Obscure Grace escrita por Ahelin


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Hey, pudim!
Como estão as coisas na Terra?
Agora começa a história pra valer huehue
Espero que gostem do capítulo, pessoalmente eu gostei bastante de escrevê-lo.
Obrigada a Vih Guruja e Mestre Churrasqueiro por comentarem. Até lá embaixo!



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Abro os olhos de repente, como quando se acorda de um sonho ruim.

Está tudo escuro, então meu primeiro pensamento é de estar num hospital.

Só estive de verdade em um hospital com uns oito anos. Me lembro como se tivesse acabado de acontecer.

Da última vez que tentei subir em um pé de jabuticaba, nas férias de julho quando fui visitar minha tia Alícia, pisei num galho que não aguentaria nem metade do peso do meu quadril avantajado.

Parando com as palavras bonitinhas, eu era uma garotinha gorducha e, por incrível que pareça, a mais alta da turma (até a sétima série continuou exatamente assim). Tinha as bochechas redondas como se meu rosto fosse uma lua cheia. Bom, na verdade... Todo o meu corpo era redondo como se eu fosse a lua cheia.

Naquelas férias, meus pais viajaram pra casa da vovó. Bom, aí vai um fato rápido: eu odeio a casa da vovó. Ela sempre me enchia de biscoitos de chocolate, pães de queijo e bolos de cenoura deliciosos demais para não serem comidos. Eu ganhava cerca de dois quilos e um novo pneuzinho na barriga cada vez que ia visitar aquela velha maldita e ótima doceira.

Por causa desse fato, fiquei na adorável fazenda da tia Alícia. Ao menos assim enchia minha barriga de frutas colhidas na hora das árvores de seu pomar viçoso e acolhedor.

As árvores eram minhas confidentes. Eu podia lhes contar meus mais profundos segredos e elas, em resposta, abriam pra mim seus galhos cheios de frutas.

Acho que a única delas que não gostava de mim era o pé de jabuticabas.

Depois de um dia todo brincando com meus primos Alex e Matheus, gêmeos de cabelos e olhos tão dourados quanto o mel, resolvi subir na árvore mais alta do pomar.

É, ela mesma.

Achei caminho com meus braços gordinhos por entre os galhos. Não vou mentir, estava de olho na maior jabuticaba da história de todas as jabuticabas.

Então, pisei em um galho que era fino demais pra me aguentar.

— Mamãe! — Matheus gritou, correndo pra perto da casa enquanto eu me esborrachava no chão. Ambos os gêmeos tinham a minha idade.

— Lis! — Alex veio me socorrer, enquanto tudo que eu conseguia fazer era chorar.

Talvez eu esteja enganada, e Alex tenha buscado ajuda enquanto Matheus segurava minha mão e dizia que tudo ia ficar bem. Em minha defesa, eles são absolutamente iguais!

Não me lembro de muita coisa depois disso, apenas do médico que achei ser igualzinho ao Doutor House. Ele colocou uma tala enorme na minha perna e ela ficou lá por dois longos meses.

O lençol da cama onde deitei era áspero e duro como papel. Até fazia barulho! Nunca esquecerei disso, afinal eu me mexia tanto que consegui ralar meus cotovelos no lençol.

Mas essa cama não era como uma de hospital. O colchão era macio como uma nuvem, e tinha um cheiro delicioso de amaciante.

Mexo os dedos dos pés. Parece tudo bem lá embaixo. Subo contraindo os músculos das panturrilhas e das coxas. Faço mesmo com os dedos das mãos, antebraços e braços. Consigo me mover perfeitamente.

Levanto devagar, estendendo os braços na frente do corpo para não esbarrar em nada. Não consigo ver minhas mãos de tão escuro que está.

Então, meus dedos encontram uma parede. Sigo-a de lado e, para minha surpresa, tem uma porta.

Com certeza está trancada, os filmes de Hollywood não mentem. Tento abrir, mesmo sabendo que não vai dar certo, porque é o óbvio.

Clique. A porta abre facilmente. Sem pensar duas vezes, saio, e a luz do ambiente lá fora me cega.

— Lis! — Minha mãe chama, me abraçando calorosamente. Ela é do tipo que, com a idade, ganha poucas rugas e muito charme. Seus cabelos castanhos e ondulados parecem mais brilhantes a cada vez que eu a vejo, e seus olhos castanhos sempre sorriem junto com os lábios. — Finalmente você acordou!

— Você consegue dormir mais do que eu! — A voz de Rafa grita de outro cômodo.

E eu? Tudo que consigo fazer é ficar parada, em estado de choque. O acidente na estrada, o caminhão... Será que eu sonhei com isso tudo?

— Rafa — chamo, de longe. Ele aparece secando as mãos em uma toalha de papel, e o sorriso de sempre está lá em seu lugar.

— Presente! — Ele ergue uma mão bem alto, enquanto a outra amassa a toalha, jogando-a no lixo. Mesmo tão longe, ele acerta. — Uau! Foram três pontos, Lis!

Levo um segundo pra processar tudo. Estou em casa. Mamãe está com seu sorriso "eu amo muito você mas todo o meu amor vai acabar se você não tomar um banho agora". É como se o acidente nunca tivesse acontecido.

— Mas o que... — começo, sem saber o que dizer.

— Lis, você adormeceu cinco minutos depois de entrar no carro — diz o Rafa, rindo. — Tive que te carregar pra cá, porque você não acordava.

— Que horas são? — pergunto, automaticamente.

— Onze da noite — responde mamãe, agora com seu sorriso "por favor, Deus, que minha filha não use drogas".

Saímos de lá às duas da tarde, e talvez tenhamos chegado às dez... É completamente possível que eu tenha dormido tanto.

Tudo na viagem pode ter corrido muito bem. Isso, foi apenas um sonho ruim.

Mas não pode ser, ainda tem algo ali que não está completamente certo. Talvez algum móvel fora do lugar? Deixo isso pra lá, afinal sempre tive a imaginação muito fértil; até os oito anos de idade imaginava um anjo alto e loiro me seguindo pra onde quer que fosse.

Tudo que preciso é de um bom banho.

Pego uma de minhas enormes toalhas azuis e corro pro banheiro, chutando os chinelos pra longe e ouvindo o chão de madeira ranger sob meus pés. Quando chego, guardo a toalha e jogo a roupa suja no cesto, ligando o chuveiro na temperatura "mergulho no núcleo do sol".

E, para acabar de vez com toda essa bobagem de acidente, entro no box e deixo que a água escorra sobre meus ombros.

Quando tem vapor suficiente pra que eu não veja um palmo à frente dos olhos, desligo o chuveiro e me seco.

Óbvio que eu esqueci de trazer uma muda de roupa. Droga, Lis. Abro a porta e espio pela fresta, mas não vejo ninguém no corredor.

Contando até dez mentalmente, eu prendo a respiração e corro, enrolada na toalha, até meu quarto.

Depois de colocar uma roupa quente, desço as escadas até a sala. Posso ouvir a voz da dona Clara cantarolando na cozinha enquanto lava a louça do jantar que, por acaso, eu perdi.

Sem nem pensar direito, vou caminhando até o sofá. Talvez ver um pouco de TV me faça esquecer do pesadelo que tive.

Mesmo assim, ainda há algo errado...

Estou prestes a dar um tapa na lateral da minha cabeça e falar que preciso parar com isso, mas nesse momento sinto algo impossível entre os dedos do pé esquerdo.

Não, não pode ser.

Me abaixo pra conferir o fio solto entre as tramas do tapete. Um fio branco, liso... e fora de seu lugar.

— Mamãe — chamo. — Sabia que o seu tapete está desmanchando?

— Claro que não está — ela responde. — Pare com isso.

Mamãe tem TOC. Transtorno Obsessivo-Compulsivo. Ela pira se vir qualquer coisa fora de seu devido lugar, ainda mais com seu lindo tapete felpudo e branco.

Ela teria visto esse fio solto a metros de distância e, ainda assim, provavelmente passou mais ou menos trezentas vezes por lá (que é o que ela faz num único dia) sem notar aquilo. Se visse, teria saído correndo e gritando como o mundo consistia em catástrofes.

Pego o fio entre o indicador e o polegar, olhando para ele como se fosse uma espécie de alienígena, e apenas fico ali parada por um momento, absorvendo a ideia.

Isso é impossível, ainda mais do que eu ter sofrido um acidente.

Então, minha mente se abre com um clique, assim como o clique da porta que abri mais cedo. O som de ter aberto uma porta. No sentido figurado, de descobrir algo importante.

Puxo o fio. Ele não oferece resistência, apenas segue o movimento da minha mão, descosturando o tapete.

Quanto mais puxo, mais fácil fica. Em certo momento, ele apenas pula do tapete, me fazendo dar um gritinho de susto.

Mas o que...

— Tudo bem aí, Lis? — Mamãe pergunta, parecendo preocupada.

— Hm, sim. — Em qualquer circunstância, ela me mataria se visse que estou desfiando seu precioso tapete.

Sigo puxando o fio, que agora está enfiado entre as tábuas de madeira do hall. Ele me leva até o outro tapete branco.

Nããão.

Meus dias de destruidora de tapetes acabaram. Por sorte, o fio não está preso no tapete, e sim embaixo dele.

Empurro o tecido pra longe e puxo o fio mais uma vez.

E lá estava: um alçapão.

— Mamãe — chamo. — Nós temos um porão?

— Não seja boba! — Ela ri, ainda sem aparecer.

Uau. Muito estranho.

Seguro a alça e o puxo pra cima com toda a minha força. Ele não oferece resistência, então eu desço.

A maior idiotice de toda a minha vida, e isso é dizer muito. Ganha até da lavagem de carros no segundo ano e do beijo roubado do intercambista Jake Collins na festa beneficente.

Longa história.

Assim que piso no chão, me arrependo profundamente de ter descido. A porta se fecha e a escada desaparece. Tudo ali brilha em branco como se fosse um campo coberto de neve quando o sol da manhã reflete nela, não que eu já tenha visto isso em outro lugar além da TV.

Como se tudo não pudesse ficar pior, surge um cara do nada. Ele caminha calmamente até estar a um passo de mim e sorri. Seus cabelos são dourados como o sol do meio-dia, e não posso deixar de reparar em seus olhos azuis.

Não são como os de Rafael; tão claros quanto a água de uma piscina. Os do cara misterioso são azuis escuros como o céu noturno. Se eu procurasse bem, tenho certeza que veria estrelas brilhando neles.

Seu rosto, mesmo que não seja parecido com o de ninguém que eu conheça, é quase familiar. O nariz, os lábios e principalmente os olhos, é como se eu já o tivesse visto antes. Ele expressa um sorriso debochado, que deixa aparecer uma covinha em sua bochecha esquerda. É uma sensação terrivelmente absurda, mas involuntariamente me imagino afundando o polegar nela.

— Conseguiu outra vez, Melissa — diz ele, me fitando, com uma voz paciente e macia.

— Como sabe meu nome? — Junto as sobrancelhas. De repente, a ideia de que ele seja perigoso me dá um arrepio.

— Eu sei muito sobre você — responde ele, sem alterar o tom.

— Você é um anjo ou algo do tipo? — Ouço minha voz perguntar. Epa, minha mente não mandou dizer isso. Saiu sem querer.

— Algo do tipo. — Ele dá de ombros.

— Quem é você? — Tento fingir que estou segura, mas na verdade minhas pernas tremem. — O que está acontecendo?

Tenho mais uma infinidade de perguntas para fazer: se isso é real, onde estou... Mas deixo-o responder.

— Bom, essa é complicada — ele coça a nuca. — Eu sou seu ceifeiro. Quem colhe sua alma e a leva pro céu... — Ele para, umedecendo os lábios. Devo estar de boca aberta e olhos arregalados. Nada sexy. — A outra é mais simples de responder. Você está morta.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostou? Se sim, do quê? Se não, o que devo melhorar?
Obrigada por ler até aqui. Deixe seu comentário! Vou ler e responder assim que puder.
E era isso. Beijinhos