Pela primeira vez em muitos anos - desde que Lily morrera, na verdade - Severus Snape chorou. E como naquela noite terrível, este era um choro amargo e dolorido, pontuado por tristeza e arrependimento.

A essa hora a verdade já teria se abatido sobre o castelo e todos teriam se dado conta de que Albus Dumbledore morrera. Era curioso pensar que mesmo tendo sido ele o autor da maldição que findara a vida daquele homem, Snape ainda não conseguia acreditar no fato de que não haveria Dumbledore nunca mais, fosse em Hogwarts, fosse em qualquer outro lugar. E isso, ele sabia, seria quase demais para suportar.

Mais cruel que a ausência de Dumbledore, porém, seria a presença de Harry Potter. Seria saber que o ódio do garoto por ele teria, agora, uma justificativa completamente plausível, mesmo que falsa. Potter provavelmente levaria para o próprio túmulo o ódio que sentia pelo assassino de seu mentor e Snape nunca teria a chance de explicar porque fizera aquilo. A injustiça disso se abatia sobre coração de Severus e transbordava por seu rosto em forma de lágrimas tão necessárias quanto indesejadas.

E ainda mais cruel ainda fora ouvir da boca daquele moleque insolente a palavra “covarde” dirigida a ele. Como ele ousava? Severus era tudo, menos um covarde, e apontar a varinha para o diretor fora o maior ato de coragem jamais feito por ele. Aquele garoto não poderia ter noção da dor que consumia Severus e esmagava seu coração; ele sentia em seus ossos o desprezo que todos agora tinham por ele, sentia culpa, sentia raiva de si mesmo e do próprio Dumbledore e se sentia sem forças; toda a sua fibra interior fora exigida naquela maldição, mas ele era um maldito covarde aos olhos de todos e, pior, aos olhos de Potter.

Quanto ódio sentia de si mesmo agora, por todas as suas escolhas, por ter feito sozinho tudo o que o colocara naquela situação. Ele poderia culpar Dumbledore, é claro, mas fora Severus quem, antes de tudo, se unira aos Comensais. O seu arrependimento e o fato de ter passado a lutar pelo lado que julgava ser o correto pareciam completamente insignificantes e cada célula de seu corpo, cada neurônio, cada gota de magia desejavam ardentemente voltar atrás e refazer seus passos.

Mas ele não podia. Nem voltar atrás, nem desisitir; Severus tinha uma missão a cumprir e jamais a abandonaria. Por Lily, por Albus, por si mesmo, por todo o mundo bruxo (e também por Harry Potter), o bruxo limpou as lágrimas, clareou sua mente e se levantou. Ele poderia ser para sempre considerado um covarde, o seu valor talvez nunca seria provado, mas ele iria até o fim, se sacrificaria se necessário, e daria tudo de si para a derrota de Voldemort, ou ele não se chamava Severus Snape.

“Albus Severus, nós lhe demos o nome de dois diretores de Hogwarts. Um deles era da Sonserina, e provavelmente foi o homem mais corajoso que eu já conheci.”

– Harry James Potter