25 - Water Under The Bridge escrita por Fernanda Redfield


Capítulo 1
25 - Water Under The Bridge (Único)


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, como vocês estão?

Espero que todos estejam bem e que esse começo de ano esteja sendo fantástico para cada um de vocês *-*
Bem, me perdoem a demora... Viajei e voltei direto para o trabalho, demorei alguns dias para me reorganizar!

Mas, voltei com mais uma one do nosso projeto ♥ Essa que marca a metade do meu trabalho com o álbum e que, também, é a minha música preferida de todo ele!

Apreciem e boa leitura!



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“If you’re not the one for me, then how come I can bring you to your knees? If you’re not the one for me, why do I hate the Idea of being free? And If I’m not the one for you, you’ve got to stop holding me the way you do! Oh honey, if I’m not the one for you, why have we been through what we have been through?”

 

As mãos que seguravam a cintura de Rachel Berry não eram bem as que ela pensava que fossem, um dia, fazerem aquilo com tanta gana e ânsia. Tampouco, ela imaginava que fosse um par de olhos verdes que a olharia com tanta devoção. Muito menos pensava que uma boca tão delicada e um perfume tão doce fossem fazer parte de seus melhores sonhos e de suas piores noites de insônia.

Em mundo algum, em qualquer que fosse a realidade alternativa, Rachel jamais imaginaria que estaria tão entregue e tão dependente de Quinn Fabray como estava naquele momento.

Porém, diante de todas as perguntas sem resposta e de todos os rumos inesperados que a relação das duas tomara... Rachel não conseguia questionar a veracidade do que tinham. Fosse a química, ou a paixão, ou o desejo... Ela não conseguia questionar quão palpável e sensível era o que dividia com Quinn.

“Aquilo” que ela recusava-se nomear, mesmo sabendo em seu interior do que se tratava... Rachel era uma daquelas pessoas que se apaixonavam fácil e de forma leal, pelo tempo que fosse. Com Quinn, não era diferente. Rachel estava apaixonada.

Na verdade, perdidamente, apaixonada.

Rachel não era boba e conhecia Quinn muito bem. A morena sabia que a loira afastava aqueles de quem gostava, também sabia que ela era muito boa em erguer barreiras e ferir qualquer um que a ameaçasse... E Rachel também sabia que, para Quinn, o amor era uma ameaça. Foi esse sentimento, ou o fantasma dele, que a fizera perder Beth, depois Puck e quase lhe tirara os sonhos.

O amor era algo que Quinn excluíra de sua vida, ainda que tivesse Rachel, sempre presente, nela.

Portanto, Rachel sabia que liam o mesmo livro, mas sabia muito bem que não estavam na mesma página. Um abismo cada vez maior se estendia entre elas e aquilo sufocava a morena. Porque, do contrário de Quinn e seus medos, Rachel a deixara entrar. Rachel a deixara invadir e tomar cada pedacinho de si, a morena se fez da loira antes mesmo que pudesse evitar (e não era como se quisesse evitar). Rachel era assim, tudo no preto e no branco, os tons de cinza não existiam em sua vida. Ela não sabia existir quando podia viver. Ela não sabia amar pela metade.

E ela sentia que Quinn era única, independente do papel que desempenhasse em sua vida.

Por isso, o aperto ganancioso de Quinn a distraía, mas não a tirava da necessidade de saber, de fato, o que ela significava para a loira. As mãos de Rachel deixaram os cabelos loiros e percorreram, tortuosas, as costas pálidas. Chegaram à cintura e foram direcionados para os braços, cada pelo loiro se arrepiou ao contato das pontas dos dedos morenos. Por fim, Rachel chegou aos dedos que apertavam sua própria cintura e entrelaçou-se a eles, Quinn ofegou em seus lábios e Rachel aproveitou a deixa para, lentamente, se afastar... Um sorriso satisfeito brotando em seus lábios conforme se afastava e Quinn esforçava-se para ter mais dela.

Ali estava toda a ânsia e toda a necessidade de Quinn, impressas nos olhos verdes, cujas pupilas estavam dilatadas, marcados na respiração ofegante e embalados pelas batidas aceleradas de seu coração de encontro à pele de Rachel, cujas próprias batidas ecoavam no mesmo ritmo do coração da loira. As duas estavam em sintonia, em equilíbrio.

Os tons acinzentados da relação das duas não pareciam nublar quanto uma precisava de outra.

Porém, Quinn ainda se escondia e recusava-se a falar. E Rachel, naquele momento, estava determinada a não ceder se, de fato, também tivesse o que queria. E, tratando-se de Rachel Berry, palavras eram necessárias e indispensáveis.

— Você sabe que nós duas temos pouco tempo, não deveria estar desperdiçando-o ao se afastar de mim... - Quinn comentou insatisfeita, rangendo os dentes para o sorriso vitorioso que terminara de desenhar-se nos lábios carnudos de Rachel. A morena aproximou-se dela e a beijou na bochecha, passando a língua de forma sedutora sobre a pele pálida, Quinn suspirou e apertou ainda mais a cintura morena. Rachel voltou às mãos para sua nuca e arranhou, Quinn ronronou enquanto a morena sussurrava em seu ouvido:

— Não seria muito melhor se nós duas não tivéssemos tempo algum para ser desperdiçado? Se, de fato, nós tivéssemos justamente o contrário... Todo o tempo do mundo para nós duas?

As indagações eram fortes e pairaram no ar entre elas. Rachel sentiu o peso de cada uma de suas palavras e, enquanto observava Quinn, percebeu quão grande fora seu erro... As emoções que foram talhadas no rosto da loira até, por fim, terminarem na máscara de frieza que ela trajava diante de uma ameaça, somente a convenceram que era egoísmo demais pedir demais de Quinn.

Será?

Era egoísmo querer tão intensamente Quinn somente para ela? Estava sendo sincera, deixando claro com todas as letras e atitudes que a queria, independente do que ela trouxesse consigo para uma relação. Rachel queria todas as partes de Quinn, até mesmo o seu medo e a sua solidão.

Rachel a queria, por inteiro, e só queria saber se era tão desejada, da mesma forma.

“It’s so cold out here in your wilderness... I want you to be my keeper but not if you are so reckless!”

 

Os olhos verdes se tornaram gélidos, como esmeraldas. Quinn crispou os lábios porque as palavras que gostaria de dizer ficaram presas em sua garganta. O que Rachel lhe pedia ia além da sua capacidade.

A loira não era capaz de se doar quando já deixara de se pertencer.

Aquela Quinn, que acreditava nas pessoas e se jogava em seus sentimentos, fora abandonada há muitos anos, ainda no McKinley High. Hoje, era uma versão acinzentada de todos os tons coloridos e esperançosos que, um dia, tivera.

Por mais que tivesse certeza que Rachel não era como todos os errados de sua vida, isso não a impedia de se sentir sufocada e, principalmente, amedrontada. Portanto, sua face talhou-se em frieza e seus olhos em frio, dentro de si, sua alma estava tão árida como seu coração permanentemente machucada.

Rachel, naquele momento, olhou para ela e enxergou um deserto. Sentiu sede, mas Quinn era incapaz de ser o seu oásis.

Ainda assim, a morena insistiu e não se afastou. Ela impulsionou o tronco para frente e se ajeitou no colo da loira, as mãos pálidas pareciam inertes em sua pele e ela, envolvendo-as nas suas morenas, apertou-as. Rachel instigou para que Quinn não a abandonasse ainda mais, procurou a loira com os olhos e, ainda assim, não a encontrou. Quinn estava longe, presa em suas próprias mazelas de um passado desafortunado.

Rachel fechou os próprios olhos castanhos, o amargo do arrependimento lhe incomodou muito mais que a secura em Quinn. Ela se aproximou, encostou-se a fronte de Quinn e sôfrega, murmurou:

— Desculpe, eu só falo demais e não consigo evitar...

— Evitar o que?! - Quinn questionou, abrupta e grosseira, abrindo os olhos verdes e voltando a jogar toda a frieza em cima da esperança calorosa de Rachel. A morena afastou-se ferida, desgrudando-se do corpo de Quinn. Porém, a loira a manteve no lugar, não pelas mãos e sim, pela exigência impressa nos orbes esverdeados. Rachel engoliu em seco e, sentindo-se patética, murmurou:

— Eu não consigo evitar querer que você cuide de mim da forma como eu me permito cuidar de você desde sempre.

Rachel percebeu, antes mesmo de terminar a pronúncia das palavras, que tinha ferido sabe-se lá o que dentro daquele deserto emocional que era Quinn Fabray. Ela preparou-se porque aquilo não terminaria bem, nem bonito.

“If you’re gonna let me down, let me down gently... Don’t pretend that you don’t want me! Our love ain’t water under the bridge! Say that our love ain’t water under the bridge!”

 

— Eu não me lembro de ter pedido para você cuidar de mim. - Quinn respondeu de forma seca e insensível, lançando olhares frios e ofendidos para uma Rachel totalmente indignada com tal comportamento.

Aquele era outro defeito de Quinn Fabray, na verdade, tanto ela como Rachel Berry eram extremamente orgulhosas. Porém, o “Orgulho Fabray”, quando posto à prova e ofendido, era tóxico e venenoso. Rachel o conhecia bem, assim como compreendia cada pedaço daquele quebra-cabeça chamado Quinn Fabray.

A atração que Rachel sentia por ela era antiga, mais precisamente, desde a época do colégio ainda que não pensasse na sua obsessão dessa forma. A morena sempre estudou Quinn Fabray e sempre quis, de alguma forma, entrar naquele mundo misterioso e quando conseguiu, encontrou tudo o que procurava e, talvez, fosse somente por isso que se apaixonara.

As duas eram tão diferentes, tão opostas e tão repelentes e, ainda assim, gravitaram de encontro uma à outra. Em algum momento após o colégio, elas se apaixonaram sim ou não estariam há três anos naquele estranho relacionamento de benefícios. E, por mais que Rachel conhecesse Quinn, ela não conseguia entender como ainda não derrubara as barreiras emocionais que a loira erguera.

Qual era o problema?

Porém, quanto mais tentava, mais Rachel se aprimorava na arte do enfrentamento. Assim como se cansava. A morena realmente não sabia quantas outras discussões agüentaria até que finalmente explodisse e deixasse tudo cair por terra. Quinn, por outro lado, parecia gostar de discutir e, principalmente, vencer. Seu relacionamento com Rachel era, de longe, o mais duradouro que já tivera e brigava, todos os dias, por ele, ainda que fosse da forma errada.

Nenhuma das duas estava disposta a ceder e esse, provavelmente, era o maior problema delas.

— Olha Quinn, você está autorizada a bancar a rude egoísta... Mas, eu lhe proíbo de bancar a idiota. - Rachel vociferou cansada, afastando-se por completo de Quinn e colocando as mãos na cintura, encarando-a firmemente. A loira  revirou os olhos para a morena e Rachel bufou, irritada com o pouco caso que a outra fazia aos seus sentimentos. Era sempre assim, ela se entregava a Quinn e se humilhava e, mesmo assim, voltava para os braços dela sem saber ao menos o por quê. - Não finja que você não se importa. Se você tentou não se importar, sinto muito, mas você falhou. Você não estaria comigo, por três anos, senão se importasse comigo ou com isso que nós temos.

Foi o momento em que Quinn ficou, realmente, ofendida. Não soube se foi o tom de voz que Rachel usou para se referir ao “isso” que elas viviam, mas existia algo nas entrelinhas ditas por ela que a machucou de uma forma que ela achasse estar blindada contra. De certa forma, a loira se ofendera porque aquilo que Rachel acreditava ser pouco e insuficiente era o máximo que ela poderia dar.

Rachel não sabia e, talvez, jamais soubesse que Quinn realmente se esforçava para mantê-la por perto. Ainda que não usasse as palavras certas e, muito menos, nomeasse o que ambas tinham, Quinn acreditava. Podia não se entregar totalmente, mas ela acreditava... Acreditava muito mais em Rachel do que nela mesma.

E foi ali que Quinn percebeu o que, de fato, a magoara nas palavras de Rachel... A morena estava desistindo dela. Depois de todos aqueles anos, Rachel estava fazendo exatamente como todos em sua vida. Estava sendo abandonada por quem mais se entregara.

Aquela simples certeza, infundada e mal pensada, rasgou o interior de Quinn. A loira levantou-se da cama e marchou para Rachel, a morena, corajosa, sequer vacilou. Quinn fechou os punhos ao lado do corpo e, agressiva, ordenou:

— Diga logo o que você quer dizer!

— Eu não quero dizer nada, Fabray! Tudo que eu pude dizer, eu lhe disse! - Rachel vociferou em resposta, tão ferida quanto Quinn porque ela enxergava a dor dentro de toda a frieza que ocupava os olhos da loira, a conhecia bem demais e já caminhara muitas vezes sozinha naquele deserto. Ela sabia como sobreviver à aridez dos sentimentos de Quinn Fabray. - Mais do que isso, tudo que eu senti, eu fiz! É a sua vez de fazer as coisas darem certo... Eu estou cansada!

— Cansada? Quem é que está dando menos ao que temos? - Quinn questionou, dividindo-se entre a raiva por provavelmente estar sendo abandonada de novo e o medo de, mais uma vez, ficar sozinha. A expressão de Rachel assumiu feições que Quinn não esperava, a morena não se inflamou e, muito menos, se enfureceu. Uma expressão magoada e serena tomou os traços morenos, Rachel deu um passo à frente e um sorriso triste enquanto pegava a mão de Quinn e delineava as falanges pálidas com a ponta de seus dedos. Os olhos de Quinn arderam e seu peito apertou, ela sabia o que era aquilo. Rachel pigarreou e, melancólica, disse:

— Eu nunca dei pouco ao que temos e, talvez, esse tenha sido o problema. No passado, isso não importava porque eu não lhe pedia nada em troca. Mas, agora, eu não peço... Eu preciso, Quinn! Eu preciso de tudo que eu puder ter de você porque, inesperadamente, o que eu já tenho se tornou insuficiente.

Quinn ainda pensava sobre o que Rachel dizia quando o som da porta se batendo lhe atingiu física e emocionalmente. A morena a deixara em seu dormitório e, também, dera um passo para longe de si. Quinn tentou engolir o bolo formado em sua garganta, mas não conseguiu... A verdade lhe atingiu e ela chorou.

Rachel estava fraquejando.

A água estava correndo debaixo de seus pés e ela já não estava mais a salvo em terra firme porque o seu porto se perdera em meio a uma tempestade. Quinn estava se afogando enquanto tudo que vivera com Rachel quebrava violentamente de encontro ao seu casco. Quinn estava naufragando e não via salva-vidas algum para dragá-la de volta à superfície.

 

“What are you waiting for? You never seem to make it though the door... And who are you hiding from? It ain’t no life to live like you’re on the run. Have I ever asked to much? The only thing that I want is your love!”

 

As semanas seguintes foram verdadeiras provações para ambas.

Rachel não fraquejou na sua decisão, ainda que não soubesse muito bem o que ela significava. A morena dizia, o tempo todo, para si que estava dando uma chance a Quinn quando, na verdade, estava gostando de viver uma vida independente dela. Enquanto isso, do outro lado, Quinn via-se tentando alcançar uma Rachel que, cada vez, afastava-se dela.

Porém, o destino sorrira para elas.

Santana tivera uma ideia de festa no apartamento que dividia com Kurt e Rachel em New York e, obviamente, Quinn fora convidada e Rachel, como uma das anfitriãs, não pudera arrumar uma boa e convincente desculpa para não estar ali naquela noite.

Portanto, as duas estavam novamente no mesmo cômodo depois de tantos dias. Em lados opostos, elas se observaram a noite toda e, em oportunidades fortuitas e discretas, trocaram olhares tão rápidos que passavam incompreendidos. Quinn encontrava-se rodeada de rapazes e moças, mas só tinha olhos para Rachel enquanto a morena evitava a olhá-la e focava toda a sua atenção em uma amiga de Kurt de NYADA, atual colega de elenco dele na nova montagem de “Hairspray”.

Quinn, linda e frustrada, observava Rachel sorrir cada vez mais brilhantemente para a ruiva, amiga de Kurt. Em algum momento da noite, Quinn virou um copo de whisky puro, fez uma careta para o amargo do líquido e atravessou a sala a passos rápidos e decididos. Então, ela finalmente encontrou Rachel depois de semanas sentindo falta dela.

O perfume de baunilha de Rachel nublou seus sentidos e os olhos castanhos voltaram-se tão desesperados para si que Quinn, totalmente paralisada por eles, ofegou. A ruiva também a recepcionou, com uma expressão confusa e frustrada, Rachel pigarreou e, quebrando o gelo, apresentou:

— Desculpe, Sara... Essa é Quinn Fabray, ela estudou comigo, Santana e Kurt em Ohio.

— Nossa! Vocês todos combinaram de se mudarem para New York? - Sara disfarçou a decepção com um sorriso amarelo. Quinn sorriu malignamente para a expressão caída da sua oponente e estendeu a mão para cumprimentá-la. A ruiva tinha olhos azuis que lutaram bravamente contra os olhos verdes de Quinn. Não foi surpresa alguma quando Sara desviou os olhos para Rachel, sorrindo encantada para a morena. Quinn rangeu os dentes. - Não que eu esteja reclamando, mas é muita coincidência.

— Eu não estou em New York, cursei e faço pós-graduação em Artes Cênicas em Yale, New England. Mas, devo acrescentar que não é muito longe daqui. - Quinn respondeu com o tom de voz manso, disfarçando o tom de ameaça que Rachel conhecera tão bem, afinal, já o vira em ação pelos corredores do McKinley High mais de uma vez. Sara arqueou a sobrancelha, percebendo rapidamente a ameaça, ela voltou-se para Rachel que estava apreensiva demais para interceder, e acrescentou:

— Qual de vocês veio primeiro? Aposto que foi você, Rachel... Eles não teriam vindo senão tivessem uma estrela para guiá-los.

Sara não disfarçou o tom de flerte, muito menos a piscadela no final de sua fala. Rachel também não conseguiu esconder o rubor em suas bochechas, nem o sorriso bobo em seus lábios... Sentia os olhares possessivos de Quinn sobre si e, ainda assim, não se conteve. A loira, por outro lado, parecia uma estátua de gelo entre Sara e Rachel, a legítima Ice Queen.

A música soava alto nos ouvidos de cada uma e, por mais que a presença de Sara fosse inebriante e rejuvenescedora, Rachel não se surpreendeu por estar tão inflamada com a presença de Quinn, ao seu lado. A morena podia sentir o calor emanar do corpo da loira, também não precisava olhar para ela para saber quão furiosa ela estava.

A forma como conhecia e reconhecia Quinn era patética.

Quinn sorriu para baixo, sua mente tentando trabalhar em uma retórica, sendo fortemente afastada pelo ciúme que a fazia enxergar vermelho. Poucos tinham o direito de referir-se a Rachel como estrela, afinal, poucos sabiam o que aquilo significava a ela e aquela ruiva, seja lá quem fosse, não sabia nem metade da mulher que Rachel Berry era e a qual ela se tornaria.

E Quinn Fabray, por mais que não soubesse demonstrar, sabia quem Rachel era. Principalmente, agora, sabia quem Rachel era na sua vida.

Aquelas semanas, caminhando sozinha pelo seu deserto, lhe fizeram pedir pela água e pelo oásis que, metaforicamente, eram Rachel. Era ela quem a inundava e a preenchia quando a aridez se tornava insustentável, não era preciso ser um gênio para entender que Rachel tornava Quinn uma pessoa melhor, ainda que ela não soubesse falar e nem sentir da forma correta.

Quinn queria que Rachel voltasse a afogar e dragá-la para o fundo, ela toparia se afogar se fosse junto dela.

“If you’re gonna let me down, let me down gently... Don’t pretend that you don’t want me! Our love ain’t waterunder the bridge! Say that our love ain’t water under the bridge! It’s so cold out here in your wilderness... I want you to bem y keeper, but not if you are so reckless.”

Quinn olhou de esguelha para Rachel que, desde que interrompera a conversa dela com Sara, não a olhara nos olhos. A loira não lhe tirava a razão dessa atitude, sabia muito bem como era quando se sentia sufocada pela sua estúpida bagagem emocional... Era ameaçadora quando lhe invadiam porque tinha medo de se perder. E, ainda mais estúpido que sua bagagem emocional, era esse seu medo.

Por que ela tinha medo de se entregar àquela que, sempre, a tivera?

Desde que estudaram juntas no colegial, Quinn pertenceu a Rachel. A loira sempre quis que Rachel a enxergasse, fosse pelos apelidos, pelas raspadinhas ou pelos desenhos... Formas absurdas e idiotas de demonstrar o que sentia, iguais às discussões e palavras não-ditas naquela relação de três anos.

Quinn lutou tanto tempo para tê-la que demorou três anos para perceber o que tinha em mãos e esperava, verdadeiramente, não ter perdido Rachel naquela fatídica discussão que mal durara uma hora.

Aqueles dias sem Rachel a fizeram entender que ela era a única e que o espaço que ela ocupara em sua vida era o mesmo desde quando se conheceram há onze anos... Rachel era sua estrela, sua inspiração, sua luz, sua guia, seu porto... Seu amor.

Aquele amor torto, tão bagunçado como ela mesma era. Aquele tipo de amor que precisa ser investido e forçado, todos os dias. Aquele tipo de amor que somente as duas entenderiam porque era muito delas e pouco dos outros. Aquele amor que não era água, mas um oceano inteiro.

O tipo de amor que era o passado, o presente e o futuro e todo o infinito de tempos e dimensões metidos entre eles.

E foi esse amor que fez a expressão de Quinn se amenizar, ela realmente não ligava se Rachel estivesse magoada com ela naquele momento... Quinn só precisava que ela soubesse como se sentia, pela primeira vez em toda a relação conturbada das duas, ela precisava falar o que sentia e precisava propor um nível além do que já tinham.

Quinn sentiu-se exatamente da mesma forma que Rachel: instantaneamente, tudo que elas possuíam parecia pouco. Ainda que fosse feito de onze anos, dos 14 aos 25, anos de pseudo-ódio, paixão calada e admiração velada. Cujos últimos anos foram convertidos, de desejo para amor, tão rapidamente e tão intensamente quanto o momento em que seus olhares se cruzaram, pela primeira vez, nos corredores do McKinley High.    

Os momentos se passaram como um filme antigo na memória de Quinn, ela escutou Sara e Rachel engatarem um novo assunto que não lhe interessava enquanto, em vez de se afogar, ela nadou... Nadou de encontro a Rachel e ao seu futuro na superfície, respirou fundo e pigarreou. Sara e Rachel calaram-se. A morena estava aflita enquanto a ruiva parecia irritada. Quinn sorriu para Sara e respondeu:

— Respondendo à sua pergunta, Sara... Eu fui a primeira a receber a carta de admissão. Mas, realmente, eu não teria vindo para tão perto se certa estrela dourada não tivesse vociferado antes que não existia outra cidade para ela que não fosse New York.

A música ainda tocava na sala, mas aquele canto e que as três estavam foi envolvido por um silêncio tocante e leve, como se tudo ao redor estivesse em outra realidade. Sara olhou de Quinn, cujos olhos verdes estavam focados em Rachel, para a morena que fechara os olhos e engolira em seco, parecendo sufocar algumas lágrimas que tão visceralmente chegaram aos seus olhos castanhos. A ruiva tentava entender a estranha tensão entre elas até que Quinn, sem dizer nada, partiu com um sorriso nos lábios.

Alguns segundos se passaram até que Rachel abrisse os olhos à procura de Quinn, nesse momento, até mesmo Sara tinha saído de cena.

Rachel, novamente, viu-se em um deserto, totalmente perdida... A morena encontrou-se, mais uma vez, como aquela garota de 15 anos que, desesperadamente, tentava chamar a atenção da head cheerleader do colégio. Mais uma vez, Rachel ansiava por desvendar todos os mistérios que envolviam Quinn. Inclusive, aquelas palavras.

Mais uma vez, Rachel a quis. Na verdade, nunca a deixou de querê-la. Seu amor por ela era tão fluido e inconstante como a água, mas não era uma corrente que se passava e ia de encontro ao mar... Era a água que a nutria.

Era a recompensa por desbravar aquele deserto emocional por tantas vezes e encontrar, no final de tudo, o amor de Quinn por ela impresso em cada ato, cada beijo e cada olhar.

Ela precisava parar de depender de palavras e viver, somente, do que Quinn podia lhe dar.

“Say it ain’t so... Say that our love ain’t water under the bridge.”

 

Quinn sorriu quando escutou passos as suas costas, assim como sorriu para a brisa soprada na sacada do apartamento, que tocou seus ombros e trouxe o cheiro doce de baunilha ao seu olfato. Ela não se virou porque sabia e sempre saberia quem era dona de todos aqueles componentes e mais do que saber, ela podia sentir quem era.

Como demorara tanto tempo para entender aquilo que as ligava por tanto tempo?

Rachel pigarreou e entrelaçou as mãos em frente ao corpo, Quinn finalmente se virou em direção ao som e seus olhos se encontraram uns nos outros. Era uma das poucas vezes em que os olhos verdes estavam salpicados de pequenos corpos dourados e que um sorriso brotara no canto dos lábios de Quinn. Também era uma das poucas vezes em que Rachel estava nervosa e calada.

As duas passaram um bom tempo, apenas olhando uma para outra, reconhecendo-se nos traços que conheciam tão bem, nas faces que se fizeram rotina naqueles 11 anos, nas bocas que passaram a se pertencer há três anos... Escutando-se nos sons ritmados de seus corações e nas respirações ofegantes.

Rachel e Quinn se conheciam bem demais para serem águas passadas.

Quinn deu o primeiro passo e aproximou-se com a sua melhor forma de comunicação. Em silêncio, ela apanhou as mãos de Rachel e a trouxe para junto de seu corpo. A morena se rendeu no segundo em que sentiu o calor da loira envolvê-la, esqueceu-se completamente que uma festa rolava dentro de seu apartamento e que ela estava na sacada, do lado de fora, na noite outonal e nublada de New York.

Quinn sorriu para a forma como as duas se encaixavam. Rachel sorriu para a forma como se sentia protegida. A morena afastou-se ligeiramente e ergueu o rosto, novamente, encontrou-se entorpecida pelos olhos dourados que a encaravam. Quinn retribuiu-lhe o sorriso e, risonha, respondeu:

— Você não se cansa de colocar minha vida nos eixos, não é mesmo?

— Digamos que é o meu super poder. - Rachel respondeu no mesmo tom, aplicando um selinho demorado nos lábios de Quinn. A loira não a deixou ir e a beijou, com ânsia e saudade, dando tudo que não dera naquele beijo. Rachel perdeu o fôlego e se afastou, mas Quinn a manteve perto o bastante para que pudesse sentir a respiração dela misturar-se a sua. Quinn sorriu para a confusão nos olhos castanhos e beijou-lhe o nariz antes de sussurrar:

— Eu te amo. Demorei mais do que nossos três anos, eu deveria ter dito isso no instante que eu lhe vi naquele corredor.

— Isso não importa, são águas passadas... Você ainda está no seu tempo. - Rachel retribuiu animada, os olhos castanhos exalavam aquele familiar calor que Quinn reconhecia tão bem. O mesmo que a inflamara e a queimara sempre que ela tivera que sair de sua zona de conforto. O calor no qual ela aprendera a se queimar sem se machucar... - Eu também te amo.

Também era a primeira vez que Rachel dizia aquelas palavras em tom sério e confessional. Quinn sorriu e, contendo a vontade de gritar, escondeu-se no cabelo castanho e fechou os olhos, Rachel fez o mesmo nos fios loiros.

Rachel bebeu da água e Quinn afogou-se nela... E as duas não podiam, de forma alguma, não estar onde sempre, de fato, pertenceram.

FIM


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Notas finais do capítulo

Acho que essa foi a one mais "poética" (cheia de metáforas) do nosso projeto... Também, é a que eu coloquei mais otimismo e, de certa forma, o lado bonito do amor.Espero que tenham gostado, aguardo os feedbacks por meio de comentários ou recomendações!E para aqueles que querem um pouquinho mais dos meus surtos e dramas em suas vidas, estou no Twitter (@RedfieldFer), sigam-me!Nos vemos nas próximas postagens! Beijos ;)