As lágrimas escorriam pelo rosto de Octavia. Ela tinha-o feito. Ela tinha acabado o namoro com Albus. Naquele momento pareceu-lhe o certo a fazer. Albus traíra a sua confiança. Andava a atuar pelas suas costas. Andava a investigar a sua melhor amiga.

Mas, naquele momento, ela já não sabia o que pensar. Já não sabia se era o certo a fazer. Porque ela gostava de Albus. Ela gostava de Albus como nunca gostou de ninguém.

Sarah encontrava-se no dormitório com um livro em cima das suas pernas. Quem a visse diria que ela estava a estudar. Mas ela não estava. Ela apenas estava assim para que as pessoas o pensassem isso. Na realidade, ela estava à espera de Octavia.

Octavia entrou no quarto sem dizer uma única palavra.  Sem pensar, Sarah levantou-se pronta para dizer a Octavia que precisava de falar com ela mas as palavras morreram-lhe na boca quando viu a face de Octavia. Ela estava a chorar. Ela não se lembrava de alguma vez ter visto Octavia a chorar.

—O que é que… - mas Sarah não terminou a frase pois foi abraçada por Octavia.

—Eu sou tão parva, Sarah. Tu tinhas toda a razão. Eu nunca devia ter-me envolvido com o Albus. – desabafou Octavia.

Sarah não esperava aquilo. Sarah não esperava que, logo no dia em que ia contar toda a verdade, Octavia acabasse com Albus. Pior que isso. Ela sabia que no fundo estava feliz por Octavia já não namorar Albus. Mas, por outro lado, sentia-se completamente horrível por estar feliz pela tristeza da sua melhor amiga. Ela sabia que ela gostava mesmo de Albus.

—O que é que aquele idiota fez? – perguntou Sarah.

—Ele traiu a minha confiança. – confessou Octavia – Ele ocultou-me coisas que não devia ter ocultado. Eu pensei que ele tinha deixado de ser obcecado com determinadas coisas mas afinal enganei-me.

—Mas estás a falar do quê em específico? – perguntou Sarah sem entender nada do que a amiga falou -  Ele não te traiu, pois não?

—Não. – confirmou Octavia – Mas ele agiu pelas minhas costas.

—O que é que ele fez? – perguntou Sarah.

Octavia afastou-se e encarou a amiga. Ela não sabia o que responder. Ela tinha receio da reação da amiga, afinal o Albus estava a tentar descobrir algum segredo que ele acreditava que Sarah tinha.

—Ele anda a investigar-te, Sarah. – revelou Octavia deixando Sarah em choque. Nunca na vida, ela pensaria que era a causa de Octavia ter acabado com Albus. Mais uma vez, os seus mais profundos sentimentos fizeram uma pirueta em sinal de felicidade. E mais uma vez, Sarah se sentiu enojada consigo mesma. Como é que ela conseguia estar feliz com Octavia naquele estado? – Eu contei-lhe das nossas conversas, tu sabes disso. Lembras-te que ele foi falar contigo. Mas eu pensei que tinha só ficado por aí. Mas afinal não.

—Ele disse que não ia descansar enquanto não descobrisse o meu segredo. – revelou Sarah recebendo um olhar de espanto da amiga.

—Tu nunca contaste isso. – disse Octavia – Porquê que tu nunca contaste isso, Sarah? Não me digas que afinal o Albus tem razão e tu tens um segredo?

Sarah baixou o olhar. Ela sabia que aquele era o pior momento possível para contar a verdade a Octavia, mas Sarah também sabia que não tinha alternativa. Ela não podia mentir à sua melhor amiga.

—Eu não acredito nisto. – explodiu Octavia – Consigo ser magoada por duas das pessoas que mais gosto no mesmo dia. Como é que isto é possível? Já não bastava o Albus andar a fazer coisas pelas minhas costas que sabia que eu não aprovaria e agora também tu? Também tu escondeste algo de mim? Eu pensei que nós eramos melhores amigas?

—Octavia é mais complicado do que parece. – disse Sarah defendendo-se.

—Não venhas com essa história do complicado para cima de mim, Sarah. Não há nada de complicado aqui.

—Octavia, acho que estás a exagerar. Acho que te devias acalmar um pouco. Principalmente depois de tudo o que aconteceu.

—Como assim estou a exagerar? Eu acabei com o Albus porque acreditei que ele estava outra vez obcecado com algo. Porque acreditei que era a única forma dele viver. Ele desiludiu-me muito hoje é verdade. Mas eu atirei-lhe coisas à cara das quais me arrependo muito. Coisas que eu não devia ter dito. Eu fui cruel com ele. Cruel como nunca devia ter sido. E tudo para no fim ele ter a sua razão.

—Ele não tem o direito de querer saber da vida das outras pessoas. Lá porque eu não vos gostava de ver juntos não queria dizer que ele tinha de andar por aí a tentar descobrir todos os detalhes da minha vida. Isso é doentio. – desabafou Sarah – Ele continua a ser o imbecil que eu sempre disse que era. Sim, ele tem razão. Eu tenho um segredo. Mas é um segredo que nem ele nem ninguém tem nada a ver. É um segredo meu e eu faço o que quiser com ele.

—Quem te ouvir falar até parece que mataste alguém. – disse Octavia em tom agressivo.

—Se calhar esse segredo custava menos a guardar Octavia. – respondeu Sarah no mesmo tom – Sabes que mais. Já que estamos assim e já e como tu estás praticamente a culpar-me por teres terminado com o Albus, eu conto-te o meu segredo. Conto-te e tu vais a correr a trás do Albus e reconciliam-se quando lhe disseres que ele tinha razão. – disse Sarah sem pensar nas palavras que acabara de proferir – Eu gosto de mulheres. – confessou - Pronto já sabes. Agora já podes fazer as pazes com o Albus. – terminou Sarah saindo do quarto e batendo a porta com a maior força que conseguiu.

Octavia ficou completamente sem reação. Sarah gostava de mulheres. Era chocante, ela tinha de admitir. Ela nunca percebera isso em Sarah.

Mas o que a magoava não era o facto de Sarah gostar de mulheres. Ela nunca deixaria de ser amiga de Sarah por causa disso. Elas eram melhores amigas. O que magoava Octavia era o facto de Sarah não lhe ter contado isso mais cedo. Como se tivesse medo que ela não a aceitasse. Octavia nunca faria isso. Octavia estaria sempre ao lado de Sarah para tudo e mais alguma coisa.

Sozinha no quarto, Octavia chorou.

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—Albus devias de voltar para o castelo. – avisou Hannah enquanto entregava o quinto copo de whisky de fogo a Albus.

Depois da discussão que teve com Octavia, Albus só queria uma coisa. Esquecer. Esquecer tudo o que se tinha passado. Esquecer todas as palavras que Octavia proferiu contra si. Esquecer aquelas que mais o magoaram. Esquecer a porcaria de vida que tinha.

Depois da discussão que teve com Octavia, Albus, com a ajuda do Mapa do Maroto e das passagens secretas, foi para Hogsmeade.

O Três Vassouras pareceu-lhe o local indicado para se instalar. Ele já tinha dezassete anos e por isso Hannah Longbottom, mulher de Neville Longbottom, já lhe podia servir bebidas alcoólicas.

—Eu…eu estou muiiiiito bem aqui. – respondeu Albus atropelando-se nas palavras.

—Albus, eu não queria fazer isto mas se não voltas para Hogwarts, vou ter que falar com a diretora para a colocar ocorrente da situação.

—Hannah por favoooor, deixe-me estar. Deixe-me aproveitar o momento. – pediu Albus enquanto dava um gole.

Hannah voltou para dentro do balcão. Ela sabia que Albus não podia estar ali naquele momento e a sua obrigação era reportar à diretora McGonagall. Mas Hannah também conhecia Albus desde que ele nasceu. Ela não queria que Albus ficasse em apuros.

A forma mais rápida de comunicar com uma pessoa era enviar o seu patronus. E foi o que Hannah fez.

Não demorou quinze minutos e já James Sirius Potter entrava pelo Três Vassouras. O seu cabelo estava completamente desalinhado devido à brisa noturna. A roupa que usava tinha sido a primeira que tinha encontrado.

Albus estava na mesa do canto oposto à entrada num estado completamente lastimável. James não precisava de estar perto do irmão para reparar nisso.

—Vais explicar-me porque estás em Hogsmeade a estas horas. – disse James ao sentar-se em frente ao irmão.

—Já nem se diz olá ao maninho, James. – disse Albus com um sorriso no rosto – Se a Dona Ginny Potter ouvisse já estaria a reclama. E com razão.

—Albus, o assunto é sério. – disse James tentando manter a postura de irmão mais velho. Albus não podia fazer uma coisa daquelas.

—Quem és tu e o que fizeste com o meu irmão? – perguntou Albus – O meu irmão nunca diria uma coisa destas. O meu irmão sentar-se-ia ao meu lado e pediria um whisky de fogo à Hannah.

—Mas o teu irmão tem três crianças em casa à espera dele. – observou James – Vais contar-me o que se passou?

—O que se passa é que a vida é uma porcaria. O que se passa é que eu sou uma porcaria que nem a pessoa que eu amo consigo segurar. – desabafou Albus tomando mais um gole.

—O que é que aconteceu com a Octavia? – perguntou James.

—Acabou comigo. – respondeu Albus entre risadas – É mesmo hilariante. Pela primeira vez, uma mulher negou Albus Severus Potter. Devo andar a perder qualidades.

—Para de ser idiota, Albus Severus. – repreendeu James – Tu, neste momento, não queres saber de mais ninguém sem ser da Octavia. Aposto que amanhã já está tudo resolvido.

—Nem tudo na vida é assim tão linear, James. – disse Albus – Tu tiveste sorte. Agarraste a mulher que gostavas e andas todo feliz da vida. Tu tiveste uma vida feliz. Já eu não posso dizer o mesmo. Metade da minha vida obcecado sobre o que poderia ter afastado a Rose de mim. E agora obcecado com um segredo que, segundo a Octavia, só eu é que acho que existe.

—Espera só um bocado. – disse James dirigindo-se ao balcão. Dois minutos depois estava em frente ao irmão, outra vez – Um segredo de quem? Da Octavia?

—Não. – respondeu Albus – Da Sarah, a melhor amiga da Octavia. Ela queria que o meu namoro com a Octavia acabasse e no fim conseguiu. Conseguiu separar-nos.

—Não estou a entender. – disse James completamente confuso – Porquê que a Octavia acabou contigo em específico? E o que é que a Sarah tem a ver com isso em concreto?

—Acabou comigo porque eu andava a investigar a vida da melhor amiga e não lhe contei. – revelou Albus – Depois de saber das conversas que a Sarah tinha com a Octavia, eu decidi tirar toda a história a limpo. Fui falar com a Sarah e saí de lá com uma conclusão. Ela está completamente apaixonada pela Octavia. Mas era apenas a minha teoria. E eu precisava de prová-la.

—Precisavas de prova-la como precisaste estes anos todos de descobrir o porquê de a Rose se ter afastado de ti.

—Sim. – confirmou Albus.

—Tu tinhas a Octavia. Escusavas de ter feito isto tudo. No fim, perdeste-a apenas pelas tuas ações. Mais ninguém influenciou.

—Isso é mentira, James. – protestou Albus entornando um pouco do seu whisky de fogo.

—Não é. Tu ficaste obcecado com isso da Sarah que acabaste por agir nas costas da Octavia. Quão longe querias ir com este plano sem que ninguém soubesse? Quanto tempo é que pensavas que ias guardar este segredo? – perguntou James. Mas não obteve resposta. Isto porque Rose e Scorpius apareceram.

—Obrigado por nos avisares, James. Nós estávamos preocupados com ele e também não vimos a Octavia em lado nenhum. – disse Scorpius sentando-se ao lado de Albus enquanto Rose abraçava James.

—Acho que não é uma boa altura para falar na Octavia. – sussurrou James ao ouvido de Rose – Eles acabaram.

—Então está tudo explicado. – sussurrou Rose – Al vamos para o castelo?

—Como é que tu consegues falar comigo, Rose? Como é que consegues estar perto de mim? – perguntou Albus encarando a prima. Ele nunca se tinha esquecido do que tinha feito a Rose mas, depois do que Octavia lhe disse, aquilo não lhe saía da cabeça.

—Nós somos amigos, Al. – respondeu Rose não percebendo o que o primo queria dizer.

—Tu devias odiar-me. Depois de tudo o que te fiz.

—Como assim depois de tudo o que lhe fizeste? – perguntou James não gostando do rumo que a conversa estava a ter.

—Al, isso já passou. Nós concordamos, lembras-te? – perguntou Rose tentando fugir à pergunta de James. Ela nunca tinha contado a James o que Albus lhe tinha feito. Apenas Scorpius e Octavia sabiam.

—Alguém me pode explicar o que aconteceu? E o porquê de eu não saber nada? – perguntou James elevando um pouco o tom de voz.

—Eu sou um monstro, James. – disse Albus – Eu levei a Rose à força.

—Tu o quê? – perguntou James sem acreditar no que ouvia.

—No ano passado, eu prendi a Rose para a obrigar a contar o que eu queria saber. – revelou Albus deixando um James completamente chocado à sua frente. Ele nunca esperou que o irmão tivesse chegado tão longe.