Scorpius chegava no fim do dia. Durante vários dias, ele e Rose trocaram cartas a combinarem tudo da melhor forma possível. Como Scorpius não iria passar a consoada com a família, resolveu passar pelo menos a tarde com eles e a noite ficaria para Rose. Rose concordou plenamente. E até começou a ficar um pouco arrependida por ter convidado Scorpius. Não por causa de ter de contar para toda a família. Isso ela queria fazê-lo. Ela estava um pouco arrependida porque se sentia culpada de estar a privar Scorpius de passar o Natal com a família.

Qualquer pessoa que se encontrava na Toca se estivesse um pouco atento a Rose notava o quão nervosa esta estava. Sentada ao lado de James e Dominique, Rose não parava de mexer as pernas e as suas mãos não paravam de passar no cabelo. O seu olhar alternava constantemente entre a porta e as pessoas que se encontravam ao seu lado.

—A Rose vai reprovar a tudo. Coitada, vai ter de ficar mais um ano em Hogwarts. – comentou James fazendo a cara mais desiludida possível, arrancando risadas de Dominique. Rose, tal como James previu, não reagiu ao seu comentário.

—Sinceramente, eu acho que a culpa é do Scorpius. – respondeu Dominique entre risadas.

—O que é que aconteceu com o Scorpius? – perguntou Rose tomando, finalmente, atenção à conversa do casal.

—Moça, tu estás obcecada. – comentou James – Não prestaste atenção a uma única palavra nossa. Bastou dizer o nome do teu namorado e pumba, Rose voltou à terra.

—Shiu. – repreendeu Rose – Não é para contar aos sete ventos que eu tenho namorado. Pelo menos, não para já.

—Ah pois é, a grande revelação. – dramatizou James arrancando ainda mais risadas da namorada – O dia da morte de Scorpius Malfoy. Um dia a relembrar.

—Para Sirius. – disse Rose batendo de leve no braço de James – Ele corre sério risco de vida.

—Eu sei. – respondeu James sério – Porquê que achas que eu vim tão cedo?

Rose acabou por rir com a parvoíce do primo. Já era a segunda pessoa que disse que queria assistir a este momento. Primeiro a sua mãe. Agora Sirius. Todos o que sabiam do seu relacionamento com Scorpius estavam ansiosos por ver a reação de Ronald Weasley.

Um baque fez com que Rose voltasse a sua atenção para a porta. Mas rapidamente suspirou ao ver que quem acabara de chegar tinha sido Teddy. Victoire e Nymphadora já se encontravam na Toca.

—Quanta alegria Rose por me veres. – comentou Teddy quando se aproximou do trio para os cumprimentar.

—Não ligues. Aqui a nossa priminha está nervosa. E tu também devias ficar, Teddy. – avisou James sério – A probabilidade de ficares sem um primo é muito grande – Teddy olhou para James sem entender. Como assim ele podia ficar sem um primo – Senta-te e espera pelo espetáculo.

O resto da família continuou a chegar. Percy, Audrey, Lucy e Molly. George, Angelina, Roxanne e Fred. Charlie com a sua nova namorada, Mary.

Alguém bateu à porta. Molly, apoiada pela sua muleta, aproximou-se da porta. Do outro lado encontrava-se Scorpius Malfoy.

—Scorpius, querido. – cumprimentou Molly dando um abraço a Scorpius e convidando-o para entrar.

Rose olhou de lado para observar o pai. Este, tal como ela esperava, fazia uma careta por causa da presença de Scorpius. Toda a gente sabia a inimizade que Ronald Weasley tinha com a família Malfoy. Mesmo depois de todos estes anos.

—Quem é que convidou o Malfoy? – perguntou Ron sem se conseguir conter, afinal aquilo era um encontro de família.

Durante breves segundos ninguém respondeu. Muitos porque suspeitavam que tinha sido Albus, visto que, eles eram os melhores amigos. Os restantes esperavam por uma reação pois sabiam que tinha sido Rose a convidá-lo.

Albus já se preparava para dizer que tinha sido ele. Rose não dizia nada e ele não queria deixar o tio à espera de uma resposta. Mas, quando Albus se preparava para falar, foi interrompido por outra voz.

—Fui eu que o convidei. – respondeu Rose em alto e bom som para todos os presentes ouvirem.

Teddy olhou de lado para James. Agora ele percebia completamente o que James queria dizer com aquela conversa. Scorpius estava completamente tramado.

—Mas Rose… - começou Ron, mas foi logo interrompido por Rose.

—Pai fui eu que convidei o Scorpius. Fui que eu o quis aqui nesta noite. – começou Rose encarando o pai. Todos estavam de olhos postos em Rose e Ron. Curiosos por saber como isto iria terminar – Há algo que eu te quero contar. Algo em que eu quero que tu me apoies. Eu e o Scorpius tornamo-nos amigos. Muito amigos. Tal como tu e a mãe. Tu percebes. Nós tornamo-nos muito próximos. Outros sentimentos surgiram.

—O que é que me estás a tentar dizer, Rose Granger Weasley? – perguntou Ron, completamente vermelho de raiva, encarando a filha.

—O que te estou a tentar dizer é que...tal como aconteceu contigo e com a mãe, também eu e o Scorpius nos apaixonamos. O que eu quero dizer é que eu e o Scorpius namoramos. – revelou Rose deixando um rasto de silêncio atrás de si.

Ninguém sabia o que dizer. Ou talvez soubessem. A verdade é que para muitos era totalmente inesperado ver Rose namorar com Scorpius. Ele era um Malfoy e era do conhecimento geral que, apesar de Hermione ser totalmente contra, Ron tentava que Rose fosse competitiva e que ultrapassasse em tudo Scorpius.

Toda a gente estava à espera de uma reação de Ron. Este continuava sem dizer nada e agora o seu olhar alternava entre Rose e Scorpius. Rose permanecia de pé em frente ao pai. A verdade estava contada e ela não queria dar parte fraca. Nem um só músculo dela se mexia. Já Scorpius não sabia o fazer. Ele tentava manter o olhar fixo em Rose porque, pela primeira vez, era Rose que estava a tentar dar força e coragem e não o contrário.

—Vocês o quê? – perguntou Ron fixando novamente o olhar em Rose – Como é que tu estás a namorar um Malfoy? Como Rose Granger Weasley?

—É fácil. O Scorpius pediu em namoro e ela disse sim. – brincou James tentando aliviar o clima tenso, mas rapidamente se calou ao receber um olhar mortal do seu padrinho.

—Pai…

—Como é que é possível namorares com ele sabendo tudo o que a família dele fez? Sabendo tudo o que o pai dele fez comigo e com a tua mãe? principalmente com a tua mãe.

—Ron. - Hermione chamou a atenção.

—Não é Ron nem meio Ron, Hermione. Ele é um Malfoy!

—Ele não é o pai, pai. Ele é o Scorpius. Por favor, pai. – pediu Rose.

Mas, em vez de responder à filha, Ron dirigiu para a porta de entrada onde se encontrava Scorpius. Agarrou-lhe no colarinho e encostou-o à parede.

—Ouve lá, seu meia-leca. Como é que tu foste capaz de te aproximar sequer da minha filha? Tu não tinhas sequer o direito de falar com ela, quanto mais namorares. Onde já se viu um Malfoy a tentar tirar a inocência da minha filha. Onde já se viu.

—Eu gosto dela. Eu gosto realmente dela. – confessou Scorpius – Por favor, sr. Weasley, tente compreender. Nós não escolhemos de quem gostamos. Apesar de eu não poder pedir por melhor namorada. A sua filha é incrível.

—Boa demais para ti. Aí concordamos. – respondeu Ron como se só tivesse ouvido a última frase de Scorpius.

—Verdade. Você não imagina o quanto eu fiquei feliz quando soube que os meus sentimentos eram correspondidos. Eu lutei mais de um ano por ela. E não me arrependo de cada segundo.

—Ron, já chega. – intrometeu-se Hermione, próxima do marido – A tua filha é livre para escolher quem quer.

—Mas é um Malfoy. – retrucou Ron.

—É uma pessoa como outra qualquer. Uma pessoa que faz a tua filha feliz. Devias estar feliz por isso.

Ron voltou a olhar para Scorpius. O que mais lhe apetecia fazer era dar um soco bem forte em Scorpius. Como aquele que Hermione deu em Draco no terceiro anos. Mas, ao mesmo tempo, as palavras de Hermione e até algumas de Scorpius não saíam da sua cabeça. Rose estava feliz.

Antes que Ron tomasse uma decisão sobre o que iria fazer, um grito sobreposse a toda a confusão ali instalada.

—Domi. – James voltou-se para a namorada. Esta estava completamente molhada. A bolsa tinha estourado.

O que se passou nos momentos seguintes aconteceu muito rápido. James segurou, com a ajuda de Bill, em Dominique e saíram em direção a St. Mungus. Logo em seguida saíram Victoire, Fleur e Louis. Depois, como se estivessem cronometrados, Weasley e amigos saíam da Toca, todos com um único destino. St. Mungus. Nenhum Weasley queria perder aquele momento.

Com toda aquela confusão, Ron acabou por soltar Scorpius que foi em busca de Rose para seguirem juntos para St. Mungus.

A sala de espera estava completamente cheia. Uma invasão de cabeças ruivas fazia-se sentir ali. Quase todos os funcionários de St. Mungus sabiam quem eles eram, afinal tantas vezes já os tinham visto ali.

Rose e Scorpius encontravam-se num canto. Rose estava com a cabeça encostada no ombro de Scorpius. O seu coração ainda batia a mil com os acontecimentos da última hora. A revelação perante a família. A loucura que deu no seu pai ao agarrar em Scorpius. E a isso tudo ainda se juntou Domi a ser levada o mais rápido possível para o hospital.

—Vai correr tudo bem. – disse Scorpius.

—Eu sei que vai. É a Domi. – respondeu Rose, mas o seu nervosismo era visível na voz. Ela só queria que ela e o bebé estivessem bem – O meu pai estava furioso.

—Furioso é pouco para descrever a forma como ele estava, princesa. – brincou Scorpius – Ele estava completamente fora de si. Mas, mesmo assim, acho que ainda foi melhor do que eu imaginei. Tendo em conta que eu imaginei a minha morte, qualquer coisa que acontecesse diferente disso era sempre melhor.

—Tu és tão parvo, Scorpius. – disse Rose batendo de leve em Scorpius.

—É verdade, princesa. E eu estou confiante que o teu pai vai acabar por nos apoiar. Nem que seja quando tivermos netos.

Rose sorriu, olhando para Scorpius. Era a primeira vez que ela e Scorpius estavam tendo uma conversa daquelas. Uma conversa sobre o futuro deles. Scorpius acabar de mencionar netos. Isso queria dizer que ele pretendia ter filhos consigo. Rose sorriu ainda mais com o pensamento, aconchegando-se em Scorpius.

—----//-----

—Mas será que ninguém não nos diz nada? – lançou Ginny a pergunta para o ar – Nós fazemos parte da família.

—Tem calma, Ginny, tu sabes que estas coisas demoram. – respondeu Harry.

Toda a família ainda continuava à espera de notícias de Domi e do bebé. Fazia duas horas que estavam ali e nenhum medibruxo se tinha dignado a falar com eles. Ninguém lhes dizia nada.

Rose tinha acabado por adormecer encostada em Scorpius. Este manteve-se desperto, esperando aparecer alguma notícia, mas sem fazer qualquer comentário. Ele preferia passar despercebido depois da bomba lançada na Toca.

—Então o meu priminho anda a tentar tirar a inocência a uma Weasley? – debochou Teddy sentando-se ao lado de Scorpius.

—Como se tu já não tivesses tirado a inocência a uma Weasley. – retorquiu Scorpius.

—Mas tu foste logo à proibida, Scorpius. Apaixonaste-te logo pela filha de Ronald Weasley. – continuou Teddy – Fico muito feliz por vocês. Dá para ver o quanto gostam um do outro. E foi preciso muita coragem para contarem à frente de toda a gente.

—Foi a Rose que fez tudo. Eu apenas fiquei à espera de ser morto.

—Mesmo assim, foi preciso coragem. Ela pode ter contado tudo, mas muita da coragem que a Rose tem agora vem de ti. Da confiança que tu lhe dás para fazer estas coisas. Eu lembro-me como ela costumava ser. Completamente fechada. A única pessoa com quem a via falar era com o James. Ainda pensei que eles os dois…

—Nem acabes a frase. – interrompeu Scorpius arrancando risadas de Teddy.

—Não termino. Eu vejo como vocês os dois são perfeitos um para o outro.

Antes que Scorpius dissesse alguma coisa, James entrou pela sala de espera atraindo a atenção de todos para ele.

—Então James? Como correu? – perguntou Ginny aproximando-se do filho.

—Como está a Dominique? E o bebé? – perguntou Fleur antes de James ter tempo de responder a Ginny.

—Diz-me como está a minha filha. E o meu neto. – pediu Bill.

—A Domi está bem. – respondeu James – E o bebé também está bem. Aliás os bebés estão todos bem.

—Como assim os bebés? – perguntou Harry antecipando-se a todos.

—Eu e a Domi tivemos trigémeos.