Sociedade dos Corvos escrita por Raquel Barros


Capítulo 11
Capitulo Dez - Zoey


Notas iniciais do capítulo

Oi, tudo bem? Voltei.



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—Onde você se cortou?

Pergunta Emma para o Ethan, quebrando o silencio de muitos minutos. Eu não tinha percebido, mas os nos dos dedos de Ethan estavam avermelhados. Tinha um corte em seu antebraço. Emma toca em seu antebraço e o corte começa a fechar.

—Você não viu isso?

Pergunta Stephan para Cyrus, que burfa com desprezo.

—O que isso tem a ver com o Cyrus?

Pergunta Arya, levantando a sobrancelha.

—Ele recebe um salário obeso para que isso seja evitado.

Comenta Stephan calmamente. Tem algo nesse homem... Alguma coisa que o envolve em mistério, como o abismo mais profundo do oceano. É uma frieza e um calor esquisito. Ele olha friamente para Ethan, envolto em seus próprios pensamentos. Alguma coisa nele faz os pelos da minha nuca se arrepiar. Mas eu sinto isso com a maioria dos greateanos. Talvez, seja só preconceito. Ou ele seja um Dark.

—Para isso? Eu tenho que descontar a frustração dele também? Dar seus socos? Bem, eu acho que não.

Pergunta Cyrus irônico. Ignoro as batidas do meu coração ao ouvir sua voz. Isso é ridículo! Absurdamente ridículo! Odeio está apaixonada e cheia de ciúmes. Odeio o fato que meu corpo responde ao dele com calor, que uma parte do meu ser quer aconchego em seus braços. Odeio tudo isso. Inclusive lutar comigo mesma para não ceder.

— Só por curiosidade, quanto é que ele ganha?

Pergunto, esquecendo do meu namorado ao lado. Eu poderia perguntar diretamente para ele, não, eu não vou perguntar para ele. Stephan levanta as sobrancelhas. Ele me parece família com essa expressão. Parece algo que eu vi há muito tempo e eu não lembro em quem. Acho que esse mistério todo envolta do embaixador de Greta Master me incomoda profundamente. Minha vida não tem segredos, e tudo que está me é oculto me deixa desconfiada e irritada, apesar das pessoas acharem o mistério atraente. Mas, a maioria das pessoas é tola.

—Um milhão e meio por ano. Cento e vinte e cinco mil por mês.

Responde Stephan fazendo tudo o que é cabeça virar na direção dele. Um milhão e meio por ano... Meu Deus! Quanto dinheiro. Quer dizer, minha família é muito rica, mas com a quantidade de irmãos que tenho... Bem, digamos que não podemos comprar muitas bobagens. Eu tenho tantos irmãos que se quer consigo lembrar o nome da maioria. Acho que minha mãe os enumera, só por garantia, para não ter colocado o mesmo nome em mais de um.

—Há quanto tempo ele está nesse emprego?

Pergunto olhando para Cyrus como se ele tivesse alguma doença contagiosa. Eu sinto em que um futuro próximo eu vou ganhar um monte de presentinhos caros, jantar com vinhos antiguíssimos em restaurantes com pratos folheados a ouro e talheres cravejados de diamantes, talvez até um sorvete com pó de ouro, essas coisas em que eu não posso pagar de volta por que tenho vinte irmãos e estou super desempregada. 

—Desde os quinze anos. Isso sem contar os benefícios.

Continua Stephan pensativo cruzando os braços. A Arya estava olhando para o Cyrus como se ele fosse um alienígena. Olha só, nosso clã é muito rico. Muito rico mesmo, do tipo que tem tanto dinheiro que chega a ser inimaginável, e só se comparar em riqueza Hazazel por que é mais velho do que eles (quanto mais velho e inteligente, maior a chance de está entre os dez homens mais ricos do mundo, tia Bev está em primeiro lugar no ranque das mulheres ), mas, se você for mais novo em uma família com mais de cem pessoas...Bem, digamos que isso não é exatamente grande coisa. Minha família paga uma guerra praticamente, você acha que um caçula já sentiu o cheiro de dinheiro? Não, né?!

—Benefícios?Como assim benefícios?Ele ganha em um ano o que poucas pessoas conseguem juntar em uma vida!

—Ganhos extras por todas as vezes que salvou a vida do Ethan. E Shadows arriscam a própria vida pela de outras, é de se esperar que o salário seja grande...

—Um milhão e meio, desde os quinze e com beneficio! Eu não consigo imaginar tanta grana. Preciso arranjar um emprego.

Resmungo eu completamente desanimada.

—Seus pais são ricos! E seu namorado também.

Resmunga Arya de volta dando aquela conferida em mim. Aquela com cara de quem pergunta: Você está brincando né, amiga? Retribuo o olhar ofendida. Onde já se viu isso? Eu posso muito bem cuidar de mim mesma quando for o momento certo para isso.

—E nem um, nem outro vão me sustentar! Poupe-me!Você deixaria o Aspen te sustentar?

—Se ele fosse capaz! Eu viveria dormindo e comendo de graça, então...

—O Aspen não aceitaria te sustenta você sabe, não é?

—Eu cuidaria da saúde dele! Não existiu trabalho maior do que isso. Cuidar de um ser humano rabugento e resmungão doente é super cansativo! E quando eu quisesse trabalhar não seria ele a me impedir, Zoey Victoria.

—Seus pais também eram ricos. E você tem menos irmãos do que qualquer um aqui. Com certeza você deve ter uns milhões também, Arya.

—Vocês não se incomodam por aqui ter apenas filhos da elite?

Pergunta Stephan interrompendo a discussão das duas, claramente incomodado com ela. Não consigo imaginar o motivo. Mas, é esquisito falar do Aspen e do futuro que ele não teve em voz alta. Parece pesar o ar. Bate uma saudade. Meu humano preferido morreu há dois anos e eu ainda sinto sua falta.

—Eu não sou rico!

Retruca Caleb com energia. Todos nós olhamos para ele. O pai de Caleb sente que é O macho, mas é um imbecil. Meu pai é um macho. Tio Cam é um macho. Eles respeitam suas esposas, defendem os mais fracos, assumem suas responsabilidades e sustentam seus herdeiros. Ephrain não, ele é gastão, bruto e tem uma filosofia de vida completamente imbecil. Quando eu penso nele, penso em um imbecil.

—Seu pai gastou todo o dinheiro com prostitutas...

Retruca Gwen cruzando os braços, talvez lembrando o por que dela e Caleb começarem a matilhar agora.

—E com os filhos dela.

Resmunga Caleb com rancor. Ok! Se eu tenho vinte irmãos e reclamo, imagina para o Caleb que tem cem. Não é hipérbole, ele tem cem irmãos. O seu pai passa o rodo em geral, faz tanto filho que sabe apenas o nome dos três primeiros, por que um deles vão herdar a matilha. O resto, bem, o resto é resto!

—Por isso ele tem tantos filhos?

Pergunta Arya coçando a cabeça.

—Para moramos em tendas! E eu ter que brincar de cão de estimação. Aquele homem não sabe o que é honra e dignidade!

—Você está com cheiro de rebeldia.

Resmunga Gwen, com um sorriso divertido na cara. Caleb faz uma careta para ela. Eles são tão fofinhos juntos, espero que dêem certo. A Gwen esperou tanto por isso. Sofreu, suspirou, se xingou. Ela merece a felicidade.

—Acho que está na hora de dormir, eu estou exausta.

Avisa Arya, se espreguiçando e levantando. Ela limpa as mãos na calça Jeans e sorri preguiçosamente antes de entrar na barraca das mulheres.

—Eu também!

Diz Emma levantando, ela para na porta da barraca e olha para mim e para Gwen, antes de perguntar:

—Vocês vêm?

—É claro.

Confirma Gwen, dando um beijinho em Caleb antes de levantar.

—Eu faço a vigia.

Informa Stephan, olhando para o fogo. Ele estava muito quieto desde que Gwen e Caleb voltaram. Desde a mansão dos Raven. Quer dizer, estavam todos muito quietos. A mansão era o símbolo do poder daquela família. Vê-la destruída era, de certo modo, arrasador.

—Preciso falar com você.

Avisa Cyrus segurando meu braço. Tiro o meu braço de suas mãos. Não quero olhar para cara dele. Odeio sentir ciúmes. É um sentimento de posse mesquinho, como se eu fosse olhar para o lado e perder o Caleb. É algo que de certo modo machuca o coração, fazendo pressão nele. Ver o Cyrus olhando para a Gwen me desencadeou isso. Permito friamente:

—Fale.

—Em particular.

—Não quero falar com você!

—Por que não?

—Por que você é um safado, sem vergonha e cara de pau?!

Afirmo em tom de pergunta cruzando os braços. Cyrus levanta apenas uma sobrancelha indagadora. Ele parecia meio contrariado, mas, não mais do que eu. Com certeza absoluta eu estou mais furiosa, magoada e um monte de outras coisas.

—Você fala como se eu tivesse transado com a Gwen.

—Então você estava mesmo olhando para Gwen!

—Eu olhei para o lado e fiquei surpreso por que a Gwen e o Caleb estavam sãos e salvos.

—E ficou olhando?

—Olha só, meus ataques de ciúmes não são assim!

—Olha só você, eu não quero saber de você olhando outra mulher pelada! Nas minhas costas ou na minha frente!

—Ah! Qual é? Fala como se eu vivesse olhando outras mulheres peladas.

—Ué! Se eu não posso olhar para outros homens, você também não pode olhar para outras mulheres!

—Você parece uma louca!

—E você também!

—Está bem! Você venceu! Desculpas! Você está certíssima.

Diz ele, desistindo da discussão. Eu ouvi uma pontinha de ironia em seu pedido de desculpas. Ele está dizendo que eu estou errada? Que eu estou errada por brigar por ele por tê-lo flagrado olhando para outra mulher nua? Cruzo os braços, e pergunto contrariada:

—Você está sendo irônico?

—Não! Eu pareço irônico pra você? É claro que não.

—Quer saber? Vá te lascar, Cyrus!

—Boa noite pra você também, Zoey.

Diz Cyrus alto, enquanto eu marcho furiosa para minha tenda. Quem ele pensa que é?Deito na minha cama e me cubro até a cabeça. Depois de um longo tempo o silencio imperava. Exceto pela respiração das meninas. Antes que percebesse estava soluçando. Desesperadamente. A ponto de não consegui respirar direito. Minha raiva e frustração tinham tomado forma de espessas lagrimas. Chorar não me fazia mais fraca, de certa maneira ajudava a lavar meu coração. O peso parecia que saia. Eu odeio chorar. Sinto-me fraca por sucumbi a frustração. Aos poucos vou adormecendo. Sem ao menos perceber.

—-

As cortinas eram brancas na vila. Tudo era branco. Eu sou branca. A neve lá fora era branca. A luz que entrava no quarto também. Ele não! Ele era vermelho. Suas roupas eram manchadas de vermelho sangue. Suas mãos eram vermelhas. Já seus olhos eram negros. Eu odeio esses olhos. Eu sabia o que era a coisa grudenta, o manchando. Meu coração se apertou no peito. Estava acontecendo de novo.

—O que você fez?

Pergunto, apesar de já saber.

Responde, com um sorriso frio, as presas para fora. Ao nosso redor começaram a aparecer cadáveres. Eu estava desesperada. O cheiro de carne podre e ferrugem subiam as minhas narinas. E meus olhos ardiam de tanto que eu chorava. Eu estava no meio do campo, abraçada a alguém. Suas roupas manchadas de sangue, encapuzado, suas mãos também estavam sujas, e eu só conseguia ver seus lábios avermelhados com as presas de fora em um meio sorriso perigoso, o maxilar quadrado, e um pouco do cabelo e loiro. Cyrus, com o tom de voz suave e aveludado sussurra para mim:

—O necessário, querida. O necessário para te manter segura.

—-

—Vocês estão demorando muito para chegar aqui, sabiam?

Pergunta Beverly, ainda encostada em um Lizard negro. O animal era imenso, com escamas brilhantes, negras e tão próximas uma das outras que nada passava por entre elas. Seus dentes era uma coleção de presas afiadas enfileirados e tinha garras afiadas. Do um passo para trás quando o Lizard olha para mim com seus olhos azuis de serpente. Grandion. O Lizard da Beverly. Olho para a minha tia, uma criatura de um metro e sessenta, magrinha, com rosto em formato de coração e olhos azuis amendoados e elétricos com cílios imensos que a fazia parecer um poço de inocência. A base do seu nariz era pontilhada de sardas e seu cabelo era ondulado como o da Emma e chegavam à base de suas costas. Era uma mulher de aparente fragilidade. Eu não tinha percebido isso. Sua expressão era de cansaço. O vestido azul estava rasgado pela metade. Levanto as sobrancelhas. Por que o vestido dela estava pela metade? Beverly segue meu olhar até o vestido dela.

—Não pareço muito com a Bervely Blood que protege Onyx, não é?

—Não é isso... O que aconteceu com seu vestido?

—Rasguei para colocar na cesta! Tinha que garanti que os bebês não morreriam antes de chegarem à terra fixa. Ficaria nua se fosse necessário. E por que vocês estão demorando tanto?

—A floresta não é mais como você se lembra.

—Precisa de um jardineiro?

—Nenhum jardineiro com o mínimo de juízo aceitaria o trabalho.

—Eu sou o jardineiro do meu jardim.

Retruca falsamente ofendida cruzando os braços finos e pálidos. O Lizard rosna baixinho para mim. Reviro os olhos para os dois. Eu não sei o que eu fiz, mas não foi nada para merecer esses dois na minha mente.

—E Cyrus?

—O que tem Cyrus?

—Como é que está seu relacionamento com ele?

—Andando...

—Está chateada com ele por ter olhando para a Gwen?

—E por ter mentido, sim, eu estou.

—Eu tenho o marido mais ciumento do pedaço!

—Eu sei.

—Ciúmes é algo insuportável, um pouquinho pode até ser fofo, mas quando é em demasia, é perigoso. Não o alimente, pelo bem do seu relacionamento.

Aconselha, fazendo carinho no “bichinho” de estimação dela. O Lizard rugi e eu acordo em sobressalto. Estou suada e com calor. Aquele tipo de calor que faz você querer tomar um banho gelado. Olho para as meninas, dormindo encolhidas em suas redes. Arya estava falando coisas sem o menor nexo. Gwen estava tão apagada que se não fosse pela respiração dela eu juraria que ela estava morta. Emma era uma combinação de grunhidos, nomes e chutes. Ela nunca teve um sono tranquilo.

Saio de dentro da tenda. A fogueira estava apagada e não havia sinal do vigia, quem quer que o fosse. O ar estava impregnado com o cheiro de podridão e estava frio. A noite é ainda mais perigosa aqui. Sinto uma baforada em minha nuca. Ok! Tem algo atrás de mim e eu não sei se quero saber o que é. Tento controlar minha respiração enquanto giro com o calcanhar. Arregalo os olhos enquanto sou levantada no ar pelo pé. Debato-me enquanto aquela coisa ia me levantando até a altura de seus olhos. Olhando para os olhos vermelhos e para os dentes nojentos uso a única arma a minha disposição, grito com todo o meu fôlego, antes de alguma coisa bater na minha cabeça e eu apagar por completo.


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Notas finais do capítulo

Comentem e beijos para vocês.



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