Aster

Não queria me sentir como se indo até a porta de Tom e deixando Harry "para trás" fosse como me separar de uma parte de mim. Porém foi isso que aconteceu.

Thomas parecia surpreso e feliz ao me ver, apesar de parecer mais surpreso do que feliz. Eu poderia perceber sua mente se perguntando onde Harry estava enquanto ele tentava disfarçar.

Nos abraçamos bastante, conversamos bastante, nos beijamos bastante, mas nada parecia o suficiente. Eu ainda sentia um desconforto que embrulhava meu estômago.

Disse a Thomas que precisava ir visitar Alice antes que ela descobrisse que eu já estava em Lakeport há horas e não tivesse ido encontrá-la, mas ele implorou para que eu ficasse mais um pouco em sua companhia.

Num momento, quando Tom foi pegar algo para comermos, mandei uma mensagem para Harry dizendo que iria demorar mais do que o planejado e  que ele poderia seguir a caminho da casa de minha avó.

Ele respondeu dizendo que estava indo para outro lugar, mas que logo estava de volta.

Não poderia dizer que não fiquei curiosa para saber aonde ele poderia ter ido em Lakeport, mas me lembrei que ele já havia morado aqui por um tempo e devia saber o que estava fazendo.

"Sua mente parece estar em outro lugar." Tom disse tirando uma mecha de cabelo do meu rosto.

"Acho que não estou acreditando que finalmente estou aqui com você." odiei o modo como aquilo soou artificial, mas Thomas pareceu não perceber.

*

Thomas aceitou enfim que eu fosse ver Alice dizendo que tinha que resolver uns negócios para o pai e que mais tarde me visitaria na minha avó.

Encontrei o bilhete de Harry na porta que também não deixava nenhuma pista de onde seria seu paradeiro.

Mandei outra mensagem dizendo se ele preferiria continuar no lugar onde estava ou me acompanhar até a casa de Alice e não pude esconder de mim mesma a decepção de quando ele respondeu que ficaria no lugar onde estava.

Grande foi minha surpresa quando bati à porta de Alice e foi ele quem abriu:

Primeiramente arregalei os olhos, depois franzi a testa e semicerrei os olhos.

"O que faz aqui?"

"3 horas e 45 minutos que você está em Lakeport e não veio ver sua melhor amiga. Você acha isso certo?" Alice empurrou Harry para o lado com toda sua delicadeza e me puxou para dentro. "Eu não admito isso."

De repente eu só vi um pano bater nos ombros de Alice e Harry começar a gargalhar.

" Deixa a menina quieta, Alice." a avó dela veio até mim dando um beijo na minha bochecha. "Deve tá cansada da viagem, não é querida?  Sente-se aqui."

Eu estava meio envergonhada por não ter contado a Alice que estava em Lakeport e ao mesmo tempo confusa por Harry está aqui.

"O que faz aqui?" perguntei novamente.

"Harry era um dos meninos de rua que minha vó alimentava." outra vez o pano cruzou o ar. "Ai, vó, eu já estou bem grandinha para ficar apanhando."

"Se já está grandinha, não deveria ficar falando coisas desrespeitosas e sem sentido." Harry gargalhou mais um pouco se sentando ao meu lado.

Notei que apesar do gesto, ele evitava meu contato visual.

"Então vocês já se conheciam?" apontei para Harry e Alice.

"Não tive a honra desse prazer." Alice disse com um sorriso amarelo. "Só ouvia minha vó enaltecer um garoto da vizinhança que era um doce de menino, um exemplo de criança e blá blá blá..."

"Você ainda tem ciúmes do que sua avó falava de mim quando eu era pequeno?" Harry perguntou passando seu braço sobre o meu ombro e me deixando realmente desconfortável.

A avó de Alice sabia que eu ainda era namorada de Thomas e ela poderia tirar conclusões erradas, mas eu não tirei o braço dele dali.

Talvez, ela não tirasse impressões erradas já que, para todos os efeitos, Harry era apenas meu meio-irmão.

Meu Deus, eu precisava descansar.

"Não estou pronta para perder o posto de princesa dessa casa, Styles." Alice disse jogando os cabelos por cima do ombro.

"Pensei que esse posto já era meu." eu disse para descontrair e a avó de Alice concordou.

"Estão todos contra mim então?"

"Basicamente..." Harry murmurou fazendo desenhos lentos com as pontas dos dedos em meu ombro fazendo arrepios passearem por minha espinha.

"Pode voltar para New Hampshire agora, Aster! Desconsidere-se minha melhor amiga."

Queria levantar e abraçá-la, mas o cansaço da viagem realmente havia me atingido com força.

"Que tal recriarmos o reencontro amanhã? Eu estou tão cansada que poderia dormir aqui mesmo nesse sofá e sei que não serei capaz de te dar toda a atenção que você merece, Alice. Além disso, eu preciso encontrar a minha avó também, ajeitar o meu quarto que deve estar dando teias e arrumar um lugar lá em casa para o grandão aqui dormir. " apontei para Harry olhando-o nos olhos pela primeira vez desde que cheguei ali.

Eu não consegui decifrar seu olhar de volta.

Alice limpou a garganta apontando para sua avó discretamente com a cabeça.

Abaixei o olhar sentindo minhas bochechas esquentarem como de costume.

"Claro, claro, querida. Farei um bolo para você amanhã. Se puder traga a sua avó com você, precisamos pôr o papo em dia." eu ri me levantando, Harry logo atrás de mim. "Olhe só, quem acredita que esses meninos um dia não passavam da minha cintura?"

Nós rimos e nos despedimos.

Harry e eu logo voltamos ao silêncio, que já estava virando costumeiro entre nós, até eu interrompê-lo quando estávamos bem próximos do nosso destino:

"Agora, eu realmente tenho certeza que sei muito pouco sobre você." eu estava no volante agora e ele olhava a paisagem lá fora.

Pensei que ele não iria responder, mas então ouvi:

"Nos conhecemos apenas quase um mês, mas não reclamaria se você me pedisse para passar um dia, uma semana ou até um mês contando cada detalhe sobre mim." ele disse mordendo um dedo. "Quero que saiba que eu faria isso."

A voz dele soou profunda e sincera bem no instante que eu estacionei na frente da casa da matriarca Duchassel.

Eu me virei para ele:

"Faria isso? Me mostraria tudo sobre você?" Harry também se virou para mim se aproximando até ficarmos a poucos centímetros de distância.

Seus dedos acariciaram a lateral do meu rosto, deixando o local em chamas. Me deixando ansiando para que ele ousasse e me tomasse em seus braços porque essa distância emocional e física entre nós estava me matando.

Suas palavras seguinte foram carregadas,  foram como um sopro em meu rosto e pareceram significar algo muito mais profundo:

"Mostraria cada pedaço e detalhe. Só uma palavra sua e estaria feito." ele se afastou e abriu sua porta ainda olhando para mim. "Só uma palavra sua, Aster."

*