"Estes dois longos dias de viagem até que estavam sendo aproveitáveis . O meu "guarda particular", Helsken, não era lá agradável e tirar algo de sua boca era um feito quase impossível. Ele fazia o tipo sério, que não se apegava a nada, mas eu sentia que no fundo havia algo com o que ele se importava além de servir ao seu país.

Na última cidade que paramos pude passar no correi central para ter notícias de Brennel atrás das cartas. Sua reação não foi muito boa quando lhe contei que eu viajaria com um guarda pessoal. Segundo ele, era perigoso viajar com um rapaz que eu mal conhecia e que não era servente direto do meu pai."

"Por que você não usa um notebook como as pessoas do nosso século?" Harry tirou minha atenção da história enquanto esperávamos Luna voltar do banheiro.

"Porque as pessoas do nosso século são chatas, primeiramente. Segundo, eu gosto de escrever na minha máquina e, finalmente," eu fingi procurar algo nela. "Eu não preciso de bateria para usá-la."

"Mas precisa de tinta." ele retrucou.

Eu peguei uma caixa de sapatos que estava cheia de fitas com tinta para máquinas de escrever e mostrei para ele:

"Isso não é um problema." ele sorriu conformado e voltou a olhar para frente.

Estava pronta para voltar a escrever quando ouço:

"Você é sempre assim na sua do nada ou o problema é a Luna?" eu levantei os olhos da folha que estava na minha frente e fiz uma cara confusa.

"Por que a Luna seria um problema?" eu rearrumei a pilha já impecável de papéis ao meu lado.

"Não sei, talvez a Luna seja um pouco intimidadora com garotas e você pôs os fones de ouvido assim que ela começou a falar, eu só achei que..." ele deu de ombros.

"Não, eu apenas percebi que vocês não ficam muito à vontade para conversar quando eu estou ouvindo então preferi não ouvir nada." eu dei um sorriso amarelo e ficamos em silêncio.

"Você pergunta muito sobre o Thomas. Não confia nele?" ele disse de repente.

"Você sempre faz tantas perguntas assim?" eu levantei uma sobrancelha repetindo a pergunta que ele me fez quando estávamos perdidos e ele riu.

"É lógico que eu confio no Tom de olhos fechados, mas é que..." eu tentei me lembrar de uma conversa em que Tom me contou algo sobre a vida dele. "É que eu sou curiosa e Thomas não é muito de falar sobre si mesmo." Harry balançou a cabeça concordando e Luna entrou no veículo reclamando da fila no banheiro e eu voltei a atenção para a minha playlist  no celular novamente.

"Louis disse que está a duas quadras daqui." Luna disse enquanto procurava uma rádio do seu gosto.

Desde quando esse povo tem intimidade suficiente para trocar a rádio da Scarlet?

"Você e Louis voltaram?" Harry perguntou e eu parei de prestar atenção na conversa deles para prestar atenção na paisagem lá fora.

Graças ao meu trabalho de verão há alguns anos eu consegui colocar uns assentos confortáveis na parte de trás da kombi.

Não seria um lugar ruim para passar a noite.

Eu estava morrendo de vontade de falar com o Tom, mas ainda estava receosa desde a última vez nos falamos , já que eu desliguei a ligação na sua cara e ele não retornou.

Thomas sempre foi ciumento, e a maioria das vezes era um ciúmes fofo. Porém dessa vez parecia diferente, parecia que ele realmente acreditava que eu tinha grandes chances de me apaixonar pelo Styles. Era meio louco na verdade, Harry sempre foi educado em relação ao Tom. Meu namorado era no caso uma das únicas coisas com que ele não me atazanava, e isso já era um milagre. Tom, por outro lado, não parecia ter uma impressão igualmente boa sobre Harry.

"Aster, esse é o Louis." a voz do Harry me afastou dos meus pensamentos conflitantes e minha atenção foi voltada para o garoto de barba e olhos azuis cativantes. Ele tinha uma cara de deboche natural, exatamente como Harry e Luna, talvez esse fosse um dos requisitos para fazer parte do grupinho deles. Minha mente ainda tentava imaginar Tom inserido naquele contexto, mas era inconcebível.

Louis me encarava com uma sobrancelha arqueada em um claro sinal de curiosidade:

"Hm, você é a Aster." ele afirmou ajeitando sua jaqueta jeans desbotada sobre uma blusa branca de alguma banda. "Já ouvi falar muito de você." ele olhou para o Harry quando ele o interrompeu:

"Tom falou algumas vezes sobre a namorada dele." ele pôs uma mão no meu ombro explicando e Louis fez uma expressão de interrogação:

"Que você era namorada do Tom eu não lembrava" ele disse surpreso.

Não gostava dessa sensação de ser conhecida por todos e não conhecer ninguém. Principalmente, por me conhecerem mas não saberem que eu era a namorada do Tom.

"Você é muito bonita, Aster." eu corei e ele estendeu a mão em cumprimento. "Prazer, sou Louis Tomlinson."

"Ela é namorada do Tom, Louis, não é pro seu bico." Luna cruzou os braços claramente com ciúmes e Louis riu.

"Nem se eu quisesse, amor. Eu já tenho uma namorada, e ela é bem brava." ele pôs a mão na cintura dela que o afastou sem muita delicadeza.

"Ha-ha. Você vai ter que ralar muito para eu aceitar você de volta." ela disse dando de ombros.

"A conversa está bem agradável, mas Aster e eu temos que ir se quisermos chegar na Califórnia algum dia." Harry revirou os olhos e eu me despedi dos dois que estavam prestes a ter uma longa DR.

"Eu dirijo." cantarolei expulsando Harry do banco do motorista, precisava me distrair com algo, aquele momento reflexão de alguns minutos atrás não tinha ajudado muito no meu humor.

Nosso próximo destino definido era Ohio e segundo meu celular levaríamos cerca de oito horas até chegarmos lá. Não que eu planejasse dirigir oito horas direto.

Não me arriscava a ver a hora, se a hora do almoço não tinha passado, com certeza ela estava bem próxima.

Harry e eu nos encarregávamos bem de enganar a fome com salgadinhos, biscoitos, sucos e refrigerantes que trouxemos, mas eu duvidava muito que fosse demorar muito até nossos estômagos reclamassem pedindo comida de verdade.

Anne ligou para Harry uma vez para saber como estávamos e para avisar que eles estavam bem. Nem Harry, nem eu tocamos no assunto que não tínhamos dinheiro para hospedagem. Nossas mentes estavam ocupadas demais sendo preenchidas pelas recomendações e avisos de Anne e meu pai.

"Está tudo bem?" a voz de Harry ecoou de repente por toda kombi.

"Está sim, por quê?" eu respondi numa tentativa de ouvir minha própria voz para encontrar pistas se eu parecia tão cansada por fora quanto estava por dentro.

"Você está calada durante quase uma hora direto." eu olhei de relance a tempo de vê-lo listar nos dedos. "Nada de reclamar da imprudência das outras pessoas no trânsito, nem de como as rádios estão com um péssimo gosto, nem mesmo me fazendo perguntas a cada dois segundo." ele me encarou sorrindo. "Só posso achar que tem algo errado."

Fiquei alguns minutos em silêncio decidindo se valeria a pena ou não conversar com Harry sobre o Tom.

"Não é nada, só não gosto do fato dos amigos ou ex-amigos do Tom saberem meu nome, mas não saberem que eu sou de fato a namorada dele." eu tentei parecer indiferente, mas o meu tom de voz estava longe disso.

"Como assim?" o sorriso havia sumido de seu rosto.

"Tipo Luna e Louis pareciam ter ouvido sobre alguma Aster, mas ficaram surpresos ao saber que eu namorava o Tom. É como se ele nunca tivesse falado do nosso relacionamento." eu gesticulava e o Harry apenas balançava a cabeça para confirmar que estava ouvindo. "Pode parecer besteira, mas namoramos desde os treze anos."

"Ele deve ter falo e nós não prestamos atenção." Harry deu de ombros tentando apaziguar e eu dei um risinho irônico.

"Eu não sei porque você defende tanto o Thomas, ele não fala tantas coisas boas de você."

"Não esperava que ele dissesse." Harry murmurou  e eu me arrependi de ter jogado aquilo na cara dele.

"Me desculpe, eu só estou nervosa." eu passei a mão na testa tentando me acalmar.

"Tudo bem, sei que só de ouvir meu nome Tom pensa em um livro de palavrões. Acho que entre todos, nossa amizade foi a mais abalada." ele olhou para a paisagem lá fora.

"Estou quase certa de que  se eu perguntar o motivo da briga você não vai responder, certo?" ele afirmou e eu suspirei fundo ajeitando meus óculos enquanto estávamos parados em um semáforo.

"Se alguém tem que te contar alguma coisa é o Tom, eu não quero me intrometer no relacionamento de vocês. Fico feliz que ele achou alguém que o ame de verdade, só espero quer ele não estrague tudo." ele colocou os óculos escuros e apoiou a cabeça no encosto do assento.

Algo no modo com que ele falou aquilo me fez pensar que talvez eu não conhecesse nem um terço da vida do meu namorado e a insegurança do que poderia estar me esperando me atingiu com tudo.

Minha mente estava embaralhada e o Sol quente não ajudava muito na tarefa de organizar meus pensamentos.

Não estava condições de continuar dirigindo, mas não queria pedir para que Harry trocasse de lugar. Ele parecia estar cansado fisicamente.

Foi quando o ambiente urbano resolveu dar as caras e uma placa indicando que acabávamos de chegar em Pittsburg que então eu anunciei:

"Melhor pararmos para o almoço."

Não conseguiria tirar aquelas inseguranças de mim enquanto estivesse de estômago vazio.

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