As verdades do amor escrita por vitorox


Capítulo 1
Capítulo 1 - Impacto




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Eram as primeiras horas de uma manhã de inverno. Isabela ainda dormia tranquila sem saber dos impactos que estavam por vir. Bem de vida, determinada, estudiosa e com um inigualável instinto de liderança, ela sempre foi uma menina cheia de personalidade. Entretanto, sua humildade era falha e às vezes inexistente.

Seus olhos abriam lentamente ao barulho irritante de um despertador que naquele dia despertara às oito e meia da manhã. Ainda deitada na cama, a garota se cobriu completamente e tentou voltar a dormir, afinal ela estava de férias, mas não foi possível.

– Isabela, eu sei que você está acordada – disse Marina, a empregada da mansão, enquanto arrumava umas malas – e é importante que você esteja bem disposta. Bom dia, meu anjo!

– Só se for pra você porque eu já comecei mal. O que você está fazendo? – perguntou Isabela em seu frequente tom grosseiro.

– Eu estou arrumando suas malas.

– Isso eu estou vendo, eu quero saber o porquê.

– Bom, eu acho que isso é melhor sua mãe lhe explicar.

Marina é a funcionária mais antiga da mansão e também a mais confiável e eficiente. Trata a garota como filha, enquanto a própria mãe de Isabela, Regina, não faz o mesmo. Foi Marina que realizou desde a troca de fraldas e os banhos até o acompanhamento na escola.

Isabela, sem entender o mistério feito pela babá – ela ainda a chama assim mesmo tendo quinze anos –, apenas levantou da cama e, vestindo um pijama rosa com rendas brancas, desceu a escada que separava os dois andares da imensa casa. No primeiro andar, a sala de jantar, a sala de estar, a cozinha, dois banheiros, um escritório e, aos fundos, uma lavanderia, enquanto no segundo andar, todos os dormitórios. Ao ver a mãe, uma mulher ruiva com um olhar ora esquisito ora hipnotizador, Isabela percebeu felicidade e estranhou.

– O que aconteceu pra estar com um sorriso besta na cara às oito e quarenta da manhã e um frio desses lá fora? – perguntou Isabela.

– Bom, em primeiro lugar: bom dia, filhinha! – disse Regina, irônica – Se está com frio, temos lareira pra isso. E o meu sorriso é porque recebi uma proposta para cursar meu mestrado na Europa – disse Regina alargando ainda mais o sorriso.

Regina acabara de concluir a graduação em Direito e por ser uma aluna destaque, recebera tal oportunidade.

– Europa? – o mau humor de Isabela desapareceu naquele instante – Nós vamos para a Europa? Ai, meu Deus, que máximo! Paris, Lisboa, Londres, Roma. Que notícia maravilhosa! É por isso que a Marina estava arrumando as malas, então... eu preciso ligar para as meninas!

– Eu vou. Você não. – disse Regina com um leve sorriso.

O sorriso estampado no rosto da jovem sumiu. Talvez nem fosse pelo que a mãe havia falado, mas sim pela maneira a qual ela havia feito isso. Isabela, apesar de determinada, sentia a ausência do amor da mãe e toda vez que era tratada de tal forma, tentava, de todos os jeitos, não demonstrar sentimento de derrota, mas dessa vez foi inevitável. Isabela se mostrou tão fraca e humilhada pelo sarcasmo da própria mãe que não conseguiu evitar o choro. Tentou subir a escada correndo para o seu quarto, mas ainda no segundo degrau, Regina a puxou pelo braço e disse:

– Escuta aqui, sua mimada, engole esse choro agora!

– Me solta! – pediu Isabela, quase ordenando.

– Eu ainda não terminei. Senta no sofá!

Isabela encarou a mãe e por um momento passou por sua cabeça desobedece-la, mas seu medo a fez querer evitar consequências e ela foi, em curtos passos, até o sofá.

– Vou mandar você para outro lugar. Essa mansão é grande demais para uma adolescente. – disse Regina percebendo o abalo da filha.

– O quê? Mas... – Isabela foi interrompida.

– Sem essa de “mas”. Você simplesmente vai sair daqui.

– Você não pode fazer isso! – revoltou-se a garota.

– Que ótimo. Já fiz. – disse a mãe da menina sem sentir remorso.

Isabela, sem medo, virou as costas para a mãe e subiu as escadas. Chegou em seu quarto e parte da raiva que sentia fora descontada na forte batida ao fechar a porta. Marina, assustada, perguntou o que havia acontecido enquanto Isabela deitava em sua cama e enfiava a cara no travesseiro para chorar. Isabela, irritada, pediu para que deixasse ela sozinha naquele momento e Marina saiu do quarto. Assim que a porta fechou, a garota levantou-se da cama ainda em prantos e abriu a primeira gaveta da escrivaninha. Tirou de lá um retrato de seu falecido pai, Orlando, e colocou no peito.

– Pai, como eu queria que você estivesse aqui. – disse aflita.

O pai da menina falecera há alguns anos em um acidente de trânsito, mas ela sempre deixou claro seu imenso amor e saudade. Talvez esse amor de seu pai, junto ao de Marinha tenham sido os únicos verdadeiros que ela já havia recebido e sentido. A foto era o contato mais próximo que ela tinha com o pai depois do acidente e toda vez que via, chorava a ausência.

Marina aproveitou que não estava mais arrumando as malas para fazer outros serviços. Foi para a cozinha e começou a preparar o café da manhã. Regina a viu e indignou-se.

– O que você está fazendo aqui?

– Dona Regina, o meu anjo pediu um tempo para ela. Então a respeitei, mas vou preparar o café da manhã. – respondeu.

– Eu não quero que você faça o café, tenho outros funcionários para isso! Eu quero você arrumando as malas. Quero a Isabela longe dessa mansão o quanto antes. Você entendeu? – disse a patroa com berros secos.

– Desculpe-me a falta de respeito, dona Regina, mas você é uma víbora! Você não merece ser chamada de mãe. – retrucou Marina com uma coragem desconhecida.

– Como é que é? – irritou-se Regina – Víbora? Marina, você perdeu a noção do perigo?

Regina pegou uma mecha do cabelo da empregada e ameaçou de demissão, mas foi interrompida pelo telefone.

– Você está no seu dia de sorte. – disse a patroa, soltando o cabelo de Marina para atender o telefone.

– Alô?! – atendeu Regina, curta e grossa.

– Tudo certo para a mudança da garota? – perguntou a pessoa do outro lado da linha.

– Sim, está tudo ocorrendo bem.

– Ela não questionou?

– Não, e nem vai!

Isabela saiu do quarto e observou a mãe do alto da escada. Ela não sabia exatamente do que se tratava o telefonema, mas sabia que tinha algo a ver com ela, então queria captar todo tipo de informação possível, mas só conseguiu uma fala antes que a mãe desligasse o telefone.

– Claro que não! Eu nunca levaria ela comigo – continuou Regina –, ela vai morar com você querendo ou não!


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Notas finais do capítulo

Pois é, não consegui tirar a crueldade da Regina e a personalidade forte da Isabela, mas no decorrer da história, tudo pode acontecer. Mas, e aí, gostaram?Comentem aqui embaixo o que mais agradou e o que menos agradou. Ou falem pelo twitter mesmo (@smiletaques). Abraços!