Lá E De Volta Outra Vez escrita por Pacheca


Capítulo 50
Uma Tola Apaixonada


Notas iniciais do capítulo

Ahhh, me façam um favor que esse daqui tem trilha sonoro. Escutem Can't Help Falling In Love, do Elvis Presley (mozão ♥) E aproveitem rs



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Tentei mais duas vezes ao longo da semana, mas nada. Rosa estava chateada, mas disse que podíamos remarcar. Eu não queria remarcar nada! Se eu não desse um jeito de esclarecer as coisas entre Lys e eu logo, ia acabar infartando. Para descarregar, aproveitei para ir correr no parque com Kentin, depois que ele me ofereceu ao me ver pensando demais.

─ Você quer me matar, garoto? ─ Sentei na grama, Cookie vindo para perto de mim. Kentin sorriu, sentando do outro lado do cachorro.

─ Cansada assim? Já?

─ Eu não corro tem algumas semanas. Aliás, correr nunca foi minha praia. Prefiro o boxe. Nathaniel anda sem tempo para treinar, infelizmente.

─ É uma pena, mas tem que se manter em forma. Digo, não que você não tenha...um corpo legal… ─ Ele começou a tomar consciência e foi abaixando a voz. Agradeci, roubando a garrafa d'água.

─ Nem todo mundo é um pokemón igual a você. Obrigada, ainda assim.

Ele me deixou em casa e foi embora, ainda correndo com Cookie. Suspirei. Fui tomar um banho e liguei para Rosa logo em seguida. Apesar de tudo, eu ainda não desmarcara o compromisso. Eu ia ter que dar um jeito.

Pensei com todas as minhas forças, mas a única que eu tive foi a que eu estava prestes a executar. Minha mãe entrou no quarto mais uma vez, a cara cheia de preocupação. Eu continuei deitada na cama, sem graça.

─ Tem certeza de que vai ficar bem? Eu posso ficar e cuidar de você.

─ Não quero acabar com a noite da tia Ágatha. Ela quer te ver, devia ir.

─ Hum, mas e você?

─ Vou comer algo e dormir, como tenho feito o dia inteiro. É só uma indisposição.

─ Tudo bem. Vamos tentar não demorar.

─ Mãe, vai tranquila, bota a conversa em dia, ajuda a tia, se diverte, okay? E manda um beijo para ela.

─ Okay, estarei de voltar até às onze. Sem pânico.

─ Vamos, Lucia? ─ Meu pai entrou no quarto, acariciando minha cabeça no travesseiro. Droga, aquilo me deixava ainda pior. Ela concordou e deixaram a casa. Tinham combinado de ir comprar alguns enfeites no shopping. O bom é que aquilo me dava mais tempo. Assim que o carro sumiu, abri o chuveiro e fui lavar meu cabelo. Estava marcado para as sete. Acho que era tempo de sobra.

Pulei no vestido e calcei o sapato, sempre checando a hora. Rosalya já estava me dizendo que estavam indo. Confirmei o endereço e acabei de passar a bendita maquiagem. A bolsinha no ombro, tranquei a casa depois de encostar a porta do meu quarto. Com sorte, meus pais só me deixariam “dormindo” até o dia seguinte.

Entrei no primeiro ônibus, recebendo alguns olhares curiosos dos trabalhadores que voltavam para suas casas. Dei sinal e desci na rua escura, ansiosa. Ia dar tudo certo. Eu estava linda. Entrei no restaurante, vendo o casal sentado, acenando. Fui até a mesa, sem ver Lysandre.

─ Você convenceu eles? ─ Rosa perguntou, sorridente. Deixei a resposta meio vaga, arrumando o cabelo. ─ Calma, Lysandre disse que ia se atrasar. Ah, e tive que explicar tudo para Leigh. Ele já sabia de quase tudo, de todo jeito.

─ É, tudo bem. ─ Comecei a bater o pé, ansiosa. Rosalya botou a mão no meu joelho debaixo da mesa, mandando eu me acalmar. Respirei fundo.

─ Desculpem a demora. ─ Ergui o rosto, Lysandre puxando a cadeira ao meu lado. ─ Espero não ter deixado vocês esperando.

─ Imagina, Lys. Estávamos falando da roupa da Anna enquanto você não chegava. Seu irmão quem fez.

Fiquei calada. Ele olhou o vestido rapidamente e sorriu, os olhos agora fixos no meu rosto. Sorri também, tomando água para disfarçar o rubor nas bochechas. Rosalya limpou a garganta, pegando o cardápio.

─ Não sei vocês, eu estou morta de fome. Vamos pedir?

─ Ah, claro. ─ O garçom nos viu olhando o cardápio e se aproximou. Rosalya pediu nossas bebidas, todos refrigerantes, enquanto acabava de se decidir nos pratos. Pensei em pegar o mesmo dela, mas quando ela começou a praticamente recitar o cardápio para o garçom, eu decidi pedir outra coisa. Algo leve.

─ E você, Anna?

─ Hum, vou ficar bem com o frango com batata. ─ Deixei o cardápio de lado e disfarcei meu choque com tanta comida. Ela agradeceu ao atendente e voltou a me olhar, estranhando minha expressão.

─ Que foi?

─ Você estava pedindo ou recitando o cardápio? Ou esse é seu jeito de dar as boas novas pro Leigh? Ou ainda, melhor, tem um alien ai dentro.

─ Ah ha, engraçadinha. Cala a boca, você quem come feito passarinho.

─ Ou você come mesmo por dois, amor.

─ Você também , Leigh? ─ Eu ri da cara deles, mas quando a conversa começou a ficar particular, decidi falar com Lysandre. Ele deve ter tomado a mesma decisão, pois me olhou no mesmo instante.

─ Fico feliz que tenha me chamado.

─ Ah, imagina. Eu adoro sua companhia.

─ Que bom. Também aprecio te ter por perto. ─ Reparei que o músico no canto do salão começou a cantar Elvis Presley. Sorri, reconhecendo a canção. Aliás, uma das minhas favoritas. Lysandre ainda me observava enquanto eu comecei a murmurar, ainda olhando o cantor.

Can't Help Falling In Love. Parecia o universo conspirando a meu favor. Sorri, esperando ele começar a letra. E soltei baixinho a voz.

─ Wise men say only fools rush in… ─ Quando eu via minha forma de agir, acho mesmo que homens sábios poderiam me avisar que entrar de cabeça era coisa de bobo. Mas ouví-lo completar a letra só fez meu coração tropeçar mais uma vez.

─ But I can't help falling in love with you. ─ É coisa de bobo, mas não posso evitar me apaixonar por você. Que se dane disfarçar. Tive que tomar mais refrigerante, doida para olhar para qualquer canto, mas aquele sorrisão ainda ali. Rosa me vigiava, mas eu não conseguia nem me mexer direito. A salvação foi o garçom com nosso pedido.

Agradeci o garçom, reparando no instante seguinte que ele tinha posto arroz no lugar da batata. Suspirei. Algo tinha que dar errado, afinal de contas. Não que eu ligasse. Lysandre viu minha cara e comentou.

─ Não foi o seu pedido, foi?

─ Ah, não exatamente, mas eu sobrevivo.

─ De forma alguma. Senhor, com licença. ─ Ele pegou meu prato e pediu ao garçom para trocar o bendito arroz. O homem sorriu se desculpando e foi se corrigir. Sorri, agradecendo Lysandre. ─ Não tem problema em reclamar nesse tipo de situação.

─ Bem, obrigada. ─ O que me faltava nesse tipo de situação era coragem, mas tudo bem, jogo que segue. O prato voltou, agora com as batatas e eu sorri de novo, finalmente conseguindo comer. Ansiosa ou não, a fome estava batendo. Quando acabamos, chequei o relógio. 9:10. Ainda dentro do estimado.

─ Seus pais te deram horário, Anna? ─ Rosa questionou, acabando seu refrigerante.

─ Ah, não, mas eu preciso voltar de ônibus, então...Dez da noite num ônibus não é legal.

─ Não se preocupe, não é como se eu fosse te deixar andando sozinha por ai. ─ Lysandre comentou, sério. Dei de ombros. Ok, eu não tinha realmente pensado naquela alternativa. Rosa ficou de pé.

─ Vamos ao banheiro? Anda. ─ Fiquei de pé, seguindo-a restaurante a dentro. O lugar era bastante limpo. ─ Quanto clima, menina. Achei que ia presenciar o primeiro beijo do casal. Bem, pelo menos não vai mais demorar muito.

─ Como assim?

─ Vocês dois, ele te deixando em casa, você agradecendo...Vamos, você é a escritora aqui.

─ Falta a experiência real, mas enfim. Acha mesmo que…

─ Óbvio. Vocês estão totalmente conectados, só falta alguém avançar. Quer uma bala?

─ Obrigada. ─ Aceitei, sentindo meu estômago sambando dentro de mim. Mais um pouco e meu coração entraria para a bateria. Voltamos para a mesa, pedindo sobremesa. Eu pensei em dispensar, mas a ideia de tomar sorvete foi mais forte. Relógio novamente. 9:35. Eles pediram a conta e, quase me obrigando a ficar quieta, Lysandre não me deixou pagar minha parte. Não insisti.

─ Bem, vamos? Leigh, deixe a porta destrancada. Esqueci minha chave. ─ Tentei não rir, mas era impossível. Fomos para o ponto, o vento me fazendo encolher. ─ Frio?

─ Não, tudo bem. Assim que o ônibus chegar eu estarei a salvo. ─ Ele riu, vigiando a rua. Sentei no banco do ponto, calada. Ele também não falava muito, contando as moedinhas das duas passagens. Em cinco minutos, minha linha passou. Dei sinal, entrando primeiro.

O caminho não era comprido, mas o silêncio parecia tornar tudo mais longo. Ainda com a música do Elvis na minha cabeça, fui mumurando as letras para mim mesma. Ele reconheceu o ponto perto da minha casa e deu sinal, me ajudando a descer com os saltos. Agradeci.

─ Hum, obrigada por vir. De novo. E pela carona.

─ Não tem problema. Sabe, na verdade eu queria aproveitar… ─ Lá vinha. Ele parecia pensar se devia mesmo dizer aquilo, enquanto seus passos iam diminuindo a distância entre nós. Olhei para a janela do prédio. Eu tinha deixado minha luz acesa? Opa. ─ Anna, eu…

Fechei os olhos, pronta para sanar minha curiosidade sobre aqueles lábios. Pena que meu pai não tinha a mesma curiosidade que eu.

─ Bela indisposição, Anna. Posso saber quem é o cavalheiro?

─ Pai, o senhor já o conheceu.

─ Ah, além de machucar meninas na floresta você também as convence a fugir de casa? Anna, para dentro.

─ Pai, para de gritar…

─ Passa, Anna! ─ Achei que minha mãe ia me ajudar, mas ela cruzou os braços e saiu da escada. ─ E você, está meio tarde para estar com a filha dos outros na rua.

─ Eu não…

─ Vai para casa. Boa noite.

Nem tive a chance de pedir desculpas. Meu pai bateu o portão, subindo quase correndo. Tive que subir na frente, no mesmo ritmo. A porta bateu e ele esperou eu me sentar no sofá. Fiz. Achei que ele ia passar o sermão, mas foi minha mãe quem assumiu.

─ Eu achei que tinha deixado bem claro que a resposta era não. Sinceramente, minha filha, fugir para sair com um menino? Não podia ter marcado para outro dia? Olha o horário em que você está chegando. E Rosalya sabe que estava usando o nome dela?

─ Ela estava lá.

─ Ah, e ela estava com um vestido desse tamanho também? ─ Meu pai esbravejou. A mania de enfiar o comprimento da saia na conversa. Revirei os olhos. ─ Não faz isso.

─ Você gostaria que outra pessoa me chamasse de vagabunda pelo tamanho da saia? Acho que não. Ouvir do próprio pai não é legal.

─ Não distorce a discussão.

─ Phillipe, esquece. Sobe pro quarto agora. Encerre a noite. Está de castigo até segunda ordem.

─ Indeterminado?

─ Sim, tempo indeterminado. Casa, escola, casa de novo, entendeu? Sem coleguinhas aqui e sem ir para a casa de ninguém. Nem Alexy, nem Nathaniel, nem ninguém. Espero que pense na sua atitude infantil. ─ E lá estava. O olhar cheio de desgosto e decepção. Suspirei, subindo as escadas. Eles estavam certos afinal de contas. Era por esse motivo que eu detestava mentir para eles.

Num dia normal eu iria chorar, arrependida. Bem, eu estava arrependida por mentir, mas por sair...Ah, ai era outra história. Eu teria que me desculpar pela atitude do meu pai. Ele simplesmente tratou Lysandre feito um delinquente qualquer. Suspirei, recebendo a mensagem de Rosa.

“E ai? Rolou?”

“Babado, gritaria e confusão, isso sim. Meus pais me deram um flagrante.”

“Ah, mentira. Eles não sabiam?”

“Eu menti sobre a permissão, Rosa. Fugi enquanto eles estavam na minha tia.”

Silêncio. Nem tirei a maquiagem ou o vestido e me larguei na cama, decepcionada com o fim da noite. Acho que fui puxada uns 100 metros de volta, na reta final da corrida. Apaguei, cansada pela comoção de minutos passados.

Foi um final de semana entediante. Eu não estava proibida de usar o computador ou o celular, mas minha mãe fez questão de ocupar meu tempo inteiro. Ela me pôs para lavar os banheiros e arrumar os quartos, tirar a poeira. A única vez que vi ela amolecer um pouco foi quando ela me fez limpar o quarto com as coisas de Viktor. Eu ia simplesmente chorar e fazer o serviço, mas ela me disse para ir tomar um banho e dormir. Aceitei.

Quando a segunda chegou, eu não estava muito animada para a escola, mas não podia fugir. Ia ter que encará-lo, em algum momento, e quanto mais cedo, melhor. Me enfiei no vestido de novo, só para poder mostrar para Alexy e ajeitei o cabelo. Meu pai ia reclamar, mas minha mãe entrou em minha defesa.

─ Vocês precisam parar de medir caráter com quantidade de pano na saia. O vestido é lindo, apesar de tudo. ─ Dei um meio sorriso e fui para a escola. Ambre estava no portão, pronta para me atazanar mais ainda. Inferno.

─ Olha só, alguém quer aparecer.

─ Ambre, sai da reta.

─ Hum, não. Falando nisso, você bem que podia aproveitar que já está ai fora e me trazer um café. O que acha?

─ O meu com leite. ─ Charlotte completou. Resmunguei. Meu humor já não estava dos melhores.

─ Oh, querem café? Eu busco o café. ─ Ela sorriu, vitoriosa. Peguei os três copos na lanchonete, voltando para a entrada. Ela esticou a mão, pronta para pegar, mas eu simplesmente taquei os três no chão. ─ Até onde eu sei, cachorra consegue beber as coisas só com a língua. Agora, se não quiserem, sempre podem aproveitar os copinhos para enfiar eles no…

─ Anna, hey. ─ Nathaniel apareceu por trás de Ambre e me puxou para dentro, esbarrando na irmã. Não reclamei e o segui, até o grêmio. ─ Alguém acordou com o pé esquerdo, hein?

─ Sua irmã não facilita.

─ É, mas você faz mais a política de dar a outra face. O que foi?

─ Castigo.

─ Por quanto tempo?

─ Indeterminado.

─ Sério? Depois de tantos anos? O que você fez?

─ Digamos que eu fingi estar doente para sair. Não me pergunta.

─ Tudo bem, se você prefere. Deve ser alguém bem importante, huh?

─ Não te conto. Agora, se me der licença…

Armin entrou na sala, com um livro em mãos. Nathaniel voltou sua atenção para ele, esquecendo de mim por um minutos. Armin ergueu o livro, indignado.

─ Que final é esse? Não podem acabar uma história assim.

─ Claro que podem.

─ Está lendo? ─ Perguntei. Desde quando Armin ia conversar com Nathaniel, de qualquer jeito? ─ Desde quando?

─ Hum, decidimos dar uma chance praquela sugestão sua, de nos aproximarmos. Eu mostro umas coisas pra ele, ele me dá uns jogos para testar. E comecei pelos meus adorados romances policiais.

─ Parece que vocês vão ser bons amigos. Bem, eu vou deixar o clube do livro se reunir. Te vejo depois, amor.

─ Beijo, linda. ─ Foi Armin quem respondeu. Revirei os olhos, deixando a sala. Esperava ver Lysandre numa das salas, mas acabei encontrando apenas Castiel. E ele parecia bem confuso. Parei de frente para ele.

─ Está tampando a luz.

─ Eu sei. Viu Lysandre?

─ Ainda não. Ocupado demais para te ajudar.

─ Com o que?

─ Ocupado.

─ Bem, já que dispensa a ajuda…

─ Espera, espera. Ok. Escuta. Lysandre e eu temos algumas composições originais. ─ Afirmei, mostrando que estava ouvindo. ─ Ele escreve as letras, eu faço a música em seguida. E estávamos considerando se não seria melhor mudarmos um pouco isso. Alguma opinião?

─ Bom, filosofia barata do dia vindo. Eu mudaria o jeito de fazer, pelo menos uma vez. Não dá pra saber se não tentar, não é?

─ Algo que esteja querendo mudar na sua realidade, princesa? ─ Ele falou, cínico. Fui obrigada a rir depois de ouvir o princesa. Dei de ombros.

─ Meu trem já partiu. Bem, boa sorte com seu dilema.

─ Obrigado. ─ Sempre soava estranho quando ele usava aquela palavra, mas não seria eu quem ia reclamar. Assim que sai para o corredor, o sinal do interfone tocou. Parei no corredor, ouvindo.

“Todos os alunos, favor reunirem-se no ginásio. Todos os alunos, reunião no ginásio.”

Suspirei, eu ainda tinha que achar Lysandre. As aulas iam começar em seguida, e depois disso ele ia acabar indo embora, e eu voltaria ao meu confinamento. Como só tinha um lugar em que eu ainda não tinha checado, fui correndo para a escadaria no fim do corredor. E lá estava ele.

─ Lys. ─ Ele me olhou, meio travado. Não dava nem para dizer que estava estranho. Eu ficaria daquele jeito se o pai dele gritasse comigo no meio da rua. ─ Hey.

─ Oi, Anna.

─ Você não vai pro ginásio?

─ Claro, só estava esperando o sinal.

─ Posso te acompanhar?

─ Claro. ─ Pareceu desconfortável. E eu sabia bem o motivo. Ah, tanto trabalho indo embora feito um papel que a gente perde pro vento. Ou para uma pomba, sei lá.

─ Algum problema?

─ É, sim. ─ Até com a carinha fechada ele ficava lindo. Infelizmente, eu nascera para sofrer. ─ Eu não vou fingir, a reação do seu pai na sexta foi bem desagradável.

─ Eu sei, entendo bem. ─ E entendia mesmo. Ele tinha reclamado até do vestido. Felizmente, essa parte não o envolvia. ─ Olha, desculpa. Eu sei que você deve ter pensado em nunca mais me ver, mas a culpa realmente não foi sua. Quer dizer, ele tem um certo ódio se você é homem e está a menos que cinco metros de distância de mim, mas dessa vez fui eu quem causou isso tudo.

A gente estava se arrastando pelo corredor. A escada acabou de aparecer no meu campo de visão. Parei, quase esbarrando nele. Pela primeira vez, parecia que ele estava mais atento que eu. Mexi no cabelo, enquanto ele me perguntava o sentido de me culpar.

─ Eles não me deixaram sair na sexta, era pra eu ter ido visitar minha tia. Eu quem fingi que estava doente e sai sozinha.

─ Faz mais sentido, sabendo o quanto eles se preocupam com você.

─ É, eu sei, mas...eu queria muito ir e...eu pensei que… ─ Nem notei que minha voz foi diminuindo e eu tinha erguido uma mão. Disfarcei, pousando a palma gentilmente em seu peito, como se estivesse mexendo com um dos botões do casaco pesado. Já o olhar eu nem conseguia desviar, paralisada com o tanto de coisa passando na minha cabeça.

─ Eu fiquei realmente feliz em te ver no restaurante.

─ Acredite, eu não me arrependo nem um pouco de ter ido. ─ Ele estava bem mais perto de mim agora. O chamado da diretora tinha deixado os corredores vazios. E era daquele jeito que eu queria ficar, por mais um bom tempo. ─ Hum, deveríamos ir, sim?

─ Deveríamos. ─ Quis tirar a mão do casaco dele e me recompor, mas o olhar dele sustentava o meu, e a mão ficou lá, esquecida. Por que a voz dele soava tão mais bonita que o normal? Sexy, até. Anna, controle seus hormônios. ─ Mas…Eu quero muito te beijar agora.

Eu nem tive tempo para registrar a situação direito. Ainda com minha mão em seu peito, ele matou o que sobrava de distância entre nós e finalmente sanou minha dúvida. Com a mão segurando meu queixo, ele me prendeu contra si. Fechei os olhos, só agora conseguindo afastar a mão. Ele mesmo a deixou lá, enquanto continuava a me beijar. Só podia ser sonho.

Que fosse. Que todo aquele calor, aquele carinho e aquela sensação de tempo parado durassem para sempre. Agora eu pelo menos sabia como era. Os lábios macios, a língua ainda com gosto da pasta de dente de hortelã. Meio que por loucura, deixei minha língua passar nos dentes dele. Ele riu, estranhando. Ah, como eu queria que aquilo durasse para sempre.


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Notas finais do capítulo

Até mais vê-los, queridos do meu core ♥