Acordei exaltada e suando sem Harry ao meu lado. Isso não durou muito tempo já que o mesmo pôs a cabeça para fora do banheiro após a possível barulheira que eu fiz ao levantar.

"Tá tudo bem?" ele perguntou quando percebeu que eu estava sentada e com as mãos sobre o peito.

"Sim, só acordei assustada." rezei para não estar com uma expressão tão horrorizada. Nunca que eu iria contar aquele sonho maluco a ele.

"Quer ir almoçar em algum lugar antes de voltarmos para a estrada?"ele perguntou.

"Que horas são?"procurei meu relógio sobre o criado-mudo, mas aquele não era o meu antigo quarto, aquele ao qual eu tinha voltado a visitar no sonho.

"Duas da tarde." Harry disse simplesmente enquanto checava seu celular calmamente. "Vou arrumar a mala para partirmos em breve."

Ele veio até mim para me dar um selinho, mas eu não movi um músculo relembrando  de como nos beijávamos antes de encontrarmos Tom  com uma garota na minha cama. Ele pareceu perceber pois franziu a testa, porém não disse nada.

Eu era uma pessoa terrível, terrível.

Quais eram as chances de meu relacionamento com o Harry dar certo já que éramos "parentes"? 

Mínimas.

Quais eram as chances de eu acabar sozinha e magoar dois maravilhosos caras que passaram por minha vida?

Talvez onze de dez.

Eu estava chegando num estágio perigoso disso tudo e esse sonho (pesadelo) veio para confirmar isso.

Minha mente já estava começando a inventar que eu não era a única errada na história ao me fazer sonhar com Thomas me traindo.

Como eu poderia saber qual dos dois era a pessoa certa para mim?

Harry era um sonho e fazia cada momento com ele ser mágico e especial.

Thomas era distante, tinha seus defeitos, mas os momentos mágicos e especiais faziam tudo isso valer a pena.

Eu fiquei pelo menos uns 5 minutos, depois que Harry saiu do quarto, refletindo.

Comecei arrumar minha cama quando ouvi batidas na porta.

Eve estava atrás dela distraída  mexendo no celular como se estivesse batido ali por engano e nem percebeu.

"Ah, oi." ela olhou para cima( bem nem tão para cima assim, já que eu não sou um exemplo de pessoa alta)" Posso entrar?"

Eu dei passagem e ela deu os primeiros passos com calma, mas logo depois saiu correndo e se jogou na minha cama.

"Canso de pedir para meu pai me dar uma cama dessa qualidade, mas parece que os hóspedes são mais importantes do que eu." o que ela  falava tinha um conteúdo meio acido, mas seu rosto sustentava um sorriso sapeca, como se aquilo não importasse realmente.

"Você mora aqui perto?"perguntei enquanto pegava meus objetos de higiene do banheiro.

"Não, moramos em Nova York. Enna tinha um curso para fazer aqui e eu aproveitei para ir na Feira de Estado."pelo barulho dos passos eu sabia que ela tinha levantado e agora se punha a andar pelo quarto."Meu Deus!"

"O que houve?"eu saí apressadamente para ver se tinha acontecido algo com Eve, porém apenas encontrei-a parada no meio do quarto olhando fixamente para um ponto.

"Você tem uma máquina de escrever? Que máximo! Onde você achou uma dessas?"ela ajoelhou na frente do objeto como se fosse uma divindade. Eu não podia julgá-la, eu havia ficado exatamente assim quando ganhei.

"Meus pais me deram de presente no meu aniversário de 8 anos."

"Sério? Você deve cuidar bem dela, está novíssima. Uma boa ideia para o meu presente de Natal desse ano."ela passou a mão delicadamente pela lateral da máquina.

"Eu recomendo. Apesar dos tablets e smartphones de última geração que temos hoje, usar uma máquina de escrever é uma experiência única e interessante." Eve me entregou o objeto para que eu guardasse dentro da mala.

Ficamos em silêncio por alguns instantes enquanto ela digitava no celular.

"Seu, hm, meio-irmão dormiu aqui ontem?" Eu arregalei os olhos e com sorte Eve não havia tirado o olhar da tela do celular. "Eu vi ele saindo daqui mais cedo com cara de sono."

"E-eu..." eu não podia acreditar que uma criança havia descoberto que eu estava mentindo.

"Tudo bem, Aster. Somos amigas, sim? Amigos contam segredos um para os outros. Por exemplo: Meus pais estão se separando, minha mãe diz que ele tem outra mulher. Nenhum dos meus colegas sabem disso, mas agora você sabe porque te considero minha amiga." ela veio se sentar ao meu lado.

Alguém confirma para mim se essa menina tem apenas oito anos?

Ela tomou meu silêncio como uma aprovação para continuar

"Vocês estão juntos?"ela me olhou fixamente tentando captar minha expressão e não deixar nada escapar.

"É mais complexo do que isso, Eve. Você não entenderia."suspirei profundamente.

"Isso por que vocês são meio-irmãos?" ela inclinou a cabeça para o lado tentando entender. "Sabia que o Estados Unidos aceita relacionamento entre meio-irmãos?"

Franzi a testa.

"Como você sabe disso?"

"Acabei de pesquisar no Google"ela disse dando de ombros simplesmente.

Eu ri da naturalidade com que ela fazia as coisas.

"É um assunto complicado, Eve. Tão complicado que nem eu mesma sei explicar. Ainda tem a questão da família, do que as pessoas vão falar..."

"Do seu namorado que está sendo traído com o ex melhor amigo..." Minha mente completou e eu tive que segurar o grunhido de frustração.

Olhei para a menina e ela já estava pronta para argumentar:

"Sobre a família: eu acho que o seu pai e a mãe dele não vão se importar em ver vocês felizes...juntos. Poxa, querendo ou não a vida de vocês mudaram quando eles resolveram se casar novamente e tenho certeza que você não contestou sobre isso, pois só queria vê-los felizes. Não acha que tá na hora de eles fazerem o mesmo por vocês?"- ela falava como uma pessoa da minha idade ou até mais madura do que eu e aquilo era louvável.

"Sobre as pessoas: sempre vai ter alguém para criticar suas escolhas. É só fazer um esforço para não dar ouvido a eles. Vocês têm um ao outro, não precisam da opinião dos outros. Bem, é o que eu faria."

Refleti sobre suas palavras. Ela estava certa, mas ainda havia a questão do Thomas. Essa eu tentaria resolver sozinha.

Ela me abraçou de lado meio sem jeito, mas eu retribui.

"Você é minha amiga, não é? Eu nunca tive uma amiga de verdade. Tipo, para dar conselhos. Eu gosto de dar conselhos."

"Pode ter certeza que eu percebi. E é claro que eu sou sua amiga" nós rimos ainda abraçadas.

"Não queria que você fosse embora."

"Você pode ir me visitar sempre que quiser, me ligar, podemos até marcar uma viagem." seus olhos se iluminavam a cada possibilidade que eu dava.

"SIM! Promete que não vai esquecer de me ligar ou mandar mensagens para eu saber tudo o que está acontecendo?" eu assenti com a cabeça. "As meninas do meu colégio vão morrer de inveja quando eu contar que tenho uma amiga mais velha."

Eu ria da sua empolgação quando a porta do quarto se abriu revelando Harry e Sienna.

"Você está me devendo uma grana agora, Styles. Eu disse que tinha certeza que ela estaria aqui." Sienna apontou para irmã que deu um sorriso travesso como resposta.

"Eu já estou pronto, quando terminar podemos ir." Harry anunciou e eu concordei com a cabeça.

"Bem, eu só vim aqui para ter certeza de onde você estava, Eve." Sienna sorriu. "Obrigada por tomar conta dela para mim."

"Eu acho que foi mais o contrário" respondi fechando o zíper da minha mala.

Harry e Sienna estavam à frente guiando o caminho até a garagem enquanto eu e Eve os seguiam atrás.

Eve puxou o meu braço para que eu ficasse da sua altura e sussurrou no meu ouvido:

"E Então... ele beija bem?"

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