Ondas de uma vida roubada escrita por Maresia


Capítulo 96
Quando o coração chora




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O oceano quente e prateado subia solitário pela montanha rugosa e traiçoeira do céu, deixando na beira das suas lágrimas as praias sangrentas e ausentes do mundo imersas em devaneios constantes e imprevisíveis soprados pela suave e maliciosa mão do destino. O verão amarelo e vermelho caminhava alegremente pelas bermas das estradas da vida, iluminando as noites e aquecendo os dias com desejos imperdoáveis e arrogantes, desejos passageiros e inúteis manchados pelo capricho e pelo ciúme. As lembranças do outrora imergiam leves e ousadas em cada brilho negro de cada estrela de veludo nocturno, iluminando falsamente as mentes daqueles que toldados pela tristeza fugiam delas com a tremenda rapidez de um único e simples piscar de olhos.

— Diana já viste as tuas notas? Eu já as vi, são excelentes! - Exclamou Peter em tom entusiasmado, correndo até junto da sua amiga que aparecia no fundo do corredor.

— Já vi Peter, mas não me sinto orgulhosa. - Respondeu a linda Sereia em tom triste e distante, limpando o queixo sujo de chocolate.

— Bolas querias melhores resultados do que estes, grande ambição a tua! - Ripostou o jovem herói em tom surpreso, olhando Diana com a curiosidade a brilhar nos seus olhos.

— Peter estas notas não são minhas, lembras-te? - Perguntou a Vingadora baixando ligeiramente a voz, fazendo sinal para que o Aranha se afastasse do enorme grupo que observava atento o quadro das avaliações. - Sabes perfeitamente que eu não vim à escola durante vários meses, estas notas são daquele robô que o Fury arranjou para me substituir. - Disse em tom amargurado, fitando o seu passado imerso em mentira, traição e ilusão.

— Ninguém sabe disso, e irá continuar assim, além disso esse robô foi criado mediante as tuas capacidades intelectuais e físicas por isso não te desvalorizes. - Retaliou o Aranha em voz determinada e segura, dando um grande abraço de conforto a sua melhor amiga.

— Talvez tenhas razão, mas estas notas...

— Já chega desta conversa, acho que precisas de ir até à praia, que tal? - Perguntou Peter de forma divertida, tapando a boca de Diana com a palma da sua mão, não suportava vislumbrar aquela inodora tristeza patrulhar os doces e sonhadores olhos da Vingadora, sentia falta do espírito aventureiro e feliz que o acompanhara durante anos e que agora se afundava rapidamente nas águas da angústia, desejava recuperar o sorriso claro e carinhoso que ofuscava a luz contagiante do dia.

— Sim pode ser, talvez me faça bem, vem comigo até à mansão vou buscar as minhas coisas. - Assentiu a jovem ligeiramente abstraída de tudo o que a rodeava, onde foste Diana?

Os dois amigos infiltraram-se sorrateiros nas entranhas escaldantes do verão, fitando entusiasmados as cores triunfantes que espreitavam em cada montra, acenavam divertidos aos colegas da escola que se amontoavam nas entradas barulhentas das gelatarias deliciosas que decoravam a rotina apressada dos consumidores desenfreados, embrenhavam-se nos cheiros citadinos e caprichosos que corriam apressados pelas estradas apinhadas.

— Bolas que calor ofegante. - Queixou-se Diana em tom cansado, limpando as bagas de suor que lhe escorriam pelo rosto bonito, desfrutando da frescura calma da mansão dos heróis mais poderosos da terra.

— Mal posso esperar por pôr os pés na água salgada. - Murmurou o Aranha em tom abafado, atirando-se no sofá vazio, despindo apressado a t-shirt que estava colada ao seu corpo.

— Eu já venho, dá-me um minuto. - Proferiu a Sereia em voz tranquila, dirigindo-se rapidamente ao seu quarto.

Entrou na divisão com passada larga e segura, abriu uma das suas infindáveis gavetas e procurou o seu biquíni lilás, os seus chinelos e a sua toalha, finalmente os músculos rígidos e contraídos do seu rosto suavizavam transformando-se num leve e distraído sorriso.

— O sufoco da solidão e da tristeza despedaçam corações, destroem almas e matam a vida dos nossos olhos, há semanas que não cruzo a porta da minha casa, não consigo enfrentar o silêncio maldoso do tempo, não consigo observar a escuridão caprichosa dos dias, não consigo lutar contra os tenebrosos fantasmas do desespero, não consigo estar sozinha comigo própria, por estas razões permaneço aqui, na companhia de muitos e na ausência de outros tantos. - Pensava a jovem de forma angustiada, nunca a companhia lhe parecera tão solitária, apesar de estar rodeada de pessoas sentia-se mais sozinha do que nunca. - Recordo com saudade os tempos de criança, onde o brilho dos dias e a calma das noites faziam os sonhos misturarem-se com a realidade de uma forma tão perfeita como o sal se mistura com a água, agora as lágrimas apagaram o brilho dos dias e a tristeza pulverizara a calma da noite e a união entre o sal e a água não passa de um mito inventado pelos vampiros dos sonhos. - Reflectia tristemente, à medida que colocava um vestido azul-claro sobre o seu biquíni, calçava os chinelos, colocava a toalha sobre os ombros e saía lentamente pela porta abandonada do seu quarto deserto.

Alguns passos apressados captaram a atenção de Diana enquanto percorria o corredor ladeado por portas fechadas e silenciosas, portas que encerravam as artimanhas mesquinhas do destino. Tony saía do seu laboratório exibindo uma expressão triste e devastada, uma expressão que contrastava terrivelmente com a sua aparência elegante e bem cuidada.

— O que se passa Tony? - Perguntou a Sereia em voz baixa e delicada, reparando que o milionário trazia uma pasta na sua mão direita.

— Ah Diana és tu. - Retorquiu o Homem de ferro em tom ausente e distante, olhando surpreendido para a figura bonita que estava na sua frente. - Estou bem, não tem importância.

— Não me mintas, eu vejo a tristeza espelhada nos teus olhos, vá lá, confia em mim. - Respondeu a Vingadora em voz ligeiramente mais alta, colocando uma das mãos no ombro do seu amigo. - O que se passa? O que tem esta pasta?

— São alguns e-mails de potenciais sócios. - Explicou Tony num tom áspero e baixo, atirando a pasta para bem longe do seu olhar. - Os meus negócios estão a cair na desgraça, nunca passei por um período tão crítico, por mais que me esforce a sorte não me sorri, a inovação não surge, a inspiração morreu e eu estou cansado de fracassar.

— Tony as coisas vão melhorar, tenho a certeza, não desistas, tu és um excelente empresário, cheio de valores e princípios, o tempo irá ser generoso contigo, acabará por te recompensar, acredita em mim. - Proferiu a Vingadora em voz doce e confiante, abraçando o coração desolado do milionário com as suas palavras repletas de coragem e amizade.

— O mundo dos negócios não é assim tão simples como aparenta ser, quando se começa a cair raramente existe possibilidade de alcançar novamente o sucesso. - Desabafou o Homem de ferro em tom dragado pelo sofrimento e pela desilusão, acariciando o cabelo achocolatado da jovem. - A minha vida jamais será a mesma, no fundo já não é a mesma desde aquele dia em que ele me roubou a...

— Bolas Diana, demoraste uma eternidade! - Exclamou Peter ligeiramente amuado, encontrando Diana no meio do corredor.

— Onde vão com tanta pressa? - Perguntou Stark curioso, olhando na direcção do jovem herói.

— Vamos até à praia, queres vir? - Respondeu a Vingadora em tom feliz, apontando para a toalha azul que decorava os seus ombros.

— Talvez passe por lá mais tarde, quem sabe se não abro um negócio de bolas de berlim. - Afirmou Stark em tom deprimido, imaginando-se de pés descalços na areia quente da praia, transportando um enorme carrinho de bolas de berlim, perseguido pelos comentários maldosos daqueles que o idolatravam

— Tony melhores dias virão, não baixes já os braços. - Aconselhou a Vingadora em voz reconfortante, quem era ela para aconselhar o milionário quando já desistira dos sonhos, quando já se resignara a um presente triste e sofrido, quando já abraçara um futuro escuro e caprichoso, quando abandonara um passado brilhante e prometedor.

— O que é que ele tem? Parece estar de rastos. - Comentou Peter em tom surpreendido, quando pegava, nas bicicletas para percorrerem livremente o caminho até ao berço da separação e da união, onde as águas frescas e a areia quente beijavam o céu azul e sonhador.

— Ele está de rastos, desde aquele acontecimento com a Sociedade da Serpente a reputação dele, bem de todos nós, ficou completamente devastada, a opinião pública por vezes é muito dura e injusta. - Explicou a Sereia em voz triste e baixa, reparando em Clint que deambulava apressado rumo a qualquer lugar indefinido. - Clint! - Chamou em tom alegre, pedalando com extrema velocidade.

— Diana! O que fazes aqui. - Inquiriu o Arqueiro em tom estranho e baixo, fitando Diana como se não a visse há muitos meses.

— Vou até à praia, queres vir? - Perguntou a Vingadora, disfarçando com uma falsa gargalhada a tristeza que se apoderara do seu coração, Clint estava distante, imerso em recordações que deviam ficar no passado, olhava-a com estranheza como se não se tratasse da sua namorada mas somente de uma rapariga qualquer que o abordava na rua como tantas vezes acontecia.

— Não, não me apetece desculpa. - Respondeu o Gavião em voz evasiva, fingindo interesse numa montra repleta de guitarras eléctricas.

— Certo, vemo-nos mais tarde? - Questionou Diana em tom esperançado, olhando aqueles olhos incrivelmente azuis e vazios com saudade e nostalgia.

— Depois vejo se dá, até logo. - Despediu-se o mestre das setas em voz rápida, partindo a tremenda velocidade em direcção ao espelho confuso do seu coração, um coração mal tratado e injustiçado pelo comandante do tempo.

— Vou perdê-lo. - Pensou a jovem com a angústia a pegar fielmente na sua mão, observando distraída o brilho dourado do cabelo do seu namorado recortado contra a luz escaldante do sol.

— Dá-lhe tempo. - Disse Peter em tom baixo e carinhoso, reparando numa lágrima de prata que voava dos lindos e doces olhos da sua melhor amiga. - Vamos o mar está à tua espera, o tempo vai acabar por fazê-lo perceber que tu lhe fazes muita falta, ele vai acabar por te procurar.

— O tempo sempre foi o meu maior inimigo, estamos cada vez mais longe e não consigo quebrar a barreira que cresce entre nós. - Desabafou a morena em voz sumida, seguindo o seu melhor amigo até a cristalina miragem do oceano.

— Tem calma, dia menos dia ele reconhece que tu lhe fazes falta. - Insistiu o herói em tom ligeiramente revoltado, só queria esmurrar a cara de parvo do mestre das setas, não suportava o que ele estava a fazer a Diana, apesar de compreender que meses de ausência acabam por murchar até o mais forte dos sentimentos, acreditava que fosse esse o caso, mas mesmo assim não o perdoava.

Finalmente o jardim de alcatrão foi substituído pelo tapete suave e macio da praia, os dois adolescentes colocaram as bicicletas nos suportes e flutuaram até um lugar despido de pessoas, pousaram as toalhas na areia, tiraram a roupa e apaixonaram-se pelo ambiente quente e calmo, bafejado pelo perfume adocicado e mágico da fantasia, estavam finalmente em casa.

— Que dia espectacular, não achas? - Perguntou o Aranha em tom fascinado, pousando os seus olhos no alto e brilhante firmamento. -

— Sim está óptimo, sem dúvida. - Respondeu a morena em voz distante e doce, sentindo o fruto delicado da maresia beijar-lhe suavemente o rosto e o coração, realmente estava em casa. - Queres ir até à água?

— Bora lá! - Assentiu o jovem herói em tom entusiasmado, correndo como uma criança até à paisagem azul e convidativa.

Diana nadou como uma pluma leve e delicada sobre as ondas de cristal e açúcar, o sal beijava tranquilo o seu esguio corpo, transformando-o em espuma branca e doce, a brisa saltitava traquina através da alma pura e corajosa da morena, recordando-a das noites e madrugadas em que as mãos do Arqueiro fizeram dela a mulher mais feliz e concretizada do mundo, as nuvens flutuavam sobre os seus lábios como se fossem os beijos saborosos e apaixonados de Clint, as rochas paradas e silenciosas afundavam-na numa realidade irreal e transparente onde os sonhos viajavam pelas palmas das suas mãos na expectativa prateada de serem concretizados, no entanto as sombras começavam a afogar-se nos confins do sangue azul do oceano, emoldurando o futuro da jovem Vingadora.

— Um dia vamos ser felizes. - Pensou a jovem em tom corajoso, encarando com tristeza a tona quente e poluída da realidade controversa do dia.

— Bolas, estava a ver que não voltavas, caramba! - Exclamou Peter completamente atónito com as capacidades aquáticas da Sereia.

— O universo marítimo é fantástico e ao mesmo tempo devastador, por vezes o que oferece com uma mão retira de seguida com a outra, esta é a justiça cruel do anjo azul. - Retorquiu a morena com a sua voz enfeitiçada pela calmaria alucinada do oceano, estendendo-se suavemente na toalha que imóvel repousava sobre o manto arenoso.

— Provavelmente o que dizes está certo, sei lá eu não percebi metade da frase, mas deixa lá, se isso faz sentido para ti...

— Olha cala-te, queres comer um gelado? - Interrompeu a Vingadora de forma sorridente, apontando para um vendedor ambulante que conduzia um carrinho repleto de caixinhas coloridas e deliciosas.

— Pelo menos o mau feitio já está a regressar, vamos lá comer um gelado. - Comentou o Aranha em tom brincalhão, avançando saltitante até ao carrinho dos gelados.

— Boa tarde, eu quero um gelado de limão, por favor. - Pediu Diana exibindo um bonito sorriso repleto de simpatia.

— Eu quero um de chocolate e morango, por favor. - Pediu Peter em tom guloso, saboreando com o olhar as dezenas de caixas coloridas que davam asas a sua imaginação gustativa.

— Aqui têm jovens. - Disse o vendedor em tom amável, aceitando as moedas que os dois amigos lhe estendiam.

Os dois heróis caminharam entusiasmados até às suas toalhas já bastante decoradas com grãos de areia, sentaram-se e deliciaram-se com aquelas saborosas bolas de gelado, observando atentos algumas crianças que brincavam felizes na areia dos sonhos e da fantasia, longe dos conflitos injustos e impiedosos que encantavam o mundo dos adultos, longe das espadas que estupidamente enfeitiçavam as guerras que corriam ribombantes por esse mundo fora.

— Olha além Diana, aquele não é o...

— Não acredito é o Tony! - Exclamou a jovem completamente perplexa, avistando Stark caminhando suavemente sobre a areia com os pés descalços, trajando uns calções de praia e uma t-shirt, o sol certamente estava a provocar alucinações aos dois amigos, aquilo não podia ser verdade.

— Olá, eu pensei melhor e decidi vir! - Exclamou o Homem de ferro em tom energético, estendendo uma toalha na areia junto de Diana.

— Uau Tony, grande estilo. - Comentou a jovem impressionada, retirando um bago de areia do cabelo do herói.

— Sabes, eu estava sozinho, triste e deprimido, e então pensei e comecei a reagir, não podia entregar-me à opinião alheia, a vida é demasiado pequena e frágil para ser destruída num ápice de segundo. - Explicou Stark em tom baixo e entusiasmado, o seu rosto outrora mascarado pela tristeza e pela angústia agora afundava-se suavemente num lindo e contagiante sorriso. - Decidi fazer uma festa em tua honra Diana, acho que te estás a sentir ligeiramente deslocada, quero que te sintas novamente em casa, porque a minha felicidade depende em larga escala da tua felicidade.

— Tony. - Murmurou Diana de forma surpreendida, dando uma forte cotovelada nas costelas de Peter pois este soltava pequenas e disfarçadas gargalhadas de escarnio.

— Bem não digas nada, eu trato de tudo, só precisas de aparecer linda como sempre estás. - Disse o, milionário em voz feliz e sonhadora, olhando em volta para a paisagem que partilhava a doçura delicada do sorriso de Diana.

— Tony estás a deixar-me corada! - Disse a Vingadora em tom envergonhado, cobrindo o rosto com ambas as mãos. - Mas talvez uma festa não seja mal pensado, porém tenho um pedido a fazer, não quero que seja em minha honra mas em honra dos Vingadores, achas que pode ser?

— Se assim ficas mais feliz, estou de acordo. - Assentiu o milionário radiante, afagando o cabelo achocolatado da adolescente. - Tu também podes aparecer Peter, os amigos da Diana também são meus amigos.

— Obrigado senhor Stark. - Agradeceu o Homem Aranha completamente incrédulo, não acreditava na sua sorte, sempre adorara Stark, sempre o considerara um exemplo a seguir, sempre o considerara o seu maior ídolo, aquele convite era o culminar de todos os seus mais profundos e imaginários devaneios.

— Então logo à noite temos festa da pesada! - Exclamou Tony altamente entusiasmado, brincando distraidamente com alguns farrapinhos de areia. - Olha o Clint também veio até à praia, realmente aquela pele está a precisar de algum bronze, ele parece um vampiro! - Disse impressionado, apontando para uma esplanada completamente apinhada com jovens eufóricos pela chegada triunfante do sol de verão.

— Como é que isto é possível ele disse-me que não vinha e agora está aqui, se pensa que eu tenho cara de palhaça está muito enganado! - Ripostou a morena em tom furioso, correndo a tremenda velocidade até à esplanada, espalhando areia e desilusão ao seu passar.

— Ela parece um dragão, até deita fogo pelos esporos. - Comentou o milionário em voz disfarçadamente deliciada, observando o ondular perigoso e inconstante do cabelo achocolatado e pecaminoso da Sereia.

— Bolas se eles já estavam mal, agora ainda ficarão pior, fogo! - Barafustou o Aranha em tom aborrecido, vendo a fúria da sua melhor amiga reflectida na cobertura doce e azulada do oceano.

— Acho que as coisas ainda vão aquecer mais. - Afirmou o Homem de ferro em voz falsamente doce, reparando uma rapariga ruiva de aparência irlandesa aproximar-se rapidamente do Arqueiro, exibindo um largo sorriso como se caminhasse em direcção ao paraíso.

— Podes explicar-me o que se passa aqui afinal de contas! - Gritou Diana de forma arrogante e furiosa, agarrando o seu suposto namorado pelo braço, olhando-o directamente no fundo daqueles olhos azuis e traquinas. - A gata comeu-te a língua foi?

— Quem é esta Clint? - Perguntou a rapariga em tom incrédulo, olhando a vingadora com cara de poucos amigos, remexendo nervosamente num guardanapo.

— Esta minha querida tem nome, chamo-me Diana e sou a namorada deste aqui! - Ripostou Diana com azedume na voz, virando-se repentinamente para a ruiva, exibindo uma expressão perigosa e triste naqueles olhos azuis que faziam o oceano e o céu tremer de inveja. - Miúda, esta é a tua deixa para te pores a andar!

— Diana tem calma, eu posso explicar...

— Não quero ouvir explicações tuas, só quero que me digas, sinceramente, porque fizeste isto? - Interrompeu a jovem em tom baixo e triste, olhando de soslaio para a ruiva que se afastava apressadamente, pisando o terreno arenoso.

— Eu não fiz nada de mal, absolutamente nada de mal. - Defendeu-se Clint em tom ofendido, erguendo os olhos para um futuro negro e quebrado, desenhado nos olhos de Diana. - Diana, eu não te quero magoar, não quero que sofras, mas honestamente preciso de tempo para digerir tudo aquilo que nos aconteceu, talvez penses que esta atitude é um simples e repugnante ato de cobardia, porém enganas-te, somente preciso de encontrar os sentimentos que me uniram a ti, preciso de sentir aquele fogo inabalável que apenas o azul aquoso dos teus olhos tinha a capacidade de dominar, desculpa.

— É impressionante como tu mudas tão rapidamente de ideias, se querias um tempo porque é que não disseste mais cedo? Não precisas de responder eu respondo por ti, porque é mais fácil usar as pessoas do que ser sincero com elas, sabes que mais, não vales nada, maldita a hora que eu sonhei voltar de novo para o ceio dos Vingadores. - Resmungou a adolescente em tom abafado, resistindo com todas as suas forças à forte torrente de lágrimas que emergia das profundezas azuis do seu espírito, o desfecho que mais receara acabara de vir ao seu encontro, personificando uma onda gigantesca que derrubara todos os castelos de sonhos e algodão construídos sobre a chama do seu ser.

— Eu lamento, acredita em mim, mas o tempo e o destino nunca correram a nosso favor, e por mais que apresássemos o passo nunca o conseguimos alcançar na totalidade. - Desculpou-se o Arqueiro em tom baixo e distante, caindo em turbilhão pela cortina negra e fria que dançava nos favos azuis da Sereia, porém a sua decisão estava tomada, não iria voltar com o seu pensamento atrás.

— Certo Clint, respeito a tua decisão, não te posso obrigar a estares comigo, mas posso tentar não sofrer mais, segue a tua vida, eu pretendo seguir com a minha, pois um homem que justifica a dança do coração com a triste corrida do tempo infelizmente não serve para mim. - Disse a morena de forma sofrida e determinada, não valia a pena lutar por uma causa perdida, não caminharia mais de mão dada com o sofrimento e com a dor, também tinha o direito de viver, de ser feliz, de compreender os deliciosos e únicos aromas do amor verdadeiro, aquele que supera o tempo, o destino, a vida e até mesmo a própria e indubitável morte, por esse valeria a pena lutar, por esse valeria a pena derramar lágrimas sangue e suor, por esse valeria a pena percorrer vales, montanhas, oceanos e desertos, por esse valeria a pena viver.

Diana olhou em volta, a praia olhava-a do fundo daqueles olhos frescos e ondulantes, estava deserta, em paz com o céu e os astros, Clint abandonara o seu campo de visão fazia largas horas, pois deixara-se adormecer nos braços fofos da areia materna, apenas Tony a olhava tristemente do fundo da sua irritante e por vezes inconveniente inteligência, olhava-a com o carinho que somente os olhos de um pai possui, um carinho tão quente e confortável como os primeiros raios de um sol madrugador.

— Eu pensei que apenas na mitologia é que acontecia o fenómeno de uma bela e gentil sereia dar à costa, mas olha como estava equivocado! - Murmurou Stark em tom sonhador, disfarçando algumas lágrimas que contrastavam perfeitamente com o veludo negro do céu distante e observador.

— Desculpa Tony adormeci. - Lamentou-se Diana em tom atabalhoado, palpando o terreno esfriado a seu lado. - Onde está o Peter?

— Ele foi para casa, disse-lhe para aparecer na festa mais tarde, o Jarvis já tratou de tudo, o que era de mim sem ele? - Explicou o milionário de forma compreensiva, surpreendo Diana e os astros, o mar realmente fazia milagres, a humildade viera ao encontro do avantajado coração do Homem de Ferro. - Deixei-te dormir porque a paz que o teu rosto transmitia era algo de inédito, algo tão lindo que rivalizava com as paisagens mais belas do universo e acredita eu já vi muitas.

— Tony, eu e o Clint acabámos, acho que desta vez é mesmo o fim. - Desabafou a adolescente em tom cansado, revirando os olhos devido à tristeza escaldante que lhe queimava as pupilas azuis e macias.

— O fim de algo ou de alguma coisa não tem que obrigatoriamente ser uma coisa má, depende da objectividade com que sejam encaradas e da forma como as queremos ou devemos solucionar. - Afirmou Tony de forma sábia e pensativa, pegando na delicada mão fria da jovem. - Vê esta separação como uma oportunidade do destino para seres feliz.

— Acho que nunca vou ser feliz Tony. - Disse a Vingadora em tom sufocante, vendo retratado nas ondas sibilantes do futuro o seu triste e assombrado passado.

— Talvez tu é que não estejas disponível para abraçares a felicidade que tanto procuras, já pensaste nisso? - Inquiriu Stark de forma convicta, sacudindo alguns grãos de areia do cabelo achocolatado da adolescente.

— Como é que será que a minha mãe solucionaria uma situação destas se fosse viva? - Interrogou Diana em voz sonhadora e delicada, olhando fixamente as águas de prata que se agitava entre as diversas correntes do tempo, buscando nelas as respostas que mais ansiava, buscando naquelas profundezas misteriosas a voz calma e doce da sua amada mãe.

— A tua mãe era uma pessoa fantástica ela solucionaria esta questão sempre de cabeça erguida com os olhos postos no futuro dispostos e preparados para abraçar a felicidade. - Respondeu o milionário em voz profunda e nostálgica, evitando os olhares comprometedores e maldosos das estrelas.

— Tony, tu conheceste a minha mãe? - Questionou a Vingadora em voz estranha e surpreendida, os seus olhos faiscavam como mil lamparinas incandescentes guiadas e enfeitiçadas pela varinha da curiosidade, o seu coração pulsava descontroladamente num carrossel de emoções, estaria a verdade tão perto de si como o seu espírito está do mar?

— Interpretaste de forma errada as minhas palavras desculpa, eu deduzo que a tua mãe fosse esse tipo de pessoa porque teve uma filha como tu, apenas isso. - Retorquiu Stark em tom apressado, apanhando na palma da sua mão as faíscas saltitantes que bailavam nos olhos da jovem Vingadora. - Bem vamos andando, a festa está quase a começar.

— Certo Tony, vamos lá. - Assentiu a morena em voz fraca e distante, ainda imersa na frase tecida pelo seu amigo. - Mãe mostra-me qual o caminho que devo seguir. - Pediu de forma suplicante, fitando as águas sonhadoras do oceano pelo canto do olho.

Algures onde o céu se funde numa perfeita e vincada sintonia com o oceano, no espaço onde os amantes aceitam a seta disparada pelo cupido, um corvo deixa cair uma pena bafejada pelas trevas sobre uma neblina clara e suave.


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