O Golden Trio estava se preparando para acampar em outro lugar, ainda em busca das Horcruxes. Rony reclamava pela falta de comida, enquanto Hermione o repreendia e dizia que se ele continuasse reclamando ela não faria mais nada. Ele teve que se calar.

— Será que dá pra vocês dois pararem de brigar por pelo menos um minuto? — Harry falou irritado e logo Rony e Hermione se calaram.

— Desculpa, Harry — Hermione falou e abaixou a cabeça.

Ele apenas acenou e se afastou dos dois, indo para perto da barraca.

Demorou um pouco para que Harry percebesse que o cenário em que estavam era muito diferente dos outros. Era como se fosse uma montanha feita de pedras. É claro que ele não fazia ideia de onde estavam, Hermione tinha os levado ali, e ele não estava a fim de voltar para lá e presenciar outra discussão dos dois.

Às vezes aquilo o irritava. Ele sabia que Rony e Hermione se gostavam (qualquer um em sã consciência perceberia aquilo), e ver os dois brigando como se isso fosse a última coisa no mundo em que eles pensariam o deixou irritado. Ele sorriu ao lembrar-se de uma coisa.

Lembrou do jeito que sua mãe tratou seu pai na memória de Snape e o que Sirius e Remus falaram sobre aquilo. Claro que ela estava certa ao falar daquele jeito com seu pai, afinal, ele estava humilhando alguém. Mas tinha certeza que eles brigavam como Rony e Hermione antes de admitirem seus sentimentos.

Não conhecia os pais, então não sabia muito bem suas personalidades, mas seu pai era um Marauder, com certeza era uma versão anterior de Fred e George. E, pelo que ouvia de sua mãe, ela era uma versão anterior da Hermione.

Com certeza, seus pais não se davam bem. Eles eram tudo o que um mais odiavam em alguém. Sorriu ao tentar imaginar como eram seus pais quando ainda não estavam juntos. Pelo que ele imaginava, deviam ser muito teimosos.

Se bem que, pelo que ele viu na Penseira, seu pai já parecia gostar de sua mãe. Ele lembra perfeitamente de ele ter dito que deixaria Snape em paz se ela aceitasse sair com ele. Mas ela fora mais teimosa e respondera que preferia sair com a lula-gigante do que com ele.

Como será que eles eram na adolescência? Com certeza eram muito corajosos. Foram corajosos até o fim da vida. Harry se orgulhava muito de ser filho deles.

Sentiu uma picada em sua mão e seu dedo sangrou, sem querer.

— Ai! — falou e abaixou o olhar. Alguma coisa (que tinha uma cor lilás), se mexia de um lado para o outro bem ao seu lado — Que diabos…? — Harry a pegou na mão e ela parou de se mexer.

Franziu a testa. O que era aquilo? Pelo fato de estar se mexendo sozinho, com certeza era um objeto mágico.

Deu de ombros e o colocou de volta no lugar. Apenas adormeceu.

_____X_____

Rony e Hermione continuavam brigando por causa da comida, e só pararam quando a garota deu o maior grito que já dera até o momento. Rony arregalou os olhos e ela corou.

— Desculpa — falou, de cabeça baixa. Por mais que vivesse brigando com Rony, nunca tinha gritado daquela forma com o garoto.

— Tudo bem — ele falou, surpreso e constrangido ao mesmo tempo.

Um silêncio ainda mais constrangedor invadiu o local.

— Cadê o Harry? — Hermione se amou naquele momento por ter quebrado aquele silêncio e por ter percebido a ausência do amigo.

— Ele foi para perto da barraca. Deve estar ali — Rony apontou para o local onde Harry estava.

Mas ele não estava.

— Deve ter entrado na barraca — a garota deu de ombros e continuou a fazer sua comida.

— Desculpa por reclamar tanto — Rony falou e corou na mesma hora.

— Tu-tudo bem. Já é normal pra você sentir tanta fome — ela comentou e ele riu fraco.

— Descobriu alguma coisa sobre “os contos de Beedle: o bardo”? — ele perguntou, curioso.

— Nada. Mas eu encontrei um símbolo escrito no livro. Eu estava querendo mostrar pro Harry, mas acho que ele já foi dormir — ela falava enquanto pegava o livro de sua bolsa e o abria na página em que o símbolo estava escrito.

— O pai da Luna, Xenofílio, estava usando um colar com esse mesmo símbolo no casamento da Fleur e do Bill — Rony falou e Hermione deu um salto.

— Tá falando sério? Se isso for mesmo verdade, acha que ele pode nos falar o que é isso? A gente pode ir na casa dele... — ela perguntou e falou, animada, mas Rony a interrompeu.

— Ir pra casa dele? Eu não sei… Ele é um pouco… Pirado — Rony falou e Hermione deu um olhar repreensor nele — Tá bem, tá bem. Nós vamos lá amanhã. Pode ser? — ele perguntou e ela assentiu, ainda animada.

— Vou falar pra o Harry — ela falou se levantando e indo em direção à barraca.

Mas Harry também não estava lá.

— Anh… Rony? — Hermione o chamou.

— Sim? — ele perguntou.

— O Harry não está aqui… — a garota respondeu, confusa. Onde Harry tinha se metido?

— Como assim não está aqui? — Rony perguntou entrando na barraca e percebeu que realmente o amigo não estava ali.

— Onde ele está? — Hermione perguntou.

— Você acha melhor a gente ir procurar ele ou esperar ele voltar? — Rony a respondeu com outra pergunta.

— Da última vez que ele sumiu assim, ele quase morreu dentro do gelo. Acho melhor a gente ir procurar ele. Vem — ela puxou Rony e eles saíram a procura de Harry.

Mal sabiam eles que não iriam encontrá-lo.

_____X_____

Harry ouviu gritos ao seu redor e resmungou por terem o acordado. Rony e Hermione estavam brigando de novo? Não era possível!

Apenas tentou voltar a dormir.

— Você se acha engraçado, mas não passa de um cafajeste, tirano e arrogante, Potter. Deixe ele em paz — Harry deu um salto ao ouvir aquelas palavras e aquela voz.

— Deixo se você quiser sair comigo, Evans. Anda… Sai comigo e eu nunca mais encostarei uma varinha no Snivellus — não podia ser… Harry estava ficando maluco…

Era um sonho… Era isso.

— Eu não sairia com você nem que tivesse que escolher entre você e a lula-gigante — o estômago de Harry revirou-se. Ele estava pensando nos pais antes de dormir… Era apenas um sonho.

— Mau jeito, Prongs — falou Sirius, se virando para Snape, mas não teve jeito. Houve um lampejo e apareceu um corte no rosto de James.

Um segundo lampejo e Snape estava de cabeça para baixo novamente, a ponto de mostrar suas cuecas. Todos aplaudiam, enquanto os Marauders (menos Remus) se divertiam.

— Ponha ele no chão! — Lily gritou.

— Perfeitamente — e colocou Snape no chão. Ele se levantou depressa com a varinha na mão, mas Sirius gritou “Petrificus Totalus”.

— DEIXEM ELE EM PAZ! — Lily gritou ainda mais alto, agora com sua própria varinha em mãos.

— Ah, Evans, não me obrigue a azarar você — James respondeu, sério.

— Então desfaça o feitiço nele! — mesmo não querendo, James desfez o feitiço em Snape.

— Pronto — falou e olhou para Snape — Você tem sorte que a Evans esteja aqui, Snivellus…

— Eu não preciso da ajuda de uma sangue ruim imunda como ela — Lily pestanejou.

— Ótimo. No futuro eu não me incomodarei — respondeu — E eu lavaria as cuecas se fosse você, Snivellus.

James apontou novamente a varinha para Snape, irritado.

— Peça desculpa a Evans — mas Lily não gostou daquilo.

— Eu não preciso que você o obrigue a se desculpar, você é tão ruim quando ele — falou.

— Quê? Eu nunca chamaria você de… Você sabe o que.

— Despenteando os cabelos só porque acha que é legal parecer que acabou de desmontar da vassoura, se exibindo com esse pomo idiota, andando pelos corredores e azarando qualquer um que o aborreça só porque é capaz… Até surpreende que a sua vassoura consiga sair do chão com o peso dessa cabeça cheia de titicas. Você me dá NÁUSEAS — e virou as costas, se afastando depressa.

— Evans! Ei, Evans! — James chamou, mas Lily não olhou pra trás — Qual é o problema dela?

— Lendo nas entrelinhas, eu diria que ela acha você metido, cara — Sirius respondeu.

— Certo, certo… — James falou, agora furioso.

James apontou a varinha para Snape e ele novamente ficou de cabeça para baixo.

— Quem quer ver eu tirar as cuecas do Snivellus? — Harry congelou. Vira aquela memória só até ali. Sabia o quando Snape odiava aquele momento de sua vida. Fechou os olhos, não queria presenciar aquela cena. Apenas se afastou.

Que diabos estava acontecendo ali? Como ele tinha ido parar ali?

“É um sonho, seu idiota. Apenas isso”.

E então se beliscou. Ele sentiu o toque de seus dedos e a dor que aquilo causou.

Não podia ser real, era apenas um sonho. Apenas isso…

Não, aquilo não era sonho. Era real. Que diabos estava acontecendo?

Ele não teve tempo de pensar em algo direito e ouviu um soluço. Vinha de trás de uma árvore a sua frente.

Se aproximou e ficou escondido atrás da mesma. Seu coração se apertou ao ver aquela cena. Sua mãe estava sentada, com os joelhos cruzados e chorando.

Sem querer, acabou pisando em algo duro no chão, o que causou um grande barulho naquele silêncio.

— Quem está aí? Potter, se for você, pode ir embora — ela falou se levantando.

“É, eu sou Potter. Mas não o que você está falando”.

Harry tentou se esconder, mas fora tarde demais. Lily o vira.

“É o fim”, pensou.