Lá E De Volta Outra Vez escrita por Pacheca


Capítulo 48
Reparos


Notas iniciais do capítulo

Oi queridos ♥ Volti rapidinho, estou quase tendo um troço com esse episodio que vai chegar aaaaaa Enfim, espero que gostem. Ficou mais curtinho, mas eu simplesmente amo essa ceninha no jogo e quis colocá-la em destaque :3 Boa leitura e boa noite.



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   Adoraria contar como foi minha estada breve no hospital, mas estava tudo tão confuso dentro da minha cabeça. Fiquei mais um dia lá, fazendo mais alguns testes para garantir que eu estava bem. Ao que parece, não estava, mas ia ficar logo. Só consegui ir para casa na quinta feira.

   ─ Você escutou o médico. Nada de imagens brilhantes e rápidas, muito descanso e concentração em coisas triviais. E boa alimentação e hidratação. ─ Minha mãe falava, fechando a porta do apartamento. Eu concordei, meio sem convicção. Eu custei a entender a fala inteira.

   ─ E você, fale mais devagar, Lucia. Por que não vai pro seu quarto, meu bem? ─ Meu pai falou, pegando a sacola de compras e indo preparar o jantar. Minha mãe ia atrás dele, quando me viu no meio da sala, olhando.

   ─ Querida? Seu quarto é lá em cima, ok?

   ─ Ah, é, eu sei. ─ Sabia? Acho que não, para ser sincera. Eu lembrava de tudo que tinha acontecido, ou quase tudo, mas o apartamento era confuso. Não costumávamos ter apenas um andar?

   Subi as escadas e encontrei o quarto de parede pintada. Sorri. O apartamento de um andar só era o da outra cidade. E minha cabeça insistia em misturar os dois ambientes. Droga.

   Eu só poderia voltar à aula quando voltasse ao hospital, na semana seguinte, para checar a situação da minha cabeça. Se tudo tivesse voltado ao normal, minha vida também voltaria. Parecia bom. Eu passei grande parte do dia dormindo e fazendo umas revistas de sudoku que meu pai comprara.

   E Nathaniel estava vindo me visitar, quase todo dia, e sempre com uma visita a mais junto. Na sexta feira, Rosalya e Alexy insistiram em acompanha-lo, e Armin acabou seguindo o irmão.

   ─ Então, você ainda lembra que eu sou seu namorado? ─ Armin perguntou, sentando ao meu lado na cama. Fechei a revista de sudoku com a caneta no meio e suspirei, antes de dar uma revistada em sua cabeça. ─ Eu só estou meio confusa, não completamente idiota.

   Era incômodo. Estava tudo muito bem, e de repente meu cérebro começava a falhar. Eu ia pegar água na cozinha e entrava no meu banheiro, ou ia para o lado errado no corredor. Nathaniel notou minha frustração, mas continuava tentando me acalmar de que tudo ia se resolver com o tempo.

   Foram muitas ligações também. Algumas eu nem consegui entender, as palavras não soavam direito e eu ficava com vergonha de pedir a pessoa para repetir. Mas foi melhorando. O tanto de sudoku parecia fazer bem para minha cabeça. Já na terça feira, os sintomas já tinham quase sumido. Quase. Por algum raio de motivo, o meio da tarde era sempre o pior horário. Meu pai tivera que voltar à loja e minha mãe estava no escritório recuperando seu tempo de serviço, então era como estar sozinha em casa. E a solidão trazia parte da confusão de volta.

   ─ Ei, linda.

   ─ Oi, Nath. ─ Eu sorri fraco. Eu me sentia um pouco mal com todo o trabalho que ele estava tendo. E toda a preocupação também. Eu tinha sido infantil em ficar tão chateada, mas não era algo que eu escolhesse. E aliás, o sentimento só passou pelo tanto que meu coração apertou quando o vi chorando em cima de mim. Priya nunca estaria ali, não é mesmo? ─ Ah, oi gente.

   Lysandre entrou na sala pedindo licença, mas Castiel ainda parecia engolir o fato de ter que seguir Nathaniel para algum lugar. Sorri para eles, sentada no chão da sala, com uma das minhas revistinhas de sudoku na mão.

   ─ Ainda não cansou disso? Eu te trouxe um pouco de suco, daquele de maçã que você gosta. ─ Ele comentou, indo para a cozinha e voltando quase no mesmo instante. ─ Ah, e seus dois amigos também.

   ─ Sudoku? Não tinha nada pior? ─ Castiel perguntou e o tom dele me deixou para baixo. Eu já estava acostumada, mas foi como se um nervosismo novo me dominasse e a confusão começou a voltar.

   ─ É para...para que? Ah, me manter focada.

   ─ Parece que andou fazendo muitos. ─ Ele comentou, vindo para o sofá ali perto. Lysandre o seguiu, calado. Era normal eu sentir aquilo perto dele? Quer dizer, eu estava com uma leve dificuldade em distinguir o que estava acontecendo ali agora. Era uma ansiedade, mas pior de tudo, um frio na barriga. Eu estava ressentida com ele, mas o motivo parecia distorcido.

   ─ Hum, as meninas disseram que não viriam para não lotarem seu apartamento. ─ Lysandre comentou, pegando algo na mochila. ─ Mas Priya deu a ideia de te mandarem um presente.

   ─ Ah. Obrigada. ─ Peguei a caixinha de bombons, séria. O ressentimento ressurgiu. Priya. Bem, não ela exatamente. O que ele dissera sobre ela ser minha substituta. ─ Vou deixar na cozinha.

   Fiquei de pé e fui na direção do corredor, mas Nathaniel me segurou pelo braço e apontou para outra porta.

   ─ Aquela ali é a sua cozinha, ok?

   ─ Ah, é. Obrigada. ─ Sem graça. Era terrível aquele sentimento, mais ainda quando eu olhei para Castiel e vi o jeito dele de me olhar. Eu não estava mais no estado em que precisava de pena, muito obrigada.

   Ainda assim, foi uma semana boa. Na quinta feira, de volta ao hospital, meus reflexos tinham voltado totalmente ao normal. Meu raciocínio estava perfeito, minha fala impecável e meu senso de direção também. Mesmo sob a pressão do olhar do médico, nada me fugiu da mente. Ele sorriu e brincou que eu estava pronta para a próxima. Minha mãe quase surtou.

   Me deram aquela sexta de folga. Eu aceitei. Um dia a mais não destruiria meu histórico, e eu tecnicamente ainda tinha a licença médica. Aproveitei para colocar toda a matéria que Nathaniel tinha levado para mim em dia e estudar um pouco. A parte ruim de ter todos os meus sentidos bem sintonizados era toda a mágoa que estava voltando. A cada linha que eu escrevia, eu lembrava de alguma situação chata com Priya.

   Só voltei para a escola na segunda, e foi o suficiente para aquecer um pouquinho meu coração. Entrei na sala e ganhei uma grande salva de palmas, e até um desenho de Violette, uma versão linda e radiante de mim com os dizeres “Essa é a Anna que conhecemos e queremos ver sempre.” Sorri. Até para Priya, também no meio das boas vindas.

   ─ Obrigada, meninas. E vocês também, meninos. ─ Alexy e Armin acenaram, enquanto Kentin tirou os óculos do bolso de sua camisa e os colocou, sorrindo sem graça. Estranhei. O professor entrou no mesmo momento, dizendo que estava feliz em me ver bem antes de iniciar sua aula.

   Foi um dia tranquilo. Perguntei Kentin sobre os óculos antes do final do almoço e ele me disse que Priya tinha feito que ele enxergasse a razão no que eu tinha dito. Ela até o xingou por ignorar o que eu dissera. Ponto para a novata. Sorri.

   Foi um dia tranquilo. Quase demais. Lysandre me viu no corredor, mas eu decidi o ignorar. Substituta. Podia ser a decisão infantil, mas pelo menos por umas horas eu queria que ele sentisse o que eu tinha sentido. Infelizmente, tudo que ele sentiu foi confusão.

   ─ Anna. Está tudo bem? ─ O corredor já tinha esvaziado, eu estava arrumando minhas coisas no armário. Resmunguei, dando de ombros. ─ Aconteceu alguma coisa?

   ─ Hum, não.

   ─ Bom, não parece. ─ Aquilo definitivamente não era a hora nem o momento, mas ver Lysandre com aquela carinha preocupada me dava ainda mais vontade de puxá-lo por aquele casaco imenso e beijar aquela boca linda. ─ Você anda falando pouco, não é do seu feitio.

   ─ Ah, talvez seja do feitio da minha substituta. ─ Consegui ignorar os lábios dele e voltei a enfiar os livros no armário. Ele suspirou.

   ─ Está brava por isso?

   ─ Como é que você queria que eu ficasse, Lysandre? Francamente.

   ─ Eu só disse aquilo pelo bloco de notas, Anna. ─ Continuei ignorando, mas reparei que a voz dele estava mudando. Mais leve, tranquila. Arrisquei fechar o armário e olhar para ele. Sorrindo daquele jeito singelo que fazia meu coração quase explodir. ─ Foi um erro meu dizer aquilo, logo para você. Eu entendo. Posso pedir para me ouvir, no entanto?

   ─ Vá em frente.

   ─ Eu vou dizer isso porque parece que não entra nessa sua cabecinha teimosa. ─ Eu ia rebater que não era teimosa, mas ele simplesmente atropelou minha fala. ─ Você é insubstituível. Deveria saber disso. Ninguém é tão maravilhosa quanto você.

   Fui obrigada a fechar a boca, olhando para a porta do armário de novo. Infelizmente, o cabelo novo não escondia mais meu rosto tanto, e ele com certeza estava vendo o tom vermelho na minha cara. Droga. Ele continuou sorrindo e continuou falando.

   ─ Espero que possa perdoar a indelicadeza.

   ─ Perdoar. Tsc. Por que você precisa ser tão fofo, hein? Eu estou me sentindo uma patetona por te ignorar assim. ─ Cruzei os braços, ouvindo o riso mudar de tom. Olhei para cima. Ele também não estava mais me fitando. Espera ai, eu tinha deixado Lysandre sem graça? Sorri. ─ Desculpa por ser infantil.

   ─ Desculpe pela mentira. Ninguém vai tomar seu lugar.

   ─ Bom, encerrado o assunto. ─ Sorri, pondo a mochila nas costas. ─ Até amanhã, Lys.

   Ele me deu um tchau meio destrambelhado e foi para o banheiro, ainda irrequieto. Sorri. Se aquela reação dele fosse metade do que eu sentia quando ele fazia aquilo comigo, era um sinal de que Rosa tinha razão. Ele podia até gostar de mim.


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Notas finais do capítulo

Até mais vê-los ♥