You x Kiss x Me escrita por Jude Melody


Capítulo 2
Pelos olhos do Paradinight




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Ele não queria assistir ao jogo, mas eu estava preparado para uma longa batalha. Não foi preciso me esforçar muito. Já conheço as fraquezas dele. Fiz aquela carinha de cachorro abandonado, disse que ele não ligava mais para mim, fingi que estava com o coração partido. Certo, talvez não tenha sido bem um fingimento. Eu estava mesmo me sentindo um cachorro abandonado. De tanto insistir, o Kurapika acabou me dando um soco. Doeu bastante. Mas acho que há males que vêm para bem, porque ele se sentiu tão mal por me agredir que acabou prometendo me recompensar de alguma forma. Eu abri aquele sorriso e tirei o panfleto do bolso. O jogo que eu tanto queria assistir seria naquela tarde. Eu estava louco para apresentar os SupaHanta para o Kurapika! Ele não entendeu nada, mas ele nunca entende nada quando o assunto é futilidades. Até fez uma careta de desentendido quando eu falei do beisebol-nen. Vamos, Kurapika! Você é mais inteligente do que isso!

Nós pegamos o metrô para ir até o estádio. Eu estava empolgado. Confesso que não era apenas por causa do jogo. Certo, certo. Não era por causa do jogo. É que, sentado daquele jeito do ladinho do Kurapika, com a mão dele pertinho da minha, até parecia que éramos namorados. Tentei prestar atenção em outras coisas para disfarçar o nervosismo. Quando chegamos a nosso destino, eu paguei os ingressos e fui direto na cantina comprar um lanche. Ao ver o que eu tinha escolhido, o Kurapika fez aquela cara. Nós nos sentamos na arquibancada e ele começou um discurso sobre como eu deveria cuidar melhor da minha saúde, mas eu ignorei totalmente e lhe entreguei um cachorro-quente e um refrigerante tamanho família. De novo aquela carinha horrorizada. Mas ele provavelmente estava com fome, porque deu uma mordida no cachorro-quente. Um pouco da mostarda sujou seu rosto, e eu toquei o canto de sua boca para limpar. Você fica tão bonitinho quando se suja assim, Kurapika. Eu só pensei, é claro. Estava com medo de ele me acertar com um golpe da corrente caso eu dissesse isso em voz alta.

A partida teve início. Eu já havia explicado os princípios do beisebol-nen para o Kurapika na fila dos ingressos. Acho que ele estava gostando. Ao menos estava sorrindo bastante, e eu adoro ver esse sorriso puro nos lábios dele. Na verdade, eu gosto de qualquer coisa relativa aos lábios dele, até mesmo a forma como o Kurapika costuma prensá-los quando fica com raiva. Em um determinado momento, ele se virou para mim, sorrindo de uma forma tranquila e feliz. Eu sorri de volta, estava satisfeito por ele se esquecer de sua obsessão pelo Ryodan por um tempinho, ainda que curto. Sim, aquele era um momento mágico. Só nós dois no mundo, nós dois e os jogadores que corriam e se engalfinhavam lá embaixo. Mas a magia estava prestes a ficar ainda maior, pois o homem ao meu lado fez um movimento brusco, apontando a tela do estádio para o garotinho que o acompanhava.

Dei uma olhada, e meu queixo quase caiu. Estava vendo nada menos do que a minha imagem, e um Kurapika bastante surpreso estava bem ao meu lado! A legenda sob nós era muito mais do que eu ousaria pensar em meus sonhos mais perversos: câmera do beijo. Qual a probabilidade?! Acho que, com essa, eu esgotei toda a sorte de minha vida! Em qualquer outra circunstância, eu teria tremido tanto que minhas pernas fraquejariam. Mas, naquele momento, naquele momento eu estava tranquilo. Porque vi o Kurapika corar de vergonha. E soube, no meu íntimo, que eu o amava. Amava de verdade.

Ele sussurrou meu nome, e eu me virei, sustentando seu olhar. Suas bochechas estavam tão vermelhas que até pareciam seus olhos quando algum infeliz menciona o Ryodan. Ao nosso redor, o mundo gritava “Beija! Beija!” Do jeito que o Kurapika é, se as pessoas não parassem de gritar logo, os olhos dele provavelmente incendiariam de vergonha, e nós dois teríamos um problema muito maior em nossas mãos. Ele pensou mais rápido do que eu. Agachou-se, pegou sua bolsa e começou a buscar alguma coisa ali dentro. Assim que eu percebi do que se tratava, saquei o celular e digitei furiosamente, quase arrancando a borracha das teclas. Nós mostramos nossas mensagens ao mesmo tempo, ele, pelo bloco de papel, eu, pela tela do celular. O “Somos apenas amigos!” dele contrastava com o meu “Não podemos ser algo mais?” Deu para ver o impacto que minha perspicácia gerou no Kuruta. Se não estivéssemos em um local público, acho que ele teria me matado.

A plateia foi ao delírio. Até os jogadores pararam para assistir. Um deles, que me parecia estranhamente familiar, ergueu o punho, berrando “Beija ele, Kurapika!” Os outros logo se uniram ao coro e, de repente, parecia que o mundo inteiro estava conspirando a meu favor! Não consegui mais me conter. Reunindo toda a coragem que tinha, fechei os olhos e me inclinei sobre o Kurapika, cobrindo qualquer visão que a grande tela pudesse dar de seu corpo. A próxima coisa que senti foram os seus lábios sob os meus. Eu... Eu o estava beijando!

Depois de alguns milésimos de segundos, eu me afastei apenas o suficiente para ver seu rosto. Seus olhos estavam em brasa, mas não parecia ser de vergonha. O fogo que crepitava neles era alguma outra coisa totalmente diferente. Eu sei disso. Porque esse mesmo fogo me incendeia aqui dentro.

O homem ao meu lado proferia blasfêmias, cobrindo os olhos do filho. Babaca homofóbico! Felizmente, ele parecia ser o único a se importar, porque todo mundo, até mesmo os jogadores, parecia bem feliz. A partida foi retomada como se nada tivesse acontecido. Tudo voltou ao normal. Éramos apenas eu e Kurapika no mundo de novo. Ele fechou os olhos, respirando fundo. Eu segurei sua mão para tentar acalmá-lo e fui recompensado com um meio sorriso. Agora era o meu rosto que estava ficando corado. Mas tudo bem. Kurapika estava feliz, e eu sentia que era o responsável por essa felicidade.

Quando a partida acabou, eu o tirei do estádio antes que qualquer um pudesse nos abordar. O tal homofóbico fez uma careta para mim e esperou que eu me afastasse um pouco para dizer algo bem desagradável ao filho. Tadinha da criança. “Mas, papai, o que tem ele beijar aquela menina bonita?” perguntou, graciosa. Felizmente, o Kurapika não ouviu isso.

Nós pegamos um táxi e voltamos para o hotel em que ele estava hospedado. Achei que estávamos seguros, mas o idiota do recepcionista lançou um “Sempre desconfiei desse aí.” quando entramos no elevador. Eu tive de segurar o Kurapika pelo braço para impedi-lo de fazer besteira. Ele chegou ao quarto envolto por uma aura assassina, e eu pus as mãos em seus ombros para tentar acalmá-lo. Tentei fazer a massagem que uma de minhas professoras ensinou, mas ele conseguiu se desvencilhar de mim. Propus que assistíssemos televisão, o que foi uma péssima ideia, pois ligamos justamente no canal que estava falando sobre nós.

O apresentador não gastou nem dois minutos para falar da partida e mandou logo essa: “quem eram os dois jovens da câmera do beijo?” Achei que o Kurapika fosse destruir a televisão com sua corrente, mas ele apenas prensou os lábios daquele jeito que eu tanto gosto. Logo em seguida, o jogador que chamou Kurapika pelo nome deu uma entrevista. Era um dos irmãos Amouri. Ele fez comentários totalmente inapropriados sobre como nos conhecera no Exame Hunter e sobre como sempre suspeitara que havia um clima entre eu e o Kuruta. Gravei o primeiro nome daquele imbecil, porque, da próxima vez que nos encontrarmos, ele será um homem morto.

Mas o que mais me incomodava era o que se passava na cabeça de Kurapika. Sustentei o olhar que ele me lançou, esperando pacientemente a resposta para a pergunta que nós dois nos fazíamos. Tentei parecer calmo, mas, por dentro, estava completamente agitado, o fogo queimando em agonia dentro de mim. “Leorio.” Ele disse baixinho “Quero que saiba que, apesar de tudo, nada mudou entre a gente, está be...?”

Eu não o deixei terminar a frase. Já tinha começado a resposta errado, como é que eu o deixaria falar mais? Calei-o com um beijo, mais longo e intenso do que o primeiro. Ele abriu um pouco os lábios e, ora, eu sou humano! Aproveitei a oportunidade para explorar um pouco. Foi fascinante! Ele se rendeu. Rendeu-se a mim! Esqueceu seu próprio discurso de “apenas amigos” e finalmente, finalmente!, mostrou seus verdadeiros sentimentos. Achei que eu fosse entrar em combustão de tanta felicidade!

Eu me afastei dele e esperei até que abrisse os olhos. Estávamos bem próximos ainda. Nossos lábios até roçavam. Repeti a pergunta. “Então, somos um pouco mais do que amigos agora?” E ele repetiu a resposta. “Nada mudou entre a gente, Leorio.” Mas eu ainda estava disposto a lutar. “Que bom. Achei que deixaria de ser meu amigo depois desse incidente.” Ele piscou os olhos, abobado. “Você entendeu o que eu quis dizer? Somos só amigos, Leorio!” E quando eu quero lutar, eu luto mesmo. Abri meu melhor sorriso e respondi com toda a audácia que tinha. “Isso é só uma questão de nomenclatura!”

Para minha surpresa, Kurapika riu um pouco com o meu comentário. Acho que ele não imaginava que eu seria capaz de usar uma palavra sofisticada como “nomenclatura”. Não me subestime, Kuruta! Você sabe muito bem que eu vou tentar te beijar de novo. E eu sei muito bem que você não vai conseguir resistir. Fique atento, meu pequeno Hunter. Eu conheço as suas fraquezas!


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Notas finais do capítulo

Por falar em fraqueza, confiram também a Fraqueza, que é narrada pelo Leorio. Beijos!



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