Sociedade dos Corvos escrita por Raquel Barros


Capítulo 20
Capítulo Dezenove - Gwen




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Os monstros de Hazazel são um pouco burros. Na verdade, eles são muito burros! O que fazem serem oponentes fáceis de lidar. O grande problema é quantidade. Eles literalmente brotam do chão. Eu derroto dez e vem mais trinta! Assim fica mais difícil! Se eu não tivesse com tanta raiva do Caleb, da Lucy, já teria cansado! Raiva parece um ótimo combustível em lutas assim. É quase como ter um saco de pancadas eterno.

A caverna subitamente começa a ter luz saindo dela. Era uma luz muito forte, do tipo que cega. Os monstros de Hazazel começam a virar pó enquanto uma figura sai da caverna. Será que é outro inimigo? Quer dizer, Hazazel é louco o suficiente para ter como aliado alguém que transforma suas marionetes em pó. Contudo, aquela luz não me fazia ter medo ou raiva. Era calorosa, aconchegante e familiar. Quando aquela explosão de luz acaba sobra apenas uma jovenzinha morena com Emma e Arya atrás dela. Beverly Blood. Parecia que cada célula do meu corpo estava reagindo à mera presença dela. Não é possível que ela fosse tão poderosa. Minha mãe e minha tia teriam comentado algo do tipo. Beverly é uma lenda em nosso reino, mas eu não imaginaria que ela fosse do tipo em que a sua presença fosse sentida pela terra, pelo céu, pelas plantas e até pelas células dos nossos corpos. Isso que podemos chamar de presença impactante. E olhando para seus olhos eu entendi o que Xyn queria dizer com o fato de Alaryk e Beverly ter olhos parecidos. A cor é diferente. Os olhos de Beverly são azuis e vibrantes e os de Alaryk são cinza e frios, mas contem a mesma energia poderosa e única. Só que a Bev parecia doce e simpática. E Emma é tipo uma gêmea incompleta.

—Vamos sair de dentro do Grandion?

Pergunta colocando as mãos nos quadris.

—Grandion? Dentro? De dentro do Gradion?

Pergunta Zoey arregalando os olhos verdes. Acho que meu estomago embrulhou. Dentro do Lizard? Estamos dentro do Lizard! Emma coça a cabeça ao perguntar:

—Ué! Isso não é uma caverna?

—Não...

—E não é uma cadeia de montanhas?

Completa Ethan com os olhos arregalados. A voz dele estava um pouco tremida!

—Também não!É o Grandion!

—Você não acha que o tamanho dele é exagerado, não?

Indaga Arya sem senso de respeito. Bem, Arya só falta matar o rei de Master Great com suas mãozinhas! Então despeitação é com ela mesma.

—Ele comeu uma coisinha que não devia e está com energia acumulada. O que me lembra que não vocês não podem ficar aqui por muito tempo.

Responde Beverly coçando a cabeça e sorrindo. Eu sempre imaginei que ela fosse mais nobre. Quer dizer, você não deve se sentir confortável perto de um monarca, não é? Só que a Beverly dá vontade de apertar as bochechas e gritar: Coisa fofa, meu Deus! Não sei como ela consegue controlar o tio Alef!

—O que foi que ele comeu exatamente?

Interroga Arya, ainda despeitada como só ela.

—Uma bomba?!

Responde Beverly desviando o olhar como uma menina amarela.

—O que?!

Grita geral como um coral de incrédulos. Alaryk bufa de desprezo. Beverly nos dá uma risadinha ao repetir:

—Uma bomba de hidrogênio.

—Quê?!

Repetimos em coral. Tem um mundo dentro da barriga de um Lizard que comeu uma bomba de hidrogênio. Minha cabecinha não está aguentando isso..

—Por isso vocês devem sair daqui!

Continua Beverly nos ignorando! Suponho que reações do tipo são muito comuns! Arya cruza os braços e retruca:

—E você está a dezoito anos nesse lugar!

—Radiação não me afeta, bobinha!

—Afeta aos seus Lizards aparentemente!

—Meus Lizards são acumuladores de energia! Eles vivem de toda forma de energia e estão ajudando a Grandion a não expandir ainda mais até que eu use essa energia. O que vai ser difícil! Até lá ele não vai poder voar.

—O que é obvio! Um bater de asas e esse bicho vai mudar toda a geografia a terra de novo!

Resmunga Alaryk com os braços cruzados seguindo Beverly que se dirigia a saída. Animais vinham cumprimentá-la, as flores estavam virando em sua direção.

—É muito poder!

Sussurra Caleb com os olhos cinza arregalados.

—Não tanto! Eu só tenho um!

—Só tem um...

—Sim, eu só posso manipular energia.

—Imagina se fosse muito!

—Está sendo irônico, Alaryk?

—Eu nunca quebrei uma ligação entre átomos com meu poder sem precisar de ajuda de ferramentas!

—Bem, eu não teria tido meus filhos se você não fosse um ótimo cientista, não é? Afinal, com todo meu poder eu não posso criar vida do nada!

—Mas pode fazer tudo que seja abaixo disso, em uma apelação sem limites!

—Você tem poderes quase completamente mentais, exceto pelo truque do gelo, o que inclui uma super inteligência, ler pensamentos das pessoas com um toque...

—E depois casou com o segundo sadic mais poderoso existente.

—Super inteligência! Já ganhou!

—Não de você!

—Nem Hazazel ganhou de mim!

—Claro! Ele passa a maior parte do tempo fugindo! Mas Drakon te arrancou uma costela!

—Eu estava inconsciente!Não vale como um duelo.

—Vocês são amiginhos?

Pergunta Arya com uma expressão sombria na face! Ela estava muito estressada!

—Aliados!

Afirma Alaryk. Beverly faz careta para ele e o corrige:

—Irmãos!

—E a guerra?

Pergunta Zoey com os olhos verdes arregalados. Beverly coça a cabeça de um dos Lizards que estavam esperando na entrada da caverna de ovos gigantes de pedras preciosas e pergunta para Alaryk:

—Não terminou há uns vinte sete anos?

Alaryk confirma com a cabeça. Arya cruza os braços e pergunta:

—E estamos lutando contra quem se não Master Great?

—Hazazel! Estão sempre confundindo ele como o Alaryk, afinal eles são iguais!

—Você não disse que não podemos falar o nome dele?

Interroga Arya com muito mau humor para Alaryk. Ele se surpreende por um curto período de tempo, afinal ela tinha falado com ele, e depois responde:

—E não podemos! Ela que pode! A propósito: ele usou aquele truque neles, Beverly!

—Estão cansados! Não é pra menos!

—Que truque?

Pergunta Cyrus, cruzando os braços. Ele estava esquisito!

—Ele te toca e fala suas inseguranças misturadas com mentiras para fazer você pensar que esta sentindo o que ele quer que você sinta!

Responde Beverly, indo em direção da luz com um monte de Lizards agarrados nela e a seguindo. 

—Manipulação mental!

Resume Alaryk calmamente. Chegamos à entrada da caverna. Os Lizards saem primeiro, alcançando vôo. Eram centenas, de todas as cores e quão mais alto voavam maiores ficavam. As nuvens ficaram pesadas e momentos depois raios começaram a riscar o céu! Beverly começa a correr e pula do precipício.

Quando olhamos para baixo ela estava montada em um gigantesco Lizard prata que toma vôo para cima. O bicho tinha uma boca grande o suficiente para engolir um Sauter grande inteiro sem mastigar! Olho para Beverly. As pupilas dela tinham virados fendas. Parecia com olhos de um réptil. E sua presença tinha parado de ser confortável, para ser intimidadora. Eu teria medo de encará-la em batalha.

—Não se preocupem vocês não irão mais lutar. Meus Lizards vão levá-los até o acampamento, isso é claro, se tiverem coragem para montá-los. Se não tem coragem, nem tente! Atravessar a floresta negra novamente é menos perigoso.

— Não fode, tia.

Resmunga Arya olhando para o penhasco. Ela se espreguiça, levantando os braços para o alto, depois estica as pernas, então vira com o calcanhar, nos manda um beijo, abre os braços e cai do penhasco. Beverly levanta as sobrancelhas.

—Para se apaixonar por você, só podia ser louca mesmo.

Comenta fazendo Alaryk corar como um adolescente.

—Eu não estou apaixonada.

Resmunga Arya sentada em cima da cabeça de um Lizard, que estava estrábico tentando olhar para ela. Ela escala para o cangote do Lizard e o abraço com uma cara de quem vai dormir.

—Você é corajosa ou preguiçosa?

Pergunta Emma assoviando para baixo. Um Lizard começa aparece e ela o escala.

—Preguiçosa.

Responde Arya sorrindo por embaixo da sua cara de sono supremo. Emma da uma risadinha. Depois das duas todo mundo acaba montando um Lizard. Era estranho. Estávamos bem alto, o Lizard era um ser gigantesco, cheio de escamas, mas parecia ter alguns lugares ideais para colocar as pernas e era quentinho como um cobertor. Eles mergulham em alta velocidade fazendo com que o vento castigasse nossos rostos e os pelos subissem. Os raios nos seguiam, mas a chuva não caia. Lembrei de um ditado que minha mãe resmunga sempre que cai chuva forte: Os dragões carregam os raios e a vitoria. Quando chegamos ao acampamento infestado de Sauter e desespero, e os Lizards mergulharam com suas bocarras abertas devorando Sauters como se fossem petiscos, limpando o acampamento em um décimo do tempo que conseguiríamos, entendi o que aquele ditado quis dizer. De algum modo, era uma cena linda.

Os Lizards aterrissam no meio do acampamento.

O silencio tomava conta do lugar.

Beverly é a primeira a descer. E é recebida com um abraço conjunto de seis rapazes que praticamente a cobre. Vinicius estava com o rosto sujo e os olhos arregalados, um pouco confuso. Richard não moveu um único músculo, só olhava para a mãe dele, dando e recebendo carinho. A trupe de príncipe parecia que tinham recebido o presente de aniversario que queriam. Era uma barulheira, por que todos falavam ao mesmo tempo. Isso até o Alef chegar. Todos os príncipes pararam. O Dark pareceu que rejuvenesceu assim que olhou para a Beverly. Era uma expressão tão suave que chegava a ser absolutamente encantador e angelical. Ele parecia outra pessoa. A Beverly também parecia uma adolescente. Ela estava corada.

Beverly estende a mão para Alef e ele segura seu pulso. E a puxa com para um abraço.

—Vamos para casa, Bev.

Foi uma noite estranha. Não sabíamos se fazíamos festa ou choro. Particularmente eu estava aliviada! Sair daquela floresta inteira e ter cumprido a missão era o suficiente, mas eu não deixava de ter a impressão de que essa calmaria ia durar por pouco tempo em minha vida. Eu estava fugindo de Caleb e não aguentava olhar para cara da Lucy. De algum modo eu estava apenas esperando o anuncio. Não sei o porquê do meu ser ter aceitado em um mentiroso de carteirinha, mas de algum modo, meu coração insistia que tinha alguma verdade naquela historia. Lucy grávida do Caleb? Será? E principalmente, sou ou não sou filha da minha mãe. Tenho quase a mesma idade de Lucy, então isso seria impossível, né? E sou a gêmea do Zayn, que a propósito está sumido desde que inventou de viajar o mundo.

—Você esta calada de mais, Gwen!

Resmunga minha mãe deitada em uma rede, até aquele momento ela estava sorrisos que só. O meu pai estava organizando as matilhas para voltamos a base dois. Com os Lizards se banqueteando de Sauters, logo o reino estaria livre dessa praga novamente.

—Você acha?

Sussurro olhando para ela. Éramos parecidas. Tínhamos o mesmo tom de cabelo, as mesmas sobrancelhas e o mesmo nariz.

—Temos que dar um jeito em sua auto estima.

—Por quê?

—Você duvida de mais!

—O que?

—Está sempre com duvidas, Gwen. Duvida de si mesma, do seu sangue, até da honra do seu pai, e nós temos que dar um jeito nisso. Se tiver tantas duvidas não se moverá, continuará parada, com a vida passando por você sem ser ninguém, só mais um potencial desperdiçando no mundo. Não te botei no mundo para você desperdiçar sua vida com duvidas.  

—Como você sabe?

—Mães sabem das coisas! E quando não sabemos as tias falam! E só pra constar: você é uma Blood! Nasceu Blood e morrerá Blood.

—Sim senhora.

Digo levantando, com um sorriso meio morto no rosto. Resolver minhas duvidas, não é? Já que minha mãe respondeu uma, vou ter que perguntar para o Caleb se ele e Lucy vão ter mesmo um filho. Meu coração estava esperançoso, apesar de um canto da minha mente está desconfiado. Sigo o cheiro do Caleb. Era tão fácil de identificar. Eu tinha a impressão de que sentia o cheiro dele em mim mesma. Tinha um grupo comemorando a fogueira, enquanto outro cuidava dos feridos. O fogo queimava mais forte que nunca na fogueira e dentro de mim. A lua estava cheia, um pouco vermelha de mais para o meu gosto. Sigo para dentro da floresta. O cheiro do Caleb misturado com o de mato e cada vez mais forte. O encontro em uma lareira, sentado em um tronco caído, arrancando mato. Parecia pensativo.

—Caleb.

Chamo um pouco insegura. Eu sabia que ele me ouviria, mas eu detesto essa voz de insegurança. Que tipo de Alfa eu sou?

—Sim.

Responde olhando para a lua. Parecia tão frio e distante. Começo a sentir meu coração se partir. Foi só uma rachadura. Espero que se mantenha apenas nisso.

—Eu te amo.

Digo sem pensar, ficando vermelha até a raiz. As palavras saíram da minha boca com uma facilidade constrangedora. O que eu estou fazendo? Parece que eu quero que meu coração seja moído, como se não fosse incomodo o suficiente esse aperto que sinto nele. 

—Não vamos dar certo, Gwen.

Ele está me rejeitando. Agora sim, meu coração trincou, mas não caiu em pedacinhos. Ainda não caiu em pedacinhos, mas era o suficiente para que eu quisesse passar o resto da vida deitada em posição fetal e nunca mais olhasse para os olhos dele.

—Você acha isso mesmo?

—Você não pode competir com a Lucy.

—Não posso... Competir... Lucy. Ela está... Gra...gr...ra...a.

—Sim! Um novo Alfa Sparrow vai nascer e eu não posso perder tempo com você!

Responde levantando e me deixando sozinha. Acho que dizer que me coração estava um caco não é o suficiente, é eufemismo. Eu não conseguia me mover. Não conseguia pensar. Eu não conseguia respirar direito. Eu era uma perca de tempo. Burra e tola. Meu Deus!! Eu nunca vou tomar jeito? Como vou sobreviver a isso? Minhas pernas não têm força. Nenhuma parte do meu corpo parece com vida, exceto meu coração que doía. Doía tanto que acho que vou morrer. Aqui no meio da floresta afogada com minhas próprias lagrimas. Sem nenhuma reação. Acho que adormeço.

Acordo dentro de uma caminhonete. Um edredom azul me cobria. A paisagem ainda estava nublada. Meus olhos estavam mais pesados do que o normal. Meu coração ainda doía a ponto de que eu querer chorar. Era um aperto esmagador, como se ele fosse pesado de mais para o meu corpo. Olho para o meu pai dirigindo, com os olhos verdes azulados fios na estrada. Ele estava decepcionado por eu ser tão fraca? Possivelmente sou um desperdício de seu sangue. Péssima alfa, péssima filha, péssima amante. Desperdício de oxigênio ambulante. Começo a chorar quase imediatamente. Eu sou tão fraca!

—Gwyneth, eu sinto muito. 

—Por quê?

—Por que eu não cumprir meu dever direito.

—Não é sua culpa se eu não herdei os seus melhores genes.

—Gwyneth, cale a boca. Quem parece que não é minha filha é a Lucy!

—Por que ela deu para o Caleb e ficou grávida?

Minha vontade foi gritar: eu também dei para o Caleb, me deserde, por favor, por que eu não sou mais uma loba, sou uma burra. Mas não consegui mexer a boca. Foi um comando? Meu pai não é do tipo que fica dando comandos sem mais nem menos.

—Não, esse tipo de vacilo está nos genes dessa família. A Lucinda sempre foi problemática em outros sentidos. Ela sempre foi manipuladora e eu fique esse tempo todo fingindo fechar os olhos. Se a família esta com em crise agora e por que eu vacilei.

—Para onde estamos indo?

—Onyx! Sua mãe, Beverly e eu concordamos que ficar lá por um tempo será melhor para você! Tem que desenvolver algumas habilidades antes de enfrentar Lucy e Caleb novamente. E eu ainda espero muito de você.

—Não espere, eu sou um fracasso.

—Está sendo dramática! Ou talvez todos os jovens são dramáticos quando ganham um espancamento amoroso!

Retruca minha mãe me dando um susto. Ela olhou para a floresta nevoada, disfarçando uma expressão de raiva. Eles sabem? Sabem a humilhação que passei? Eu me sinto tão pequenininha.

—Mãe?!

—Nem percebeu que eu estava aqui, né? Você achou mesmo que vou te largar em Onyx sozinha?

—Eu nem pensei nisso!

Resmungo falando a verdade. E meus pais sorriem um para o outro e minha mãe me faz um cafuné.

—Que bom!Assim não se decepciona!

Olho para as montanhas. Onyx, né? Será a oportunidade de começar de novo. A minha chance de me reerguer. Dou um sorriso para o futuro, meu coração ainda dói, eu quero mesmo é ficar na cama pelo resto a minha vida, mas eu não morri, né?Contudo, não deixei de pesar ter ouvido um longo uivo de tristeza. Minha impressão. Ninguém que importa está triste com minha partida.

Demorou um tempo até chegarmos em Onyx. Quando a vi de longe fiquei impressionada. Onyx parece um globo de neve. Tinha uma camada azul que parecia pura energia cobrindo uma cidade branca. Era linda. Eu me sentia esperançosa ao olhar aquela cidade acima das montanhas, pairando no céu. Minha nova vida seria ali.

Onxy era absolutamente agradável.

O clima não era absurdamente frio, a arquitetura era bonita o suficiente para querer sair de casa e existia uma sincronia assustadora entre natureza e modernidade que a fazia uma cidade de fadas na terra sem magia. Parecia que Beverly estava gravada em cada pedra dessa cidade e em seus moradores. As casas alvas tinham jardins e estufas dando cor a área residencial da cidade. Beijar-flores de penas coloridas e brilhantes voavam por todo canto como fadinhas rápidas competindo corrida com borboletas de todas as cores.

—Onxy é uma cidade planejada para ser no mínimo uma cidade de anjos e fadas.

Comenta minha mãe colando a cara no vidro do carro, com os olhos arregalados, como uma criança no parque de diversões. Eu simplesmente imaginaria uma capital mais suja.

—As cidades planejadas normalmente não dão muito certas depois de quarenta anos, e algumas ainda antes, e quando dão sempre é à custa de alguém.

Constato sendo um pouco negativa. Minha mãe faz uma cara feia e resmunga um pouco brava:

—Você não viu os vilarejos ao redor.

—Os vilarejos?

—Sim, quem não consegue viver na capital, mora nos vilarejos e cidadelas ao redor de Onyx.  Fazemos o possível para ter uma quantidade equilibrada de área verde, área residência, área urbana e pólo industrial. Sua tia perdeu noites pensando em cada detalhe e em como manter o projeto pela maior quantidade de tempo possível. Precisa-se de permissão para morar em Onyx, e quem não consegue mora ao redor da cidade. Temos mais de um prefeito para manter-la no controle. Tem o prefeito da cidade principal, Kylle Gabriel, e outros sete das cidadelas ao redor. E a linha ferroviária alcança toda essa região. Os carros normalmente são equipados para vôo, assim não precisamos de muitas avenidas, apenas as necessárias para pouso e vôo, e as garages normalmente são no alto. As ruas são apenas para pedestres e ciclistas. E temos captadores preparados para receberem ozônio e os transformarem em energia, isso sem contar as regiões verdes.

—Carrie, você está muito animada.

Avisa Cam, contendo um sorrisinho. Ele olha para mim e comenta sussurrando:

—Ela adora essa cidade.

—Percebi. Por que não estamos voando?

—Nós não moramos na área residencial.

—Não?

—Quer que seu pai seja preso por atentado ao pudor?

Pergunta meu pai com um meio sorriso. Ah! É por isso. Acho que na área da cidade a tolerância a pelador a muito menor do que as Bases.

—Ah!

—Moramos na área verde. Wolfs e Fairys são os únicos que tem permissão para morar naquela região. Claro que tem um monte de regras a serem seguidas, mas todo mundo concorda que precisamos de mais espaço.

—Tem muita gente na área verde?

—Um vilarejo.

—É onde vocês nasceram e passaram os primeiros anos de suas vidas!

Completa minha mãe com um sorrisinho no rosto. Ela estava com uma cara sonhadora. Que coisa estranha!

O carro entra em uma estradinha, saindo da avenida. A estradinha percorria toda a floresta da área verde, até chegarmos a um caminho em que as arvores pareciam fazer um corredor, com suas copas se tocando. No final do corredor tinha um arco de madeira com flores trepadeiras subindo por elas com uma imensa placa: Bem vindos a Vila Carvalho.

Vi as primeiras casas da vila logo que de imediatos. Eram de madeira, algumas em cima das arvores, outras no chão. Mulheres e homens pareciam trabalhar em hortas e jardins, outros reformavam algumas casas, vi crianças fazendo excursão escolar, barulhentas e brincando com se o mundo fosse limitado àquelas árvores. Alguns Sadics mais velhos paravam ao ver o carro passar e nos cumprimentavam. Paramos em uma casa no alto da colina. Ela parecia ter sido construída ao redor de uma arvore gigantesca, com a copa que fazia sobra pela casa inteira. As paredes, o piso, as janelas e as portas eram de madeira e o telhado era vermelho. A casa parecia pequena se comparada a arvore. Meu pai estacionou o carro. Desci calmamente. Não sei o porquê, mas o ar daqui parecia diferente. Morei perto da floresta minha vida toda, mas não me lembro dessa sensação de conforto e paz.

Alguém sai correndo de dentro de casa. Era uma mulher de cabelos azuis e parecia já ter quarenta e alguma coisa.

—Cam, Carrie! A Angel acabou de me ligar!

—Aconteceu alguma coisa, Bonnie?

—Sim, a Zoey fugiu de casa com o Cyrus!


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Notas finais do capítulo

Muitos acontecimentos em um capitulo só, eu sei. Sobre esse hiato super longo, não tenho comentários, exceto esse: estou com uma imensa dificuldade criativa junto com um problema técnico para escrever, com o teclado do meu computador exigindo mais força do que o normal para escrever e eu tendo que conferir e corrigir minhas palavras a todo instante (são erros em um nível inteligível, que se eu deixar pra depois, nem eu vou entender o que quis dizer). Resumindo, quando finalmente tenho ideias meu teclado me cansa rápido de mais e tenho que diminuir o ritmo. Particularmente, é um incomodo demorar dois anos, quase três para terminar um livro, tempo em que antigamente eu poderia fazer dois livros e meio... De qualquer forma, obrigada pela paciência, desculpa o trastorno que é ter que ler todo o livro por que os capítulos estão demorando, o que me incomoda bastante também.

PS - Adoro escrever notas, mesmo que repetindo coisas, por que me sinto mais próxima dos leitores. Ah! E vocês postaram da nova capa? Comentem. Sobre o capitulo e a capa.

PSS- Visitem meu blog, normalmente tenho alto (e autos, em respeito ao pleonasmo) monólogos e comentários.



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