Só posso ver você, você
Só vejo você e mais nada, nada
Olha, sou paciente com todos menos com você
Agora não posso viver um dia sem você, por favor

BTS - Hold Me Tight

Eu adorava manhãs nubladas, que foi como amanheceu no dia quatro, meu primeiro dia como empregada-não-oficial-do-Nostro-Impero. Acordei duas horas antes e comecei a me arrumar, me perguntando se eu não estava exagerando, mas logo tirei isso da cabeça e fui tomar um banho. Vesti uma calça branca e uma blusa de lã rosinha clara, com uma botinha de cano baixo preta sem salto, e uma bolsinha nude. Amarrei meus cabelos em um rabo de cavalo, sem ajeitar muito, já que eu sabia que teria que usar aquela touca ridícula na cabeça e passei uma maquiagem simples.

Archie não parecia tão decepcionado quanto ontem quando eu saí de casa, Astrid continuava dormindo e se acordasse cedo, seria para comer, e então voltaria a dormir.

Não demorou para eu chegar no restaurante que ainda estava fechado, mas um dos cozinheiros, o de olhos verdes, também estava chegando e acabava de subir as escadas.

— Hey! – Gritei para chamar sua atenção, ele parou e me olhou interrogativamente. Corri para alcança-lo – Oi! Como vai? Eu vou ótima, maravilhosa, na verdade. Prazer, sou a Elena, a nova contratada do restaurante!

— Oi – Ele me encarou com uma sobrancelha arqueada e um meio sorriso – Sou o Klaus.

— Klaus, claro! – Eu sorri – Não vai abrir a porta?

— Sim, sim! – Ele finalmente abriu a porta e entramos. Todos já estavam lá, arrumando as mesas e a cozinha, eles se viraram para nos encararem na hora que entramos... me encarar, na verdade.

— Olá, companheiros! – Eu sorri animada – Eu sou a Elena, é um prazer trabalhar com vocês.

— Elena, sem escândalo – Damon pediu saindo da cozinha, eu não havia visto ele.

— Olá, Chef — Minha alegria não podia ser maior ao cumprimenta-lo, mesmo de longe.

— Pessoal, a Elena vai trabalhar com a gente por um tempo...

— Por um bom tempo – O interrompi, recebendo um olhar cruel em resposta, me desculpei e esperei ele terminar.

— Estamos com muito movimento e poucas pessoas, então ela é necessária – Damon fez uma careta como se contrariasse ele mesmo – Enfim, estes são: Klaus, Stefan, Elijah e Marcel – Ele apresentou todos. Klaus era o que tinha os olhos verdes e a tatuagem, Stefan eu já conhecia, éramos quase íntimos, Elijah era o mais alto de cabelos escuros, e Marcel era o negro musculoso.

— É um prazer...

Mas antes que eu pudesse concluir, a porta foi aberta e uma garota entrou, provavelmente a irmã do Marcel, segundo Damon.

— Me desculpem pela demora – Ela disse ofegante, só então notando minha presença – Oh! Você deve ser a Elena!

— É, sou eu – Me senti a Raven falando isso, mas antes que começasse a divagar sobre minha série preferida, voltei-me para a garota que tinha um sorriso tímido.

— Sou a Davina, prima do Marcel – Ah, então era prima. Informação errada, Damon Salvatore! Eu estava mesmo desconfiando, já que ela era bem branquinha, mas um dos dois poderiam ser adotados, ou um dos pais eram negros.

— Muito prazer – Mas antes que pudéssemos iniciar uma conversa bem marota, Damon mandou todo mundo parar de moleza e ir ao trabalho.

Nos três primeiros minutos, eu fiquei animada, ai Damon me deu o uniforme e me mandou limpar as mesas, o chão e lavar o banheiro, ou seja, eu era a empregada dali. Tudo bem, Elena, isso é melhor que nada. Eu fui para o vestiário roendo as unhas para não reclamar, e tive sucesso, apesar das minhas unhas terem ficado um pouco feinhas, lá se foi minha recente francesinha...

O uniforme era uma baby look branca com o logo do restaurante no lado esquerdo, próximo ao seio, uma calça preta larguinha e um avental. E fui ao trabalho! Comecei arrumando as mesas com a supervisão de Stefan, que me explicava tudo nos mínimos detalhes. Damon era o tipo perfeccionista, por isso se ele visse apenas o forro da mesa torto um centímetro, ele brigaria, segundo Stefan, claro. A hora em que terminei com todas as mesas, era a hora de abrir o restaurante, o que me deixou muito aliviada.

Depois fui lavar os banheiros, eca. Os banheiros eram do lado contrário a cozinha, ao lado de uma escada que eu não sabia onde dava, mas que possuía uma placa “proibido clientes” bem grande. Dei de ombros indo pegar o balde e os produtos para poder limpar. Comecei com o feminino que estava um nojo, sério, onde já se viu garotas serem tão porcas? Mas o masculino com certeza estava pior.

O clímax do meu horror, foi quando eu estava limpando o banheiro masculino e um homem entrou. Ele sorriu malicioso para mim, indo até o mictório, ignorando completamente as cabines que obviamente POSSUIAM PORTAS!

— Hã... Senhor – Eu o chamei, completamente constrangida, vendo-o desabotoar o cinto da calça – Poderia, por favor, usar uma das cabines?

— Por que? – Ele me olhou como se não percebesse a situação, mas ele percebia muito bem, e só estava sendo engraçadinho, só que a piada era nojenta.

— Porque eu sou uma garota e não estou a fim de ver um pinto – Respondi irritada, vendo-o arregalar os olhos para mim. Provavelmente ele achava que eu sairia do banheiro, mas aquilo se tornara uma guerra depois de ver seu sorrisinho estupido.

— Esse é o banheiro masculino, está reclamando de eu estar usando-o para fazer minhas necessidades quando você, uma mulher, está nele?

— Eu, uma mulher, estou limpando o banheiro onde você faz as suas necessidades e pelo visto, não tem nenhum senso de higiene e bom senso. Está incomodado? Saia ou limpe para mim – Retruquei, segurando o rodo com força, querendo tacar na cara presunçosa dele.

— O que está acontecendo aqui? – Finalmente alguém apareceu antes que eu fizesse alguma besteira, e esse alguém era Damon, ele estava com o cenho franzido e os braços cruzados.

— Damon! – O homem sorriu para meu chef, fechando o cinto da calça. Esperto! – Eu estava batendo um papo com a sua funcionária, bem simpática ela.

— Batendo um papo? – Ri indignada, largando o rodo e cruzando os braços.

— Jackson, na porta está uma placa avisando para não entrar enquanto estiverem limpando. Ela está limpando, como você pode ver, então saia enquanto eu estou pedindo educadamente – Damon realmente parecia ameaçador naquele instante.

O tal Jackson sorriu, dando de ombros e foi até a porta, se virando para olhar para Damon novamente.

— Eu não vi a placa, me perdoe. Foi um prazer, funcionária – Ele deu aquele sorriso irritante novamente e foi embora.

— Obrigada – Eu disse para Damon, que ainda possuía a mesma expressão raivosa.

— Você – Ele apontou para mim, completamente desnecessário – não cause problemas no meu restaurante.

— O que? – Eu indaguei indignada, mas antes que eu falasse algo mais, ele deu as costas e saiu.

É, com certeza meu primeiro dia de trabalho estava sendo incrível.

Depois disso consegui limpar o banheiro em paz, sem nenhuma interrupção, coloquei até uma musiquinha com o fone de ouvido, o celular enfiado no bolso do avental. Meu próximo serviço era lavar as panelas... socorro! Eu nunca havia lavado panelas, sempre teve empregados na minha casa, e no meu apartamento... bem, eu não cozinho! Damon me mandou para uma “área” nos fundos da cozinha, havia um banquinho, pias e várias louças, ele me deu um sorriso cruel e se retirou para voltar a dar ordens.

Tudo bem, Damon Salvatore, isso agora é um desafio! Eu sabia que meus dias ali seriam um pouco difíceis, já que Damon estava louco para me mandar embora, para isso ele precisaria de motivos, motivos que eu não lhe daria. Me sentei no banquinho com o sabão e a esponja ao meu lado e comecei a lavar aquela panela enorme que parecia estar há dias ali, esperando alguém jogar uma água nela, coitada!

Fiquei nisso de lavar panelas até o meio dia, quando eu corri de volta para a cozinha louca para almoçar, mas todos ainda estavam tralhando arduamente preparando os pedidos.

— Não vamos almoçar? – Perguntei a Elijah, quem era o mais próximo de onde eu estava. Ele me olhou interrogativo e depois sorriu compreensível, tornando a atenção ao prato que preparava.

— Almoçar? – Ele repetiu – O restaurante está cheio, não podemos parar. Almoçamos apenas quando o movimento diminui.

Eu o olhei indignada, sentindo minha barriga roncar. Elijah percebeu e se segurou para não rir, desviando o olhar.

— Sinto muito. Trabalhar em um restaurante não é fácil, mas depois de um tempo você se acostuma.

Eu assenti, ainda uma carranca e voltei para o meu “posto”, tornando a lavar panelas. Minhas unhas nunca haviam ficado tão feias em toda minha vida, e olha que eu só estava ali há algumas horas, imagine a semana inteira.

— Elena Gilbert, não pense nisso, você pode fazer isso – Disse para eu mesma em voz alta, assentindo como se para confirmar o que eu havia dito.

— Agora fala sozinha? – Olhei para a porta e lá estava Damon encostado no batente com um sorriso presunçoso lindo.

— Ser muito perfeita seria injusto com o mundo, certo? – Eu pisquei um olho, coçando minha bochecha direita com a mão cheia de sabão.

— Cuidado, o sabão pode dar alergia – Disse Damon. Ele se aproximou e se agachou em minha frente, passando o polegar sobre minha bochecha, tirando o sabão.

Ele estava próximo, não o suficiente para eu poder sentir sua respiração e todas aquelas coisas clichês, mas eu não conseguia parar de olha-lo admirada com sua beleza. Ele permaneceu com o dedo ali por alguns instantes, ele piscou e balançou a cabeça, se levantando em um movimento rápido. Damon não disse nada, apenas saiu da área da mesma forma que entrou.

Eu sorri, incapaz de lembrar o que eu fazia. Damon, com certeza, seria meu!