Escrita da alma ou do que vier à cabeça escrita por Ladra de Estrelas


Capítulo 6
Felipe- parte 1 (Ariel e Felipe)


Notas iniciais do capítulo

Sei que não postava faz um tempo, mas estou trabalhando em vários textos ao mesmo tempo e só finalizei esse capítulo agora. Espero que gostem, eu tive uma ideia para continuar a história da Ariel e do Felipe. Não sei aonde vou terminar, mas vou seguir com a maré. Decidi passar o ponto de vista dos dois personagens por enquanto, mas os outros personagens estão se formando (Rosa e Matt) e talvez eu faça algum capítulo sobre o ponto de vista deles. Enfim, se você leu até aqui e se leu o capítulo, me deixa um comentário com a sua opinião. Acho interessante saber o que os outros estão pensando e sentindo. Obrigada pela leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/672983/chapter/6

Estavam no catamarã, indo para a ilha de Saona. Ele, os dois irmãos, os pais e os avós maternos. Felipe não estava animado porque estava cansado por ter acordado às seis da manhã. A vista do mar do Caribe compensava o cansaço, no entanto. Edu, o mais novo, estava inquieto e energético por todos os três; e Maurício, o mais velho, estava calmo e relaxado como sempre. O instrutor explicava que o percurso duraria quase duas horas e que havia um banheiro no catamarã, caso precisassem. Explicou também que o bar estava liberado e que eles podiam beber e circular o quanto quisessem. Edu deu um gritinho empolgado e, Maurício, um meio sorriso de lado. Ele só suspirou, pensando o quão desconfortável seria ficar ali sentado por uma hora e quarenta e cinco minutos. Então, para o seu alívio, o guia explicou que os passageiros poderiam sentar ou deitar nas duas redes que ficavam na ponta do catamarã. Felipe já começou a se levantar e a tirar a camisa para se bronzear enquanto relaxava. Iria voltar o mais lindo e feliz possível, para mostrar a Rosa o que ela estava perdendo.

Havia se passado duas semanas após o baile de Rei e Rainha. Eles tinham terminado o “namoro” por ciúmes dele e dela. Felipe exigia uma explicação para o comportamento da namorada, e Rosa o chamara de um ciumento possessivo. Disse, ainda, que quem deveria estar com ciúmes era ela, porque ele havia deixado a festa com a ruiva e era só o que a escola comentava. Não quis explicar que não havia acontecido nada entre os dois e que ele só havia levado a garota para casa. Rosa não merecia explicações, não depois do que ele vira naquela maldita noite. Só ele percebeu o olhar de desejo que Matt lhe lançara quando descobriu que ela seria a Rainha. Infelizmente, não fora só Felipe que notara a proximidade dos dois durante a dança e a maneira como ele passou as mãos pelo corpo da SUA namorada. Sua ex agora. Ele também notou o olhar de Rosa para o menino. Aquilo sim partiu o seu coração e quase o fez chorar ali, no meio da festa. Só não chorara por causa da ruiva. Olhar em seus olhos teve um efeito magnético sobre ele. Não somente por causa dos seus olhos verdes e cristalinos como a água do mar. Tinha a ver com compreensão. Ele via seus próprios sentimentos refletidos naquele verde. Ele via entendimento e aceitação. Sentia-se maluco, mas podia jurar que ela via o mesmo, que a sensação era tão estranha para ele quanto era para ela.

Foi então que as coisas desandaram. Ele estava prestes a beijá-la. Ele sabia disso, e ela também. Não havia feito nenhum movimento, e os dois ainda estavam a uma distância considerável, mas eles sabiam, através da troca de olhares, o que estava prestes a acontecer. Não saberia dizer se a decisão fora sua ou dela, pois os dois pareciam um só naquele momento. Antes que eles se inclinassem, porém, começou um coro de “beija, beija”. Aquilo os assustou e os pegou de surpresa, como se tivessem recebido um balde de água fria. Tinham sido pegos no flagra. Olhou para Rosa para se desculpar por puro extinto. Foi quando entendeu que o coro não era para ele e a ruiva, mas sim para o “Rei” e para a “Rainha” da festa. Assistiu o magricelo beijar a testa de SUA namorada, enquanto essa dava um sorriso tímido, mas de pura felicidade. Fazia tempo que ela não sorria assim para Felipe. Não soube o que pensar, fazer ou sentir por um segundo. Então começou a descer em uma espiral negra de depressão, raiva e ciúmes. Sentiu o chão sumir sob os seus pés e tudo aquilo que ele sabia ser certo e fixo, ia sumindo e ruindo diante de seus olhos. Tudo o que ele pensava sobre o seu relacionamento e sobre si mesmo não passava de mentira ou ilusão. Ele sentiu que estava prestes a descer tão profundamente que não haveria retorno. Seria consumido pela escuridão, pela raiva e pela tristeza, numa disputa incessante para dominá-lo e engoli-lo por inteiro. Quase não ouviu o pequeno soluço em meio às palmas dos alunos e a gritaria em sua própria mente. Sentiu, simultaneamente, um tremor em suas mãos. Foi quando percebeu que ainda a segurava. Saiu do buraco negro em que estava imediatamente. Foi como se o mundo se materializasse de súbito e ele notasse os outros ao redor dançando no salão decorado de azul. Sentiu o seu mundo se solidificar novamente. Olhou para ela, não sabendo o que dizer; se deveria dar-lhe alguma explicação ou então fingir que nada acontecera. Suas palavras morreram antes mesmo dele sequer formulá-las em sua mente. Viu a sua face contorcida em dor e olhou em seus olhos novamente. A conexão entre os dois voltou e ele notou o quanto aquilo era difícil para ela. Viu o quanto a ruiva tentava segurar as lágrimas. Viu a vergonha, a dor e a raiva. Seus olhos verdes se encheram de água e ele escondeu o rosto dela na própria camisa. Foi levando-a em direção a saída sabendo, instintivamente, que ela gostaria de ir para a casa.

Não perguntou se ela tinha vindo com alguém, ou se marcara de pegar carona. O mais provável era que ela tivesse vindo para a festa com aquele sujeitinho desprezível. Além disso, sentia que ela não queria conversar. Então, simplesmente a colocou sobre o banco do passageiro do seu carro e se inclinou sobre ela para afivelar-lhe o sinto. Ela cobria o rosto com as mãos agora, por isso ele não se preocupou por não ter contido a expressão de prazer ao sentir o cheiro adocicado de seus cabelos. Também sentiu o cheiro de sua pele e ficou feliz por ela não usar perfume. Não gostava da maioria dos perfumes femininos, especialmente dentro do seu carro. Interrompeu os pensamentos assim que terminou de espalhar bronzeador sobre o peito, pernas e braços. Pediu para Maurício espalhar nas suas costas também. Depois de os três irmãos estarem devidamente besuntados, pegaram suas toalhas, seus bonés e seus óculos. Estenderam as toalhas sobre a rede, que era, basicamente, um tecido trançado. Deitou entre Edu e Maurício. O mais novo deitou perto da borda e o mais velho perto do interior do catamarã. Pediu para Maurício alcançar-lhe o celular e os fones, já que este estava mais perto das mochilas. Os seus pais, que estavam no bar pedindo uma cerveja, viram os três e resolveram tirar algumas fotos. Felipe não disse nada, mas secretamente concordava com Edu, que não tinha problemas em expressar o seu descontentamento com aquilo. Parecia que eles mais tiravam fotos do que aproveitavam de fato, mas ele sabia que aquilo era um exagero. Não perderam nem ao menos dez minutos da viagem com aquilo. Ele recolocou os fones e apertou o play. Começou a tocar “How Deep is Your Love” do Calvin Harris. A música o levou de volta duas semanas, continuando a linha de pensamentos de antes. Quando a ruiva parou de cobrir o rosto com as mãos e, para disfarçar o silêncio no carro, ela ligou o rádio. Sentiu vergonha quando a música começou a tocar. Era uma das várias músicas clássicas que ele tinha no seu pen-drive: “La Campanella”. Olhou para a menina de relance e viu que ela abrira um sorriso surpreso, mas de puro divertimento. Felipe ficou aliviado que ela não falara nada e que o seu sorriso foi rapidamente substituído por uma expressão de concentração. Ele notou que a ruiva logo fechou os olhos e parecia estar sendo levada pela música. O pouco que espiava de seu rosto, denotava prazer e leveza, como se ela flutuasse por entre as notas do piano. Ela parecia sentir a música ressoar dentro de si e mexia levemente a cabeça conforme ela prosseguia. Finalmente, quando a música ganhava ímpeto e velocidade, como se o pianista reunisse um último esforço antes do fim, ela, ainda de olhos fechados, abriu o sorriso mais radiante que ele já vira. Como se não houvesse nada mais prazeroso do que a melodia que a inundava e transbordava de seu corpo. Pelo menos, era assim que ele a via e assumia os seus sentimentos. Então a música terminou com força e ela abriu os olhos satisfeita. Eles trocaram um olhar por alguns segundos, antes que ele tivesse que olhar para o trânsito novamente. Nesse breve momento, ele pôde perceber que as suas suposições estavam certas e que ela se sentia da mesma forma que ele em relação a “La Campanella”.

—Você está indo na direção errada. – Ela sentenciou.

Choque percorreu o seu corpo ao notar que era a primeira vez que ele realmente ouvia a sua voz. Claro que ela anunciara o Rei do baile bem ao seu lado, mas ele não estava prestando atenção na hora. Agora, no silêncio do carro, aquelas palavras pareceram vibrar. Sua voz não era feminina de mais, mas ainda sim tinha um tom doce, muito agradável aos ouvidos. Talvez o mais chocante de tudo não era a voz em si, mas o fato de que ele parecia saber tanto sobre ela se nem ao menos terem conversado. Então o significado de suas palavras o atingiu e ele ficou envergonhado por sua atitude. Ele pensou em levá-la para casa, mas estava tão distraído que não percebera que a estava levando para a sua casa e não a dela. Sentiu as bochechas corarem levemente, mas tentou disfarçar.

— Eu sei. Pensei em passar na minha casa primeiro para pegar os meus documentos e a carteira de motorista. – Ele inventou aquilo na hora e, apesar de ter ambos documento e carteira, forçou a sua voz a sair relaxada e natural. Ela pareceu acreditar naquilo, mas ele resolveu explicar mais e emendar com a verdade. – A minha casa fica a duas quadras daqui.

—Ah, ok. – Ela parecia aliviada. – Eu moro a uns quinze minutos do salão de festas, mas na direção oposta. Enquanto você pega as suas coisas eu ajeito o GPS do meu celular.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Escrita da alma ou do que vier à cabeça" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.