O Curioso Caso de Daniel Boone escrita por Lola Cricket, Heitor Lobo


Capítulo 3
Style


Notas iniciais do capítulo

Olá, amiguinhos do peito! Desta vez não é o Vitor Chato Matheus que fala com vocês, mas sim a Luceana Lacradora. É com o coração palpitando de ansiedade, suor nas mãos e muito medo da reação de vocês... Que demonstro e libero o meu trabalho para o povão brasileiro.

A música usada neste capítulo é Style da Taylor, e acredito que todo mundo conheça, but quem não não sabe da existência, abre o Youtube ou qualquer outra coisa aí e escuta! :D

Agradecemos os comentários e como os capítulos são escritor individualmente, dificilmente nós dois (Vitor e eu) iremos responder o seu ao mesmo tempo. Cada um responde conforme o seu capítulo. Ah, chega de enrolação! Vamos ao capítulo e espero do fundo do meu coração - se eu tiver algum - que vocês gostem!

Boa leitura, chuchus.



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Washington, D.C.

11 de Fevereiro de 2015

427 dias antes da facada que pode ter me matado, ou não ter me matado.

 

06:06 AM

É exatamente o horário que o som irritante do despertador adentra em meus ouvidos e interrompe qualquer sonho maravilhoso que eu pudesse ter envolvendo os enigmáticos olhos verdes que vieram perturbar os meus pensamentos desde que atingi a temida adolescência. Onde, claro, tinha que vir acompanhada de suas terríveis espinhas, mas deixemos essa história para depois...

Respiro fundo e empurro as cobertas azuis com os pés mesmo e jogo meu corpo molengo para o lado, questionando-me o motivo de terem inventado a escola, pois poderíamos muito bem aprender sozinhos em casa. Com uma xícara de café ao nosso lado, quem sabe.

Mas não, a escola ainda existe e o bando de animais loucos para ferrar com você também estão presentes. Eles podem ser detectados facilmente andando nos corredores com olhar superior, também conhecidos como professores. Com seus amados magistrados, pós-graduações — que devem ter custado a minha casa toda — e as benditas licenciaturas.

Não que alguém ligasse para essa merda toda, afinal. Eles continuam sendo professores que adoram ferrar sua vida com provas que dificilmente lhe acrescentam algo.

— Daniel? — ouço o meu nome ser processado do andar de baixo por minha mãe, que nessas horas já devia estar perdendo a paciência com Justin que insistia em não comer com civilidade como a maioria dos seres humanos — Será que terei subir até aí e te tirar da cama a pontapés?

— Não, mãe — reviro os olhos ao gritar um pouco alto demais — Já estou descendo, espere só mais um pouco.

— Depois que se atrasar para a escola não venha reclamar — ela grita de volta com um tom de irritação evidente na voz.

Mães, sempre dando um jeito de pisotear em qualquer fagulha de esperança que criamos. Não que a minha mãe fosse malvada ou a Malévola do filme da Disney — aquele com a Angelina Jolie —, mas ela apenas não tinha a famosa dose de paciência que algumas pessoas possuem. Talvez Deus tivesse sido inconsequente e esqueceu-se de por o elixir da serenidade em seu DNA, porém eu posso conviver com esse defeito.

Saio do quarto e entro no banheiro de tamanho médio do segundo andar. As paredes são em um tom claro de verde que se contrapõe com o branco, todavia ninguém parece notar as rachaduras ao redor da porta. Mas eu noto. Eu sempre noto quando estou fazendo minhas necessidades fisiológicas e questiono-me o sentido da vida e o motivo delas estarem ali.

Lavo meu rosto com a água gelada e deixo as gotículas molharem os meus cílios, para enfim escorrerem em minhas bochechas ainda um pouco amassadas por conta das boas — e poucas — horas de sono. Se eu fosse uma mulher poderia abusar de todos aqueles produtos que fazem maravilhas no rosto de qualquer pessoa danificada pela vida, porém preciso aceitar a realidade que: 1) Eu não sou uma mulher e não vou roubar a cesta de produtos de minha mãe, 2) Preciso de um tratamento de espinhas urgentemente e 3) Olheiras estão me deixando com uma aparência de dez anos mais velho.

Algo que ninguém quer aos 14 anos de idade, obviamente.

Solto um suspiro e saio do banheiro, indo em direção à cozinha onde as risadas de Justin eram facilmente ouvidas. Reviro os olhos ao vê-lo ainda com seu pijama de ursinhos e Ellis tentando desviar o rosto do vapor que saia da chaleira com água quente.

— Bom dia, querido — ela sorri calorosa e deposita um pequeno beijo em minha testa — O café está na xícara, só falta colocar açúcar.

Olho de relance para o recipiente de vidro claro, onde uma água escura tremulava. Pelo amor de Deus, ela realmente não sabe preparar um mísero café, talvez alguns episódios de MasterChef fosse ajudar a situação alimentícia daqui de casa...

Coloco o bendito açúcar na água suja de Ellis que ela prefere chamar de café e tento melhorar o dia com a primeira refeição do dia. Infelizmente enquanto passo um pouco de maionese no meu pão para depois pegar o presunto, noto o olhar maligno de Justin sobre mim.

Pestinha deveria ser seu primeiro nome, isso sim.

— Vai querer o pedaço de presunto, Daniel? — ele questiona com as sobrancelhas arqueadas — Seria uma pena se...

Desvio o olhar enquanto o vejo colocar o pedaço todo dentro da boca. Era só o que me faltava... Além de ter que ir para o ninho de cobras vulgo escola, tomar água suja e comer pão seco, ainda fiquei sem meu presunto. É uma situação cômica, afinal, se visto de fora. Mas eu estou fervilhando de raiva por dentro, sorte que posso mascarar essas emoções alucinantes com um belo dedo do meio.

— Perdeu a educação por acaso, Daniel? — Aaron adentra na cozinha a passos pesados e lança-me um olhar reprovador. Um olhar que eu nem deveria argumentar, só para constar — Estamos atrasados, já está pronto?

Nego com a cabeça e largo o meu café da manhã não terminado. Eu sentiria uma fome danada ao longo da manhã irritante que estava por vir, mas eu sobreviveria. Eu sempre sobrevivia. Se o Lula sobreviveu ao câncer, eu sobreviveria sem comida por cinco horas. Retiro os pensamentos de morte da cabeça e volto ao meu quarto para finalmente trocar de roupa.

Enquanto subo as escadas que relincharam com o meu peso, sou obrigado a ouvir os meus pensamentos malucos: Hoje era o sétimo dia de aula, me restavam mais 192 dias e eu precisava achar um jeito de bloquear os meus sentimentos em relação à Shawn Hans. Só que falando era uma coisa fácil, agora lidar com o que tenho do lado esquerdo do peito — ou seria direito? Foda-se, sou péssimo em Biologia — era mais complicado que descascar laranja quando criança. E sim, agora eu sei descascar uma laranja, duas até se duvidar.

Entro no quarto e termino de me arrumar, limpo os óculos com um pano qualquer que encontro entre a bagunça que era o meu esconderijo. Óculos realmente são uma droga de usar, pois na sociedade que vivemos existem os famosos estereótipos, e o fato de usar esses negócios que custam o olho da cara, faz a famosa piadinha de “quatro olhos” rondar qualquer pessoa — inclusive a mim — e ser tachado de nerd. Podres mortais, pouco sabem da minha inteligência razoável em relação a números.

Isso é para você ver como são as coisas hoje em dia. Ninguém é quem aparenta ser. E eu não era nerd, apenas um pouco recatado, mas ninguém liga para esse detalhe, porque eu sou um completo fantasma naquela escola.

E espero que continue assim até o resto do ano letivo.

[...]

A manhã se sucedeu como esperada. Matérias novas onde o meu cérebro se perdeu logo nas primeiras palavras, números de física que para mim não tinham nenhuma ligação entre si e as palavras desconexas do professor de Biologia que parecia ter saído de um comercial de margarina.

Reprimo um grito de felicidade quando o sino é tocado anunciando a nossa saída. Observo de relance quando Raven sorri timidamente em minha direção e saí da sala a passos lentos acompanhada de alguma outra pessoa que eu pouco conhecia ou sabia da existência até agora.

Bendito seja o dia em que vim parar nesse ambiente.

Recolho as minhas coisas sem muita cerimônia — não, Daniel, as pessoas não vão festejar por você estar guardando as coisas como um pateta —. No entanto minha onda de divertimento logo é interrompida com a vibração constante do celular em meu bolso.

Reprimo um palavrão quando vejo o nome de minha mãe acendendo como fogo em uma escuridão. Abro a mensagem saciando esperanças que vá dizer que chegará atrasada por sabe Deus quais motivos — os quais também não nutro nenhum interesse —, contudo é algo bem pior. Oh, mil vezes pior.

Por todas as abelhas do mundo, eu estava muito fodido.

“Filho, não poderei buscá-lo na escola por motivos pessoais. Procure a van de número 086 e volte bem feliz para casa. A mamãe ama você.

Ps: A motorista tem seu número para futuros acidentes que podem vir a acontecer.”

O mais legal nesse momento que acabou de acontecer é o fato de minha mãe maluca ter dado o meu número para uma desconhecida que: 1) Pode ser uma psicopata mascarada de motorista boazinha de vans escolares ou 2) Uma pessoa bondosa que estará na frente da escola me esperando para voltarmos felizes para casa como Ellis mandou. Mas é óbvio que isso não vai acontecer, e tudo o que me resta é chorar.

Tudo bem, a situação não está tão ruim assim. Poderia ter sido pior. Eu poderia ter perdido uma perna enquanto um garoto passava correndo entre os corredores com uma faca na mão, ou quem sabe ter tido os meus cabelos cortados enquanto o garoto da carteira de trás brincava de origami durante a aula. Eu poderia estar com câncer e estar tendo as lembranças mais felizes da minha vida enquanto definhava em uma cama acompanhado de uma colcha roxa com flores. 

Ter meu número rondando na cidade das vans não era nada ruim perto de tudo o que acabei de imaginar. Afinal, para quem ela repassaria esse número? Para sua emprega peituda? Deus, por que estou pensando em peitos?

Fecho a mochila com impaciência e finalmente saio da sala. Sorte que boa parte da escola já está vazia, assim ninguém irá notar a minha cara de pavor enquanto rondo o estacionamento atrás de um veículo com placa 086.

Depois desse dia, 086 será o meu número do azar. Porque sorte eu não tenho, então vamos aceitar a realidade e chamar o azar de 086. Bem mais dinâmico e menos temeroso.

Saio do prédio escolar e dou de cara com vários carros, ônibus e vans sem qualquer número estampado em sua lataria ferrada. Simplesmente seria mais fácil achar uma agulha no palheiro que encontrar o tal número 086.

Não sei quanto tempo passa ou quantos minutos eu fico olhando para os lados como um abobado com Alzheimer, mas meu celular volta a vibrar como um condenado e vislumbro um número desconhecido na tela.

— Alô? — atendo meio relutante e noto como minha voz estava rouca — Quem está falando?

— Senhor Daniel Arthur Boone? — a voz desconhecida diz meu nome completo e sinto um calafrio tomar conta do tem ao redor dos meus ossos. E não, não são os músculos, pois eu não sou um cara bombado como os famosos filmes mostram — Por acaso está procurando a van de número 086?

Sim, senhora, eu estou. Por acaso é Deus que ligou e está tirando com a minha cara?

— Estou sim.

Escuto um suspiro do outro lado da minha e alguns barulhos que pareciam ser vozes e gritos. Meu Deus, será que ela realmente era uma psicopata com sorriso angelical? Tiro essa ideia da cabeça e volto a prestar atenção em todos aqueles veículos parados e perfeitamente estacionados.

— 086 se encontra próximos dos lixeiros coletivos — a mulher diz com a voz treinada como de um General e desliga.

Desliga na minha cara! Mais ousada que a própria Lady Gaga.

Bufo com impaciência e procuro pelos lixeiros que deveriam estar em algum lugar desse espaço gigante que deve ser maior que qualquer plantação de batata doce. Sorrio animado quando vejo o número 086 estampado no veículo e uma mulher com os cabelos presos em um rabo de cavalo batucando com os dedos no volante.

Glória a Deus nas alturas!

Alcanço as escadas e as subo com timidez, temendo que a motorista me veja e diga que sou um perdido de bosta. Porém, nada disso acontece e sim ao contrário: ela me vê, parece confusa a princípio, mas depois abre um sorriso onde revelaria até seu esôfago se fosse possível. Retribuo o seu gesto e aposto que minha cara ficou como se tivesse levado um soco só de um lado do rosto, porém tudo bem. Já estou com a cara toda detonada mesmo pelo cansado. Quem liga para sorrisos falsos nessas horas?

Sento-me no primeiro assento que vejo, e estou prestes a pegar meus headphones para ouvir alguma música que irá clarear os pensamentos e dar cor a minha medíocre vida preta e branca quando outra pessoa adentra na van a passos lentos e risos baixos que provavelmente foram direcionados a motorista.

De começo prefiro ignorar e mergulhar-me novamente no mundo musical, só que ao levantar o olhar e dar uma checada básica na pessoa — pois a curiosidade é maior que qualquer coisa no mundo — eu o vejo.

Shawn Hans.

Com seus enigmáticos olhos verdes e sorriso espontâneo. Risada descontraída e pele bronzeada sinalizando as ótimas férias que teve. Sinto meu estômago se contrair quando seu olhar encontra o meu e um sorriso resplandece em sua boca.

Penso em corresponder da mesma forma e sorrir como as garotas idiotas que babam aos pés dos garotos em troca deles saciar seus desejos. Também penso em mandá-lo embora — não que isso fosse resolver alguma coisa.

— Olá, Daniel — Shawn diz descontraidamente com os olhos verdes tremulando em minha direção.

E eu deveria — na verdade — dizer para ele ir embora, pois eu sei exatamente onde isso vai parar, mas eu assisto enquanto damos voltas e voltas, e seus passos se aproximam do meu assento.

Eu estava fodidamente fodido.


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Notas finais do capítulo

O capítulo foi revisado, mas pode passar um errinho aqui ou acolá porque eu sou meio perdida nessas coisas pequeninas mesmo. Mil desculpas :/
E sim, o Shawn finalmente apareceu! Espero que tenham gostado da menção a música da Taylor, foi um trecho pequeno e eu usei a tradução do Vagalume (me julguem, po***), então, sei lá, já esqueci o que queria falar.

Ah, não se esqueçam de deixar seus comentários, impressões, palavrões sobre eu escrever que nem uma louca ou sobre ser uma pessoa idiota, ou até mesmo sobre o Shawn ser um pessoa malvada que não vê coisa boa no mundo... Oh, Deus...

Para quem ainda não viu o trailer:
https://www.youtube.com/watch?v=RwEUOEZuSmw
(Todos os créditos a Amanda Saldanha e seu trabalho excepcional que sempre lacra com o coração das pessoas)

Nos vemos na próxima quarta! UXALÁ, capítulo escrito por mim e pelo Vitão


Bejão!
:)