Obscure Grace escrita por Ahelin


Capítulo 10
Parte II — Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Hey, pudim!
Como vão as coisas na Terra?

EU SEI QUE TÔ ATRASADA, ME PERDOEM
Ó, eu vou explicar: escola, provas, ballet, apresentação, CRUSH, VIDA SOCIAL
(Os dois últimos andam bem parados, na verdade)

Mas enfim, um AVISO IMPORTANTE:
Esse capítulo marca o início da parte II de III da fic.
Essa história secundária vai durar, no máximo, três capítulos, e é essencial para a história principal (da Lis).
Então, comam suas pipocas e vamos migrar pra 1864!

Sim, 1864.

Ah, e ficou um pouco menor do que o que é de praxe, mas eu gostei desse capítulo :3 Espero que gostem também!

Até lá embaixo o/



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A multidão que cercava a casa fazia-se ouvir lá fora, pisoteando sem piedade o gramado que fora cultivado com tanto amor. Entre eles havia homens, mulheres, crianças e idosos, cada qual erguendo sua própria tocha acesa. As chamas dançavam, como se estivessem ansiosas para enfim cumprir seu objetivo.

— Bruxa! — Esse era o nome que bradavam. — Queremos a bruxa!

Enquanto isso, Edlyn mudava o peso de um pé para outro, o olhar vagando perdidamente pela sala de sua casa. A madeira das paredes e do piso, outrora nova e brilhante, fora escurecida pelo tempo.

— Mamma, eles vão entrar! — gritou seu filho, enquanto empurrava a mesa da cozinha para a frente da porta, barrando-a. Os talheres em cima dela tilintaram baixinho, e uma faca quase caiu no chão. Seu rosto, Edlyn percebeu, mostrava um misto de fúria e desespero. — Fazendeiros idiotas...

— Liam, venha aqui — chamou ela, estendendo os braços para aconchegar seu tesouro mais precioso. Ele, aproximando-se lentamente, deitou o rosto no ombro quente da mãe.

— Eles dizem que a senhora é uma bruxa — Liam podia ser bem infantil quando estava assustado, mesmo já tendo vinte anos e sustentando sozinho a casa dos dois. — Sempre negou isso, mas... Preciso saber se é verdade. — Seu tom era calmo e repleto de cautela, e ele escolhia as palavras com cuidado, como sempre fazia perto da mãe.

Talvez os moradores acreditassem nisso por causa do longo cabelo ruivo de Edlyn, considerado na aldeia um sinal de magia negra, por ela ter sido criada por um cigano e sem mãe... Ou, quem sabe, as marcas em seu peito, símbolos que pareciam ter sido feitos com ferro quente. Seria aceitável até que considerassem seus transes e desmaios frequentes, nos quais tinha visões com seres mágicos.

Mas seu próprio filho nunca poderia pensar que esses boatos fossem verdade.

— As Wiccas que eles queimaram eram boas — secretou ela, se ajoelhando no chão e puxando-o consigo. — Mas não sou uma delas, tesoro mio. — O inglês da mãe, mesmo que tivesse nascido ali mesmo, na Inglaterra, era levemente marcado pelo italiano que os dois tinham se acostumado a usar por causa de seu marido, nascido em Roma. Mesmo que este estivesse junto às pessoas no quintal da casa, ainda fazia parte dos dois ali dentro. — Chegou a hora de você saber de toda a verdade.

"Há muitos anos, um anjo chamado Raziel desceu à terra para castigar uma seita que pregava contra ele. Entrou com a fúria de um deus no quarto onde estavam reunidos, agarrando o braço da primeira mortal que viu. Assim que seus olhares se encontraram, Raziel se esqueceu de todos os motivos para estar ali. Virou-se, desnorteado, e simplesmente foi embora. Desde aquele dia, ele passou a vir ao nosso mundo com mais frequência do que é necessária a qualquer anjo, para poder ver a mortal novamente.

"Não se passou muito tempo até que parasse de observá-la de longe, se aproximando aos poucos. Dali, o local mais improvável que poderia existir, nasceu uma paixão ardente que consumiu ambos.

"Já não bastava falarem-se a cada lua; queriam mais do que isso, cada vez mais. Já haviam decorrido vários meses, e todos sabiam que no ventre da moça crescia uma criança, o fruto desse amor. O tempo que passavam juntos não era suficiente para nenhum dos dois, e foi por esse motivo que resolveram fugir. No dia combinado, se encontraram à beira do Lago de Prata, como foi o acordo.

"Mas, aparentemente, o destino não quis que ficassem juntos. Os outros anjos descobriram sobre isso e trancaram os dois numa prisão celestial, de onde era impossível escapar. Raziel, imortal, foi obrigado a ver sua amada definhar aos poucos naquela horrível cela, mas não antes de dar a luz à sua filha.

"Enojado com a pequena criatura de cabelo vermelho que marcava o fim de seu único amor, Raziel lançou-a na terra sem misericórdia.

"Agora, filho, há algo importante que você precisa saber. O nome dessa mulher era Elina."

— Mas Elina era o nome da nonna — o rapaz tentava prestar atenção à mãe e aos aldeões furiosos ao mesmo tempo, mas era impossível. — A que a senhora me contou que morreu te dando a luz.

— Sim, tesoro. Elina era sua vó, e o bebê era eu — Edlyn tentava não parecer assustada com o que estava acontecendo. Em meio a tanto caos, seu rosto estava sereno e firme. — Seu nonno era um anjo do céu, e eu posso ouvi-lo — sussurrou a última parte.

— A senhora pode? — Ela não conseguia identificar o sentimento que os lábios apertados de seu Liam exprimiam.

— Posso. A toda hora, e não consigo controlar. — Um leve tremor atravessou o corpo frágil da mulher, que já não estava mais em seus dias de juventude. — Eles falam entre si sem parar, mas não pessoalmente, porque anjos são orgulhosos demais para isso. A comunicação é feita pela mente, e eu posso ouvir suas vozes. Às vezes elas sussurram, e outras elas gritam. Cheguei a acreditar que estava louca, tesoro... Procurei por toda a Inglaterra um médico que pudesse me curar, mas não encontrei. Enfim, quando fiz vinte anos, o cigano que me encontrou quando bebê levou-me a uma casa Wicca para que elas descobrissem minhas origens. Quando me contaram, não achei que fosse mentira, porque fez todo o sentido do mundo...

— O que os anjos dizem, mamma? — A pergunta soava curiosa e levemente desconfiada. Felizmente, Edlyn entendeu a ironia do filho como pura infantilidade.

Nesse momento, uma lágrima escorreu pelo seu rosto. Ela precisava proteger seu doce e precioso Liam. Levantando-se de impulso, pegou a faca que repousava sobre a mesa e segurou com força a mão do filho.

— Fique quieto — ordenou, talhando em seu braço uma sequência de símbolos de proteção. O rapaz, mesmo surpreso, não gritou de dor, cerrando os dentes com força. Podia sentir a lâmina rasgando sua pele com clareza, mas não conhecia os desenhos que ela formava. — O sangue prateado dessas criaturas corre em você, filho. Não deixe que elas façam contigo o que fazem com os outros! — Os dedos finos e alvos dela apertavam o pulso do rapaz com uma intensidade sobre-humana.

— O que fazem com os outros? — Liam arregalou os olhos, falando com dificuldade por conta da dor dos cortes.

— Se alimentam delas — Edlyn praticamente cuspia as palavras. — O céu que o padre prega por aí é uma mentira, não passa de um lugar feito para prender sua alma e roubar sua energia! — Enquanto falava, o aperto ia ficando cada vez mais forte. — Almas são feitas de pura energia, e é se alimentando dela que os anjos se tornam imortais — completou, e nesse ponto sua voz já não passava de um sussurro. — Prometa pra mim que nunca vai deixar de lutar contra eles, até ser livre.

— Mas mamma! — Liam protestou, assustado, tentando se desvencilhar da mãe. — O que a senhora... — Ela está louca!, pensava ele.

— Não, você precisa prometer — Edlyn falava entre dentes. — Você não pode deixar que eles ganhem, tesoro. Vão escravizar todos os humanos até que não reste nenhuma oposição!

Liam finalmente conseguiu se soltar, e por um momento ficou olhando para as três linhas curvas com símbolos que pareciam de outra língua — não, de outro mundo — entre elas. Depois, correu à cozinha e pegou o primeiro trapo à vista, que enrolou no braço com cuidado.

— O que significam? — Entre todas as perguntas que rodopiavam em sua mente, essa saltou de sua língua antes mesmo que ele pudesse perceber. Até em um momento tão tenso, a curiosidade o dominava.

— Proteção. Com isso, nunca poderão conter você, meu filho. — A explicação veio acompanhada de um sorriso gentil, como um raio de sol que escapasse em meio a seu rosto enevoado. — Lute por mim, e vença por nós dois.

Os pensamentos se chocavam aos montes na mente do rapaz, que tentava assimilar tudo de uma vez. Os ensinamentos do padre, do monge Afir, dos monges que moravam na abadia na qual Liam era ajudante... Estariam todos eles errados?

Seu avô não era um cigano, como acreditou por toda a vida, mas um anjo do Senhor... Pensar nisso acarretou outra pergunta, que não pôde conter.

— Mamma, mas e o seu Deus? Onde está ele nisso tudo? — Ele apertou mais o trapo no braço, com a fúria fazendo suas mãos tremerem, enquanto o sangue estancava aos poucos. Os gritos lá fora o deixavam cada vez mais tentado a sair e expulsá-los à força.

— Só espero que sim, tesoro — Edlyn enrolou um cacho do cabelo dourado do filho no dedo indicador, guardando a sensação de tê-lo perto. Seu cheiro, seu calor, a segurança que tentava passar a todos e na verdade não tinha. De alguma forma, ela sabia que seria a última vez que o veria.

De impulso, o abraçou forte, o que não era uma demonstração de carinho comum na casa deles. Ficaram assim por um longo momento, que ambos queriam que fosse eterno, mas não durou tanto assim.

— Edlyn Grace — a voz do padre bradou do gramado, com uma força que fez o corpo da mulher estremecer; sua hora havia chegado. — Você foi acusada de bruxaria, feitiçaria e adoração do demônio. Como todos sabem, uma heresia tão grave é punida com a morte.

Edlyn segurou a mão do filho, surpreendentemente calma e segura de si.

— Vai dar tudo certo — foi sua promessa a ele.

O padre, ainda mais irritado, bradou:

— Saia da casa agora. Você foi condenada à fogueira.


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Notas finais do capítulo

Notas de rodapé:
Devem ter percebido algumas palavras em italiano.

Nonno e nonna, pra quem não sabe, é avô e avó :3
E tesoro é tesouro fslksks
Eu sei que vocês sabem, mas sou moralmente obrigada a colocar lol

Gostaram?
O que acharam do Liam?

Quero agradecer muuuuuuito a vocês, por tudo.

E, hey, obrigada ao João divo e à H M P M ♡♡♡♡ sério, já amo vocês.

Até o próximo! Beijinhos ♡