Lá E De Volta Outra Vez escrita por Pacheca


Capítulo 72
Teremos Paz Agora?


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas, tudo bom? Como sempre, fim de semestre eu dei aquela sumida básica, mas já de férias eu vim compensar essa falta. Espero que gostem ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/668946/chapter/72

   No dia seguinte, acordei com o despertador do meu pai. Ele sempre acordava alguns minutos antes do necessário, pra poder acordar direito segundo ele. Sabendo desses minutos extras, decidi tentar organizar meus pensamentos.

   O drama com Iris finalmente tinha acabado. Ela tinha entendido que estava tudo bem e que também não tinha porque se culpar.

   E, tecnicamente, outro drama se resolveu com isso. Eu não precisava mais ficar me escondendo pela escola afora só para conseguir alguns minutos com meu namorado. Agora sim, estávamos num relacionamento, propriamente dito. Todo mundo sabia. Ou pelo menos quase todo mundo.

   O que me remetia a outro problema. Nathaniel. Algo mudara sutilmente, em questão de dias, e eu não sabia apontar o que era. E aquilo provavelmente era o pensamento que mais me atormentava. Eu não queria que meu amigo simplesmente fosse embora um dia.

   Por outro lado, eu não tinha precisado dele para enfrentar Ambre. Eu costumava simplesmente deixar que Nathaniel tentasse controlar os ímpetos da loira, mas foi libertador encará-la de frente uma vez na vida.

   E, logicamente, o pensamento que mais pesava dentro da minha cabeça. O que infernos tinha acontecido com Armin? Toda a situação já era ruim o suficiente, mas não saber nada sobre era pior ainda.

   Suspirei e finalmente me sentei, abaixando meu cabelo com as mãos. Aqueles todos eram pensamentos repetidos, que minha mente simplesmente não conseguia parar de revirar. Infelizmente, eu ainda não sabia como resolver os novos problemas. A única opção plausível nesse momento era seguir meu dia, normalmente.

   Assim que pus os pés no chão, minha mãe abriu a porta. Ela ficou lá, parada, olhando para mim antes de dizer para me apressar se não quisesse me atrasar. Só que quando fiquei de pé para procurar uma roupa no guarda roupa, ela ficou me encarando.

   – Bom dia?

   – Está demorando pra se aprontar. Dormiu mal?

   – Não...Não, eu dormi muito bem. Só ando cansada.

   – Se parasse de construir muros entre nós a cada dois dias estaria menos cansada. – Fui obrigada a aceitar calada a provocação. Eu merecia. Eu realmente me sentia distante deles. E simplesmente não conseguia impedir aquele comportamento meu. – Sabe que pode se abrir com a gente, meu bem. Aconteceu algo? Está escondendo algo? Está vendo algum rapaz?

   – Oi? Olha, eu preciso escolher uma roupa rápido, se não me atraso, então...

   – Eu nunca vou te julgar, minha filha. Independente de quem seja esse...essa pessoa. Se estiver te fazendo feliz, eu estou feliz também. – Olhei para ela, vendo o olhar de quem só quer um voto de confiança. E quando meu cérebro finalmente registrou a fala dela toda, eu entendi. Ela estava considerando que eu estivesse saindo com uma garota.

   – Mãe, eu agradeço o apoio, de verdade. É muito importante para mim saber que você me ama por quem eu sou. Não tem nada acontecendo, ok?

   – Bem, se você insiste...Ande logo, o tempo está correndo.

   Ela finalmente desistiu e desceu as escadas. Acabei de enfiar minha camiseta enquanto procurava algum sapato pelo chão. Só então reparei em como meu quarto estava bagunçado. Acabei de me vestir e prendi meu cabelo, que seguia crescendo de pouco em pouco. Mal parecia que tinha sido devastado na minha briga com Nathaniel. Bom, na briga dele comigo.

   Desci as escadas depois de checar meu reflexo. Depois de concluir que eu não faria Lysandre passar vergonha ao ser visto comigo naquele traje, fui tomar café da manhã.

   – Eu não acho que seja uma boa ideia, Lucia. – Ouvi a voz do meu pai, pelo visto respondendo alguma coisa que minha mãe tinha dito. Eles não me perceberam descendo as escadas, então desacelerei o passo.

   – É algo que precisamos considerar... – Ela calou em seguida, como se não soubesse como prosseguir. Aproveitei a deixa e acabei de descer as escadas.

   – O que foi? – Perguntei, testando a seriedade do assunto. Os dois simplesmente deram um sorriso raso e disseram que não era nada. Ou seja, alguma bomba que não queriam me contar. Talvez nem fosse tão grave, mas não insisti.

   – E você, mocinha? Decidiu hibernar? – Meu pai questionou, checando seu relógio.

   – Não estou atrasada ainda. Só precisava de uns minutinhos a mais.

   – Sei bem. – Minha mãe falou, um tom agressivo. Ela ainda não tinha superado minhas fugas noturnas, e com razão. Eu sabia que estava errada. E eu ainda tinha era que agradecer por ela ter omitido tudo isso do meu pai. –Bom, ande logo, senão vai se atrasar.

   Concordei. Meu pai me ofereceu uma carona, mas decidi ir andando. Ainda tinha alguns minutos livres mesmo. O único detalhe é que com toda essa história de segredinho dos meus pais, eu esqueci de tomar café. E na correria pra chegar a tempo na aula, não consegui comprar nada. Entrei na escola num passo apressado, com apenas 5 minutos para a aula de artes plásticas.

   Parei rapidamente no meu armário, trocando alguns cadernos. Quando fechei a porta do armário, mesmo com o barulho de alguns outros alunos nas salas e ainda nos corredores, consegui ouvir uma discussão ali perto. Armin e Alexy. Eu conhecia a voz dos dois muito bem para ter certeza de que eram eles.

   – Você nos sujeitou ao ridículo, viramos atração de circo. – Alexy resmungava, com a expressão realmente fechada. Acabei de subir as escadas, calada. Armin, como sempre, não parecia tão incomodado assim com o tom do irmão.

   – Não exagera, Alexy. – Os dois mal percebiam os olhares curiosos de alguns, o meu incluso. Tentei me mostrar, mas nenhum deles me notou.

   – Claro. Armin, o irmão despreocupado e que não liga para nada que os outros digam.

   – Eu não ligo mesmo, Alexy. Tanta coisa para me importar, vou ligar justo pra conversinha dos outros?

   – Parabéns, Armin, eu fico feliz que você seja tão bem resolvido, meu lindo irmão. Só que tem gente que liga para esse tipo de coisa. Gente que fica magoada com essas coisas, começando por mim. E você age como se só o seu bem estar interessasse.

   – Para. Alexy, para, você sabe que eu me preocupo muito com você.

   – Sabendo de tudo que essas “conversinhas” dos outros já me fizeram? Não parece.

   – Hum, oi. – Tentei de novo, mais alto dessa vez. Os dois se calaram e viraram na minha direção juntinhos, quase como programados. Dei um sorriso sem muita convicção. Alexy respirou fundo e simplesmente encerrou sua discussão.

   – Não precisa esperar que eu vá te ajudar a relatar toda essa merda que você fez. Boa sorte, Armin. – Quando Alexy xingava algo com tanta veemência, era porque ele estava realmente irritado. Olhei para Armin, vendo o outro irmão entrando na sala de aula, ainda emburrado.

   – Tudo bem com você? – Ele perguntou, sem tanta animação. Dei de ombros.

   – Melhor que você, pelo visto. O que aconteceu, afinal, para deixar o Alexy nessa fúria?

   – Tem certeza que quer saber?

   – Armin, eu te vi ser preso, e vocês dois sumirem logo em seguida. Eu estou preocupada.

   – Certo. – Ele girou os ombros, olhando para o chão. Talvez eu estivesse pressionando demais o assunto, mas era realmente por preocupação.

   – Mas eu respeito sua privacidade, não se sinta obrigado. – Com isso ele relaxou um pouco.

   – Você vai ficar sabendo mesmo, o povo nessa escola tem a língua grande. Bom, a aula já vai começar, mas em resumo...Eu tentei acessar alguns dados confidenciais.

   – Você hackeou algum site?

   – De certa forma.

   – Você tem certeza de que não tem a ver com toda essa história da Iris e da...você sabe?

   – Não, eu te disse que não. – Ele finalmente esboçou um daqueles sorrisos tortos dele, para me acalmar. – Eu confesso que aproveitei a deixa, mas não tem nada a ver, relaxa.

   – Ainda bem, pelo menos isso. – Confesso que a culpa de transformar um amigo em criminoso não era exatamente algo que eu queria. – Enfim, e que dados eram esses então?

   – É um desafio que eu me fiz, já tem algum tempo. Eu queria achar alguma coisa, qualquer rastro, sobre nossos pais. Os biológicos, no caso.

   Fiquei muda vendo Armin falando daquele jeito. Ele não parecia nem um pouco mexido com todo esse assunto. Meu silêncio deixou ele continuar com a explicação dele.

   – Eu sei que é esquisito, esse papo de achar os pais e tudo mais, mas eu não ligo. É só pelo desafio, quase como um jogo. Eu só queria saber se eu tinha a capacidade e o conhecimento tecnológico para chegar lá, não tinha interesse em nenhuma informação.

   – Ok. Hum, e o Alexy? O que ele achou disso tudo?

   – Ele está bravo. Bem bravo. Ele não fala muito, mas ele com certeza é mais sensível a todo esse assunto de adoção do que eu sou.

   – E, afinal, você descobriu alguma coisa?

   – Não. Quase, muito por pouco. A polícia me pegou quando eu ia finalmente encontrar o que eu precisava. Só que eu exagerei um pouco. Eles identificaram a invasão no banco de dados da nossa cidade natal e...o resto você viu.

   – Resumindo, você foi preso por quebra de sigilo? Armin, você surtou? – Tive que me segurar para não começar a gritar no meio do corredor. Dei um tapa no braço dele, mas ele deu outro sorriso. – Armin, isso é grave. Muito grave.

   – Nem tanto. Número 1, eu ainda sou dado como menor de idade, e número 2, eu só fui atrás de dados que me diziam respeito. Não tive nenhum interesse por trás disso, logo, eu só tomei uma advertência jurídica. Sorte, eu sei. – E lá estava o Armin de novo, sempre despreocupado e bricalhão. Suspirei.

   – Foi muita sorte mesmo, mas não te torna menos doido. A gravidade da situação não se altera assim.

   – Olha você, que fofa, preocupada com o amor da sua vida. – Revirei os olhos, tentando ignorar a brincadeira. O fato é que o Armin conseguia mesmo me deixar sem graça com essas piadinhas.

   – Eu...Armin, fala sério um segundo. Poderia ter sido muito pior e...

   – Os policiais foram bem legais, na verdade. Eles falaram que não tinham provas o suficiente para me acusar disso tudo e entenderam minha suposta motivação de encontrar meus pais. – Ele reassumiu o tom mais sério da conversa, ignorando minhas bochechas que eu sabia estarem rosadas. – Mas ainda assim, obrigada pela preocupação. E foi divertido, no final. E eu quase ganhei o jogo.

   – A que preço? O Alexy está realmente chateado com você. – Comentei, conferindo o relógio mais uma vez. Patrick provavelmente já estava em sala.

   – É, isso é. Ele ficou bem irritado de eu não ter falado nada para ele. E, como eu disse, isso afeta ele mais do que a mim.

   – Já te passou pela cabeça que talvez ele realmente queira alguma informação? Que talvez ele já tenha pensado em achar seus pais biológicos? Armin...

   – Já. Enfim, os policiais confiscaram o computador e os celulares da minha casa para investigação. E como se não bastasse eu provavelmente vou ser preso do mesmo jeito, só que em casa.

   – Eu diria que você merece um bom tempo de castigo por ter sido preso.

   – Eu não fui preso, só fui prestar depoimento...Mas é, eles vão me deixar de castigo por pelo menos uns trinta anos.

   Só Armin conseguiria tirar alguma graça de uma situação daquelas. Cruzei os braços e sorri para ele, recebendo um sorriso sincero dessa vez. Eu ainda teria que conversar com Alexy sobre tudo aquilo, mas era importante saber o lado de Armin nisso tudo também.

   – E planeja continuar? Essa busca sua?

   – Não. Depois de toda essa confusão eu conclui que não vale a pena. E pelo Alexy também.

   – Faz bastante sentido. Bom, vamos logo, então. Ainda temos aula.

   – Não, não, espera ai, mocinha. Eu também ouvi uma história sua. – Eu já tinha lhe dado as costas e começado a andar na direção da sala, mas fui obrigada a me virar novamente.

   – Sistema Ambre de informações...Me chocaria se não soubesse.

   – Você e o galã fora de época, quem diria? Eu percebi que ele e você estavam meio...próximos durante nossa investigação.

   – A gente não queria exatamente...se expor por um tempo.

   – Vocês falharam, parabéns. – Ele falou, dando de ombros. Eu ia me defender, quando um par de mãos segurou meus ombros. Assim que virei o rosto, Patrick recolheu suas mãos e as pôs atrás das costas, com o sorriso tranquilo de sempre.

   – Bom dia, meus queridos. Eu odeio interromper a conversa de vocês, que por um acaso me pareceu muito interessante, mas temos uma terapia artística coletiva. Resumindo, preciso iniciar a aula.

   – Sim, senhor. Desculpa. – Seguimos o professor até sua sala e nos sentamos em dupla, já que eram os últimos lugares vagos. Patrick iniciou sua aula normalmente, e Armin aproveitou a deixa para me cutucar e indicar sutilmente Iris.

   – Qual foi o desfecho? – Ele falou tão baixo que eu mal ouvi, mas eu sabia do que se tratava. Com toda essa história, ele não acompanhou o final da nossa investigação. Abri meu caderno nas últimas páginas e comecei a escrever.

   “Era Charlotte.”

   “Sério? Ela sempre foi antipática, mas isso já é loucura. E qual era a desculpa?”

   “Ela descobriu que o namoradinho dela fazia jogo duplo, e que a outra menina era a Iris. Daí o babaca largou as fotos dela abertas e a Charlotte as pegou e começou toda essa chantagem. Mas a convencemos a parar. De certa forma.”

   “Convencemos...você e quem?”

   “Lysandre. A gente deu um flagra nela e a convencemos de que tínhamos provas do crime. Ela cedeu depois que o Lysandre foi pra cima dela.”

   “Lysandre? Ele cantou alguma música chata pra ela, foi?” Ele me passou o caderno com um sorrisinho no rosto, que me fez o encarar de forma séria. Ele estava mesmo fazendo chacota do meu namorado?

   “Enquanto você fica ai debochando, a Iris está de volta na tranquilidade dela. Babaca.”

   “É o que importa”

   Ele me devolveu o caderno e se endireitou na cadeira. Ainda tinha algo estranho com a atitude de Armin, mas como eu estava em sala de aula larguei pra lá. Fora que eu já tinha feito todo um questionário com ele. Tratei de reorganizar minhas coisas na mesa e retornar meu foco para Patrick.

   Lysandre estava duas cadeiras à frente na sala, porém na minha diagonal direita. Desviei o olhar de Patrick para encontrar o dele, curioso. Dei uma piscadela e um sorriso, demonstrando que queria estar ocupando o lugar do seu melhor amigo ao seu lado.

   Voltei a prestar atenção em Patrick, ouvindo sua voz tranquila explicar algum conceito das artes, no qual eu já estava perdida devido minha conversa com Armin pelo caderno. Ainda assim, anotei o máximo que pude. Depois eu me viraria para recuperar esse pequeno atraso.   


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Lá E De Volta Outra Vez" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.