Achados e Perdidos escrita por Winston


Capítulo 1
Capítulo Único




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Heidi soltou um longo suspiro e largou a caneta que tinha em mãos sobre a mesa, girando o pulso esquerdo para tentar relaxá-lo depois de praticamente duas horas sentada naquela sala de aula, copiando e resolvendo problemas que pareciam não acabar mais e muito menos ficarem mais fáceis. Tinha vontade de bater a testa na mesa repetidamente só de pensar que ainda tinha que esperar pelo menos mais quatro horas para sua próxima aula, culpa da desorganização da universidade com horários e também por não ter pegado todas as matérias de seu ano de uma vez.

Sabia que se o fizesse acabaria morrendo antes mesmo das primeiras provas começarem.

Jogou todos os seus materiais dentro da mochila de uma vez ao ver que a maioria das pessoas começava a se levantar, dando-se apenas ao trabalho de colocar as canetas dentro do estojo antes de deixá-la cair no meio de seus pesados livros, que só a faziam pensar no que tinha para estudar naquele fim de semana e o que já estudaria na biblioteca naquelas horas livres. Passou as alças da mochila pelos ombros e saiu da sala esfregando os olhos por debaixo de seus óculos, ignorando o peso que tinha nas costas e agradecendo pela biblioteca não ser muito longe.

Alguns minutos e um xingamento direcionado ao vento das montanhas, que destroçava o pouco controle que tinha de seus curtos cabelos pretos, mais tarde, e já estava devidamente sentada em uma das mesas da biblioteca com seu material devidamente preparado para começar a estudar. Abriu um dos livros na página que havia marcado já não sabia há quantos dias, pegando a caneta que havia largado há menos de vinte minutos enquanto abria o caderno em uma folha em branco.

Havia tomado fôlego para começar uma leva de problemas de circuitos quando alguém se sentou à mesa em que estava.

Não conhecia muita gente de seu ano, ou sequer da faculdade. Tanto porque era difícil que alguém tivesse as mesmas aulas nos mesmos horários, quanto porque ela não tinha muito tempo de sair socializando. Passava a maior parte de seu tempo livre estudando e se enfurnando em livros, se alguém dirigia a palavra a Heidi era porque era bastante otimista ou estava muito entediado. Então não era de se estranhar que a jovem levara um susto ao notar com sua visão periférica que alguém se jogava sem cerimônia na cadeira a sua frente.

Tudo bem, não era anormal que os estudantes dividissem mesas quando não havia nenhuma vazia sobrando. O problema ali era que havia muitas mesas sobrando, não apenas uma ou duas, mas uma fileira inteira de mesas vazias e chamativas perto das janelas enormes de vidro da biblioteca. Tirando o fato que mal havia espaço para duas pessoas com todos aqueles livros de Heidi já espalhados por todos os lados.

Heidi parou com a caneta no ar, levantando o rosto o suficiente para encarar a pessoa desconhecida, apenas para dar de cara com um cara que a lembrava o Tarzan com aqueles cabelos e que já tirava os próprios materiais da mochila e jogava na mesa como se fosse o dono do lugar. Ele pareceu notar que estava sendo vigiado porque, ao colocar um livro sobre um caderno fechado, levantou os olhos e deu de cara com Heidi com as sobrancelhas levantadas numa pergunta que devia ser mais do que óbvia.

Por que diabos você sentou aqui?

— Ah! — começou ele, abrindo um sorriso vergonhoso ao tirar um de seus longos fios castanhos do rosto e coçar a cabeça. — Nas outras mesas faz sol nesse horário — respondeu em voz baixa à pergunta silenciosa.

As sobrancelhas de Heidi se uniram com aquela afirmação, virando a cabeça e o corpo um pouco para trás para olhar as mesas vazias e observar que sim, naquele horário o sol quente batia com tudo naquela parte da biblioteca. Respirou fundo e voltou a se endireitar na cadeira, ainda se perguntando por que ele tinha que ir sentar numa das mesas que quase não tinha espaço, nesse caso a dela. Mas tinha muitos problemas para resolver e pouco tempo pra eles. E nenhum tinha Tarzan escrito no meio.

Deu de ombros para ele no fim das contas, assentindo levemente com a cabeça e voltando sua atenção aos seus livros e problemas enquanto ele fazia o mesmo, abrindo seu grande livro para começar a ler.

Heidi leu o primeiro enunciado e começou a resolver o longo problema de circuitos, quase soltando um resmungo ao ver que ele se dividia em diversas partes. Mas não iria se dar por vencida. Desenhou o primeiro circuito e começou a jogar fórmulas e números uns atrás dos outros, tomando cuidado para não acrescentar um zero a mais onde não deveria, coisa que já acontecera antes e a deixara louca procurando onde havia errado no problema por horas.

— Ei — chamou o desconhecido, sussurrando.

Estava concentrada na fórmula que tinha em mãos quando o ouviu, e como por instinto levantou a mão livre espalmada na direção dele, um pedido claro para que esperasse que terminasse pelo menos aquela linha da equação para continuar a falar. O garoto pareceu entender, porque ficou em silêncio, e quando Heidi finalmente abaixou a mão e levantou os olhos em sua direção, ele a encarava paciente.

— Que foi? — também sussurrava, um pouco indignada por ter sido interrompida.

— Pode me emprestar sua calculadora? Coisa rápida, é que me esqueci de trazer a minha hoje. —Sorriu aquele mesmo sorriso envergonhado de antes.

— Claro. — Deslizou a calculadora para frente, na direção dele.

— Valeu.

Não viu mais do que ele fazia, voltando a grudar os olhos no papel que tinha sobre a mesa, semicerrando os olhos para voltar o foco ao que estava fazendo antes de continuar a equação como se não tivesse sido interrompida.

A calculadora voltou ao seu lado sem que se desse conta e muito antes de que a necessitasse outra vez, tão focada no próprio trabalho que só percebeu que o garoto tinha desaparecido quando finalmente acabou o exercício, que pelas suas contas tinha demorado mais ou menos uma hora pra terminar. Provavelmente mais.

Tirou os óculos e passou as mãos pelo rosto, já cansada e não tinha completado quase nada ainda. Mas ainda tinha mais algumas horas para pelo menos fazer mais um, por isso se forçou a pegar a caneta outra vez e continuar.

Deixou a testa bater contra a mesa ao finalmente terminar, com a mente e a mão cansadas, grunhindo um pouco antes de conseguir ter força de vontade o suficiente para começar a guardar seus materiais e sair dali. Fechou os livros e os guardou na mochila, juntando as canetas e, quando foi para fechar a calculadora, viu um papel dobrado caindo de dentro dela.

Franziu o cenho, não se lembrava de ter colado nada por sua calculadora científica antes, mas esticou o braço mesmo assim para pegar o pequeno pedaço de papel, abrindo-o com curiosidade.

“Lanchonete da faculdade de ciências, quinta 12:00, me devolva meu livro.”

Era o que dizia o pedacinho de papel, e ainda contava com uma carinha feliz com a língua pra fora e piscando. Heidi não sabia se ficava confusa com a mensagem ou com aquele desenho ridículo.

— Não me lembro de ter pegado livro emprestado de ninguém — resmungou confusa, pelo menos até olhar para a mesa outra vez e ver que sem suas coisas ali espalhadas, o único objeto que restava era um livro que não lhe pertencia.

Era um livro sobre filosofia, constatou ao pegá-lo e ler a sinopse, cheio de nomes de filósofos que só se lembrava vagamente de ter usado em alguma prova no ensino médio pra passar de ano. Parecia importante, a capa estava um pouco gastada, o que comprovava que várias pessoas o haviam lido, ou que uma só pessoa não conseguia largá-lo. Sinceramente não entendia porque aquela pessoa desconhecida colocaria um bilhete em sua calculadora para devolvê-lo um livro que ele mesmo tinha deixado para trás, mas na quinta não tinha aula nenhuma ao meio dia e tinha que admitir que ficara curiosa do porque dele ter feito aquilo.

Então, decidida a devolver o livro em dois dias, saiu da biblioteca com ele em mãos e a mochila nas costas.

(...)

Os dias passaram tão rápido, com tudo que tinha pra estudar naquela semana, que quase havia ido direto para casa depois da última aula na quinta feira, e pela manhã quase havia deixado o livro, que supostamente deveria devolver, na escrivaninha de seu quarto. A verdade era que tinha percebido que não tinha tanto tempo como pensava para fazer tudo que queria e ainda funcionar como uma pessoa normal, seus cabelos curtos estavam para todos os lados e sabia com certeza que tinha esquecido alguma caneta na última sala que tinha estado.

Pelo menos a entrega do livro seria coisa rápida, nem ao menos se daria ao trabalho de perguntar porque ele havia inventado aquela história toda, não tinha cabeça nem tempo pra isso.

Não correu para chegar até o ponto de encontro, olhando em seu relógio de pulso que estava dez minutos atrasada, mas mesmo assim não apressou o passo. Acabara de sair de uma prática longa e cansativa e merecia ser lenta o quanto quisesse. Mesmo assim, quando chegou frente à lanchonete, não conseguia ver nem sinal do garoto parecido com o Tarzan.

Heidi se colocou na ponta dos pés, olhando todas as cabeças de todas as pessoas sentadas nas mesas, mas nem sinal de um cabeludo castanho por perto. Teve que se segurar para não soltar um grunhido de raiva, nem ao menos sabia o nome da criatura para poder perguntar alheiamente entre as mesas se alguém o conhecia ou deixar na secretaria da faculdade de humanas para que o entregassem.

Estava considerando deixar o livro em uma mesa vazia e ir embora, esquecendo toda aquela maluquice pra lá pra poder estudar quando alguém surgiu a sua frente quase que do nada. Não que estivesse mesmo prestando atenção no seu redor, mais preocupada com pensar em qual mesa seria mais propício alguém achar um livro esquecido.

— Oi, me mandaram vir aqui pegar esse livro — comentou o ser a sua frente, que era apenas uma menina baixinha, com um sorriso quase de orelha a orelha e um rabo de cavalo que tentava conter seus cabelos encaracolados enormes.

— Te mandaram? — perguntou Heidi, levantando uma sobrancelha.

— É, na verdade eu tava aqui faz um tempo, mas você demorou pra aparecer e eu achei mesmo que a ideia não ia funcionar e que você não viria, daí me distraí com a máquina de salgados e só te vi agora. Não foi difícil te reconhecer, ainda mais que estava aí parada olhando para os lados bem perdida mesmo. — O sorriso desapareceu enquanto falava, contando nos dedos o que tinha feito, para no fim voltar a sorrir alegremente e estender a mão direita fechada na direção de Heidi. — Enfim, isso não importa, vim pegar o livro e te entregar isso.

Quando a mão da desconhecida se abriu, um envelope pôde ser visto, e Heidi revirou os olhos. Tava velha demais pra esse tipo de coisa, havia se perdido na metade da tagarelice da garota e tinha certeza que nem queria saber de que diabos ela estava falando.

— Olha, não sei o que tá rolando aqui, eu só vim entregar esse livro e não brincar de amigo oculto. — Colocou o livro sobre a palma aberta da menina, em cima do envelope.

— Ahn? — Olhou do livro para Heidi, que já estava dando meia volta. — Não! Qual é, é só um papel — pediu a garota, quase fazendo um bico e empurrando o envelope branco no rosto de Heidi.

— Ugh, tá bom! — recuou alguns passos, pegando o maldito papel da mão da outra. — Agora eu tenho mesmo que ir.

— Tudo bem, a gente se vê. — Acenou a ainda desconhecida, voltando a sorrir.

Heidi se limitou a dar um meio sorriso e se afastar o mais rapidamente possível da lanchonete.

Sempre ouvia que o povo de humanas andava um pouco mal da cabeça, só não pensava que estavam naquele nível e sinceramente não queria se juntar àquela doideira. Porém, andando com o envelope na mão, não pôde ignorar a curiosidade que borbulhava e que praticamente a obrigava a abrir e olhar o que tinha dentro. Pelo tato parecia um tipo de papel duro, o que só aumentava a coceira em sua mão para tirá-lo dali e ver do que se tratava.

E foi exatamente isso que fez assim que chegou ao ponto de ônibus da faculdade.

Abriu o envelope e retirou de lá um papel retangular que tinha cara de ser entrada para um museu ou parque de diversões. Franziu o cenho ao ler que era de uma peça de teatro, do único teatro da cidade, que ela nunca tinha entrado por vontade própria.

Apenas no ensino médio quando a turma toda havia sido levada ali para ver uma peça de um livro que nem ao menos se deu ao trabalho de ler todo. A peça acabou sendo suficiente para fazer a prova, o que foi um alívio. Girou a entrada que tinha em mãos para ver a qual peça ela pertencia.

— Romeu e Julieta — resmungou Heidi, fazendo uma careta só de pensar em passar mais de hora vendo aquele drama romântico.

O barulho do ônibus chegando a tirou de seus pensamentos. Guardou rapidamente o envelope com a entrada no bolso da calça e entrou no veículo, tão concentrada na própria vida que mal notou que quase pisara no pé de um garoto que jurava ser de sua turma em alguma matéria. Pediu um desculpa meio resmungado, segurou em um dos apoios do ônibus e tirou novamente do bolso o envelope. Não sabia porque a pergunta que enchia sua cabeça era se ia ou não, e não porque diabos alguém alheio a tinha dado uma entrada para um teatro.

Todo mundo sabia que aquelas coisas não eram baratas.

Acabou por espantar todos aqueles pensamentos ao guardar o envelope por fim dentro da mochila, prestando atenção em quando chegaria sua parada, repassando se tinha alguma coisa importante para fazer em casa quando chegasse. E, em um piscar de olhos, já estava descendo do ônibus, com o envelope esquecido, assim como seu encontro esquisito com a menina de humanas.

(...)

Só se lembrou de olhar a data da peça quando já estava em casa, jogada na cama e vendo qualquer coisa na internet, porque já não tinha forças para estudar mais naquele dia, muito menos pra arrumar a casa. Morar sozinha nunca havia lhe parecido uma coisa de outro mundo, talvez porque ignorava que devia limpar a casa e fazer as compras, mas agora quase pensava que seria uma boa ideia arrumar uma colega de quarto. Quase. Admitia que era meio chata pra certas coisas e dificilmente se adaptaria a alguém. Mas sempre pensava que faria qualquer coisa por ter outra pessoa por perto quando olhava a quantidade de louça que tinha pra lavar.

Esticou o braço para puxar a mochila mais para perto, retirando de lá o envelope e logo a entrada, se ajeitando deitada na cama para olhar a data. A peça aconteceria num sábado, mais precisamente no sábado que já estava vindo, em dois dias.

Dizer que tinha algo programado para aquele dia era uma mentira gigante, já que passava a maior parte de seus sábados com a cara nos livros ou no computador, e no começo do curso normalmente era a segunda opção que predominava. Comparando as duas coisas, sair de casa e fazer algo diferente era até interessante. Respirou longa e profundamente ao deixar os braços caírem ao lado do corpo na cama, enquanto olhava agora para o teto de seu quarto.

Sinceramente não acreditava que acabava de tomar a decisão de usar aquela entrada.

(...)

Era sábado.

Sete horas da noite de um sábado gelado, muito gelado.

Heidi apertou o casaco contra si ao sair do ônibus que parava a poucos passos do teatro, escondendo metade do rosto no cachecol que tinha ao redor do pescoço ao andar em direção a ele, amaldiçoando seus cabelos curtos que não esquentavam suas orelhas. Havia começado a se arrepender daquela decisão cedo naquele dia, quando seu despertador tocou as seis da manhã porque tinha se esquecido de tirá-lo no dia anterior. Devia ter anotado aquilo como um sinal que não era para sair de casa naquele dia, mas nunca fora de prestar atenção em sinal nenhum na vida, só os de trânsito, então se encontrava ali passando frio. Isso até passar pelas portas do teatro e começar a se aquecer com o local fechado.

Tinha visto mais cedo que a entrada vinha com o local certo de sentar, e após passar pela pessoa que verificava as entradas, desceu o auditório até a cadeira que lhe correspondia, que nesse caso era não muito perto e nem muito longe do palco. O único problema era que ficava justamente no corredor. Heidi possuía um pequeno trauma de quando era criança e os palhaços das peças sempre pegavam as crianças que ficavam na cadeira do corredor pra participarem, mas aquilo ali era uma peça séria, não ia ocorrer aquele tipo de coisa. Pelo menos esperava que não.

Se ocorresse, apenas iria se levantar e ir embora pra casa.

Espantando aqueles pensamentos alheios de sua cabeça, sentou-se no local indicado e esperou que as outras pessoas chegassem. Não havia sido a primeira a chegar, mas ainda faltavam alguns bons minutos para que a peça começasse e o teatro não estava muito cheio, apenas a ocasional conversinha ocorrendo entre famílias e casais que chegavam aos poucos e os que já estavam presentes. Retirou o celular do bolso, aproveitando assim para retirar também o casaco pesado e o cachecol, agradecendo pelos aquecedores do local enquanto abria um joguinho qualquer para passar o tempo.

Não teve muito tempo para ficar concentrada, pois a cada instante tinha que se levantar para deixar a pessoa que se sentava no meio da fila passar, mas isso era ainda melhor do que ser chamada pelo palhaço para dançar no palco, então não reclamava.

Quase deixou o celular cair quando ouviu o primeiro aviso de que a peça começaria, revirando os olhos com a facilidade que tinha pra levar sustos antes de enfiar o celular em silencioso outra vez no bolso do casaco. O segundo aviso veio logo depois, e em um instante o teatro todo estava em silêncio, as luzes haviam diminuído e uma música começara a tocar. Heidi nunca fora muito fã de teatros, mas tinha que admitir que toda aquela atmosfera era uma coisa interessante, a maneira como todo mundo se calava com uma simples mudança de luz uma coisa de se apreciar de verdade.

Os primeiros atores entraram e finalmente Heidi tinha algo com o que se distrair. Sabia pouca coisa da história de Romeu de Julieta, só aquilo que todo mundo sabe, então pôde se surpreender com alguma conversa ou algum personagem que nem sabia da existência aparecendo e sendo importante para o decorrer da história. Riu em momentos que não deveria rir e fez caretas em outros que não entendia porque diabos as pessoas eram tão burras, mas no fim das contas acabou por ignorar todas as coisas que não faziam sentido e tentou aceitar que mesmo sendo uma história de amor, também era um pouco divertida. Bem, pelo menos um personagem era divertido, o resto não parecia pensar com a cabeça.

Bateu palma no final, mais pelos atores que eram realmente bons que pela história, e se levantou para sair, passando o cachecol outra vez pelo pescoço, preparada para o frio que viria ao passar pelas portas outra vez.

Podia continuar pensando o quanto não gostava daquele tipo de história, mas tinha que aceitar que havia se divertido com a maior parte das cenas, mesmo suas reações não estando muito de acordo com o que estava acontecendo. Havia acabado de passar pelas portas, encolhendo-se contra o frio do inverno e da noite, quando sentiu uma mão tocar seu ombro de leve, deu um pulo e um gritinho pouco digno antes de ver quem era.

Não demorou dois segundos a reconhecê-lo como o Tarzan da biblioteca.

— E então? — perguntou o garoto Tarzan, com um sorriso enorme nos lábios e os olhos claros brilhantes, ignorando por completo o pequeno ataque do coração que acabara de causar em Heidi por aparecer de repente daquele jeito.

— E então o que? — conseguiu falar ao se recompor, franzindo o cenho pra ele.

— Gostou da peça? — aproximou-se mais da garota, curioso, e ela deu um passo para trás para se afastar novamente.

— Acho que sim. — Continuava com o cenho franzido enquanto o olhava, semicerrando os olhos antes de continuar. — Mas seria interessante saber porque ganhei a entrada. — Tinha também outras perguntas em mente, mas com uma resposta de cada vez já estaria satisfeita.

— Ah... — Ele endireitou o corpo, coçando o alto da cabeça. — Isso é porque ela me lembra a gente — soltou, todo satisfeito consigo mesmo, colocando as mãos na cintura em uma pose.

Heidi apenas ficou mais confusa.

— A gente...? — perguntou lentamente, levantando uma sobrancelha, para então negar com a cabeça e respirar fundo. — Olha, agradeço a entrada, mas você não tá bem da cabeça e eu to indo pra casa. — Espantou-o com um movimento da mão, começando a andar na direção do ponto de ônibus.

— Ei! — chamou, dando passos largos para caminhar ao lado de Heidi. — Não vai nem me perguntar por que a peça me lembra nós dois?

— Não, não faz sentido nenhum ela lembrar qualquer um de nós, muito menos nós dois juntos. E eu nem ao menos te conheço — respondeu simplesmente, dando de ombros e sem parar de andar.

— Pois eu digo que conhece, Heidi— ele insistiu, e ao ouvir seu nome, suas pernas se recusaram a dar sequer mais um passo.

O garoto Tarzan não deu nem um passo direito antes de parar também, girando nos calcanhares para ficar de frente para Heidi, que o encarava.

— Como você sabe meu nome? — semicerrou os olhos outra vez, não se lembrava de ter se apresentado.

— Você acha que eu ia te convidar para o teatro sem saber seu nome? — Voltou a abrir um sorriso cheio de si mesmo. — Me subestima. — Cutucou o braço de Heidi com um dedo duas vezes.

Heidi estalou a língua, batendo de leve na mão do garoto para que parasse de cutucá-la, encolhendo o ombro para se afastar.

— Me responda minha pergunta. — Grudou seus olhos nos dele, ignorando a diferença de altura dos dois enquanto tentava intimidá-lo a respondê-la.

— Que insistente! – levou as mãos à cintura, olhando ao redor por um instante antes de voltar a por os olhos em Heidi. — Prometo responder todas as suas perguntas se aceitar tomar um café comigo agora, palavra de escoteiro. — Levou uma mão ao coração.

— Tomar café a essa hora não é muito útil, está tarde e temos que dormir, não ficar mais acordados. E eu tenho um ônibus pra pegar. — Ignorou-o, já recomeçando a andar.

— Não precisa ser um café, pode ser um chá, um leite quente, qualquer coisa. Até um sucrilhos eu topo. — Heidi continuava ignorando-o, indo de caminho ao ponto de ônibus com ele logo atrás. — Heidi! — chamou, por fim perdendo a paciência e segurando o pulso da garota para que parasse de andar. — Eu te levo em casa, te deixo na porta, mais seguro que esse ônibus. Por favor, é só um café.

O desespero estava estampado em seu rosto, contradizendo toda a atitude pra frente que tinha demonstrado até alguns segundos atrás. Heidi havia se virado para encará-lo com um olhar nervoso ao sentir seu pulso ser puxado para trás, mas apenas pôde piscar várias vezes ao ver a expressão que ele tinha. Ficou algum tempo o encarando, sem saber quanto exatamente havia sido, antes de finalmente soltar um suspiro e puxar o braço para se livrar da mão dele.

— Um café, mas se você fizer alguma maluquice eu vou embora — o avisou, ajeitando os óculos com a ponta do dedo indicador.

— Não preciso mais do que isso. — E em um piscar de olhos lá estava o sorriso dele outra vez.

A lanchonete que decidiram entrar era a que estava justamente ao lado do teatro, apenas do outro lado da rua. Heidi não estava disposta a andar mais do que o necessário naquele frio, e o garoto Tarzan parecia estar pronto para aceitar qualquer ideia que ela desse, até mesmo se fosse para ir até o outro lado da cidade. O sorriso não sumiu nem quando se sentaram em uma das mesas, um de frente para o outro, olhando um cardápio cada um.

— Decidiram? — veio a voz da atendente, tão entediada quanto poderia estar naquela hora da noite.

— Sim, vou querer um cappuccino — Heidi respondeu sem mais delongas, entregando o cardápio para a atendente.

Virou os olhos para o garoto do outro lado da mesa, apenas para ver que ele parecia extremamente confuso com alguma coisa no cardápio. Afinal, o que diabos tinha para se confundir em um cardápio de lanchonete?

— Eu acho que vou querer um suco de limão natural, não pera. O limão tá mais gostoso nessa época ou é a laranja? — Tirou os olhos do cardápio para olhar para uma atendente ainda mais entediada, que apenas deu de ombros. — Acho que na verdade é a pêra, mas não tem suco de pêra aqui... — falava claramente para si mesmo, pelo menos até Heidi pigarrear.

— Ele vai querer um chá gelado. — disse, arrancando o cardápio das mãos do indeciso e entregando pra menina de pé ao lado da mesa.

A atendente assentiu com a cabeça, anotando algo no seu bloquinho enquanto saía para o lado da cozinha com os cardápios debaixo do braço, provavelmente agradecendo por um dos dois resolver aquele pequeno impasse.

— Por que você fez isso? Eu odeio chá gelado! — protestou o garoto assim que a moça sumiu para dentro da cozinha, escandalizado.

— Eu te falei pra não fazer nenhuma maluquice, qualquer coisa a gente troca os pedidos. Eu gosto de chá gelado, não me importo. — Deu de ombros, recebendo um suspiro do outro.

Aproveitando o tempo que teriam que esperar para que os pedidos chegassem, Heidi tirou o cachecol e o casaco mais pesado de frio que usava, colocando os dois no encosto da cadeira para não morrer de calor ali dentro.

Quando já estava ajeitada outra vez na cadeira, levantou a cabeça ajeitando os óculos e os cabelos, parando em meio caminho de soprar uns fios soltos em frente ao rosto ao notar que o garoto Tarzan a encarava descaradamente.

— Tem alguma coisa no meu cabelo? — perguntou, passando os dedos pelos fios, com as sobrancelhas juntas.

— Não, tava só te olhando mesmo. — ele respondeu simplesmente, abrindo um sorriso que Heidi não conseguiu identificar o que significava.

— E por quê? — relaxou o rosto, se encostando melhor no encosto da cadeira.

— Porque eu te acho bonita, Heidi.

Heidi esperava muitas respostas e essa não era nem de longe uma delas. Por um instante ficou parada encarando-o sem saber o que responder, afinal nem se lembrava da última vez que alguém a havia elogiado daquele jeito. Talvez seus pais em algum momento de sua vida, mas já não se lembrava desses pequenos detalhes longínquos. Passou em sua cabeça possíveis respostas e acabou por surgir com a que era muito provável que fazia menos sentido pra situação.

— Obrigada, seu cabelo é bonito também. — Jogou o elogio de volta.

— Sério que acha mesmo? Lavo ele com óleo de linhaça sempre que posso, daí fica sedoso desse jeito. — Animou-se o garoto, pagando uma mecha de seu cabelo para passar os dedos. — Quer sentir? Olha aqui. — E, sem esperar resposta de Heidi, praticamente empoleirou na mesa ao mesmo tempo em que puxava uma das mãos da garota para levar até a mecha de seu cabelo.

Ela tentou se afastar, mas acabou por tentar puxar a mão de volta para o seu lado da mesa quando já era tarde demais e tinha uma quantidade exorbitante do cabelo do garoto em sua palma. Sua mente parou de querer se safar quando sentiu que era sim bem macio, arregalando os olhos ao fechar a mão sobre os fios. Mal percebendo que começava a se inclinar para frente também.

— Oh... — foi o que conseguiu pronunciar.

— Não falei — disse cheio de si, mas, antes que pudesse voltar a se sentar como uma pessoa normal, tinha as mãos de Heidi pegando mais de seus cabelos.

— Falou, o que você passa mesmo neles? — Apenas tirou o olhar dos cabelos dele quando já havia perguntado, dando-se conta de que estavam a meros centímetros do rosto um do outro.

Heidi apenas franziu o cenho. O garoto Tarzan estava com as bochechas mudando para um tom de rosa que não era natural, nem naquele frio.

— Linhaça — respondeu ele, meio aéreo, sem tirar os olhos dos de Heidi.

Culpando o fato de que ele tinha dito alguma coisa, Heidi deixou que seus olhos passassem dos olhos dele até sua boca, parando ali por uma quantidade de tempo que nem ela mesma conseguia explicar racionalmente porque o fazia. Fechou os punhos de nervoso em volta dos cabelos dele que ainda segurava, com o cenho franzido até mesmo quando soltou o ar que havia prendido e se aproximou um milésimo de centímetro do rosto da pessoa a sua frente.

Podia ter jurado que o viu fazer a mesma coisa justo antes de levarem um susto com a voz da moça com os pedidos dos dois.

Cada um caiu sentado na própria cadeira, os dois atordoados.

— Um cappuccino e um chá gelado. — Ela fingiu ou simplesmente não notou a pequena tensão que ocorria na mesa, deixando as bebidas na frente de cada um antes de voltar pra bancada.

Heidi olhou para seu cappuccino ainda com o cenho franzido, cruzando os braços enquanto ainda o franzia mais, tentando entender que diabos tinha acontecido. Devia ser culpa da proximidade, raciocinou, ficar tão perto de alguém deixara sua vista desfocada e apenas se aproximou porque sempre o fazia quando via algo embaçado, culpa do costume.

É, tinha que ser isso, afinal não tinha nenhum outro motivo aceitável para querer ter seu rosto tão perto do de outra pessoa.

Aceitou a teoria que criava para ela mesma antes de respirar fundo e levantar o olhar de seu cappuccino para a outra pessoa presente, que olhava meio cabisbaixa para o chá gelado entre suas mãos.

— Não precisa ficar tão triste, eu disse que trocava com você — anunciou, trocando as bebidas num simples movimento, fazendo uma careta ao sentir a temperatura baixa do chá ao tocá-lo.

Soprou os cabelos curtos que lhe caíam sobre os olhos, sujando seus óculos e atrapalhando sua visão, para então tomar um gole demorado da bebida. Só notou o quão silencioso estava tudo quando voltou a colocar o copo sobre a mesa, e mais uma vez ficara sem saber o que fazer. Não sabia puxar assunto e não conseguia pensar num motivo para que o garoto ainda estivesse em silêncio, mas tinham ido ali por um motivo e queria vê-lo resolvido.

— Você falou que me responderia minhas perguntas — voltou a falar, levantando uma sobrancelha assim que viu que tinha a atenção dele. — Como sabe meu nome?

Algo pareceu se acender na cabeça do garoto, porque seus olhos se arregalaram de repente e logo tinha uma mão coçando a cabeça enquanto ria meio sem graça.

— Eu esperava sinceramente que você se esquecesse desse pequeno detalhe.

— Não dê voltas ao assunto. — Semicerrou os olhos.

— Bem, então, a história é a seguinte. — Pigarreou, juntando as mãos sobre a mesa. — Eu normalmente me sento no mesmo lugar da biblioteca, perto das janelas gigantes pra ver do lado de fora quando me entedio. Sabe aquela parte onde tem umas árvores e de vez em quando uns gatos? — Heidi assentiu, um pouco confusa sobre onde aquela história estava indo. — Então, eu já tinha te visto pela biblioteca, sempre no mesmo horário que acho que é quando você tem hora livre. Mas antes que diga qualquer coisa eu não ficava te encarando nem nada do tipo, só te reconhecia, não sou stalker.

— Eu nem disse nada. — mas pensei, completou mentalmente.

— Aham, sei. — Revirou os olhos, pegando a xícara ainda quente de cappuccino entre as mãos. — Eu não via nada demais em você, só a menina da engenharia que carregava sempre uns livros grossos e entrava e saía calada da biblioteca. Pra falar a verdade você parecia bem chata, mas en...

— Me chamou aqui pra me ofender? — cortou-o, agora voltando a cruzar os braços em modo de defesa.

— Não! Claro que não, só to contando a história, espera eu acabar. — Heidi respirou fundo, mas assentiu outra vez com a cabeça para que ele prosseguisse. — Obrigada. Eu te achava meio chata, mas daí, um dia eu estava olhando pela janela, porque não queria revisar uma matéria incrivelmente chata, e te vi dando a maior volta pra sair da ponte que liga a biblioteca ao prédio da engenharia para ir até o lugar das árvores. Quando vi porque tinha feito aquilo quase caí da cadeira.

Ainda não sabia o que isso tinha a ver com o fato dele saber seu nome sem ser nem do mesmo curso ou qualquer coisa próxima a isso, mas sim se lembrava vagamente daquele dia. Tinha visto um gatinho laranja, um que já conhecia de ver andando pela faculdade sem rumo, em cima de uma das pilastras que seguravam a ponte de madeira, bem numa bifurcação, miando incontrolavelmente.

Havia dado a volta para ajudá-lo porque tinha tempo e percebeu que ninguém mais o faria, tivera dó do pobre bichano.

— Por que achou tão estranho eu ir ajudar um gato? — perguntou Heidi, mais confusa a cada palavra que ouvia.

— Porque você não ajudava nem o colega do seu lado! — exasperou-se, jogando as mãos para o alto. — Você nem ao menos olhava para o lado quando andava e reparou num gato preso, fora do seu alcance. E ainda foi lá ajudar o pobrezinho a descer e ficou pelo menos uns dez minutos acalmando ele. Eu contei — acrescentou ao ver que Heidi abria a boca para retrucar.

— Continuo sem compreender onde você quer chegar com isso.

— Eu quero chegar em que você me deixou curioso, e quanto mais eu te observava, mais eu reparava nesses pequenos momentos considerados que você tinha.

— Então me perseguiu até saber meu nome? — Ele era sim um stalker.

— Eu não te persegui. Só pesquisei um pouco... — Tentou arrumar.

— Stalker — reafirmou em voz alta, recebendo um grunhido do garoto.

— Beleza, tá, eu te stalkiei um pouco, mas foi por uma boa causa. Eu não sabia como me aproximar de você sem parecer meio maluco, então armei aquilo do bilhete na calculadora. — Dessa vez um sorriso começou a se abrir.

— Você pensou em casa, considerou as possibilidades e decidiu que a forma menos maluca de conversar comigo era me mandando um bilhete anônimo, deixando seu livro pra trás, me dando um ingresso pra um teatro alheio e me esperando na porta pra ir atrás de mim? — Como ele tinha conseguido entrar na faculdade era um grande mistério para Heidi àquela altura.

— Eu não queria só falar com você, queria te chamar pra sair. E por mais que você pense que foi uma ideia ruim e idiota, acabou dando certo no final. — Cruzou os braços, sorrindo de lado e levantando as sobrancelhas para Heidi.

— Me chamar pra sair? Por que você queria me chamar pra sair, a gente nem se conhece!

— Eu te conheço, mais ou menos. — Fez um careta.

— Eu nem sei seu nome! — Agora era ela a exasperada.

— Lance.

— Quê?

— Meu nome é Lance — completou, voltando a sorrir. — Estudo no prédio de humanas, tenho a mesma idade que você, não tenho um gato e fiquei muito triste quando meu peixe morreu mês passado. Pronto, agora já sabe o essencial.

Heidi piscou algumas vezes antes de negar com a cabeça.

— Isso não muda o fato de que essa é a primeira vez que nos falamos direito — Argumentou.

Heidi não se preocupava com essas coisas de sair com outras pessoas, estava mais focada no próximo exercício de tecnologia elétrica que iria fazer do que no garoto mais bonito da sua sala. Talvez por isso se encontrava tão fora de seu elemento ali, com uma pessoa que havia mesmo se esforçado para chamá-la para sair sentada bem a sua frente.

— Detalhes. — Ouviu-o dizer, espantando o argumento dela com um movimento da mão. — O que importa é o agora, e agora estamos conversando direito tomando um café. Bem, no seu caso esse chá gelado ruim.

— Não é ruim, eu gosto. — Revirou os olhos, provando seu ponto ao tomar um grande gole.

— Não muda o assunto.

— Você que veio falando do chá gelado.

— É porque ele é ruim, e pode parar de tentar me fazer esquecer porque estou aqui. — Semicerrou os olhos, inclinando-se sobre a mesa na direção de Heidi. — Agora que já sabe meu nome, aceita sair comigo?

— Saber seu nome não é suficiente pra aceitar uma coisa dessas. — Se tinha uma coisa que Heidi sabia ser, era teimosa.

Lance se jogou contra o encosto da cadeira, grunhindo.

— Vocês todos de exatas são assim insistentes ou você é caso especial? — Gesticulou com as mãos na direção de Heidi.

— Olha, você está me ofendendo outra vez, eu vou embora. — bebeu o resto do chá, pegando o cachecol e começando a enrolá-lo em volta do pescoço.

Ele a observou em silêncio, com os olhos pregados em cada movimento que Heidi fazia. Apenas decidiu fazer algo quanto ao fato de que ela estava mesmo indo embora quando a viu começar a se levantar para colocar o casaco. Abriu um sorrisinho, cruzando os braços e as pernas numa pose de quem acaba de ganhar uma discussão.

— Seu ônibus já passou.

Heidi parou com a mão indo em direção aos óculos para ajeitá-los. Tinha se esquecido desse pequeno detalhe, e do fato de que tinha aceitado uma carona dele por livre e espontânea pressão.

Respirou fundo, fechando os olhos ao se sentar lentamente na cadeira outra vez, apoiando as mãos abertas na mesa para não ver-se obrigada a fechá-las em punhos de nervoso.

— Sim, meu ônibus passou — repetiu em um sussurro.

— Não se preocupe, vou te levar pra casa mesmo você não aceitando sair comigo. — O sorriso de Lance aumentou. — O que não quer dizer que eu vá desistir. Quer mesmo ir pra casa agora?

— Se possível, eu seria grata.

Estava cansada daquela situação, então apenas assentiu quando Lance avisou que apenas terminaria de beber o cappuccino antes de saírem.

Heidi esperou em silêncio, apoiando o queixo na mão esquerda enquanto olhava ao redor, e assim que finalmente se levantaram para sair - cada um pagando o que havia comido -, ele a levou em direção a um carro parado não muito longe de onde tinham ido tomar o café.

— Eu sei que sou um stalker, mas não o extremo de saber onde você mora — comentou ele, assim que os dois já estavam quentes e acomodados dentro do carro.

— Vai direto nessa rua que vou te dando as direções.

— Beleza.

Ele ligou a rádio, Ela se acomodou no banco do carona, com os olhos pregados na rua para indicar em que lugar ele deveria virar. Não morava muito longe, se estivesse de dia e não fizesse tanto frio com certeza teria feito aquele caminho todo a pé sem reclamar, mas naquelas circunstâncias não era seguro nem saudável passar tanto tempo andando pela rua sozinha.

Chegaram quando a segunda música ainda tocava.

— É aqui. — Apontou para o prédio a esquerda da rua, e logo Lance procurou um estacionamento bem perto da entrada.

— Obrigada por me trazer. — Heidi agradeceu, tirando o cinto.

— Não tem de quê.

Heidi esperava que ele fosse dizer alguma coisa, perguntar sobre querer chamá-la para sair outra vez ou fazer um de seus comentários, como havia feito todo o tempo em que estiveram juntos. Mas Lance apenas sorriu largamente, quase fechando os olhos com o gesto, esperando que ela saísse do carro e voltasse pra casa. Franziu o cenho ao perceber que esperava que ele dissesse algo, que insistisse ou pelo menos pedisse seu telefone. Não que fosse necessário, já que sempre se viam na biblioteca.

Tratou de espantar aqueles pensamentos movendo a cabeça para os lados, levando a mão até a maçaneta da porta do carro para abri-lo. Mal havia empurrado a porta quando seu corpo agiu sem seu consentimento, parando em meio ao movimento, e logo sua boca fez o mesmo, se abrindo para falar algo.

— Essa semana tem um feriado na sexta. — Virou-se para olhar o garoto.

— Tem, eu sei, tá no calendário — Lance confirmou com a cabeça, confuso.

— Se quiser sair pra fazer alguma coisa… — deu de ombros.

Viu os olhos de Lance praticamente se esbugalharem e logo um sorriso que quase a cegou apareceu nos lábios do garoto. Passou por sua cabeça que ela o chamar pra sair poderia tê-lo quebrado, mas já tinha feito e não tinha volta.

— Claro! Eu to livre, tenho nada marcado pra sexta, nada mesmo, e se tivesse desmarcava. Pra onde a gente vai? Gosta de cinema? Sei que tá passando um filme novo do Peter Pan que parece ótimo. Mas se quiser a gente pode só sair pra passar pelo shopping mesmo, se precisar comprar alguma coisa, e tem também…

O que, a medida que Lance falava, era apenas um sorriso, de repente se transformou em uma gargalhada alta vinda de Heidi. Começou a rir com tanta vontade que teve que segurar a própria barriga com os braços depois de um tempo.

Quando finalmente conseguiu se conter e respirou fundo para olhar para Lance, o encontrou com uma expressão gentil no rosto, como se estivesse olhando para algo muito adorável.

— O que foi? — perguntou ela, limpando uma lágrima feliz que tinha rolado por sua bochecha, para então ajeitar os cabelos distraída.

— Nada, é que você não tinha dado nenhum sorriso até agora. — Lance apoiou o braço no volante. — Fica ainda mais bonita.

Heidi parou de mexer em seus cabelos, ajeitando os óculos antes de se inclinar um pouco na direção de Lance. Não conseguia entender muita coisa que ele fazia, e não sabia se queria entender metade delas, mas isso de ficar elogiando-a o tempo todo era mais do que sua curiosidade podia aguentar.

— Você me acha tão bonita assim? — juntou as sobrancelhas. — É tão esquisito ficar ouvindo isso toda hora, mas você parece falar sério.

Por um instante o sorriso bobo dele sumiu, para se transformar logo em uma expressão de incredulidade.

— Claro que eu to falando sério, por que eu mentiria sobre uma coisa dessas?

— Eu sei lá. Enfim, te vejo na sexta? — perguntou, por fim abrindo a porta do carro para sair.

— Ah, claro! Te pego aqui mesmo? — Abaixou um pouco a cabeça para ver através da janela da porta já fechada do carona.

— Aham, lá pelas três? — Heidi apoiou os cotovelos na janela, e quando viu Lance assentir, abriu um meio sorriso, se despediu e voltou a se endireitar.

Lance deu a partida e sumiu pela rua, ao mesmo tempo em que Heidi girava nos calcanhares para entrar no edifício.

(...)

A semana seguinte passou quase como um borrão para Heidi. Tinha trabalhos de praticamente todas as matérias, informes das práticas que tinha que saber fazer antes mesmo da prática acontecer, e claro, a ocasional prova online que quase a matava sempre que se sentava para fazê-las. Por isso, quando finalmente mandou a última resposta do último exercício pela internet, largou a caneta e soltou um alto e longo resmungo ao se jogar pra trás na cadeira.

Já era quinta feira de noite, olhou para o relógio e resmungou mais ainda ao ver que já passavam das dez da noite. Mal tinha energia para viver a alegria do outro dia ser feriado ficando acordada até tarde, seu corpo pedia cama e seu cérebro pedia descanso. Então, sem pensar muito, porque simplesmente não conseguia pensar mais, tomou um banho quente e vinte minutos mais tarde estava debaixo das cobertas, quente e pronta para dormir.

Só percebera o quanto fora lerda de não olhar os despertadores do celular quando fora acordada por eles às sete e meia da manhã no dia seguinte. Isso sempre acontecia.

Rolou na cama, tirando a cabeça de debaixo dos cobertores enquanto apalpava o criado mudo atrás do celular, apertando na tela dele alheiamente até que finalmente o barulho de um alarme de incêndio parou de atacar seus tímpanos.

— Eu sou uma anta — resmungou, tapando outra vez a cabeça.

Estava prestes a cair no sono outra vez quando o maldito despertador tocou novamente, e a raiva de Heidi fora tanta que se levantou em um só movimento, fazendo questão de olhar onde estava a opção de desligar pra sempre o despertador dessa vez. Jogou-o na cama depois disso, passando as mãos pelos olhos antes de esticar o braço para pegar os óculos colocados cuidadosamente no criado mudo. O mundo parou de ser nebuloso no mesmo instante, e logo ela já estava de pé.

Agora tinha a maior parte do dia, e o almoço, para enrolar antes de Lance aparecer para levá-la para… não sabia exatamente aonde. Deveriam ter escolhido algum lugar, mas por algum motivo acabaram se despedindo sem nem ao menos pensar que não poderiam simplesmente ficar parados na portaria do prédio vendo a vida passar.

Espantando aqueles pensamentos, passou os dedos pelos fios curtos de seu cabelo e saiu em direção ao resto do apartamento, decidida a arrumar o máximo que podia pela manhã para aproveitar que já havia acordado cedo.

Em meio a resmungos, batidas de pé nos pés da mesa e vários outros desastres, Heidi acabou conseguindo pelo menos limpar o chão de sua morada antes do meio dia, aproveitando que já estava de pé para esquentar a comida e enrolar um pouco até ter que se arrumar para sair.

Tinha acabado de jogar algumas borrifadas de perfume, que comprara “para sair” e que estava mofando na escrivaninha, quando ouviu o interfone tocar, saindo do quarto para atendê-lo na sala enquanto espirrava, culpa da poeira que tinha tirado da casa mais cedo. Não havia parado de espirrar toda a manhã.

— Sim? — atendeu, fazendo uma careta ao sentir o nariz coçar.

— Ah, finalmente te encontrei! — Veio a voz de Lance do outro lado, parecendo mais do que aliviado.

— Como assim, finalmente?

— Você se esqueceu de me dizer em qual andar morava, tive que sair chamando todo mundo.

Heidi franziu o cenho, para logo arregalar os olhos.

— Você tocou o interfone de todo mundo até chegar no meu andar? — Tinha certeza que sua voz havia subido uma oitava, no mínimo.

— Não, só os dois primeiros, o cara do segundo me falou qual era o seu. — Pôde ouvir a risada dele. — Mas então, tá pronta?

Ela não sabia se entrava em pânico com a vergonha de ter uma pessoa a chamando por todos os andares ou achava muito esquisito o cara do segundo andar saber de sua existência. Não se lembrava nem mesmo quem morava naquele apartamento, isso se o tivesse visto alguma vez pelos corredores, coisa que podia jurar que nunca tinha ocorrido. Acabou ignorando tudo aquilo para responder a pessoa no interfone.

— Sim, já vou descer — avisou e voltou a enfiar o interfone no gancho.

Após pegar as chaves perto da porta, decidir por descer pelas escadas para não correr o risco de encontrar com o vizinho misterioso que a conhecia e passar pela portaria do prédio, Heidi finalmente se encontrava cara a cara com Lance outra vez.

— Oi! — disse ele, sorridente.

— Você é o stalker mais inútil que existe. — Heidi acusou, ainda pensando na vergonha que ele a tinha feito passar ao chamar as pessoas do prédio.

Ele demorou um longo segundo a entender o que ela dizia, levando uma mão até o peito e abrindo a boca numa pose dramática de ofendido.

— Assim você parte meu coração, Heidi. Acha mesmo que eu ia te seguir até em casa? — Seu drama apenas aumentou e Heidi podia jurar que ele já tinha feito teatro alguma vez na vida.

— Não, mas se era pra me stalkear que fosse direito. — Enfiou as chaves de casa na bolsa de lado que levava o resto de suas coisas, para então voltar a olhar para Lance, que agora já parara com o drama e a observava. — Aonde vamos?

— Eu pensei num parque, só andar um pouco e conversar. — disse sua ideia, ajeitando os longos cabelos castanho claros no rabo de cavalo baixo caido sobre o ombro direito, num movimento que demonstrava nervosismo.

— Por mim, ótimo. — Heidi abriu um pequeno sorriso, que arrancou um ainda maior de Lance.

— Então ótimo pra mim também, é pra lá. — Apontou com o dedo para a esquerda, saindo naquela direção com Heidi logo ao seu lado.

Heidi tinha que admitir, enquanto caminhava com o garoto sorrindo de orelha a orelha ao seu lado, que ele era com certeza uma pessoa que provavelmente não se cansaria de passar tantas horas junto. Claro que Lance parecia ter um parafuso a menos, para não dizer vários, ainda mais com todas aquelas ideias malucas para chamar a atenção de Heidi, mas enquanto ela olhava seu perfil sorridente de caminho ao parque quase tinha vontade de fazê-lo sorrir mais ainda. E esse era o fato que a deixava tão perturbada quanto a ele.

Não era normal para Heidi querer fazer os outros sorrirem sem motivo nenhum aparente, e aquilo que acontecera no café ainda pairava como uma nuvem negra acima de sua cabeça. Porque diabos seu corpo tinha agido sem seu consentimento ao se aproximar dele naquela hora era algo que queria averiguar, e rápido.

Estava tão perdida nos próprios pensamentos, remoendo o fato de que não era burra e sabia onde aquilo tudo estava levando, quando a voz de Lance a trouxe de volta a terra.

— Que? — perguntou, piscando os olhos várias vezes na direção do garoto.

— Perguntei se quer castanha — repetiu ele, ignorando completamente o fato de que ela estivera alheia ao que falava antes, apontando para uma barraquinha não muito longe.

— Ah, agora não, almocei faz pouco tempo. — Ia continuar andando quando percebeu que não tinha agradecido a oferta. — Mas obrigada por oferecer — completou.

— Não precisa agradecer. Vamos sentar ali, vem. — E, sem aviso, pegou a mão de Heidi e começou a puxá-la na direção de um dos bancos do parque, que ficava em frente a uma fonte.

Sentaram-se um do lado do outro, Lance fechando os olhos por alguns instantes para receber a leve brisa que passava pelo parque naquela hora do dia. Ele não parecia ter se dado conta de que ainda segurava a mão de Heidi, e ela, apesar de estar bem ciente desse fato, não fez menção de soltá-la. Sabia o que o garoto queria, ele tinha deixado bem claro que gostava dela, de um jeito meio confuso, mas havia deixado claro. E, querendo ou não, ele parecia valer a pena tentar alguma coisa. Talvez por isso, misturado ao turbilhão de pensamentos confusos e novos que tinha em sua cabeça, Heidi moveu sua mão até que seus dedos se entrelaçaram com os de Lance.

Por estar observando os próprios movimentos, notou o exato momento em que Lance se dava conta de que ainda estava em contato com ela, hesitando por um breve momento antes de ajudar a garota em sua pequena façanha, apertando de leve sua mão na dela.

Heidi não sabia exatamente como começar uma nova conversa, optando então em apreciar a paisagem a sua frente. Já tinha passado por aquele parque algumas vezes na vida, mas nunca parara para observar a linda fonte no lado oeste e muito menos as pequenas flores que cresciam em intervalos irregulares no chão. Abriu um pequeno sorriso ao ver um gatinho passeando pela fonte, para então saltar para longe dela quando recebeu um respingo da água.

— Você gosta mesmo de gatos, né? — Lance finalmente falou, notando o sorriso de Heidi.

— Gosto de animais no geral — respondeu, encarando o gato até ele sumir atrás de uma árvore. — Você não?

— Um pouco, só que não tenho jeito pra cuidar.

— É, se conseguiu matar até um peixe. — Heidi riu pelo nariz, revirando os olhos.

— Sim, pobre Zé não merecia o dono que teve. — Fungou, exagerando na tristeza.

— Zé? O nome do seu peixe era Zé? — teve que morder o lábio inferior para não começar a rir, agora com os olhos em Lance.

— José. Zé era para os íntimos. Que no caso seria só eu e minha planta Leia, que morreu faz um mês. — Lance também a olhava, mas levou os olhos para cima ao se lembrar de algo. — Se bem que, agora que penso, é bem capaz do Zé ter morrido de tristeza por causa da Leia, eles eram muito próximos. — Assentiu com a cabeça, voltando a olhar para Heidi.

A garota já estava vermelha segurando o riso, agora escondendo os lábios para dentro da boca para forçar a risada a continuar dentro de si, o que não estava funcionando muito bem. Lance piscou para ela algumas vezes, antes de abrir um de seus sorrisos exageradamente grandes e se aproximar para dar um beijo na bochecha de Heidi. Ela perdeu toda a graça de uma vez com o ato, sendo sua vez de piscar, confusa.

— Você tava fofa, desculpa. — Levou a mão até a nuca, com certeza com vergonha do que tinha feito sem perceber.

Heidi o encarou por um longo segundo, passando todos os contra e a favor do que estava prestes a fazer.

Tinha lido uma vez que o amor não era um sentimento, mas uma escolha. Nunca pensara muito no assunto, apesar de concordar. Tinha escolhido desde que se conhecia por gente que não se apaixonaria por ninguém a não ser que fosse necessário, mas nunca descartou a opção de poder mudar de ideia se algum dia achasse que podia funcionar. Mordeu a parte de dentro de sua bochecha enquanto olhava Lance, que parecia mais desconfortável a cada segundo que era analisado por Heidi.

Não ia dar a louca e dizer que queria se apaixonar por ele, mas ao levar sua mão livre até a nuca de Lance para puxá-lo para perto, decidira que ele merecia que ela escolhesse dar uma chance e que não precisava pensar demais no que seu corpo fazia sem sua autorização se ela decidia agir por conta própria.

Com os olhos arregalados, Lance se deixou levar e Heidi aproveitou para tocar seus lábios nos dele. O garoto fechou os olhos quase instantaneamente com o toque, e Heidi não precisava ter os seus abertos para saber que ele tinha um sorriso pregado no rosto. Como se num acordo silencioso, os dois soltaram as mãos que antes estavam juntas, Heidi enfiando seus dedos entre os cabelos longos e sedosos de Lance delicadamente, enquanto ele, quase com timidez, deslizou a pontas dos dedos subindo pelo braço dela.

O beijo não durou mais do que alguns segundos, que mais pareceram longos minutos quando finalmente se separaram, Lance aproveitando a proximidade para apoiar sua testa na de Heidi. O sorriso dele não parecia querer sumir, e quando ela viu a expressão de pura felicidade e alívio que ele tinha no rosto não conseguiu segurar a curta risada que borbulhava em sua garganta. Deixou as mãos caírem para os ombros dele, para então deixar de tocá-lo, se afastando quando viu que seus óculos começavam a embaçar por causa da respiração dos dois.

Levou um susto quando Lance se levantou de um salto, ficando a sua frente quando havia acabado de limpar os óculos e os colocava de volta sobre o nariz. Já esperava vê-lo sorrindo, o que não esperava é ver como seu cabelo tinha saido um pouco do elástico que o prendia por sua culpa, muito menos a mão que ele oferecia para que ela se levantasse. Soltou um suspiro antes de aceitar a oferta, se colocando de pé outra vez com a ajuda dele.

— Onde vamos agora? — perguntou, ajeitando a bolsa.

— Castanhas! — anunciou ele, mais feliz que antes, se é que isso era possível.

Heidi negou com a cabeça, suspirando, mas mesmo assim saiu andando ao seu lado atrás da barraquinha das castanhas. Mal haviam dado dez passos, porém, quando Lance parou outra vez. Ela sabia que ele estava nervoso com alguma coisa porque não parava de apertar sua mão em intervalos confusos.

— O que f… — tentou perguntar, mas foi cortada por ele se virando em sua direção, ficando em sua frente novamente.

— Aquilo foi um sim, né? — Até sua voz estava ansiosa.

— Depende, qual era a pergunta? — Heidi perguntou, mais confusa a cada segundo.

— Se eu posso te beijar a partir de agora, mesmo sendo um stalker. — Lance apertava tanto a mão dela que acabou por soltá-la ao perceber que o fazia.

— Oh! — piscou rápido algumas vezes, para então dar de ombros e sorrir levemente, achava que tinha sido bem direta.

Mas ele era de humanas, não o culpava por não entender as variáveis.

— Aquilo foi sim um sim.

— Ok.

Mal havia acabado de falar e tinha as mãos segurando o rosto de Heidi, levantando-o o suficiente para se alinhar ao seu, juntando seus lábios outra vez.

Dessa vez foi a vez de Heidi de sorrir com o desespero do garoto, mas levou suas mãos até as dele que estavam em seu rosto ao fechar os olhos e aproveitar o momento. Apesar dele parecer estar doido para ter um beijo de Heidi, a beijava com um carinho e cuidado que só a certificava de que tinha sim decidido bem.

Pelo menos por enquanto.

Quando se separaram, Heidi girou o rosto para beijar a bochecha de Lance, entrelaçando seus dedos nos dele ao puxá-lo pra frente.

— Castanhas! — anunciou, imitando o jeito que ele falara antes, um pouco exagerada, já que franziu as sobrancelhas e apontou um dedo para o ar.

Não era boa naquelas coisas, então logo voltou para sua expressão normal.

Lance apenas riu, assentindo com a cabeça, para então ir até o lado de Heidi, que já estava caminhando até a comida.

É, ele também tinha sentia que tinha feito uma boa escolha.


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Notas finais do capítulo

Se você chegou até aqui é porque leu tudo e eu agradeço. ♥



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