I Made You Better As You Made Me Better. escrita por Johnlocked


Capítulo 1
Unico


Notas iniciais do capítulo

Olá lindezas. Tô aqui com mais um fanfic. Johnlock, ou deveria ser Watsonlock por ser baseado nos filmes???
Tanto faz.
Então, fazia algum tempo que eu queria escrever uma fanfic baseada nos filmes da Warner Bros (Com o Robert Downey Jr e Jude Law). Demorou um pouco para sair por não conseguia concretizar um ideia boa pra fanfic. Mas eis aqui ela, finalmente.
Sem mais delongas, boa leitura.



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Holmes encontrava-se sentado em sua poltrona contemplando a janela a sua frente. O dia lá fora tinha um tom acinzentado devido ao frio e a inofensiva chuva que caia pelas ruas de Londres. Encontrava-se novamente imerso em um mortal tédio. Não havia nenhum caso estimulante, pelo menos não para o incrível Sherlock Holmes. Não havia nada com que podia se distrair, havia dado seu último estudo em um estimulante por encerrado assim que viu que não chegaria a lugar nenhum com ele. Era lastimável uma mente como a dele não ter nada com o que se ocupar, dali alguns dias poderia ficar louco se não encontrasse algo grandioso para fazer.

Minha mente se rebela contra a estagnação, dê-me problemas, dê-me trabalhos...”. Era isso que Holmes costumava dizer quando ainda tinha a presença de Watson naquela casa. Agora, sozinho, apenas com sua própria mente para acusar-lhe depois, ele admitia, Watson lhe fazia falta. As implicâncias com sua desorganização, a exagerada preocupação com sua saúde. Watson lhe fazia muita falta, até mesmo o sentimentalismo de Watson. A irritante mania que ele tinha de lhe poetizar nos relatos de suas aventuras juntas, até isso fazia falta a Holmes. A que ponto ele havia chegado, pensando de forma tão sentimental do amigo? Ora, Watson que era o sentimental, não ele. Mas o que ele podia fazer? Watson foi presença constante durante muitos anos, foi a única pessoa que se deu ao luxo de chamar verdadeiramente de amigo. Mesmo sendo um homem racional, era inevitável que começasse a sentir afeto por alguém tão fascinante quanto Watson.

Holmes ficou absorto em meio a seus devaneios, mas logo se viu obrigado a acordar quando ouviu uma carruagem chegar e parar em sua porta. Gladstone começou a latir as alturas como se previsse quem fosse a visita. Holmes olhou pela janela mas não conseguiu quem era. Desceu rápido as escadas até a porta de entrada, e logo depois de uma batida nela, ele abriu.

Dizer que Holmes havia ficado surpreso assim que viu Watson parado a porta era pouco. Tudo bem que eram amigos, mesmo Watson estando casado e não morando mais lá, porém já fazia boas semanas que o loiro não lhe fazia uma visita. Havia encontrado o amigo a algumas semanas no consultório no qual trabalhava, quando ainda estava envolvido com um caso. Mas mal tiveram tempo de conversar. Então, sua surpresa era totalmente compreensível. Holmes abriu um pequeno sorriso assim que notou que Watson havia ficado um pouco constrangido ao perceber sua surpresa.

– Watson!

– Olá, Holmes. Será que posso entrar?

– Oh, que falta de educação a minha, mas é claro. Afinal, a casa também a sua.

Watson sorriu fraco e entrou na casa. Olhou envolta e suspirou nostálgico. Aquele lugar lhe trazia boas lembranças. Sentia falta dali e de tudo que tinha passado ali. Sentia falta de Holmes também, na verdade o moreno era o que mais lhe fazia falta naquela casa. A falta de organização, a fascinante excitação quando tinha um caso, os experimentos com o pobre cão, que naquele momento corria em direção a Watson, visivelmente feliz pela presença do antigo dono.

– Ele sentiu sua falta, Watson.

– Será que só ele sentiu minha falta?

– Acredito que a senhora Hudson tenha sentido também.

Holmes sorriu zombateiro e voltou a subir as escadas até o quarto. Sabia que Watson esperava que ele admitisse que havia sentido falta dele, mas ele jamais faria isso. Adentrou o quarto deixando a porta aberta para que o amigo entrasse também. Watson olhou o local e permitiu-se rir quando notou que o local continuava uma grande bagunça, do mesmo jeito que lembrava-se ser quando morava ali. Holmes sentiu-se aquecer internamente quando notou que o local estava trazendo boas lembranças ao amigo. Watson sentia falta dele assim como ele sentia falta de Watson. O loiro deu alguns poucos passos e sentou-se na poltrona que a pouco tempo Holmes encontrava-se sentado. Sabia que o amigo não gostava que ninguém sentasse ali, mas também sabia que o amigo não lhe falaria nada. Com os anos aquela poltrona, como muitas outras coisas naquela casa haviam se tornado tanto de Holmes como dele.

– Vejo que você não arruma este lugar a um bom tempo.

– Não tenho mais motivos para isso, quem me cobrava limpeza e organização desse lugar não mora mais comigo.

– Ora Holmes, mesmo quando eu lhe pedia para que arrumasse essa bagunça, você não fazia.

– Mas eu tinha seu incentivo para que limpasse, agora nem isso tenho mais, uma pena devo lembrar.

Watson abriu um pequeno sorriso diante das palavras do amigo. Havia interpretado aquilo como uma confissão discreta de que Holmes sentia sua falta. Sabia que o amigo não jamais lhe diria isso de forma direta, deixando claro, mas ele sempre demonstrava do seu jeito torto, com trocadilhos e indiretas, quase discretamente, mas Watson, com os anos ao lado do moreno havia descoberto como perceber. Gostaria de dizer a ele que havia sentido sua falta, que pensava nas aventuras que haviam passado juntos quase a todo momento. Que sentia falta da adrenalina que envolvia as cenas de crime. Mas assim que pensava em dizer, as palavras morriam em sua garganta. Dizer essas coisas feririam seu orgulho e inflaria um pouco mais o imenso ego de Holmes.

Mas não havia necessidade de dizer. Sabia que o amigo provavelmente desconfiaria – se não tivesse certeza – disso, ainda mais que foi ele que tentou lhe convencer que casamento era uma estupidez com argumentos do tipo ''você não vai ter uma vida tão excitante e entusiasmante ao lado dela”, “você vai sentir falta disso, caro Watson, dos crimes, das evidências, dos criminosos. Uma vez dentro desse envolvente mundo, Watson, não tem mais como sair.” Holmes sabia das coisas, ainda mais quando dizia a respeito dele. Disse que sentiria falta e dito e feito. Mas ele não admitiria isso. Jamais. Não seria tão sentimental dessa vez.

– Watson, eu realmente fico lisonjeado de sua visita depois de tanto tempo, mas eu sinto em dizer que você não veio até aqui apenas porque minha ilustre pessoa lhe faz uma imensa falta.

Convencido poderia ser o sobrenome de Holmes. Assim como arrogante e outros mais adjetivos carinhosos.

– Como sempre, você está certo, caro Holmes.

– Ora Watson, eu te conheço bem. Diga-me, o que lhe aflige, caro amigo? Sua expressão me preocupa.

Holmes analisou detalhadamente as expressões de Watson desde que ele havia atravessado a porta. Definitivamente o loiro havia ficado feliz em vê-lo, e as lembranças que haviam arrebatado o amigo assim que entrou ali haviam deixado ele positivamente nostálgico. Mas havia algo mais e havia finalmente conseguido perceber quando o amigo se distraiu com pensamentos que Holmes tinha certeza que não tinham nada a ver com ele ou aquela casa. Watson parecia triste, frustrado e acima de tudo cansado. Sabia que apenas alguma coisa seria deixaria o loiro, digamos, transtornado e perdido dessa forma. Sabia também que nessas situações Watson ficava extremamente – e insuportavelmente – sentimental, mas não iria se importa com isso agora. Ele estava ali para ser ouvido e Holmes não podia fazer outra coisa se não ouvi-lo.

Watson suspirou pesadamente antes de começar a falar.

– Oh Holmes, meu casamento não vai nada bem. Mary está tão mudada, não sei o que está havendo!

Holmes encarou o amigo, e um pequeno sorriso carregado de sarcasmo surgiu em seu rosto para segundos depois desaparecer. Ora, por que será que ele não estava surpreso?

– O que quer dizer com ‘meu casamento não vai nada bem’, meu amigo?

– Não vai bem, Holmes. Mary está mudada. Ela anda estranha comigo, me olha estranho. Age como se o casamento fosse um erro. Eu vejo isso em seus olhos quando ela se distrai. Sempre que temos um momento mais carinhoso, ela foge. Parece que depois de quase dois anos ela encontrou duvidas sobre o casamento. Eu não sei mais o que pensar.

Watson encarou o teto e suspirou mais uma vez. Realmente não sabia o que fazer. Mary não lhe dava nenhuma brecha, sempre mudava de assunto quando ele lhe perguntava se havia alguma coisa a incomodando. Nem pareciam mais um casal de uns meses para cá, não trocavam mais palavras de afeto, carinhos, nem carícias mais íntimas. Sentia falta de seu relacionamento com Mary quando estava no início. Estavam sempre juntos. Falavam sobre o futuro, sobre filhos, sonhos antigos. Ela era uma mulher agradável de se conversar, sempre foi, mas agora, ela mal lhe dirigia uma frase completa. Isso estava se tornando cada vez mais frustrante.

– Permita-me dizer, Watson, como o amigo que sempre fui para você. Eu tenho apenas um palpite sobre o que você me disse. Sua mulher gosta de outro.

– O QUE? Você perdeu o juizo, Holmes? Como ousa?

– Vejo os fatos, analise tudo o que você mesmo me disse, caro amigo. Ela, a pessoa mais convicta dos dois desse casamento agora parece ter dúvidas sobre ele? Ora, Watson, por que motivos você teria duvidas sobre seu casamento se não tivesse um outro alguém?

– Isso é um absurdo, Holmes. Mary jamais seria capaz de me trair.

– Não disse que ela te traiu, disse que gosta de outro. Você pode muito bem gostar de outra pessoa sem se envolver com ela, sem trair a pessoa com quem você está.

– Ainda sim é loucura, Holmes.

– Ora, não seja tolo, Watson. Se não é isso, o que seria? Ela estar desconfiada de você? Difícil, mesmo você sendo um galanteador, coisa que ela sempre soube, você é fiel, Watson. Você foi anos fiel a mim, por que não seria fiel a ela? E olha, estamos falando de relacionamentos totalmente opostos.

– Eu não posso acreditar, isso é loucura.

– Se você não quer acreditar nisso, Watson, eu te respeito. Mas lembre-se que na maioria das vezes eu sempre estou certo.

– Você e seu insuportável ego, Holmes.

– Não é questão de ego, Watson, estou falando apenas a verdade. Poderia muito bem te falar para ir ver com os próprios olhos, mas eu vejo sua descrença em mim. Então, continue se enganando, talvez ela te conte, se tem tamanha decência como você defende. Caso contrário, eu nada poderei fazer, pois minha ajuda eu já lhe dei.

Watson estava incrédulo com as palavras de Holmes. As palavras carregadas de cinismo quase enlouqueceram o loiro. Com que direito ele falava assim com ele? Parecia que o cretino achava graça de tudo aquilo. Tinha um sorriso um tanto prepotente nos lábios o que fez o sangue de Watson ferver. Não podendo mais se controlar, levantou-se, andou os passos que faltava para ficar cara a cara com o moreno e lhe desferiu um potente soco no lado direito do rosto. Holmes ficou com o rosto virado por um tempo e cuspiu o sangue que se acumulou no canto de sua boca. Watson começou a se arrepender quando viu que o amigo não lhe olhava.

Mas logo seu arrependimento sumiu, quando Holmes voltou a encará-lo, sorrindo sarcástico, debochado. Do jeito que sempre sorria quando tinha a reação negativa que ele desejava causar em alguém. Watson viu que não poderia ficar nem mais um segundo ali, deu as costas para Holmes e saiu batendo a porta.

(…)

Lestrade finalmente trouxe um caso que fosse digno de atenção. Assassinato em série, era disso que ele precisava. Por causa disso Holmes ficou inteiramente absorto no caso por quase duas semanas. Era um caso complicado, 5 mortes sequentes, corpos sem ligação, um assassino totalmente discreto e astuto. Isso sim era excitante para Holmes.

Encontrava-se em seus aposentos, sentando em sua confortável poltrona meditando sobre o caso. Começou a organizar todas as evidências em sua mente, em ordem cronológica. Faltava pouco para que ele colocasse as mãos no assassino, precisava apenas confirmar uma coisa, uma única coisa, e finalmente poderia dar aquele caso como encerrado, entregar o culpado nas mãos da Scotland Yard e depois ser bajulado por todos eles. Encontrava-se concentrado e então não percebeu quando alguém adentrou seus aposentos. Percebeu apenas quando o piso de madeira rangeu com a aproximação. Abriu os olhos lentamente. Era apenas a senhora Hudson.

Voltou a fechar os olhos mas percebeu que a presença da mulher não havia sumido. Ora, o que ela queria? Lhe oportuna? Péssima hora. Caso fosse sua intenção ele não mediria palavras para mandar a mulher para o quinto dos infernos. Voltou a encará-la. Ela parecia… preocupada. Isso chamou a atenção de Holmes. Vendo que a mulher não começaria a falar. Ele inciou a conversa.

– O que deseja minha detestável babá?

– Não comece com gracinhas.

– Você vai dizer logo o que quer? Eu estava meio ocupado se não percebeu.

– Percebi.

– E então?

– Eu estou preocupada com o Dr. Watson.

– Ora, é apenas isso? Não se preocupe, Watson já é bem grandinho, sabe muito bem se cuidar. Está a se preocupar atoa.

– Não, Holmes, eu realmente estou preocupada. Faz alguns dias que ele não aparece em seu escritório. Nem em casa o encontraram. Nem mesmo sua esposa. Ouvi dizer que eles estavam passando por uma crise no casamento, mas sabe como é essa gente. Mas receio que realmente tenha acontecido alguma coisa.

– Ele está sumido a exatamente quanto tempo?

– 3 dias! Olha, Holmes, eu sei muito que não nos damos muito bem, mas nós temos nossos motivos e eles não tem nada a ver com Watson. Peço-lhe que vá atrás dele, não por mim, mas pelo bem-estar dele, pela amizade de vocês. Você é o único que o conhece inteiramente, apenas você vai saber ajudá-lo caso precise.

Holmes olhou curioso para mulher em sua frente. Ela realmente estava preocupada, e mesmo não se dando muito bem com ela, sabia que tinha que levar a sério. Começou a ponderar as coisas que a mulher havia lhe dito e as suas próprias informações. Duas semanas era o tempo exato que não via Watson. Sabia que o amigo provavelmente estaria furioso com sua pessoa e não queria vê-lo por um bom tempo. Tinha também o motivo da última visita do doutor, sua mulher Mary. Talvez tenha acontecido alguma coisa. Watson havia descoberto? Havia Mary contado que gostava de outro? Não sabia dizer, mas eram essas as opções que ele tinha. Olhou compreensivo para senhora Hudson que entendeu que ele iria atrás de notícias de Watson. Logo em seguida ela deixou a quarto.

(...)

No dia seguinte, assim que deu as devidas informações para o pessoal de Lestrade para confirmarem uma pista que tinha sobre o assassino, ele partiu procura de Watson. Primeiro optou por verificar a casa do mesmo. Percebeu que estava vazia e que fazia alguns dias que ninguém passava ali. Então Watson não havia voltado desde que saiu. Em seguida resolveu verificar alguns bares que sabia que o loiro geralmente frequentava. Quando chegou no quinto bar, aquele era o único que haviam visto Watson, porém disseram que ele havia deixado o bar ainda de madrugada e desde então não sabiam dele. Nisso, Holmes ficou sem opções. Não sabia de amigos que Watson poderia ter. Quando viviam juntos, Watson mantinha apenas alguns colegas, mas nada que fosse tão íntimo a ponto de frequentarem a casa um dos outros.

Pensou então retornar para casa e voltar a procurar no dia seguinte. Sua procura pelos bares havia tomado um pouco do seu tempo, pois os bares não eram muito próximos um dos outros. Voltou então para o número 221B da Baker Street. Assim que subiu as escadas para seus aposentos, notou que a porta estava um pouco aberta. Ele sempre deixava a porta de seu quarto fechada. Ele andou cautelosamente e adentrou no quarto. O quarto estava mal iluminado por causa das cortinas fechadas, mas, ainda sim, ele conseguiu ver que havia alguém no quarto. Era Watson. Holmes chegou perto de uma das cortinas e abriu-a um pouco para ter melhor visão do amigo. Ele estava um total caos. Um bonito caos. As roupas amarrotadas e uma tanto desalinhadas, os cabelos desarrumados, cheirava a bebida e tabaco, o que não era de todo mal. Mas ainda sim mantinha seu cheiro característico. Um aroma amadeirado, um pouco doce, misturado a sua colônia masculina. Holmes ficou observando o amigo sem notar que também era observado. Com a pouca luz no quarto, o moreno acabou não percebendo que o amigo estava lhe olhando. Ele ficou um pouco surpreso quando finalmente notou.

– Watson…

Watson continuou olhando Holmes. Mesmo com a visão meio turva devido a bebida, ainda sim continuou olhando o amigo. Os olhos fixos neles, captando todos seus movimentos, observando-o como o próprio Holmes costumava fazer com ele. Mas Holmes não notou isso. O que ele notou foi… o desprezo que havia naquele olhar. Já tinha visto Watson olhar-lhe com raiva, ódio, frustração, deboche, decepção – o que fez Holmes arrepender-se do que havia feito – mas nunca com desprezo. Aquilo o assustou. O que ele havia feito para o amigo para que ele lhe olhasse daquela forma? Ele não conseguia imaginar. Mesmo que Watson tenha saído dali fulo da vida com o outro em sua última visita, ainda sim, não imaginava ser motivo para que ele lhe olhasse assim.

Holmes deu alguns passos e parou de frente para Watson, que se entrava sentando em sua antiga poltrona. Holmes nunca teve coragem de desfazer-se dela. Ambos olharam-se, profundamente, como que se estivessem analisando um ao outro. A tensão foi crescendo, mas nenhum desviou o olhar. Pareciam hipnotizados pelo olhar um do outro. Watson então sorriu, sarcástico e ergueu o braço no qual segurava uma garrafa de uísque.

– Maldito seja Sherlock Holmes!

Holmes pareceu confuso. Não sabia porque Watson havia dito aquilo, porque sorria tão debochadamente, porque o olhava com tanto desprezo. Aquilo aos poucos foi ferindo Holmes, mesmo que ele jamais fosse admitir. Mesmo assim, não deixou de olhar Watson, ainda confuso, mas determinado em sustentar o olhar do outro. Watson então sorriu ainda mais quando percebeu a expressão confusa do amigo.

– Você não tem noção do porque eu estou aqui e porque disse isto, Holmes?

– Não, Watson!

– Oh, então eu vou esclarecer. Como sempre, o incrível Sherlock Holmes estava certo.

– Sobre o que?

– Sobre suas suspeitas, querido amigo. Mary realmente gosta de outro. Me contou a alguns dias, assim resolveu sair de casa. Disse que não me ama mais. Dá pra acreditar? Mais uma vez suas suspeitas confirmaram-se. Meus parabéns.

– Eu sinto muito.

– Sente? Sente uma ova. Você não sente nada, por ninguém, você é apenas um bastardo que gosta de se vangloriar em cima dos outros.

Holmes parecia ofendido e magoado, mas Watson não se prestou o serviço de tentar notar isso. Holmes poderia até concordar que era um bastardo e que por vezes vangloriava-se em cima dos outros, mas era de uma grande ironia ele, John Watson, falar sobre seus sentimentos. Ele que viveu anos ao lado de Holmes, que sabia que ele não era todo feito de razão, que sabia que ele sentia, e que a única pessoa que o moreno não se privava de seus sentimentos era por ele, John Watson, mesmo que nunca tenha admitido isso. Holmes até tentou culpar a bebida pelas palavras que o loiro havia dito, mas sabia, por experiência própria, que muitas vezes palavras de bêbados são mais verdadeiras do que de alguém sóbrio.

Holmes deu as costas para o amigo, deu um longo suspiro e passo a contemplar a janela. Passava das oito horas da noite, o movimentos da rua eram poucos e o céu indicava que logo mais choveria. Ele então ouviu um pequeno barulho, virou-se para ver que Watson havia se levantando e agora andava em sua direção. Ele não moveu-se um centímetro se quer. Watson parou no meio do caminho e colocou-se a falar.

– Sabe o que ela me disse também, Holmes?

Holmes negou rapidamente com a cabeça.

– Ela me disse que eu nunca a amei. Que notou isso assim que ficamos noivos, que eu gostava dela mas não a amava. Mas que ela tentou reverter isso quando casamos, mas que não conseguiu. E ela disse que sabia muito bem o motivo de eu não amá-la. Sabe qual o motivo, Holmes?

Holmes limpou a garganta desconfortável com o rumo que o assunto estava tomando. Mas novamente ele negou.

– Ela me disse que eu não a amava porque eu sempre amei você!

Holmes ficou então estático. Ela não podia ter dito aquilo, podia? Mas será que isso podia ser verdade? Será que Watson poderia sentir isso por ele? Sentir o mesmo que ele sentia pelo doutor? Holmes ficou tão focado em tentar responder a essas perguntas em sua mente que não percebeu quando o amigo voltou a se aproximar. Watson ficou a poucos passos do moreno.

– Sabe Holmes, no começo eu achei isso loucura. Ora, eu sou homem, você também, não poderia me apaixonar por outro homem. Mas depois de alguns copos de uísque, rum, conhaque, coloquei-me a pensar. Pensei durante horas e sabe a que conclusão eu cheguei, Holmes?

Holmes já estava ficando apreensivo a cada vez que Watson terminava uma frase com seu nome. O tom profundo e debochado que Watson usava cada vez que dizia 'Holmes' fazia esse arrepiar-se por inteiro. Ainda não sabia dizer se era um bom sinal ou não esse arrepio. Holmes olhou no fundo dos olhos do loiro e sentiu-se perder na imensidão azul que era os olhos do outro. Watson aproveitou a distração do amigo para se aproximar mais um pouco.

– A conclusão na qual cheguei, meu caro Holmes, é que ela estava certa. Eu sempre amei você. Sempre amei o maldito Sherlock Holmes, e que Deus me perdoe por amar alguém tão bastardo e cheio de si. Sempre amei suas manias, suas excentricidades, sua arrogância, sua inteligência absurda, seu ego. Tudo. Você, maldito seja você, não bastou entrar na minha vida, teve que entrar, invadir meu coração, minha mente, meus pensamentos.

Watson então eliminou o espaço que tinha entre eles, colando seu corpo ao de Holmes, prensando-o contra a parede ao lado da janela e agarrando-o pelo colarinho da camisa. Segurou o colarinho com tanta força e raiva que pensou que até poderia substituir aquele pedaço de pano pelo pescoço de Holmes.

Holmes apenas conseguiu encarar o amigo, sem nada dizer, sem mover-se um centímetro sequer. Conseguiu enxergar a raiva pelos olhos de Watson e sabia muito bem que se tentasse algo Watson poderia usar aquelas mãos para enforca-lhe.

Como tinham chegado a tal ponto? Holmes quase destruído por dentro pelos sentimentos que sentia pelo amigo e Watson transtornado ao dar-se conta que sentia o mesmo pelo amigo. Depois de todos esses anos, vivendo juntos, conhecendo um ao outro de tal forma que ninguém jamais conseguiria, sendo leais, saber agora que a sinceridade não havia sido total por parte de nenhum dos dois? Isso era até um pouco engraçado se não beirasse ao trágico. Trágico porque trouxe muita dor a ambos, tolos que invés de serem sinceros como foram em várias outras situações um com outro e terem enfrentado tudo e qualquer obstáculo que aparecesse, decidiram negligenciar tudo o que sentiam e viver como se não fossem sofrer por isso, que do jeito que estava, naquela época, com os dois juntos, apenas eles contra o resto do mundo, simples bons amigos era suficiente.

Mas não era. Nunca foi.

– Por que, Holmes? Por que você não me deixa em paz? Porque me fez tão dependente de você, maldito? Por que, Holmes? ME RESPONDA BASTARDO!

Holmes engoliu seco e lançou um olhar triste para o amigo. Watson ao perceber o olhar triste do amigo, diminui a força com que segurava seu colarinho, abaixou a cabeça e suspirou cansado.

– Eu… eu apenas não queria viver assim, Watson. Nem que você vivesse assim.

– Vivesse como, Holmes? Pelo menos uma vez em toda sua vida seja claro sobre isso… sobre nós.

– Que tomasse esse rumo, caro amigo. Durante anos eu me convenci que eu era melhor sozinho. Até você chegar. Foi ai que eu soube que com você eu era melhor, muito melhor. Com você ao meu lado eu era milhões de vezes mais brilhante, porque você também era brilhante, do seu modo, algo que alguém sem muito interesse em observar não enxergaria e de certa forma isso me completava. Eu tornei você melhor, do mesmo jeito que você me tornou melhor, Watson.

Watson apenas escutou, não fez nenhuma objeção ou intromissão. Até porque ele não podia. Pela primeira vez Holmes estava sendo sincero sobre seus sentimentos, sendo sincero consigo mesmo, e Watson jamais se perdoaria caso, alguma intromissão sua fizesse Holmes desistir de falar.

Com o silêncio de Watson, Holmes continuou.

– Eu sabia que seria difícil para mim voltar a ser sozinho, não ter alguém constante que me achasse a pessoa mais estranhamente interessante. Você mesmo me disse uma vez que achava isso de mim. Assim como eu sabia que seria difícil para você viver uma vida comum e monótoa depois de tudo isso. Por isso eu tentei fazer com que você desistisse, ver que não era isso que você queria, não mais, não depois de me ter na sua vida. Mas isso não ocorreu da forma que eu pensava. Agora estamos aqui, ambos emocionalmente feridos. E a culpa, Watson, é nossa.

Watson, com os olhos marejados, largou o colarinho de Holmes e afastou-se. Mais uma vez ele estava certo. Watson ainda não entendia como ele poderia saber tão bem das coisas. Não sabia mais o que fazer. Sabia que da mesma forma que Holmes o havia causado dor, ele havia causado dor ao moreno. E sabia que essa dor poderia marcar ambos ainda mais. Mas isso agora só dependia deles. Watson virou-se para olhar Holmes, que encarava o teto. Assim que ele percebeu o olhar de Watson sobre si, encarou o amigo de volta. Aqueles olhares… eles diziam tantas coisas, coisas que talvez eles jamais conseguiram colocar em palavras, talvez por medo, talvez por falta de coragem. Watson começou a se aproximar lentamente do outro, com passos meio hesitante, o coração descompassado. Holmes apenas esperou, olhando o loiro se aproximar. A batalha que Watson travava internamente entre o orgulho e o que era certo era fascinante na opinião de Holmes.

Mais alguns passos, Watson estava a centímetros de Holmes. Agora um de frente para o outro, dava para perceber a diferença, agora ainda mais nítida de tamanho entre os dois. Watson era bons centímetros mais alto que o outro, e sua postura, sempre ereta, dava a impressão que era ainda maior. Dessa forma também podiam perceber o quanto ambos tinham olhares e feições bonitas. Holmes, apesar de desleixado, mantinha uma bonita aparência. A barba por fazer parecia dar um charme que pouco conseguiriam caso se descuidassem dessa forma. Os vividos olhos cor de âmbar chamava a atenção de qualquer um, ainda mais quando tinha luz, o que fazia os olhos do moreno ficarem com uma cor ainda mais bonita.

Já Watson era oposto. Era vaidoso, importava-se em parecer bem. Notava-se pelo bigode sempre bem-feito e aparado, a pele bonita e perfumada. Tinha também boca pequena, delicada. E os olhos. Ah os olhos de Watson, semelhantes a pequenos topázios, azuis, brilhantes, fascinantes. Aqueles olhos até pareciam ser os espelhos da alma de Watson, límpidos e puros em alguns momentos, nebuloso e perigosos em outros.

Tão diferentes um do outro, mas tão iguais ao mesmo tempo.

Holmes encarou o loiro, pegou um das mãos que pendiam sobre seu corpo e fez leves carícias sobre ela. Watson fechou os olhos, levou a mão livre até o rosto do moreno e a deixou ali, num toque terno.

– O que foi que fizemos um ao outro, Holmes? Mais uma vez nós estragamos tudo.

– Acredito que não tenhamos estragado tudo, meu caro.

– Não? Você acha que nós poder concertar isso? Começar de novo?

– Acredito que sim, meu caro. Quantas vezes nós tivemos que começar do zero e deu certo? Inúmeras vezes. Uma vez alguém sábio me disse que tudo tem concerto, até mesmo corações.

Watson deixou-se rir por um instante pelas palavras ditas pelo amigo. Havia dito aquelas palavras alguns dias depois que souberam da súbita morte de Irene Adler e quando percebeu que Holmes parecia visivelmente abalado com a notícia mesmo que já desconfiasse desse destino quando soube o que Moriarty, homem para quem a mulher trabalhava, era capaz. Como o moreno disse, sabias palavras, mas agora ele sabia que as tinha proferido no momento errado.

Era engraçado para Watson ver Holmes falar aquilo. Ele que se denominava alguém racional, demasiadamente desprendido de sentimentos, aquele que muitos acusava não ter um coração. Aquilo era de extrema graça e ironia para Watson.

– Pois é, meu caro Watson. Eu não sou um homem sem sentimentos, sem coração como muito acham.

– Eu nunca duvidei disso, meu caro.

– Mas por algumas vezes você considerou que isso era verdade. Agora você tem a maior prova de que isso não passa de uma mentira. Eu tenho sentimentos, meu caro, e são inteiramente destinados a você.

Watson sorriu, como não se lembrava fazer a tempos. Nem em seu melhor sonho poderia imaginar isso. Ele e Holmes, juntos. Sentia-se feliz como a muito tempo não se sentia. Agora perguntava a si mesmo como pode ser tão cego? Como pode imaginar que seria feliz ao lado de Mary quando sempre lhe foi claro que sua felicidade seria ao lado de Holmes? Havia sido um grande tolo, assim como Holmes, por ter deixada as coisas terem chegado aquele ponto. Quase pois tudo a perder. Mas agora nada mais importava. O que apenas importava que Watson estava ali, ao seu lado, e dessa vez ele não iria a lugar algum. Eles não iriam a lugar algum. O lugar deles era ali, um com o outro. E finalmente eles haviam entendido isso.

Holmes sorriu e eliminou o resto de espaço que tinha entre os dois. Ouviu o loiro soltar uma leve risada antes de beija-lo. Oh, beijar Watson era como ir ao céu em poucos minutos e voltar. Sua boca tinha um gosto doce, desconhecido mas viciante. Naquele exato momento Holmes havia se tornado ainda mais dependente de John Watson. E o loiro seria um vício insaciável ao moreno. E para Watson poderia se dizer o mesmo. Assim que seus lábios tocaram os do moreno sabia que estava finalmente perdido, como nunca esteve. Incessante seria sua vontade de Sherlock Holmes dali para frente. E eles não perderiam mais tempo.

Quase que inconscientemente, foram livrando-se de todas as roupas, sem muita pressa, aproveitando cada toque, cada sensação, igualmente nova para ambos. Beijaram-se mais inúmeras vezes, tocaram-se das formas mais íntimas e prazerosas que poderiam imaginar. Estavam incrivelmente perdido um no outro, um no prazer do outro. Tudo foi feito sem a mínima pressa, desde a roupa, até os toques. Holmes sentia-se afoito pelo prazer, e apenas gemia em deleite. Watson parecia em transe, demasiadamente hipnotizados pelos gemidos, suspiros, expressões de Holmes. Achou o moreno ainda mais belo corado por causa do prazer que sentia. Assim que tudo foi se intensificando, os gemidos, os movimentos, os toques, os minutos para o ápice do prazer de ambos começou a ser contado. Holmes sentiu-se formigar, arder, sentia espasmos espalharem por todo seu corpo e então ele teve seu ápice, mordendo o lábio inferior para que não gemesse tão alto, mas não evitando de gemer mesmo assim. Logo depois foi a vez de Watson, com um gemido rouco. Sussurrou o nome do moreno antes de relaxar todo o corpo. Holmes ficou na mesma posição, deitado no chão, com as pernas jogadas de cada lado do corpo do loiro. Sentia ele ofegar forte, tentando a todo custo normalizar a respiração.

Watson assim que percebeu que estava a muito tempo em cima do moreno, pensou em levantar e deitar-se ao seu lado, mas Holmes o impediu, aconchegando ainda mais seu corpo em cima dele. Holmes passou um braço pela cintura nua de Watson e levou a outra mão até os cabelos loiros dele, fazendo leves carícias. Watson começou então ser nocauteado pelo cansaço e aos poucos foi pegando no sono, mas parecia não querer dormir. Holmes ao perceber falou no ouvido do outro.

– Pode dormir, meu querido. Não se preocupe, quando acordar eu ainda estarei aqui. Não pretendo ir a lugar algum. Tudo o que preciso está aqui.

Watson então sorriu e deixou ser vencido pelo cansaço. Holmes também não aguentou muito e logo em seguida pegou no sono.

Eles poderiam ficar tranquilos. Eles não iriam a lugar algum. Porque o lugar deles era ali, um ao lado do outro. Essa era a maior certeza que levariam dali em diante.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Eu particularmente adorei escrever essa fanfic, mesmo que eu tenha demorado um tempo para finalizá-la. Enfim, não deixem de comentar. Beijos e até a próxima.



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