. 

            —Sakura — Sasuke falou e ela sentiu seu estomago apertar, ele a estava cumprimentando educadamente. Ela estremeceu internamente com aquela voz, Sasuke não mudara muito. Na verdade, estava mais bonito do que ela se lembrava. Parecia que a imensidão de seus olhos só tinha aumentado, era como olhar para um buraco negro. Mas era a primeira vez em anos que ele se dirigia a ela e naquele momento o coração de Sakura deu um salto de contentamento que ela rapidamente suprimiu.

            — É verdade, vocês não se vem há muito tempo. — Naruto e sua costumeira inocência expressaram o que Sakura pensava.  

            — Pois é... — Respondeu ela sorrindo, e o sorriso não estava no olhar— Três anos. 

            — Sakura-chan — Continuou Naruto. Ele estava radiante com a volta da amiga e ali estava o time sete reunido novamente. O Uzumaki adicionou aquele dia aos melhores de sua vida. Como se aquilo fosse mais importante do que o próprio ato de respirar Naruto falou o que estava esperando para dizer a anos.  — Eu cumpri a promessa que ti fiz. Consegui trazer o teme de volta.

— Naruto — Falou Sakura — Isso já faz muito tempo, é passado. — Como havia conseguido ser assim tão fria? Percebeu o mal que fizera ao dizer aquilo quando viu os olhos tristonhos de Naruto, mas não conseguia dizer mais nada, estava paralisada pelo susto. Ela virou-se para Tsunade agindo como se nada tivesse acontecendo— Vim lhe trazer o relatório da missão, shinshou. 

            — Deixe sobre a mesa — Disse a Hokage — Aproveitando que o time sete está reunido novamente vou lhes comunicar uma coisa.

Time Sete? Eles não eram mais o time sete. Sasuke não pertencia ao time sete. Sakura não sabia de onde havia tirado tanto desprezo para pensar em Sasuke daquela maneira. Mas ela não estava nem ai. Não queria fazer parte de um time onde um dos membros tentava matar os outros dois, como se nada mais importasse além de seu próprio bem estar. O time sete era uma entidade passada, que se perdera no momento em que Sasuke levantara uma barreira entre eles ao ir buscar poder.  

            — O que é? — Perguntou Naruto voltando a se animar— Uma missão? 

            — Não — disse Tsunade — Estou dando a vocês um mês de férias. 

            — Férias? — Aquilo era outra surpresa. Desde quando Tsunade passou a dar férias aos seus subordinados?  

            — Vocês estão precisando. Está há três anos em uma mesma missão Sakura. E desde o retorno de Sasuke, Naruto e ele não pararam por um segundo.

            — Que legal! — Exclamou Naruto 

            — É bom mesmo — Concordou Sakura — Vou poder descansar bastante. 

            — Suas férias começam hoje. Estão dispensados.

*****

Eu vim incompleto

Mas você faz o sentido de quem eu sou

Como peças de quebra-cabeça em suas mãos

 

Saíram da sala os três juntos, Naruto falava várias coisas para Sakura, mas a impressão que Sasuke tinha era que ela nada ouvia. Parecia estar com o pensamento bem distante, em algum lugar onde as palavras de Naruto não lhe alcançava. Sasuke não soube explicar o que sentiu ao ver a garota ali na sua frente. Tinha imaginado aquilo desde que retornara a vila, e agora que aconteceu não sabia o que deveria estar sentindo ou fazendo. Tudo  aconteceu de uma forma que ele não esperava.

Foi mais do que uma simples surpresa nunca esperou que ela voltasse naquele momento. Ao vê-la um turbilhão de sentimentos o invadiu, Sakura estava diferente do que ele se lembrava. Onde estava todos os “Sasuke-kun isso, Sasuke- kun aquilo”? Porque as bochechas dela não haviam assumido aquele tom róseo que sempre tinham quando ele se aproximava? 

            Os cabelos róseos agora estavam mais longos,  o corpo era o que mais mudara, ela não podia ser mais  chamada de tábua por Ino, como homem ele tinha que admitir que Sakura não tinha nada que lembrasse uma tábua. O corpo havia ganhado mais curvas devido ao árduo treinamento, somente os olhos estavam iguais, o mesmo verde esmeraldino com ar inocente, e apesar do olhar de indiferença aqueles olhos ainda conseguiam aquecer seu coração, como no tempo de criança. Se antes ele a achava irritante, agora ela era uma irritante estupidamente linda. 

Mas o que mais lhe incomodara foi à indiferença dela frente a ele. Sakura não demonstrou nenhuma emoção ao vê-lo. Disse que o pedido que havia feito  a Naruto era coisa do passado, sinal que o que ela disse que sentia por ele naquela noite também era. Guardou aquelas palavras sabendo que era o que devia esperar dali pra frente. Ela tinha o direito de não quere-lo por perto e ele tinha o dever de mantê-la segura, bem  longe dele.

 Quando eu vejo sua face

Eu sei que finalmente sou seu

Eu acho tudo

Eu pensei que estava perdido antes

Você chama meu nome

Eu vou a você em pedaços

Então você pode me fazer inteiro


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Notas finais do capítulo

Bom, eu realmente estou nervosa ao postar isso aqui, porque bem, dois anos sem escrever nada, então. Espero que se verem algum erro me avisem, eu revisei umas 4 vezes, mas mesmo assim sempre passa alguma coisa.

Bom, beijos, até terça posto o próximo capítulo.



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