Devo admitir que o Jang PD-nim era uma pessoa animada. Animada até demais. Assim que apareceu na recepção, veio todo saltitante em nossa direção, enquanto soltava elogios pelo ar.

– São essas meninas? Uau! Elas são mais bonitas pessoalmente! Caramba, adorei o cabelo! Que xampu você usa? Ah, não importa, sou seu manager! Olá!

Fiquei feliz em descobrir que esse cara era mais animado que nosso segurança, Woo-Bi. Imagine só ter que conviver com dois mal-humorados? Se bem que, toda aquela empolgação estava me assustando um pouquinho. Depois de nos apresentarmos corretamente, ele enroscou seu braço no de Jasmine, como se fossem duas amigas caminhando pelo parque, e começou uma conversa animada com a mesma, enquanto andava para o desconhecido. Eu e Rose apenas o seguimos totalmente confusas por sermos deixadas de lado.

Depois de algum tempo caminhando, conseguimos finalmente descobrir para onde o cara estava nos levando: o nosso dormitório. Ele ainda estava com Jasmine ao seu lado, e eu tive que fazer um esforço muito grande para não rir escandalosamente ali no meio do corredor. Jasmine parecia um pouco desconfortável naquela situação, ela não está muito acostumada a receber demonstrações de carinho, ainda mais quando essas vem de um homem tão baixo que chega a ser quase da minha altura. Era nada mais, nada menos, do que cômico, comparar as alturas dos dois, levando em consideração que Jasmine mede 1,72.

Andamos, andamos e andamos mais ainda, até pararmos em uma porta de madeira lisa, no terceiro andar do prédio. Jasmine viu aquilo como uma deixa para se soltar do nosso manager. O mesmo pegou uma chave no bolso da calça e entregou nas mãos de Rose.

– Vou deixar vocês se conhecerem sozinhas. – Falou apontando para a porta, mencionando as outras duas meninas que estavam lá dentro. – Nada de apresentações formais por hoje. – Dito isso, ele saiu tão saltitante quanto veio. Perguntei-me se esse cara era sempre assim ou se algo bom tinha acontecido a ele hoje.

Fiz um movimento nos ombros, como se dissesse “fazer o que?” e pedi a Rose que abrisse logo a porta, e assim ela fez. Girou a maçaneta com cuidado, como se um dragão estivesse lá dentro, pronto para atacar qualquer um que entrasse.

No interior do dormitório, encontramos tudo na mais perfeita desordem. Eram somente duas meninas, mas a bagunça parecia feita por umas dez. Mesmo utilizando somente duas camas, suas coisas estavam espalhadas pelas outras seis que sobravam. Havia meias em todos os lugares, e peças de roupas penduradas na luminária, se é que isso é possível. Uma das meninas, de cabelos pretos muito longos e utilizando uma maquiagem borrada, se encontrava em um sono profundo, ocupando duas camas de uma vez. Vez ou outra ela balbuciava coisas que não consegui entender. Leitura labial é difícil, ainda mais quando a língua usada é coreana. A outra possuía cabelos curtos e tingidos de rosa choque. Não chegava a ser mais baixa que eu, mas diria que temos quase a mesma altura. Ela tirava uma selfie atrás da outra, e só notou nossa presença quando ouviu Rose pigarrear, um pouco impaciente.

– Ooh! – Ela exclamou animada. – Vocês são as outras integrantes não é? – Veio animada em nossa direção. Ela falava de um jeito tão rápido e energético, que tive que dar graças à Deus por ter treinado meu coreano muitas e muitas vezes antes de vir para cá. – Hora da selfie! – Exclamou e só pude fazer cara de “hã?” quando senti a luz cegante do flash sobre os meus olhos.

O mesmo aconteceu com as outras duas que se encontravam paradas ao meu lado, parecia até uma espécie de ritual de iniciação. Ela parou em frente à nós três, nos avaliando. Depois, virou-se bruscamente para trás, onde encontrou a amiga de cabelos pretos dormindo.

– Camellia! Camellia, acorde! – Ela foi em direção à dorminhoca, e começou a chacoalha-la.

– Isso me lembra alguém... – Rose sussurrou perto de mim com um sorriso irônico no rosto.

– Ah, cala a boca! – Sussurrei de volta, ainda prestando atenção na cena. A menina de cabelos rosa ainda sacudia a tal Camellia, e a mesma murmurava coisas sem sentido, como “Pudim de baunilha” ou “Me devolve meu rímel!”. Identifiquei-me um pouco com ela. Depois de muita insistência por parte da menor, a mesma finalmente acordou. Sentou-se na cama e passou a mão no rosto, borrando ainda mais sua maquiagem.

– Quem...? – Ela perguntou apontando em nossa direção. Não era preciso completar a frase para sabermos que estava perguntando por nós.

– Essas são as outras meninas que farão parte do grupo. Lembra? – Ela perguntou. – Ah, não liguem, ela fica meio mal-humorada depois que acorda. – Dirigiu sua fala à nós. Apenas assentimos, entrando de uma vez no quarto e fechando a porta. – Sou a Daisy, muito prazer! – A mesma falou, enquanto procurávamos por alguma cama arrumada onde deixar nossas coisas.

– Prazer, sou a Violet. Aquelas são Rose e Jasmine! – Apresentei-nos e lhe lancei um sorriso. – Caramba! Esse lugar está uma bagunça! Um furacão passou por aqui?

– O nome do furacão é Camellia! – A garota deu risada. – Essa daí se preocupa tanto em achar a roupa perfeita que joga o resto pelos ares.

– Nhééé, olha quem fala! – Camellia revidou. – O único furacão aqui é você. Pula tanto que faz as coisas aqui dentro simplesmente despencarem.

– Vocês estão vendo aquela roupa lá em cima? – Perguntou Daisy, ignorando o comentário da amiga. Ela se referia ao vestido que avistei pendurado na luminária. – Camellia o jogou lá quando ficou irritada, pois o mesmo não combinava com sua maquiagem.

– Aish! Não dá para esquecer isso? – Perguntou ela. – Vamos dar um jeito nesse lugar, precisamos passar uma boa imagem à nossas novas colegas de quarto.

– Vish, se depender dessas duas, o quarto não vai durar nem cinco minutos arrumado. – Jasmine falou, se referindo à mim e Rose.

– Obrigada pela parte que me toca! – Respondi, arrancando leves risadas das outras. – Agora, vamos logo com isso, antes que eu perca a motivação. – Falei, e todas nós começamos a limpar o quarto, enquanto entrávamos em uma conversa animada.

~//~

– Estou morta! – Falou Camellia, se jogando na cama mais próxima, que no caso era de Rose. A ruiva caminhou em direção á ela, a empurrando da cama, fazendo-a ir de encontro ao chão e murmurar um “ai”.

– Folgada! Essa cama é minha, procure a sua! – Rose resmungou se deitando e fechando os olhos logo em seguida.

– Minha cama está lá no alto! – Choramingou fazendo esforço para subir na parte de cima do beliche. Ela dormia acima de Rose.

– Ninguém mandou querer dormir em cima. – Falou Daisy, rindo da desgraça da amiga. Ela foi andando até a parte de baixo de outro beliche, onde supus ser sua cama.

Eu me deitei na cama ao seu lado. Até que daria para conversar bastante antes de dormir, já que as camas estavam praticamente grudadas umas nas outras. Já Jasmine foi em direção à cama ao lado de Camellia, na parte de cima. Assim que me acomodei melhor, Daisy se virou para mim, com um sorriso no rosto, e pronta para iniciar uma conversa sussurrada.

– Então Violet... – Ela pronunciou meu nome de forma engraçada, como se fosse uma daquelas lideres de torcida, que viviam mascando chiclete. – Me conte mais sobre você! – Ela exigiu e eu apenas lhe dei um sorriso amigável.

– Não tenho muito que contar... – Parei e pensei antes de continuar. – Tenho 16 anos e uma tendência perigosa de chamar atenção e ser escandalosa aonde quer que eu vá. Acho que é isso. Conte-me sobre você e Camellia. – Pedi, recebendo em troca um olhar empolgado da mesma.

– Eu tenho 17 anos, sou meio tapada e todos falam que sou inocente demais. Estou sempre pulando para lá e para cá, é difícil me ver para baixo. Posso dizer que sou a luz do grupo. – Ela riu e eu a acompanhei.

– Doce como uma margarida. – Falei e ela deu um sorriso tímido, já que seu nome, Daisy, significa margarida em inglês.

– Enfim, - Ela continuou. – Camellia é muito dorminhoca, acho que já deu para notar. Ela se preocupa demais com aparência, isso vocês também já devem ter percebido. Ela provavelmente é a mais velha entre nós, já que tem 21 anos. É uma boa pessoa, apesar de ficar de cara fechada toda vez que se atrasa para um compromisso. São 1,67 de pura preguiça. Acho que resumi bem. – Ela fez uma pequena pausa. – Conte-me sobre as meninas. – Pediu. E eu pensei um pouco, antes de começar a descrevê-las.

– Rose tem 18 anos. E como eu sempre digo, ela é um tanto inconstante, tem dias que ela está bem-humorada, trata bem a tudo e a todos. Mas, quando ela fica mal-humorada, sai de baixo. Ah, e se ela algum dia lhe perguntar se quer ouvir uma piada, diga que não! Ela é a rainha das piadas ruins. Ela e Jasmine são muito altas, como já percebeu. Jasmine tem 1,72 e a vence por somente dois centímetros. – Fiz uma pausa, já que ouvi Camellia resmungando para que falássemos mais baixo. – Jasmine possui 19 anos de pura tranquilidade, nunca deu trabalho para ninguém e dificilmente expõe seus sentimentos. Lê bastante e vive escutando música. Acho que ela será a mais normal desse grupo. – Comentei rindo com meu pensamento. Daisy me acompanhou. Ficamos em silêncio por alguns segundos, e eu, pensando que a conversa já havia se encerrado, quase cochilei. Mas Daisy me chamou novamente.

– Violet. – Sussurrou.

– Hm... – Resmunguei abrindo os olhos.

– Você acha que podemos encontrar algum famoso pelos corredores? – Ela perguntou.

– Sei lá, tipo quem? – Perguntei de volta.

– Tipo... – Ela pareceu hesitar um pouco para falar. – BTS? – Quando ela falou isso, meu coração falhou uma batida. Li isso direto em fanfics. Sim, eu sou A.R.M.Y, me julguem! Mas, nunca havia parado para pensar que eu poderia encontrá-los por aí. Era sempre uma personagem principal bonitinha e arrumada, e eu sou só uma maluca descabelada, que tingiu o próprio cabelo de violeta e que milagrosamente conseguiu virar trainee de uma empresa consideravelmente famosa. Não havia pensado nessa possibilidade.

– Talvez, por quê? Você também é A.R.M.Y? – Perguntei.

– Eu sou. – Respondeu ela encarando o colchão que estava sobre nossas cabeças, com um sorrisinho fofo estampado no rosto. Só então percebi que ela tem uma covinha. – Sempre quis encontrar eles por aí, sinto que estou tão perto.

– Quem é o seu bias? – Perguntei na maior cara de pau, e vi a mesma corar. Ficou da cor de um pimentão com febre. Sinceramente, nem parece que eu sou a maknae.

– É o V... – Respondeu quase num sussurro, escondendo a cabeça embaixo das cobertas. Dei risada de sua vergonha. Ela pareceu se recuperar, e colocou a cabeça para fora num sobressalto. – E o seu? – Abriu um sorrisinho um tanto quanto malicioso.

– Acho que não tenho um favorito. – Falei, o que a deixou um pouco desanimada. – Eu simplesmente não consigo escolher um só. – Comentei rindo. – São todos tão gatosos!

– Gatosos? – Perguntou.

– É, você me entendeu! – Respondi. Passamos mais alguns segundos em silêncio, até que sinto a famosa lâmpada se acendendo acima de minha cabeça. – As meninas estão dormindo? – Perguntei um pouco mais alto, e vendo que nenhuma delas respondeu ao meu comentário, abri um sorriso grande. Mas muito grande mesmo.

– O que você está planejando? – Perguntou ela, assustada com a minha expressão facial. Eu não a culpo, diria que pareço uma copia do Coringa neste momento.

– O que acha de explorarmos um pouco esse lugar?