O Curioso Caso de Daniel Boone escrita por Lola Cricket, Heitor Lobo


Capítulo 34
2.02 | Issues


Notas iniciais do capítulo

Então.
Ia ser a Lola que postaria o segundo episódio da temporada, mas ela teve problemas (issues!) e eu resolvi adiantar esse capítulo logo porque já estava quase pronto, de qualquer maneira. Ela fará o terceiro, de fato.
"Issues", baseado na música da Julia Michaels, traz a primeira interação Shawniel em muito tempo (dentro do tempo da história). Como será esse embate? Saiba agora. Boa leitura!



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“Pois eu tenho problemas e você os tem também. Então dê todos eles para mim e eu darei os meus a você. Nos banharemos na glória de todos os nossos problemas, pois temos o tipo de amor necessário para resolvê-los. Você faz umas merdas de propósito. Você fica bravo e quebra coisas, se sente mal e tenta consertá-las. Sim, eu tenho problemas. E um deles é o quanto eu preciso de você.”

— Julia Michaels, “Issues”

Washington, D.C.

14 de Outubro de 2016

182 dias depois da facada que não me matou

Encaro o anel de coco que tenho no meu dedo indicador enquanto meu pai dirige calmamente até me deixar no colégio para as aulas do dia. Comprei-o durante uma de minhas idas à casa de campo do tio Andy no Colorado, e nunca mais deixei de usá-lo. Foi Lucian Furler quem me contou o significado do anel de coco: é a indicação de que você é contra preconceitos e abraça qualquer pessoa que vier ao seu encontro. Abraça qualquer causa. E é isso o que tenho tentado ser desde que aprendi na minha própria vida o significado do divórcio e da homossexualidade. Até porque eu não deveria ser preconceituoso antes dessas coisas, e agora, é ainda menos cabível.

— Sua mãe ligou lá pro apartamento de novo — Aaron diz.

Essa é uma coisa que ele aprendeu a fazer depois de pedir o divórcio — esse lance de não mencionar o nome dela. Ele apenas se refere a Ellis como “sua mãe”, esquecendo totalmente dos quase vinte anos que eles conviveram juntos como pessoas casadas e pondo-a no papel de “aquela que teve a mim e ao Justin”.

— O que ela queria?

— Não sei. Não atendi — e dá de ombros.

— O senhor fala como se fosse a coisa certa a fazer.

— Não é que seja a coisa certa, meu filho… só não estou muito disposto a manter contato com ela.

— Não é como se ela fosse tentar reatar com o senhor ou algo do tipo. Não é um bicho de sete cabeças.

— Daniel, ela ainda não quer olhar na sua cara desde o divórcio. Se ela não quer falar com você, não vai falar comigo. E fim de história.

— Tudo bem. Tudo bem, se o senhor quer assim…

O carro para em frente à escola. Engulo em seco, como já faço todo dia antes de pôr meus pés naquele inferno terrestre, e recebo um beijo de meu pai na testa antes de descer do veículo. Ajeito minha mochila nas costas, e mal tenho tempo de pegar minhas coisas no armário quando, de repente, sinto vinte pares de olhos se voltarem na minha direção. Eu fico sem entender o que merdas está havendo até alguém me cutucar no ombro direito.

— Daniel.

Puta que pariu. Aquela voz.

— Shawn — digo, ao me virar e ter toda a certeza do mundo de que é ele mesmo que está ali na minha frente — pensei que não precisasse mais de mim.

— Juro, eu não queria estar aqui — sua voz em baixo tom começa a me preocupar — mas só você pode me ajudar, cara. Só você.

Paro para ponderar a respeito durante alguns segundos. Eu aceito ajudar o babaca do ano que tem parcela de culpa na facada que vai ficar cicatrizada para sempre nas minhas costas? Ou deixo meu lado sentimental e humano de lado e rejeito?

— Me encontre na biblioteca na hora do intervalo. Isso se quiser mesmo que eu te ajude.

 

.::.

 

Sinto o arrependimento correr nas minhas veias enquanto espero Shawn Hans na biblioteca. Eu não sei onde estava com a cabeça quando aceitei ajudá-lo, esperando que ele realmente viesse à BIBLIOTECA. Talvez ele não esteja tão desesperado assim e queira me iludir. Talvez ele quisesse um local público para me humilhar como antes e…

Oh, espera. É ele entrando pela porta.

— Daniel — Shawn me chama do mesmo jeito que da primeira vez, horas antes.

— Shawn.

— Quero ser direto ao ponto — faço menção para que ele se sente à minha frente.

— Faça isso, por favor.

— Estou tendo problemas com minha família. Claro, não são problemas que cheguem perto dos seus nos últimos meses.

— O que você sabe da minha família sobre os últimos meses?

— O suficiente para entender que sua mãe basicamente te odeia, seu pai te apoia, mas nem tanto e seu tio é provavelmente a sua influência… gay — a demora dele em falar a palavra “gay” só reforça na minha cabeça o quanto ele a repudia.

Mesmo que não pareça.

— Não existem influências gays, babaca de quinta categoria — seus olhos se arregalam com meu vocabulário. Ele ainda não ouviu o pior de mim, tadinho — as pessoas apenas nascem do jeito que são. Nada de influência ou escolha. Elas apenas são.

— É o que todos me dizem.

— Mas não é o que você quer acreditar. De qualquer maneira, esse problema é seu e viemos aqui para tratar de outra treta, certo?

— Sim, certo — o nervosismo retorna ao semblante do moreno — desde que o Kian tentou… bem, tentou te matar, as coisas lá em casa não estão muito boas. Ele era tipo o favorito da família, e agora que meu pai e Veronica, minha madrasta, têm de lidar diretamente comigo, eles estão me conhecendo.

— Se você acha que eu me importo com o fato de eles finalmente saberem quem você é…

— Eu quero mudar — agora é minha vez de ficar espantado — e quero que eles me ajudem a mudar também.

Como é que é a história?

— Fui longe demais, Daniel. Acho que eu vou morrer.

— Quer mesmo fazer isso? Porque não adianta começar a mudança e não terminá-la.

— Quero… mas não sei como. Por isso vim te procurar. Você é o cara que mais quis que eu mudasse durante esse tempo todo que nos conhecemos, e provavelmente o único na minha roda social com alguma consciência.

— Desculpa — respiro fundo antes de voltar a falar — é que eu estou realmente chocado com o que está acontecendo aqui. Nunca pensei que aconteceria, na verdade… essa história de você querer ser uma pessoa melhor. Bom, se você quer isso mesmo, vamos começar listando todos os seus problemas.

— Isso vai doer?

— Vai. No seu coração, muito. Em mim vai haver só alegria — não deixo de sorrir, só pensando na chance de finalmente esfregar na cara de Shawn Graham Hans (educadamente) todas as merdas que fazem dele quem ele é.

— Babaca.

— Olha só quem fala! Tudo bem, por onde quer começar?

— Pela parte onde eu bebo álcool.

— Bebe até demais para um jovem de 17 anos, se me permite dizer.

— Jura?

— Não, estou brincando, na verdade, você deveria ficar mais bêbado às vezes — minha cara de sarcasmo deixa bem claro que estou ironizando — eu vi você dando a louca naquela fatídica festa. Foi horrível saber que meu crush daquele tempo acabava com o próprio corpo daquele jeito.

— Eu não consigo evitar às vezes. É a melhor forma que encontro de esquecer todos os meus problemas de família.

— Eu também tenho tretas familiares e nem por isso viro dez copos de Smirnoff por hora, sabia?

— Você é diferente.

— Nem tanto. Já bebi também.

— E deve ter vomitado.

— Não. Na verdade, só fiz vomitar palavras em cima do seu amigo Klaus.

— Que injusto da sua parte…

— Ele merecia. Agora voltemos à lista.

— Tudo bem. Eu bebo demais e não deveria… e também fumo.

— Como é? — Quase grito, mas lembro do grande aviso escrito “SILÊNCIO” na porta da biblioteca e evito esse desastre no último segundo.

— Não cigarro. Meu avô morreu por causa disso — ele fala como se não fosse grande coisa.

Bom, ele deveria saber que é, sim, grande coisa.

— Ah, claro, você não fuma cigarro, mas fuma outras coisas — volto a ser irônico — espera, que coisas você usa?

— Maconha, cocaína... e metanfetamina nos piores dias.

— Puta merda, teu buraco é mais embaixo do que eu pensava.

— E qual era o tamanho do buraco antes?

— Sabendo que você é um tremendo de um homofóbico enrustido que paga de pessoa aberta, mas no fim das contas engana uma pessoa como eu por pura diversão, e sabendo também que você se prestava ao papel de iludir também a Charlotte...

— Eu não iludia a Charlotte!

— Não, querido, e eu sou hétero — calo a boca dele com esse belo argumento.

— Você hoje acordou para me destruir mesmo, não é?

— Na verdade, eu acordei disposto a ser feliz só por hoje, só que tem um obstáculo na minha frente.

— Porra, eu te pedi ajuda!

— Tá bem, tá bem, desculpa de novo — ergo minhas mãos, pedindo rendição — mas é porque, tipo, você vem praticamente pedindo pra morrer ingerindo todas essas substâncias.

— Eu não tinha outra escolha.

— Sim, você tinha. Procurar ajuda antes que seja tarde demais. Você tinha a porra da escolha, mas preferiu ir com a maioria dos seus amigos babacas sem conteúdo e continuar pagando de fodão, fumando essas coisas, bebendo até cair… é por isso que eu tinha pena de você, Shawn. Porque eu sempre soube que, no fundo, você era o mais influenciável do seu grupinho. E seria o primeiro a se ferrar. E ninguém se importaria, pois ninguém estaria com você até o fim. Eu queria ter te ajudado antes, mas você nunca me deixou entrar na merda do seu coração. E agora estamos aqui, compartilhando todos os problemas das nossas vidas, uma coisa que podíamos muito bem ter feito desde o começo. Aquela guerra toda poderia ter sido evitada se você simplesmente deixasse de ser o idiota que sempre foi, Shawn. Eu te amava? Sim, eu te amava. Mas me preocupava com sua felicidade bem mais, por isso nunca te coloquei contra a parede. Eu fiz minha escolha. Você fez a sua.

Percebo que o deixei realmente surpreso com minhas palavras, e na minha cabeça não me resta outra alternativa a não ser deixá-lo ali mesmo, pensando no que eu disse. Saio calmamente pela porta da biblioteca, e assim que estou fora de seus limites, começo a correr de forma desesperada até a sala de aula, onde agradeço a Deus mentalmente pelo zelador não ter trancado a porta, como sempre faz. Adentro a sala, fecho a porta atrás de mim e sinto meu corpo deslizar por ela, até que meus glúteos encontram o chão.

Não sinto vontade de chorar. Não, eu não preciso. Eu tinha de dizer aquelas coisas. Ele precisava saber da verdade, sair daquela bolha tóxica de onde ele nunca havia saído em momento algum. Talvez Klaus Furler estivesse certo quando me contou que eu era o único que podia salvá-lo.

Isso foi há alguns dias.

 

— Daniel, posso falar com você seriamente? — Klaus se chegou ao meu lado, enquanto eu esperava meu pai me buscar no colégio.

— O que foi?

— Não tem nada a ver com nós, antes de tudo — ele deu uma olhada em todos os lados — e ninguém pode saber disso.

— Agora você está me deixando nervoso…

— Minha meia-irmã Phoebe me contou coisas sobre… sobre o Shawn.

— Klaus, eu não acho que…

— Me escuta, por favor, depois pensa — ponderei acerca de seu pedido por alguns segundos.

Se fosse qualquer outra pessoa, eu não pensaria duas vezes em dizer não. Mas era ele. Justamente o cara que estava começando a abrir meus olhos para a vida. Eu tinha que ouvi-lo.

— Tudo bem. Manda.

— Ele não estava tão bêbado assim na festa que quase te matou.

— Se você veio defendê-lo, é melhor parar — toquei seus ombros educadamente, como quem pede um “SAI DAQUI, PORRA” sem pedir.

— Ele também estava chapado — o Furler disparou, e eu fiquei totalmente perplexo com o que acabei de ouvir.

— Chapado?

— Shawn tinha fumado maconha. Muita, até demais pra alguém da idade dele. Eu não quero defendê-lo, como você acha que eu ia fazer, mas quero te alertar, Dan… ele não estava nada bem naquele dia. Eu fui investigar um pouco, forcei o Jared a me contar porque ele havia se drogado tanto na festa e…

— E?

— Ele me disse que Shawn estava muito mal depois de ter brigado com o pai de novo. Que o Shawn praticamente estava pedindo para morrer, e só não cometia suicídio porque era fraco demais pra isso.

Algo em meu corpo começou a se esmorecer, e eu senti vontade de chorar. Não pelo Shawn em si, mas pelo que a vida estava fazendo com ele.

— Daniel, ele ia te pedir perdão por todos esses anos de enganação naquele dia em específico.

— O quê?

— Só que o Trevisan e o Vaughn não deixaram. Eles já estavam chapados, queriam que o Shawn fumasse também e esquecesse essa “ideia estúpida de se submeter a um viadinho” — ele fez as aspas com os dedos nessa parte — palavras do Jared, não me bata.

— Mas que merda — bati os pés com força no chão.

— E como o Shawn ficou chapado logo com os dois amigos mais babacas que ele tem, ficou possesso de raiva, e não de satisfação, quando nos viu juntos depois.

— Porque era ele quem deveria ter ido atrás de mim… não você.

— Daniel, eu quero te pedir uma coisa. Salva o Shawn Hans da morte. Por favor. Se não fizer isso por ele mesmo ou por você, faça por mim. Eu sei da relação de gato e rato que tenho com ele, mas de alguma forma, eu me importo com aquele cara. Doeria muito em mim vê-lo morrer lentamente do jeito que pode acontecer. Doeria em mim e provavelmente na mãe dele. Kim Bennet é a única na vida do Shawn que sofreria com a perda.

— Mas por que está pedindo isso a mim? Por que você mesmo não tenta?

— Porque você é o único que ele vai ouvir. Você é o único que em toda a porra desse tempo não se rendeu aos encantos dele diretamente. Porque ele sabe que só alguém com uma cabecinha tão dura quanto a dele vai conseguir interferir nas suas ações. Só você pode salvá-lo, Dan. Só você.

 

Naquela hora, eu não sabia bem o motivo de tudo aquilo. Mas agora, sentado no chão da minha própria sala de aula, com Shawn a metros de distância, percebo que… ele me ouviu. Ele não me interrompeu. Não me amaldiçoou. Não me bateu. Não me mandou para a puta que pariu.

Mas por que ele me ouviu?

Decido voltar à biblioteca e ver se ele ainda está lá. E assim que ponho meus olhos na janelinha de vidro que fica na porta, vejo que Shawn não moveu um músculo para fora da cadeira. Seus olhos estão focados em um ponto qualquer da parede à sua frente, seus dedos batem freneticamente na mesa e sua perna esquerda treme na mesma velocidade.

Jesus, ele tem o mesmo tique nervoso das pernas que eu e meu pai.

— Shawn — falo, ao me aproximar dele.

— Você voltou.

— Eu não vou pedir desculpas pelo que falei — disparo, já me sentando à sua frente de novo.

— Eu não quero que você se desculpe… foi necessário.

— Você quer mesmo sair dessa, Hans?

O moreno leva alguns segundos para responder, mas ao abrir a boca, sua opinião é clara.

— Sim. Eu preciso.

 

.::.

 

— Certo, Hans, a primeira coisa que você pode fazer é postar um texto nas suas redes sociais pedindo desculpas pelo seu comportamento um tanto quanto imbecil com quem não merecia.

— Como é que é?

— Isso mesmo que você ouviu — franzo o cenho para ele, que revira os olhos antes de pegar o celular do bolso — as pessoas precisam saber que você está disposto a ser menos babaca. Ou isso tudo vai ser em vão.

— E como eu escrevo isso?

— Quem da escola você já tratou mal por puro prazer?

— Você quer mesmo que eu responda?

Óbvio. Eu sou o primeiro da lista. Daniel Boone, você se condenou.

— É… acho que você vai ter de pedir desculpas para mim também.

— Bom, eu posso fazer isso pessoalmente… — percebo que ele vai se ajoelhar na minha frente, e o impeço antes que isso aconteça.

— Pare aí mesmo, por dois motivos. Primeiro: tem gente aqui que vai observar, filmar e estragar o momento. Segundo: não adianta usar seu charme barato para conseguir meu perdão. A vida não é tão fácil assim.

— Merda, Danny, eu só queria testar — ele desiste, voltando para sua cadeira.

— Não comece. Eu fiz a porra do discurso e você ainda tenta vir pra cima de mim como se nada tivesse acontecido? Senta lá, Cláudia — reviro os olhos — e não consigo crer em um momento onde você peça desculpas sinceras a mim. Admita, você gostou do jogo.

— Adorei cada segundo em que consegui te iludir.

— Você nunca me iludiu totalmente, Shawn. Eu sempre soube que você mentia.

— Então por que você continuou na minha cola?

— Porque eu achei que podia te fazer mudar de ideia — fecho os olhos, conto até três e os abro novamente — mas não é disso que devemos falar. Eu já superei. Mas tem outros que não fizeram o mesmo, e você tem de pedir perdão a elas para que todo o trauma seja superado.

— Talvez as pessoas gostem de ser notadas por mim.

— E você voltou ao modo filho da puta só por dizer essa frase. Você se ouve, Hans? Você percebe as merdas que fala? Os únicos que “gostavam” das suas sacanagens não estão aqui agora para te ouvir. Só eu. A última pessoa que queria te ver, conversar contigo e te tocar.

De repente, toca o sinal para todos os alunos voltarem às salas de aula. Eu quase saio do ambiente sem me despedir dele, mas sua voz consegue me parar uma última vez, no meio do meu caminho.

— Eu vou tentar, Daniel. Prometo.

 

.::.

 

Estou eu, deitado no sofá da sala do apartamento para onde eu me mudei com meu pai há alguns meses — ele não queria incomodar mais meu tio e eu não queria atrapalhar as noites de sexo de Andrew — usando meus fones de ouvido para apreciar o hinário que é o “Anti” da Rihanna, quando o modo aleatório do meu celular para justamente em “Close to You”.

Uma vez essa música já representou tudo o que eu pensava acerca de Shawn Hans. Hoje, isso não ocorre mais. Graças a Deus desviei dessa bala perigosa.

E levei uma facada em vez disso. Amo minha vida.

De repente, a música é interrompida pela notificação de mensagem. Pego o celular para ver quem estragou meu momento de superação e vejo que é só Peter Zaslavski gritando coisas como “DANIEEEEEEL”, “VOCÊ TEM QUE VER ISSO, PORRA” e “VAI SALVAR SUA VIDA” pelas mensagens claramente escritas no modo caixa-alta.

“QUE FOI, CRIATURA?” — Daniel

“Shawn Graham Hans tá se redimindo por todos os pecados ao vivo no Snapchat” — Peter

“Será que ele virou evangélico?” — Peter

“Até que seria uma boa, mas não” — Daniel

“Fui eu mesmo que dei um puxão de orelha nele hoje no intervalo” — Daniel

“MENTIRA” — Peter

“COMO QUE TU NÃO ME CONTA ISSO, MANO” — Peter

“Espera, eu vou ver o quê que ele tá falando no Snap” — Daniel

Procuro rapidamente o aplicativo mencionado e… bem, qual não foi minha surpresa ao ver que ele preferiu gravar a si mesmo pedindo desculpas em vez de um textão de efeito no Facebook?

— Oi, gente. Eu… eu queria pedir perdão por algumas coisas que eu tenho feito nesses anos — percebo que ele não consegue olhar para a câmera. Prefere manter seu foco em alguma coisa abaixo dela — eu fui uma pessoa cruel, eu não pensei nos meus atos e nas consequências disso. Já soube de pessoas que procuraram ajuda de especialistas por conta do… do bullying que eu cometi com essas pessoas. Soube de pessoas que quase perderam a vida — e eu sei que ele está falando de mim nesse momento. Eu simplesmente sei — por minha causa. E eu quero pedir mil desculpas por tudo isso. Eu achava que era divertido, sabe, descontar meus problemas nos outros. Achei que ninguém realmente levasse a sério as coisas que eu fazia. Mas hoje eu sei da verdade. E espero que essa mensagem chegue pelo menos perto de todos vocês que algum dia sofreram por algo que eu disse ou fiz a vocês. Me desculpem. Eu não posso continuar sendo essa pessoa egoísta, babaca e preconceituosa que tenho sido. Não mais.

Após assistir aos vídeos, pauso a música — que havia voltado a tocar — para pensar um pouco no que eu acabei de ver e ouvir. Será que Shawn está mesmo se redimindo dos seus atos? Será que esse não é mais um papel que ele está interpretando? Bom, esse é o tipo de coisa que talvez eu nunca vá saber. Porque eu não quero ter mais contato do que já tive com esse veneno mortal chamado Shawn Graham Hans.

Ele é um problema. Eu sou um problema. Ele tem problemas. Eu também. E só por causa desses fatos em comum, qualquer pessoa diria que merecemos um ao outro e que deveríamos continuar juntos pro que der e vier porque um sempre saberá o que o outro sabe, e blá, blá, blá. E por mais que eu quisesse crer nisso um dia, hoje isso não é mais possível. Apesar dos problemas que eu e ele temos, isso não nos faz iguais. A forma como reagimos aos problemas é o que nos diferencia. Eu aguentei muita coisa antes de finalmente deixar tudo explodir. Shawn preferiu ver seu mundo se arruinar antes de mover um dedo para mudar sua situação.


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Notas finais do capítulo

O capítulo teria umas duas cenas a mais, na verdade, mas após conversar com a Lola por vários dias, decidimos deixar esse final em aberto para que a história de Shawn Hans seja desenvolvida.
Mais tarde. Em forma de spin-off.
SIM, SENHORES, TEM SPIN-OFF NA ÁREA! Shawn ganhará sua própria fic porque nós achamos que ele tem muito chão (shawn!) pela frente e muitas histórias a serem exploradas dentro das nuances do personagem. Espero que tenham gostado da notícia. Daremos mais informações em breve.

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