Cem Anos Depois escrita por Adson Kamps


Capítulo 14
XIV - Nem Tudo que Tilinta é Confiável


Notas iniciais do capítulo

VOLTE-EI :3



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— Conseguiram suas respostas? – perguntou Rapunzel saindo de trás de uma árvore.

— Não me lembro de ter dito seu nome três vezes – disse Aurora seguindo em frente – Você se lembra, Cinderela?

— Não, Aurora – comentou a outra sorrindo enquanto seguia a amiga – Na verdade, eu não sei quem é essa.

— Vejo que fizeram as pazes. Bom – falou o espírito indo atrás das louras – Mas não vão conseguir nada se continuarem me ignorando.

— Também não me lembro de tê-la convidado à vir conosco – comentou a mais nova, irredutível.

— Ignore-a, Oráculo – falou a outra se cansando da encenação – Ariel nos disse que somente ganharíamos a Rosa se pegássemos algo em Arendelle.

— Arendelle? Não é uma boa ideia. Sabe o que lhes aguarda lá?

— Claro que sabemos – disse Aurora se virando para as duas – A Rainha Elsa nos aguarda, e provavelmente uma batalha também.

— Provavelmente? – questionou com um risinho, a Oráculo – Esta sendo positiva demais se acha que é apenas uma probabilidade.

— Não precisa vir conosco se não quiser – alfinetou a mais nova lembrando do ocorrido da praia.

— Não é com o modo que vocês derrotarão a Rainha do Gelo que eu estou preocupada – falou sem paciência – Mas sim com o que esta no caminho de vocês.

— E o que seria isso? – perguntou Cinderela temerosa.

— Se continuarem indo por aí, acabaram adentrando no Bosque das Fadas, que funciona meio que como uma realidade sobreposta a nossa, mas muito má – a preocupação começou a aparecer na face da garotas – Pensem em um espelho que reflete somente o lado ruim de tudo. Funciona mais ou menos assim.

— Mas... são fadas! – Aurora estava chocada – Como podem ter um lado ruim?

— Todos temos trevas dentro de nós – comentou Rapunzel – E devo lhe lembrar que Malévola também já foi fada um dia.

— O...O que?!

— Continuando – interrompeu a Oráculo – Devem evitar contato com quaisquer criatura alada que virem lá, por mais inofensiva que pareça. As criaturas que habitam esse lugar são feitas de sombras pura, nenhuma tentativa de acordo, nenhum imploro por misericórdia as compadece.

— Então venha conosco – Cinderela disse – Seus poderes seriam úteis...

— Esperem aí! – Aurora falou mais alto por cima das vozes de suas companheiras – Deem um tempo em tudo! Você – apontou pra Oráculo – comece a explicar como diabos Malévola já foi fada!

— Não devias dizer essa palavra com D. Ainda mais devido o local que estamos e...

— EXPLIQUE!

— Muito bem, então! – disse a mulher brilhando em dourado para mostrar sua extrema irritação – Quer saber o que ouve com sua inimiga? ENTÃO VEJA!

  Rapunzel tocou a testa de Aurora que caiu desmaiada. Uma enxurrada de cenas invadiam sua vista, então tudo escureceu.

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  Alice acordou sobressaltada de um pesadelo. Sentia como se alguém a estivesse observando, e de fato tinha. O corvo de Malévola a encarava com seus enormes olhos de Ônix, lendo seus sonhos provavelmente para reportar a Rainha do Mal.

— Xoxo, vá embora! – espantou o pássaro balançando uma das mãos.

  Grasnando, a ave saiu a voar pelos corredores.

  Alice suspirou e apoiou-se na parede. O mesmo sonho havia aparecido para si. Dois garotos a encarando, um deles, de óculos, com o que parecia uma caneta na mão. O outro, menorzinho e loiro, a encarava com pura fascinação.

— Escreva! – pedia ele todo animado.

  A menina então, pegava a caneta do outro e começava a traçar linhas aleatórias sobre um pedaço de papel. Vários círculos e semicírculos que acabaram por formar a imagem de um redemoinho.

  Encarando aquilo com extrema curiosidade, a menina preencheu a bolinha em branco no centro do estranho desenho. Imediatamente uma luz forte e avermelhada saiu da figura que começou a girar, sugando a menina de volta a realidade.

  Alice tinha certeza que aquele não era o final do estranho sonho, mas nunca havia passado dessa parte para confirmar. Nem mesmo se lembrava direito do porquê esse nome vêm a sua mente para se referir à si mesma, Alice.

  Encarou a porta com grades à sua frente. Tinha outra certeza também: não estava sozinha naquele calabouço. Ela sentia de alguma forma, a presença de pelo menos mais três pessoas naquele local, embora fosse impossível nenhuma fazer barulho. Na verdade, só o fato de ela “sentir” essas pessoas já era impossível.

  Ah, que mundo era aquele, meu Deus? Magia, bruxas, rainhas más... aquele não era seu lugar, ou pelo menos não parecia. Muitos mistérios rondavam tudo ao seu redor de forma tão densa quanto aquela névoa roxa que encobria os céus.

  Olhou então para o lado, e viu, por entre duas pedras uma minúscula fissura. Parecia uma passagem feita por ratos, e era óbvio que somente eles passariam por ali. Mas... talvez fosse grande o suficiente para um ser humano espiar por ali.

  Alice encarou a porta esperando a bruxa chifruda que a mantinha presa aparecer com aquele maldito pássaro nos ombros, mas depois de minutos nada aconteceu. Resolveu então, agir.

  Observou suas correntes. Estranhamente, não eram presas às paredes, mas sim à uma grande bola pesada. Talvez para dar a falsa realidade de movimento? Foi até à esfera de metal e com todas as suas forças a rolou um pouco para frente, o suficiente para que olhasse pela fissura sem que as correntes atrapalhassem.

  Ajoelhou nas pedras de granitos cheias de musgo sem se importar com a sujeira, afinal, nas condições em que ela vivia, higiene era uma das menores preocupações. Olhou por entre a parede e observou um denso manto negro ir se desfazendo aos poucos, deixando passar o som de alguém se debatendo e gritando insultos ao demônio.

  Alice não gostou nem um pouco do que estava ouvindo, mas era bom saber que de alguma forma aquele feitiço de encobertamento se desfez.

— Ei, psiu – chamou baixinho. Aos poucos o barulho foi diminuindo até não passar de som de passos. Alguém se agachou e olhou pelo buraco para a menina com grandes olhos azuis – Quem é você?

  O homem do outro lado encarava a menina com grande espanto por aquela mulher ter sido tão cruel em prender uma criança ainda.

— Quem é você? – Ótimo, mais um que não se lembra de nada. pensou ao repetir a pergunta.

  Mas para surpresa de Alice, ele respondeu.

— Meu nome é Henry.

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  Aurora abriu os olhos confusa com o que havia acontecido. A sua volta o tecido de realidade parecia diferente, como se estivesse mergulhado em uma água colorida. Completamente turvo, onde até mesmo a luz estava desacelerada.

  Levantou e observou. Ainda estava na Floresta Encantada, isso era fato, mas tinha a impressão de estar vendo ela como era no passado. Duas garotas passaram correndo por ela, uma loira e outra morena. Mas o que mais diferenciava as duas eram as asas da garota de cabelos escuros.

  Lindas asas coloridas como de borboletas monarcas brotavam nas costas da menina, que utilizava as mesmas para erguer a outra em uma brincadeira. As duas riam divertidas, voando em direção ao bosque. Do modo que eram unidas, pareciam irmãs, mas era difícil dizer.

  A cena mudou para as duas à conversar com um pequenino ser de vestido verde-escuro e cabelos loiros desbotados. Ela falava em um tilintar agudo, como um sininho de Natal. Uma ondulação negra saía dessa fada e das outras à sua volta, mas as meninas não pareciam notar.

  Era impossível elas não notarem também os olhos vermelhos como duas pedras preciosas, brilhando malignamente.

  Algo vai acontecer pressentiu a loira. A fada de verde olhou de um modo maligno para as companheiras que atacaram a moreninha em conjunto, erguendo-a no ar. As duas garotas começaram a gritar desesperadas, enquanto a de cabelos negros se debatia.

  A fada de verde voou para longe e voltou logo em seguida com um pó cinzento em suas mãos. Parecia carvão recém queimado, mas uma luz sinistra brotava dele. Flutuando por cima da garota, a fada derramou o pó por cima da mesma, e uma transformação começou. As fadinhas a soltaram no chão enquanto a loirinha tentava às espantar com um pedaço de madeira.

  Mas já era tarde demais. Uma nuvem negra girou em torno da menina. Chifres cresceram; as asas encolheram até ficarem caídas nas costas como um manto negra. A pele antes bronzeada ficou da cor do leite, e os olhos brilhavam em verde.

  A garota loira, assustada, correu para fora da floresta em direção à um castelo que estava sendo construído. A menina recém transformada olhou com puro ódio para a outra que corria. A fadinha que falava como sino pousou no seu ombro e murmurou algo no ouvido, fazendo-a concordar.

  Sorridente, a fada flutuou até parar de frente com as outras. De braços abertos, disse em tom de alegria sem utilizar o tilintar:

— Apresento-lhes a nossa nova irmã – a garota olhou para elas – Malévola!

  A visão se desfez.

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— Eu sabia que Malévola era tão má, mas não ao ponto de prender uma garotinha em sua masmorra – comentou Henry após uma longa conversa.

— Eu não faço ideia do porque estou aqui – disse Alice se recostando na parede. Já fazia um tempo que haviam quebrado o contato visual por não julgarem mais necessário – Fico pensando o que tenho de especial para merecer estar aqui – tocou as pedras no chão – E você? Por que esta preso?

— Acho que somente o fato de eu ser o príncipe já é o suficiente.

— Não compreendo – admitiu a menina.

— Aqui onde vivemos, o felizes para sempre é o sonho de todos, seja homem ou mulher – começou a explicar – E cabe a nós, príncipes e princesas manter a esperança do povo quanto ao verdadeiro amor. Lógico, existem forças maiores que são capazes de mantê-lo vivo na memória por algum tempo, mas nada sobrevive sem esperança.

— Então se Malévola separar um casal de determinado reino...

— A esperança nesse reino fica fragmentada. – completou.

  Alice olhou desolada para a porta a sua frente. Como era possível alguém ser tão podre ao ponto de fazer isso com as pessoas? Como um coração tão negro quanto o de Malévola consegue continuar batendo?

— Você... Não sabe se tem mais alguém nessas celas? – perguntou por fim.

— Infelizmente não – respondeu Henry com a voz arrastada – Essas celas são encantadas com uma espécie de feitiço de encobertamento para que não saibamos da existência de outros, isso se existirem.

— Você entende bastante de magia pelo visto – observou Alice.

  Uma risadinha – No meu reino, nós fomos agraciados pela presença de uma fada madrinha, e ela nos instrui sobre os feitiços mesmo que não possamos lança-los. Por falar nisso... De que lugar você vem?

— Não sei – respondeu com um suspiro.

— Tem algo que você se lembre que nos possa ser útil? – perguntou o príncipe.

— Infelizmente não – disse e sentiu uma onda de sono lhe atingir – Acho que eu vou... dormir um pouco...

— Alice? Alice! – chamou o príncipe, mas a garota já havia dormido.

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— Aurora? Aurora! - Cinderela sacodia a mais nova. Após Aurora desmaiar, a Oráculo simplesmente desapareceu novamente sem dizer seu nome ou dar uma única pista sobre o que havia acontecido com a loira de azul.

— Hã? O que... – disse ao abrir os olhos e ver uma cara de preocupação se esvaindo da mais velha.

— Graças aos deuses! – gritou abraçando a mais nova – O que aconteceu contigo? Você desmaiou do nada!

— Eu... Onde esta a Oráculo?

— Sumiu após você dar uma de... bem, você— respondeu ajudando-a a se levantar.

— Ela me deve algumas explicações sobre o que me mostrou – vendo a confusão nos olhos da outra, explicou – Ela me fez ver o passado de Malévola, ou pelo menos parte dele. Vi sua transformação de fada boa para aquela bruxa, e aconteceu nesse bosque que vamos atravessar.

— Então... Achas que devemos dar a volta? – perguntou.

— Não. Isso levaria muito tempo e temos uma semana pra pegar aquele maldito colar – disse ajeitando o vestido cheio de agulhas de pinheiro – Vamos em frente. Uma única recomendação: quando estivermos dentro, não olhe nos olhos das fadas.

— Desconfio que elas não vão nos dar as boas-vindas se fizermos isso – resmungou Cinderela seguindo a amiga.

  Seguiram em direção à mata fechada, vendo em frente dois troncos retorcidos formando um arco. Vinhas que gotejavam um líquido negro pendiam sobre o arco dando um aspecto mais sinistro ainda ao local – É aqui – anunciou Aurora sem parar de andar. Passaram por baixo do arco tomando cuidado para não encostar na água escura.

  Imediatamente a realidade se retorceu e anuviou-se, deixando tudo meio ondulado. Conforme as ondas iam passando, casinhas minúsculas iam surgindo. As sombras se dobravam e delas saíam pequeninas fadas com vestidos de cores escuras e olhos brilhantes.

— Siga em frente. Não olhe nos olhos – Aurora dizia mais para si que para a amiga.

  Era difícil definir se estava andando em linha reta por conta das ondas no manto da realidade, mas continuaram andando com passos firmes. Foi então que tudo começou a dar errado.

  As fadas, cansadas de serem ignoradas começaram a puxar os cabelos das princesas, que se debatiam para tira-las – Saiam! – Aurora brandia a espada para afastar as criaturas aladas.

  Partiram em disparada pela pequena aldeia que parecia gritar como mil sinos. As sombras dançavam ao seu redor fazendo aparecer objetos que eram facilmente desviados. Aurora viu então um arco a sua frente e continuou correndo para lá, parando somente depois de atravessa-lo.

— Conseguimos – murmurou desacreditada – Cinderela, nós conseguimos! – gritou animada e olhou para trás.

  Seu sorriso morreu na mesma hora ao perceber a burrada que havia feito. Ainda dentro da aldeia, Cinderela estava cercada pelas fadas e parecia hipnotizada pelos olhos das mesmas, que tilintavam como loucas.

  Uma delas, a de cabelos loiros e vestido verde, começou a descer sobre a cabeça da garota com pó cinza nas mãos.

  A princesa voltou correndo para ajudar a amiga mas já era tarde demais. O pó fora despejado e a transformação havia se iniciado.

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  Ah não pensou Alice Novamente esse sonho?

  Sim, estava tendo aquela repetida visão. Já estava se acostumando com aquilo, e também ficando entediada. Ela sabia o que aconteceria, então pôr que não conseguia simplesmente encerra-lo?

  Porque dessa vez as coisas seriam diferentes.

  Quando o vórtice brilhou em vermelho, um buraco de terra apareceu, sugando a garota. Quando conseguiu entender o que acontecia, viu-se em um jardim de rosas brancas e uma mulher muito, muito irritada à sua frente.

— O que pensas que esta fazendo?! – berrou a mulher gorducha de vestido vermelho e preto.

— Vo-vo-vossa majestade! – disse uma criatura fora do alcance da visão de Alice. Parecia alarmada com algo.

  Sem entender nada, a garota olhou para algumas flores de aparecia estranha, talvez fosse a tinta vermelha que pingava de suas pétalas. Em suas mãos, a mesma caneta que os garotas haviam lhe em tratado também pingava o mesmo pigmento. Ela havia feito aquilo?

  Virou para a rainha que batia o pé enfurecidamente no chão. Algo estava errado, tinha de estar! Porque diabos pintaria as flores?

— Guardas! – a Rainha apontou para si – Levem essa jovem delinquente para o calabouço! – duas cartas de baralho agarraram a menina pelos braços e a ergueram do chão, levando em direção ao castelo. Assim que passaram pela rainha, ela pegou o queixo da loira e disse com um sorriso – Em breve você será mais uma bela cabeça na minha coleção.

  Algo definitivamente estava errado.

  Alice foi levada sob custódia até uma gaiola gigante de ouro que devia estar dentro do Palácio real, então algo brilhou no fundo da sua mente: aquilo tudo que estava acontecendo eram lembranças! Eram fragmentos de sua conturbada memória antes de ser jogada nas masmorras de Malévola!

  Mas por que ela não conseguia reagir? O que havia de errado consigo? O seu eu do sonho não fazia o que ela comandava, era como se fosse uma personagem, uma outra garota!

  Uma outra garota... pensou tão fervorosamente que algo estranho aconteceu.

  Uma gota negra pingou bem à sua frente, dentro da gaiola. Da pequena mancha, faíscas multicoloridas saltavam como fogos de artifício presos ao céu negro da noite. Curiosa, Alice se aproximou da negritude, e quando a menina tocou, ouviu o que parecia o menino do início do seu sonho:

— O que acontece agora...? – o nome do final foi indistinguível.

— Agora? – uma voz risonha muito parecida com a sua retrucou – Agora nos resta aguardar...

—... O final chegar. – completou espantada por ter finalmente se lembrado de algo do seu passado.

  O líquido negro se expandiu e encobriu a garota, encerrando o sonho.

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— Cinderela! – gritou Aurora partindo para cima das fadas.

  Sacou a espada e descreveu um arco no ar, transformando meia dúzia de fadas que estavam ao seu redor em sombras dissipadas. Continuou avançando em direção à amiga que se contorcia enquanto o pó fazia efeito. Após matar mais duas dúzias de serezinhos cintilantes ela agarrou a de cabelos loiros que permanecia atônita olhando a transformação da gata borralheira.

— O que vocês fizeram com ela?! – berrou para a fada fazendo o penteado da mesma se revirar com o vento saído de sua boca – Pare já!

— Não posso – a criaturinha disse se debatendo, a voz saía como de uma serpente – Há algo errado com essa transformação, o pó não esta funcionando!

  Grunhindo, a princesa de azul atirou a criatura para longe fazendo com que esta atingisse uma pedra e se desfizesse em sombras. A aldeia ficou estranhamente silenciosa, sendo a única coisa que quebrava isso eram os gemidos de Cinderela.

  Aurora olhou em volta desesperada, não sabia o que fazer para ajudar a amiga e não tinha tempo para olhar nos seus livros. Observou atônita enquanto o pó escuro começava a virar uma espécie de óleo negro e viscoso encobrindo a amiga e se sentia impotente por não poder ajudá-la.

  Observou a varinha mágica voando para longe e quicando em um tronco, caindo no chão faiscando. Uma ideia ocorreu-lhe. Poderia parecer estúpida, mas tinha de tentar.

  Correu até o condão e girando no ar entoou – Bibidi-Bóbidi-Bu! – uma camada dourada encobriu a coisa viscosa como um manto, tirando-o de cima de Cinderela que caiu no chão, arfando.

  Precisava fazer logo o que pretendia, pois à magia negra estava lutando contra  o poder da varinha para não ficar presa. Olhou sua espada caída no chão atrás da outra loira e direcionou a escuridão para lá, vendo ela titubear ao entrar em contato com o metal forjado em bondade.

— Vamos logo... vamos... – reza em murmúrios para que seu plano desse certo, e após o que pareceu uma eternidade, as trevas aceitaram a lâmina e ali se estabeleceram, deixando-a completamente negra.

   Suspirando, largou o condão e caiu de joelhos, inalando o ar com força. A outra a olhava o com espanto, pois havia visto o que Aurora fez para lhe livrar daquele poder. Ambas se encaram mas não perguntaram nenhum daqueles clichês daqueles de Você esta bem? ou disseram algo como Tudo vai melhorar, pois era muito óbvio que nada estava bem e ainda tinham um grande caminho à percorrer até tudo melhorar.

  Naquela noite acamparam ali mesmo naquela aldeia. Depois do massacre em massa de fadas que Aurora realizara em prol do salvamento de Cinderela nenhum ser tilintante do inferno tinha aparecido para importuna-las.

  Fizeram o inventário do que tinham e embainharam a espada com cuidado para não tocar na lâmina, pois não se tinha certeza do que ela causaria por ser amaldiçoada e abençoada ao mesmo tempo. Aurora olhou para os seus três livros que haviam restado e pegou o que contava sobre a história de Belle e Adam, mas estranhamente estava em branco.

  Franziu a testa. Pensou se não teria sido a Rainha Má que apagou aquela história para não sofrer tanto ou se ela mesma tinha planos de escreve-la, mas deu de ombros e jogou-o atrás de uma pedra, não notando quando o mesmo sumiu em um rápido flash de luz azul.

  Olhou para Cinderela que estava encostada em uma das árvores com a varinha na mão, encarando o céu escuro. Não parecia ter muita vontade de dormir, talvez pelo que havia passado mais cedo, então Aurora resolveu deixar para ela o primeiro turno de vigia e deitou-se para dormir.

  Naquela noite, estranhamente, não teve sonhos.

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Notas finais do capítulo

Te prepara Lia :3



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