I Knew You Were Trouble escrita por Najinx


Capítulo 10
A culpa


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, como prometido estou de volta, fiquei muito feliz de saber que alguns de vocês ainda me acompanham e que estão gostando do rumo da história.
Como ontem foi dias das crianças, esse capitulo é meu presente para vocês, mesmo que eu não seja criança e acho que a maioria aqui também não é, eu gosto muito da data e sinto saudades de ganhar presente hahaha
Sem mais enrolações, boa leitura.



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Eu bato o meu carro, aprendo a roubar 
Eu arranjo briga, bebo em algum bar 
Beijo qualquer boca, eu traço algum plano 
Só pra não lembrar 

Ainda te amo - Jão  

 

“E se...” 

Em algumas situações da nossa vida essa frase insiste em nos acompanhar e nos fazer cair em divagações, nos fazer lembrar de escolhas e consequências das nossas ações, de como seria determinados acontecimentos se você não tivesse se precipitado, se tivesse ouvido ao invés de gritar, se tivesse falado aquilo que estava no seu coração ao invés de guardar para você, que rumo a sua vida teria tomado se você não tivesse fechado aquela porta, se tivesse tentado ao invés desistir, se tivesse se arriscado, se não tivesse se importado tanto com a opinião alheia, se ao invés dele fugir ele tivesse escolhido ficar. Em muitos casos é capaz de nunca descobrimos se aquilo seria diferente ou não, mas as vezes a vida nos dá oportunidade para mudamos e só precisamos de coragem para ir em frente. 

 

 ♪ “I'm a Barbie girl in a Barbie world, life in plasticit's fantastic...”♪ 
 

O despertador da Annie toca alto e estridente pela casa, penso em levantar e desliga-lo mas meu corpo está tão cansado que não consigo nem abrir meus olhos, após alguns segundos é possível ouvi-la resmungando e o barulho do despertador cessar, respiro profundamente com a paz que a casa fica após o silêncio reinar novamente e me permito dormir por mais alguns minutos mas quando tento virar meu corpo na poltrona sinto meus músculos doloridos e todo meu corpo reclamar pela maneira que estou deitada, tento me ajeitar confortavelmente mas quanto mais eu me mexo mais meu corpo reclama e mais dor sinto. 

—Você não devia estar dormindo aí - a voz de Peeta chega aos meus ouvidos antes que eu lembre onde eu estou e que talvez tenha feito barulho tentando me ajeitar na poltrona, como uma criancinha abro apenas um olho para confirmar se não estou ouvindo coisas e dou de cara com ele me observando do sofá, está sentado com a mão apoiada no rosto e com a cara de poucos amigos, já que não digo nada ele prossegue:  

— Você está grávida Katniss, devia estar deitada em algum lugar confortável - ele dá de ombros enquanto continua me encarando, e não sei o que me irrita mais, sua voz calma ou porque ele está preocupado onde eu estou deitada ou o fato que ele não para de olhar para mim, antes que eu perceba levanto minha guarda e estou pronta para brigar com ele. 

—Eu sei - minha voz sai seca e irritada, reviro os olhos me concentrando nos pequenos desenhos de flores no meu cobertor, controlo a vontade de gritar com ele, mas sua risada soa nos meus ouvidos me deixando mais irritada com ele e consequentemente estou brava comigo por ter dormido nessa maldita poltrona, a voz de Peeta me traz para realidade. 

— Parece que você não perdeu seu tique. - Ele diz com tom de riso na voz, levanto os olhos tentando entender o que ele está falando, ele continua com o sorriso na boca e aponta para os meus olhos - Revirar os olhos é um tique.  

Meu coração se aperta e erra uma batida porque ele já disse isso para mim, parece ter sido em outra vida mas foi alguns meses atrás, de quando eu tinha certeza que não ia cair na lábia dele, que não deixaria aqueles olhos azuis me seduzirem, que ia ouvir sempre minha consciência e não ia deixar meu coração lidar com isso, mas parece que sou uma grande piada para o universo e estou grávida desse playboy, causador de problemas que não assume suas responsabilidades. 

— Não tenho tique. - digo empurrando o cobertor para o lado e me tento me levantar, contudo ao colocar os pés no chão sinto uma tontura e meu corpo se desloca para frente e antes eu caia de cara no chão, Peeta se levanta e segura minha cintura me firmando de pé, sinto sua respiração próxima do meu rosto mas não me atrevo a olhar para seus olhos, suas mãos me apertam com delicadeza, enquanto ele me ajuda a sentar no sofá e se ajoelha na minha frente, vejo que seu lábio puxa para lado com o esforço que ele faz, mas ele continua me olhando agora com um pequeno vinco de preocupação marcado na sua testa, antes de eu desvie o olhar ele levanta a mão e com o maior cuidado afasta uma pequena mecha de cabelo que cai em cima dos meus olhos. 

—Obrigada - digo me afastando do seu toque e olhando para minhas mãos que não param de tremer, as dobro em cima do colo para disfarçar. 

— Você está bem? 

— Sim, só foi uma tontura, acho que levantei muito rápido. 

—O bebê está bem? - sua voz sai rouca e baixa, porém suas mãos demostram que ele está agitado já que ele gesticula rapidamente indicando a minha barriga, o seu nervosismo também me deixa aflita, levo minhas mãos para meu ventre onde já se pode visualizar um pequeno volume se formando, lembro das palavras da minha médica e tento ficar calma e quieta para observar qualquer sinal que alguma estranha está acontecendo, Peeta  permanece ajoelhado na minha frente me observando intensamente, após alguns segundos olho para ele: 

—Ele está bem – informo sentindo minhas bochechas arderem por ele está tão perto, meio desajeitado ele se levanta, passa as mãos pelos cabelos e se senta ao meu lado. 

Silêncio 

Tudo que conseguimos ouvir por vários e vários minutos é o silêncio, tantas perguntas na ponta da língua mas nenhuma parece querer sair no momento, olho para o outro lado da sala observando a pequena fresta de luz que passa por debaixo da cortina, reparo na estante abarrotada com livros, tento ser indiferente as sensações que estou sentindo por ele está tão próximo de mim. 

 Antes que eu consiga falar alguma coisa ou simplesmente levantar dali, sinto sua mão tocar meu braço calmamente, viro meu rosto e me deparo com seus olhos sempre tão azuis me analisando, mesmo com um hematoma roxo em volta do olho esquerdo e alguns arranhões no rosto ele não deixa de ser bonito, os olhos azuis são realmente encantadores olhando de tão perto e são como um campo de força que continua me prendendo tão forte que não consigo desviar, posso enxergar a sombra de um sorriso se formar nos seus lábios enquanto eu o observo, espontaneamente seu corpo se inclina em minha direção, sua mão toca meu rosto, sua respiração bate no meu rosto e sei que minha própria respiração é reflexo da dele: forte e ofegante. Seus dedos deslizam pela minha bochecha e seguram meu queixo, meus olhos caem em seus lábios e sinto um frio na barriga ao notar que estamos apenas alguns centímetros de distância, fecho os olhos e sinto seus lábios tomarem os meus com tanta gentileza que acho que vou desmanchar. Mas antes que eu me deixe levar pelo momento e cair novamente nas mãos do Peeta, junto toda força existente em mim e me afasto de seu toque, ele me olha confuso: 

—Não devíamos ter feito isso – digo me levantando e dando três passos para trás. 

—Katniss... - ele se levanta, mas eu o corto. 

—Não, não devíamos ter feito isso Peeta – digo caminhando para bem longe dele e tento achar a minha dignidade que joguei pro alto ao deixá-lo me beijar, preciso fazer uma lista na minha cabeça de todos os motivos do porque não posso deixá-lo se aproximar. - Acho melhor você ir tomar um banho, vou ligar para o Finnick te trazer uma muda de roupa e podemos fazer curativos nesses machucados.  

Ele abre e fecha a boca como se fosse falar alguma coisa, mas desisti e assenti com a cabeça. 

—Vou pegar toalhas para você - digo já me virando e indo rapidamente para o meu quarto, fecho a porta e tento acalmar a minha respiração, onde eu estava com a cabeça de deixar me levar e beijá-lo, se eu pudesse abrir um buraco no chão nesse exato momento, eu abriria, me enfiava lá e não saia dali tão cedo, mas infelizmente não posso fazer tal ato. Vou até o armário e pego duas toalhas e peço para o destino que não me deixe fazer mais nada de errado. 

Assim que volto para a sala encontro Annie e Peeta conversando, na verdade posso ver que apenas ela está falando e ele ouve sem fazer nenhum comentário, me aproximo e coloco minha mão no ombro dela. 

—Ficamos muito preocupados com você Peeta! 

—Eu sei e peço desculpas por isso – diz ele nitidamente envergonhado, Annie lhe dá um sorriso de compreensão e pega o celular no bolso do shorts que está usando, ela olha para o visor e seu sorriso se amplia:  

—É o Finnick, ele já está vindo, vou pedir para que ele te trazer uma roupa limpa Peeta. 

—Obrigada Annie! 

—Sem problemas – diz ela e se vira para mim - Kat você pode mostrar onde é o banheiro para o Peeta? - consigo ver o sorrisinho se formando no seu rosto e sei que ela ouviu tudo o que aconteceu mais cedo, aceno minha cabeça em concordância - Ótimo. - E assim ela sai da sala e segue em direção a cozinha remexendo nos armários, me viro para Peeta:  

—O banheiro é por aqui – digo colocando as toalhas em suas mãos e indicando o banheiro com a cabeça, sigo em frente e ele me acompanha em silêncio, abro a porta e espero que ele entre, indico o que ele pode usar e como funciona o chuveiro: 

—Tente não abrir o registro demais senão a água fica extremamente fria, mas também não deixe muito fechado senão a água fica muito quente ok? - Antes que ele consiga responder continuo falando o mais rápido que posso. - Assim que você terminar o banho você pode ficar no meu quarto enquanto o Finnick não chega com suas roupas, segunda porta a esquerda, vou deixar a caixinha de remédios lá, se precisar de alguma coisa é só me chamar, vou ficar na sala! - Tento voltar para a sala, mas ele me impede segurando meu braço: 

—Obrigada Katniss! 

—Não precisa agradecer – digo tentando me soltar do seu toque.  

—Preciso sim, obrigado mesmo por estar me ajudando. 

—De nada, agora vá tomar banho – digo já me virando.  

—Katniss? - ele me chama e meio relutante me viro – Sobre o beijo... 

—Não foi nada – eu quase grito antes que ele termine aquela frase - Só vamos esquecer que aquilo aconteceu, tudo bem? – sem esperar sua resposta me viro e saiu dali o mais rápido que consigo. 

Annie ainda está na cozinha quando eu vou para sala, pego o cobertor e o travesseiro que ainda se encontram jogado em cima do sofá, devolvo a poltrona para sua posição de sempre, recoloco as almofadas no sofá, pego minha bolsa que ainda se encontra jogada perto da estante de livros,  pesco meu celular no meio da bagunça que se encontra minha bolsa, ao olhar o visor vejo que o mesmo está descarregado e tenho três chamadas perdidas da minha mãe, mando uma mensagem falando que estou bem e que assim que tiver tempo ligarei para ela.  

Volto para o quarto, deixo a bolsa na cadeira em frente a escrivaninha, conecto meu celular ao carregador, arrumo a cama, abro a janela e vou dobrando todas as roupas que encontro jogadas no chão e as coloco de volta no meu guarda roupa, procuro alguma roupa mais apresentável e me troco rapidamente, ainda estou tentando prender meu cabelo quando a porta do quarto se abre e Peeta entra com uma toalha ao redor da cintura e a outra secando seu cabelo, acho que vou morrer.    Mesmo já tendo visto ele sem nenhuma peça de roupa meu coração bate forte dentro do peito e tenho certeza que estou mais vermelha que um pimentão. 

—Desculpa eu...  

—Está tudo bem, eu falei que você podia ficar aqui – digo fingindo que não estou abalada com sua presença ali enquanto continuo penteando o cabelo, ele parece meio receoso enquanto fecha a porta e caminha pelo quarto e se senta na cama.  

—Vou pegar a caixa de remédios para você - levanto e vou até o guarda roupa pegando a caixinha rosa cheias de adesivos que me acompanha desde que eu era criança, Annie desde sempre me levava junto para suas aventuras ou enrascadas o que sempre me rendia arranhões e alguns machucados por ser desastrada e não conseguir acompanhar a energia dela, sorriu com a lembrança e levo a caixa para ele, posso ver o sorriso se formando em seus lábios quando coloco-a em suas mãos 

—Fofo – ele diz sorrindo abertamente.  

—Calado – digo me permitindo sorrir junto com ele – Agora que você lavou os machucados eles não parecem tão feios – digo olhando atentamente para os pequenos cortes que se encontram nas suas mãos e no seu rosto – Tire o piercing para não infeccionar o machucado e limpe o corte com essa solução - digo indicando o frasco e o algodão - Para os hematomas no braço, passe a tomada azul – pego a tomada e mostro para ele- Você está sentindo alguma dor?  

—Um pouco nas costas. 

—Certo, vou trazer água e você pode tomar dois comprimidos desse ok? - ele concorda com a cabeça e eu vou até a cozinha, pego um copo no escorredor de louça e encho d’água, Annie está sentada na mesa com sua tigela com frutas e um livro nas mãos. 

—Ele está bem?  

—Acho que sim, os ferimentos não são graves – digo dando de ombros e ela concorda com a cabeça. 

—Você está bem? - olho confusa para ela, a mesma levanta uma sobrancelha na minha direção.  

—Claro que estou. 

—Kat... 

—Annie, eu sei o que você vai falar, mas eu estou bem. 

—Se você está dizendo – diz ela voltando sua atenção para o livro. 

Eu estou bem, digo para mim mesma enquanto caminho de volta para o quarto, Peeta não tem nenhum poder sobre mim e não pode me atingir, quase consigo ouvir minha consciência rir da minha cara e me esforço em lembrar que não me importo com Peeta, nem que estou triste te ver ele todo machucado porque na vida toda ação tem uma reação, os machucados são as consequências das escolhas erradas que ele teve nas últimas semanas, porém ao entrar no quarto e ver sua cara se retorcer de dor ao limpar os cortes, não consigo afastar a sensação que talvez me importe demais com ele, mais do que deveria e mais do que ele merece. 

—Deixa que eu faço isso – digo me aproximando, pego o algodão de suas mãos e entrego o copo com água para ele, coloco os dois comprimidos para dor na sua mão e espero ele os tome, posso ver que seu lábio voltou a sangrar, ele me devolve o copo e se endireita na cama para poder ficar de frente para mim, molho o algodão no soro fisiológico e passo-o no corte do lábio com delicadeza, posso sentir seus olhos acompanhando meus movimentos contudo ele não fala nada. 

Passo tomada para impedir que os cortes infeccionem e coloco curativos, a maioria dos machucados em seus rostos são arranhões e com o tempo irão sarar e voltar ao normal, peço para ele só recoloque o piercing depois que o machucado no lábio melhorar, ele assenti com a cabeça numa demonstração que está ouvindo tudo, mostro o que ele deve fazer em casa para que nenhum dos machucados inflame e nem infeccione, os nós dos dedos são a pior parte para limpar e passar o remédio já que estão extremamente feridos. 

—Você esfregou no banho? – pergunto pegando suas mãos com delicadeza, ele concorda com a cabeça - Não deveria, agora vamos ter que enfaixar para não ficar pior – digo tentando passar o remédio com muita calma, mas assim que toco sua mão com o algodão, ele geme de dor. Tento finalizar o mais depressa que consigo, Peeta mesmo sentindo muita dor me deixa terminar os curativos e passar pomada nos hematomas que marcam sua pele, estou concentrada num pequeno corte em sua orelha esquerda que me assusto quando sinto sua a mão tocar na minha barriga, não consigo me mover, quero afastar suas mãos e brigar com ele mas estou petrificada no lugar. Não sei se é por causa do toque dele nesse momento ou dos meus hormônios, mas quando percebo sinto minha garganta se fecha e uma vontade de chorar enorme me possuir e preciso correr dali antes que me desfaça em lágrimas na frente dele.  

—Acho que cuidei de todos os machucados – digo evitando seu olhar e tentando não chorar em cada palavra que sai da minha boca, me afasto de suas mãos e viro de costas para ele. 

—Kat! 

—Vou ver se o Finnick chegou – digo saindo do quarto e dando de cara com Annie que estava com a mão estendida para abrir a porta, ela se assustar aos ver que meus olhos vermelhos e sabe que estou pronta para chorar, quando ela tenta me segurar me desvencilho de sua mão e me dirijo para banheiro, ela me chama mas não ouso olhar para trás porque as lágrimas já estão caindo em cascatas pelas minhas bochechas.  

Quero gritar com Peeta por me deixar assim, quero gritar comigo mesma por ficar dessa maneira e por estar chorando novamente por causa dele, desejo não sentir tudo que estou sentindo nesse exato momento e pela primeira vez desde de que minha vida virou de cabeça para baixo, desejo não ter conhecido Peeta Mellark.  

Ao voltar para sala depois de lavar o rosto e me acalmar, encontro Peeta já devidamente trocado conversando com Finnick no sofá, Annie observa a cena parada perto da porta da cozinha e posso ver que está fuzilando Peeta com o olhar, contudo o mesmo não demonstra nenhuma reação ao olhar ameaçador que ela lança, passo rapidamente pelos os dois e me dirijo para cozinha. 

Annie ao perceber minha presença abre um sorriso, pisca para mim e sei que ela não vai fazer perguntas até estarmos sozinhas, ela me informa que fez chá para mim e estende a caneca favorita dela com desenhos de gatinhos para mim, o que me faz dar um sorrisinho já que esse gesto é uma coisa que Annie faz desde pequena: toda vez que eu estava triste ou chateada ela me deixava ficar com alguma coisa favorita dela, lembro que uma vez cair de bicicleta e acabei quebrando meu braço e ela fez questão de me deixar dormir com seu peixinho de pelúcia por uma semana mesmo sendo o brinquedo favorito dela naquela época, e sei que isso significa que ela sempre vai estar aqui comigo e me apoiar em tudo o que eu precisar. 

Pego a caneca de sua mão, deixando o cheiro de camomila invadir minhas narinas e bebo esperando que progressivamente o chá vá me estabilizando, ela estende para mim as vitaminas que tenho que tomar todas as manhãs e insiste que eu coma alguma coisa, tento negar mas ela me lembra que já não sou só eu que necessito que de uma alimentação decente logo de manhã e que não posso pular nenhuma refeição já que estou grávida, não sei se é pelos acontecimentos dessa manhã ou pelo Peeta estar aqui mas não consigo sentir fome. Como não quero brigar com Annie, deixo ela me prepare uma tigela de frutas com iogurte e a acompanho até a sala. Me sento na poltrona com a tigela em meu colo. 

Observo o rosto de Finnick e pela expressão que encontro ele não está tão calmo e sei que Peeta não está sendo tão receptivo com suas perguntas, evito encontrar seu olhar com o meu e me dedico em levantar a colher e levar até a boca enquanto Annie pedi para Peeta nos contar o que aconteceu com ele nos últimos dois dias. Talvez pela pressão de todos estarem encarando e esperando respostas, Peeta é rápido e direito quando nos conta sobre os acontecimentos, ele evita dar detalhes e olhar para qualquer um que esteja na sala, apenas diz que saiu para beber e acabou bebendo demais e arranjou briga com alguns caras que estavam no bar, controlo minha vontade de revirar os olhos quando ele diz isso já que a grande maioria dos homens acham que são o Superman quando bebem e podem arranjar brigar com qualquer pessoa que os olhem torto, volto minha atenção para ele quando ele diz que não se lembra de ter sido roubado porque desmaiou no meio da briga e quando acordou estava sem seu celular e seu carro tinha sumido. 

—Não lembro de muitas coisas, lembro de andar por vários quilômetros, mas são imagens turvas e sem focos dentro da minha mente – diz ele meio frustrado – Lembro que consegui encontrar um telefone.  

—Sim, você ligou para mim - diz Finnick – Mas eu não conseguir entender muita coisa, só que você falou da cachoeira e chamou pela Katniss – assim que Finnick diz isso eu levanto meus olhos e posso ver que as bochechas de Peeta coram levemente, ele coça a nuca e dá de ombros como se aquilo não tivesse importância. 

—Foi a primeira pessoa que eu pensei quando consegui achar um telefone – suas palavras me atingem como um raio no meio da tempestade: rápido e fatal, ele levanta os olhos e os cravas nos meus, tento agir como se não me importasse mais tenho certeza que falhei já que desvio o olhar para o outro lado da sala. - Sei que andei por mais alguns quilômetros até um carro parar e me dar uma carona, falei o primeiro endereço que eu lembrei e ele me deixou aqui. 

—Ainda bem você encontrou alguém de bom coração para te ajudar – diz Annie. 

—Verdade, não é sempre que essas situações acabam da melhor maneira – diz Finnick, Peeta concorda com a cabeça e todos se viram para mim, como se esperassem que eu falasse alguma coisa, respiro e solto aquilo que segurei o dia todo.  

—Toda ação tem uma reação, o Mellark procurou por isso – digo como se ele não estivesse na sala  

—Perdão? - diz ele visivelmente magoado 

—Foi isso que você ouviu, tudo que fazemos tem uma consequência Peeta – digo olhando dentro de seus olhos, posso ver que ficou surpreso com a minha reação, mas se ele acha que irei passar a mão na cabeça dele, ele está muito enganado, controlo meu tom de voz e continuo: - Se embebedar por aí e procurar briga não vai fazer que as coisas mudem.  

—Você não sabe de nada Katniss – diz ele irritado  

—Será mesmo Peeta? - pergunto cruzando os braços na frente do corpo - Sei que anda bebendo sem parar, sei que está faltando nas aulas e que está literalmente jogando seu futuro na lama porque as coisas não aconteceram da maneira que desejou, mas eu preciso te lembrar que estamos no mundo real e não adianta ficar fugindo. - Digo irritada e com raiva, Finnick e Annie estão espantados, porém não falam nada.  

—Não estou fugindo de nada Katniss, já sou grande e sei o que faço com minha vida.

—Deu para perceber que você sabe o que faz com ela – digo alto revirando os olhos – Encher a cara é sempre a melhor solução. 

—Não precisa ser dramática, não aconteceu nada demais  

—Não aconteceu nada demais? - riu com sarcasmo - Peeta você foi roubado, apanhou e ficou perdido por dois dias, eu não diria que isso foi “nada demais”, seria mais bonito você admitir... - deixo a frase morrer nos meus lábios. 

—Admitir o que? - ele diz  

—Nada – digo me levantando e ele imita meu gesto, preciso me afastar ou vou começar a falar coisas que não quero e possivelmente vou me arrepender depois. 

—Não, por favor me diga o que eu não admito – sua voz soa alta e grave e sei que ele está extremamente irritado, mas ele não tem motivo para estar bravo já que quem causou toda essa situação foi ele mesmo. 

—Não quer admitir que está sentindo culpa – digo dando de ombros. 

—Sentindo culpa exatamente do que Katniss?- Grita ele me encarando com raiva 

— Está se sentindo culpado pelas escolhas que fez! - Grito na cara dele, estamos frente a frente prontos para continuar gritando um com o outro, dois tons de azul se encarando profundamente, sei que o que eu disse abalou ele porque seus olhos perdem o foco por alguns instantes. - Temos que aprender a conviver com as consequências das nossas atitudes Peeta. - Dou as costas para ele e volto para o meu quarto. 

 

Minha cabeça é a minha prisão 
Deixei pra trás quem eu fui sem razão 


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Notas finais do capítulo

Espero que vocês tenham gostado e até o próximo.



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