Children don't listen...

Capítulo 14 - Vidro quebrado (parte 2)

Sarah lhes contara tudo o que havia acontecido desde a parte em que eles não sabiam, Calid e Dave eram as pessoas mais confiáveis que existiam no mundo caótico da garota, eles a tratavam com todo o amor e respeito que teriam por uma filha.

            -... no dia seguinte a casa estava feita e Sarah sumira – Narrava Astrid.

            - Você construiu uma casa daquele tamanho sozinha? – Pergunta Dave surpreso e orgulhoso da capacidade da garotinha que ele, antes, consertava as bonecas.

            Calid dá um tapinha no braço de Dave.

            - Ai! O que foi que eu disse?

            - Besteira! – Ele responde – Você está bem, minha querida? É muita coisa para se passar... Você não acha que está carregando muito peso sozinha?

            - Eu só aumentei um pouco mais a bagagem, eu sempre tive muito peso nas costas, não é mesmo? – argumenta Astrid tentando parecer positiva e falhando miseravelmente – eu consigo mais um pouquinho...

            Calid põe a mão sobre o ombro da jovem e repousa sua cabeça sobre a dela.

            - My dear child, you only grow for something we Love more... (Minha querida criança, você só cresce para algo que amamos mais...).

            - I’m feeling so lost... (Eu me sinto tão perdida…)

***

Após certo tempo, Astrid finalmente arrumou coragem de ir embora. Era tão difícil ficar longe de algumas pessoas, principalmente deles, Calid e Dave a faziam rir e a protegiam de todo o mal que existe do mundo mesmo estando ali no cantinho.

O céu estava escuro e o tempo congelante, Sarah não tinha como proteger-se muito bem do frio daquela noite, não tinha como se proteger de um céu cheio de estrelas e de um coração infeliz...

Sarah nadou de volta até a superfície, ela checou sua bolsa onde havia um pequeno presentinho de Calid e Dave protegido por um material perecível. Era um cachecol azul turquesa muito bonito e confortável, era macio como um cobertor e tinha o cheiro bom do ateliê deles, café e creme para cabelos.

Ela não queria vesti-lo por estar molhada, mas apenas segurá-lo a fazia sentir saudades... Sarah checou o céu e ao redor antes de voltar para o vilarejo, mas ela não poderia prever o fúria da noite atrás de si.

— Sarah... – Soluço a chama.

A garota se vira assustada pondo o cachecol de volta na bolsa. Ela baixara a guarda mais uma vez...

            - Sarah, preciso de ajuda...

            A garota deu um passo para trás, hesitando assustada. Soluço ficou confuso, pois ela era sempre muito corajosa... Algo o dizia que era pelo mesmo motivo de sua mãe.

            Sarah se perguntava se Valka contara algo a ele.

            - Você... você sabe o que aconteceu com a minha mãe, não sabe? E-ela está muito mal e, se você pode ajudar, ajude-a... Não precisa mais falar comigo se não quiser, mas a minha mãe é tudo o que me resta – Soluço diz acanhado desviando o olhar.

            Sarah apenas confirma com a cabeça e se afasta.

            - Sarah... Mais uma coisa – Ele diz extremamente sério fixando seu olhar – O que estava fazendo naquele castelo?

            - Eu...

            - Você não roubaria da família real, roubaria?

            Sarah negou com a cabeça timidamente.

            - Você vai fazer algo? Vai me falar alguma coisa?

            A garota respirou fundo, segurando todas as emoções que ela carregava e simplesmente prometeu:

            - Tudo voltará a ser como era antes de me conhecer, tem a minha palavra.

            Então Soluço a observou partir mais uma vez... Se sentindo abandonado. Acabara a amizade, acabara a esperança de ser alguém melhor...

            Acabou.

***

            Chegando ao vilarejo, a garota começa a pensar em como poderia falar com Valka. O que ela supostamente deveria dizer? Ei, não fica triste não. Fica de matraca fechada, mas com um sorriso, valeu?

            Por uns instantes ela ficara zangada com Valka por ter descoberto, porém logo ela conseguiu absorver a culpa, mesmo sendo o mais cautelosa possível, ela tinha de se permitir errar algumas vezes...

            Então ela decidira esperar até o momento em que Soluço fosse ao Grande Salão jantar e deixasse sua mãe sozinha em casa. Então, Astrid ficou esperando em um esconderijo até que o momento chegasse, nesse tempo ela já estava seca e pudera vestir o cachecol, seu cheiro a acalmava e a trazia boas lembranças.

            Após alguns minutos, o Haddock finalmente saíra levando, ainda, os dragões consigo. E então, antes de sair, Sarah respirou fundo preparada para assumir mais um peso em suas costas.

            - Só mais unzinho não vai doer tanto assim... – Murmurou agarrando firme o cachecol – Estou pronta, vou fazer isso por vocês.

            Ela caminhou até a casa sem que ninguém a visse e entrou enganando a fechadura com um pequeno truque. A garota usou suas habilidades de ladra mais uma vez, (essa talvez fora uma das coisas mais úteis que já lhe ensinaram, não acha?) ela se sentia culpada por entrar em uma residência sem permissão, por isso olhou para a casa o menos possível. Como ela havia construído algumas partes importantes, já sabia onde ficavam os quartos e só precisava descobrir qual era o de quem...

            Os quartos ficavam no segundo andar, ela subiu as escadas e abriu uma das portas devagar, estava vazio, deveria ser o quarto de Soluço. Sarah fechou imediatamente, não iria interferir na privacidade de ninguém; o segundo quarto parecia mais obvio somente pela luz da lamparina passando pelas frestas da porta. A Thornado bateu na porta esperando alguma resposta.

            - Esqueceu alguma coisa, Soluço?

            Ela girou a maçaneta sem entrar, deixando a porta entreaberta para que Valka não a visse atrás da porta.

            - Preciso falar com você – A garota diz.

            Valka prende a respiração surpresa.

            - Ast... – a mulher se interrompe.

            - Sim, sou eu Astrid – Fala a garota em voz alta pela primeira vez na vida como Sarah – Posso entrar?

            - P-pode...

            Astrid adentra o quarto procurando não olhar muito para o quarto por uma questão de educação, ela entrara sem ser convidada e não tinha o direito de admirar nenhum pertence dos proprietários. Valka estava deitada em sua cama, parecia que não via o sol á dias. Um sentimento de culpa bateu na jovem.

            - Eu juro que não contei, Astrid! Eu mantive minha boca fechada, eu juro! Não lhe desejo nenhum mal, me desculpe por ter falado da sua mãe! E-e-eu...

            A garota a interrompe levantando a mão em um gesto de silêncio.

            - Não precisa ter medo de mim ou se sentir culpada pelo o que fez, nada disso é culpa sua – Astrid olhou para o chão – Sei que é uma boa pessoa e que não fez nada com más intenções, a única coisa que peço é que não conte para ninguém,Valka.

            - Você não está zangada comigo? – Pergunta Valka abraçando as pernas por debaixo dos cobertores.

            - Não ficaria brava com você, eu estou apenas preocupada – Sarah toca o cachecol – Todas as pessoas que conhecemos estão passando por batalhas que nem imaginamos, por isso sou o mais compreensiva que posso ser, sempre.

            Elas fitaram uma a outra por um tempo.

            - Pode manter esse segredo, pra mim? Por favor? – Pede Sarah se aproximando com um pequeno sorriso triste – Eu também estou enfrentando as minhas batalhas.

            Valka sorri confirmando com a cabeça, ela ficava fofa até mesmo com os cabelos bagunçados.

            Sarah vai em direção a porta, mas antes de sair lhe vem uma coisa em mente.

            - Ah, mais uma coisa... Haddock está preocupado com a senhora, ele está triste por vê-la assim – Ela fita a porta – Se adianta meu conselho, eu acho que algumas batalhas são vencidas em equipe. Então, se algo a chateia, deveria se abrir com ele sobre o que está sentindo... Eu sei que o que sente não é totalmente decido a nossa discussão...

            Dizendo isso, Sarah se vai. Desaparecendo por mais alguns dias, salvando as pessoas em silêncio, seus atos falaram por si...

            E tudo o que ela queria se resumia a um pequeno desejo.

            - I wish...