Um Conto dos Lobos — Peeira escrita por Viktoras


Capítulo 1
Ascensão


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem ^^



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Num dia escuro, numa noite tenebrosa em que as corujas nem queriam sair de seus tocos das árvores, uma sétima filha de um casal perdeu-se e morreu ao buscar morangos silvestres na floresta. De longe escutaram seu grito desesperado, pedindo ajuda, mas ninguém a ajudou.

Coitada, tinha se deparado com uma grande matilha de lobos.

Ela gritou em puro desespero. Pensou que teria chance de viver já que caçadores lotavam a floresta em busca de peles e carne durante os meses finais do inverno. Gritou, berrou e morreu esgotada de sangue pela garganta rasgada por dentes afiados e caninos. Acharam seu corpo despedaçado sob a toca de lobos, nem ao menos trouxeram seu corpo para enterrá-lo no vilarejo. Diziam os mais sábios que eram para queimar os restos mortais.

Naquele dia em que os homens negaram um enterro digno a ela seu espírito quis ficar, olhando-os de algum plano etéreo ela jurou vingança. Mas já havia algo reservado para sua alma a partir do momento em que foi morta pelos lobos. Dias depois em que seus ossos foram limpos pelos vermes a noite escureceu rápido e sobre um toco de uma macieira cortada uma coruja pousou chamando os lobos com seu grito lamentoso, chamando também os vaga-lumes que saíram das árvores, e os grilos e as cigarras entoaram seus cantos. Os insetos da terra reuniram-se para fora da grama e das folhas, naquele cheiro de carne morta. As doninhas, martas e coelhos vieram também esperando a ascensão. Os lobos que haviam ingerido sua carne acordaram pelo pio da coruja e chegaram atraídos pelo cheiro de sangue parando na escuridão, indagando pelo nada na penumbra que tentava abraçar seus olhos. Dos ossos o pó subiu, as folhas rodearam a podridão criando novamente o sangue, veias e a carne da jovem, trazendo de volta sua vida... Seus poros abriram-se e o suor a banhou lavando os murmúrios sobre sua pele, o choro de sua família e a negligencia dos homens que a deixaram morrer. Sentia-se forte, parte da floresta e respirava seus odores, o sangue sob a pele e pêlos, mas sua essência havia mudado, não era uma mulher e sim líder daqueles que a mataram. Sobre sua pele as folhas escorreram por uma brisa tampando sua virilha e lambendo seus seios com frescor, fazendo-se de sua verdadeira roupa. Seus cabelos encheram-se de musgo e cresceram até os tornozelos tão negros quanto azeviche e os olhos tomaram a cor ambarina do medo e da dor. Os lobos eram sua matilha agora. Podia controlar as feras com finas linhas que saíam de seus dedos, podia-lhes tocar o coração forte, e protetor e acalmar a besta dali de dentro. Era a líder deles agora, mais forte e renovada.

No frio da noite percorreu toda a floresta negra alimentando-se dos ossos secos que encontrava no chão, das carcaças dos corvos e dos pequenos animais. Vir-se-ia a tornar uma grande protetora, mas também algoz dos meliantes e caçadores. Em poucos dias os dominou, ganhou a confiança das feras e os fez seus irmãos e irmãs transformando-os em assassinos sangrentos.

Ela teria sua afronta.

Os caçadores... Eles arruinavam a vida presente naquele puro solo emanando vida, não tinham escrúpulos e a criatura que se tornou também não tinha. A lua cheia ergueu-se no fim daquele mês, plena, e ela os fez uivar, todos em um mesmo uníssono macabro repetindo notas de sangue. Adotou um nome para aquilo que se tornou: Peeira. Seu nome seria Peeira, a primeira de seu nome, precursora da retaliação e do sangue derramado. E dali em diante faria seus novos filhos serem sedentos pelo líquido vital dos homens.


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Notas finais do capítulo

E aí?Deixem suas opiniões, o que esperam dos próximos capítulos, o que vai acontecer realmente com a moça, o nome dela hahaha essas coisas.Bem, até o próximo :D