Londres - 1878.

Magnus estava espantado, nunca havia visto algo assim, o garoto ardia em febre e olhando para ele dava para ver suas veias brilhantes, como se por ela passassem fogo liquido e não sangue. Mas ao mesmo tempo outra substância era visível nas veias do rapaz, era algo negro  e quando se chocava com o fogo, causava uma  onda de choque que deixava roxo a pele e as veias do garoto, parecendo com ramificações, ou uma teia de aranha roxa.

Magnus ficou preocupado, olhou para as ramificações arroxeadas e notou que elas seguiam um padrão, começava pelo braço direito e  seguia por todo o braço, estava agora na metade do peito, parte subindo pelo pescoço, outra descendo pela barriga e outra seguindo reto. Magnus apostava que quando esta chegasse ao coração, o rapaz morreria.

— Alguém poderia me emprestar uma adaga? - Perguntou o bruxo. 

— Pra que? Você não vai sacrificar ele não é? - Perguntou Simon assustado, afinal para que o bruxo iria querer uma adaga?

— Não seja tolo, se fosse para mata-lo, não teria tido o trabalho de ir atras de Magnus, eu mesmo meteria uma adaga no peito dele! Alias, o  que um mundano faz entre caçadores? - Perguntou Will.

— Não sou um mundano, sou um humano em ascensão! 

— O que dá no mesmo, mundano!

Clary por um  momento quase sorriu, era como ouvir Jace falando com Simon, mas não era Jace, este estava agonizando em cima daquele leito e pela expressão de Magnus,  ele não poderia ajudar muito. 

Sentia seu mundo desabar, se Jace morresse a culpa seria sua, ela insistiu para que ele fosse aquela maldita viajem, ele não queria ir, havia dito a ela que não queria ir, mas ela insistiu, tanto que Jace havia cedido, agora por sua culpa ele estava ali, morrendo. 

Mea culpa, mea maxima culpa. Lembrou das palavras de Jace, mas que agora se aplicavam a ela, como pode fazer isso com a pessoa que mais amava? Como pode traze-lo para a morte? Como pode ser tão egoísta a ponto de não ligar para o que ele queria? Você tem o coração sombrio, filha de Valentim! Nunca as palavras da Rainha de Seelie pareceram tão verdadeiras, ela só podia ter um coração sombrio para matar o homem que mais amava!

— Vão me dar ou não a adaga? Sabe o amigo de vocês não vai durar muito! 

Sem uma palavra Alec pegou sua adaga e entregou a Magnus, sabia que Jace estava morrendo, mas ouvir isso da boca de Magnus, era como se enfiassem uma faca em seu coração. Olhou para Clary e viu que a garota chorava baixinho enquanto Simon, esquecendo da desavença com Will, correu para abraça-la. Até mesmo Isabelle sempre tão forte e que quase nunca chorava estava chorando baixinho. Seus olhos começaram a arder enquanto a ficha finalmente caia, Jace estava morrendo, seu parabatai estava realmente morrendo! E isso era insuportável, amava Jace e não conseguiria seguir em frente sem ele, embora não fosse mais apaixonado pelo parabatai e duvidava se realmente foi algum dia, ainda o amava como um irmão, como se fosse sua outra metade. Não posso perde-lo! Pensou com angustia.

Magnus desviou o olhar que até então estava sobre Alec, o garoto estava sofrendo muito e isso era visível, qual seria a relação dos dois? Olhou para Jace, notou que as ramificações começavam quase no pulso direito e depois seguiam pelo braço, havia ali um corte profundo, não parecia infeccionado, mas também não parecia estar cicatrizando. Pelo jeito as runas eram inúteis ali. Magnus segurou o braço ferido de Jace e com um movimento suave mas preciso, fez um corte na pele, em vez de sangue o que saiu do braço do garoto foi uma substância negra e viscosa com um cheio podre, enquanto saia para fora da pele, o " sangue de fogo " também  começou a vazar, ao se chocarem causava uma certa faísca, como se brigassem entre si, um pouco do liquido caiu na mão de Magnus que segurava o braço de Jace, com um pequeno grito de dor Magnus soltou o braço e limpou a mão no lençol da cama.

O " sangue " de Jace queimava, o bruxo não sabia como o garoto ainda estava suportando, sua agonia deveria ser enorme, suas veias estavam realmente queimando! Rapidamente fez um curativo no corte, pois se qualquer um dos amigos do garoto relassem naquilo por acidente se queimariam.

Os integrantes do grupo olhavam apavorados para Magnus, era óbvio que o sangue de Jace havia machucado o bruxo, mas se aquilo era tão doloroso assim, Jace devia estar numa agonia terrível.

Enquanto olhava para o belo garoto Magnus tirava suas conclusões, era óbvio que a substância viscosa e mau cheirosa era o veneno no organismo do rapaz, assim como também era óbvio pelo fato de runas não funcionarem que era de origem demoníaca, porém Magnus nunca tinha visto um veneno tão terrível assim antes, não que se lembrasse. Outra coisa óbvia era que esse garoto não era normal, o que era aquele fogo liquido que corria em suas veias? E onde estava o sangue vermelho, normal dos humanos? Para salvar esse garoto precisaria ter uma séria conversa com os amigos dele, precisava saber realmente da onde eram e o mais importante, o que eram? Com um suspiro virou-se para os adolescentes.

— Precisamos conversar e sugiro que sejam sinceros se realmente se importam com esse garoto. O que ele é?!

                                                        * * * 

— Sera que seu veneno funcionou?

— Se o garoto não morreu ainda, com certeza está nas ultimas. - Respondeu a mulher. 

Mortmain olhou para a mulher com certo interesse. Ela ainda não havia dito seu nome a ele, parecia ser jovem, mas seus olhos diziam o contrário. Ela estava sentada calmamente em uma poltrona da sala e parecia observar o ambiente a sua volta com tédio, até que algo pareceu chamar sua atenção, Mortmain seguiu o olhar da mulher e viu o que tanto lhe chamara a atenção, em cima de sua escrivaninha de carvalho, estava aberto uma folha com desenhos de suas criaturas, na verdade era um esboço de como funcionavam.

— Interessante, devo admitir que não esperava isso de um mundano, você é muito esperto Mortmain, devo admitir. 

— Diga-me o quer? Ainda não me disse.

— O que eu quero? Nada demais, apenas vingança contra aqueles que causaram minha ruína e minha infelicidade. - Retrucou com um sorriso cruel.

— Os jovens que chegaram no instituto eu suponho. 

— Sim, especialmente o loiro e a garota ruiva, o garoto já está pagando e o que é melhor, enquanto ele morre causa mais sofrimento a pobre Clarissa! Mas ela ainda terá o pior dos castigos, vai desejar a morte! O sofrimento dela será muito pior que o meu, ela pagara caro pelo que me fez, ver o seu amado Jace morrer será apenas o começo.

— Esse veneno, ele pode matar o irritante pirralho Herondale? Minha bela Tessa está com eles, preciso pega-la.

— Irei ajudar você a te-la, mas vamos por partes, primeiro Jace, o veneno que modifiquei foi especificamente para ele, para que tenha uma morte muito lenta e sofrida. É um veneno muito raro e que não é visto a séculos sobre a terra, nunca acharam a cura, é veneno tirado dos grandes e primeiros demônios que já existiram, nunca acharão uma cura, pelo menos não a tempo. Ele seria o que nos daria mais trabalho, acho que é mal de Herondale, ele é perigoso, já frustrou muito meus planos, acabar com ele não era só uma questão de vingança, mas também de prioridade ou ele acabaria conosco.

— Se esse veneno é tão poderoso assim por que não causa efeito nos outros?

— Por que para matar Jace precisei modifica-lo, então se tornou inútil contra humanos normais.

— Está dizendo que aquele pirralho, não é um humano normal? - Perguntou Mortmain descrente.

— Sim, é exatamente isso que eu disse.

— Não acredito! Ele é algum ser do submundo? Tem sangue de demônio em suas veias? 

— Na verdade é o contrario, ele é angelical até demais! 

                                     * * * 

Nova York - Dias atuais.

Jocelyn chorava enquanto olhava uma foto de Clary e Simon juntos, estava sentada na cama do quarto que Clary usava quando estava no instituto, alias quarto que a garota só usava quando Jace não estava, apenas quando o garoto saia para alguma tarefa da Clave e ela tinha certeza que o garoto não retornaria a noite é que Jocelyn deixava Clary dormir no instituto. 

Ela era realmente super protetora com relação a Clary, sempre fora, Luke sempre lhe dizia que ela era uma mãe coruja e que precisava dar a Clary seu próprio espaço. Mas foi só deixar a garota longe de suas vistas por um minuto e olha o que acontecia! 

Sua menininha estava perdida no passado, ela e Simon, como poderia busca-la se nem mesmo Magnus sabia como busca-los? Lembrou-se de quando Magnus deu a terrível notícia.

Havia acabado de chegar a biblioteca desesperada por notícias, quando ouviu Maryse fora de si gritar com Magnus, perguntou se algo havia acontecido, se haviam encontrado as crianças.

— Sim, Magnus já sabe para onde as mandou. - Disse a mulher fria.

— Então me digam, onde está minha filha?

— Sinto muito Jocelyn, mas eu os mandei para o passado. - Disse Magnus pesaroso.

— Como assim passado? Pode busca-los não é Magnus?

— Infelizmente não há nada que possa ser feito, estou pesquisando, mas nunca um bruxo pode viajar ao passado, muito menos mandar alguém. 

— Então eles estão presos lá? 

Magnus não respondeu, apenas abaixou a cabeça e Jocelyn pode ver uma lagrima solitária escorrer pelo rosto do bruxo. Ele estava chorando? Logo Magnus? Aquilo foi como um balde de água fria em sua cabeça, a situação era pior do que esperava, sua filhinha ficaria presa para sempre no passado?

Voltou a realidade ao ouvir a porta se abrir, sentiu passos se aproximando e depois braços a abraçando apertado. 

— Vai dar tudo certo, Clary vai ficar bem, ela tem muito de você, é teimosa, vai achar um jeito de voltar e trazer todos com ela. - Ouviu a voz embargada de Luke dizer.

Espero pelo Anjo que você esteja certo Luke, não vou suportar perder minha filha. Pensou desolada.