Lá E De Volta Outra Vez escrita por Pacheca


Capítulo 42
Decisões Bombásticas


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas :3 Vim deixar mais um capítulo, antes de ir deitar né rs. Aproveitem ♥



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   Depois do pequeno passeio pelo pet shop, tudo parecia voltar ao normal. Minha rotina tinha voltado, mas antes que uma semana se passasse, mais novidades surgiram. É, dava para dizer que sempre tinha algo novo em St. Andrew.

   ─ Soube da nova? ─ Peggy perguntou, abrindo o pacote do canudinho do seu suco. Tomei um gole do meu antes de respondê-la.

   ─ Desce a letra, Peggy.

   ─ Tem professor novo chegando. Pelo que eu consegui descobrir, vai nos dar aulas de ciências. Química e biologia, pelo menos.

   ─ Já estava na hora, Faraize não ia dar conta de tudo sozinho. Você sabe como é esse professor?

   ─ Nem ideia. Eu só ouvi por acaso.

   ─ Não seria algo bom para se colocar no jornal? ─ Rosa perguntou, como quem não queria nada. Ainda assim, Peggy fechou a cara e deu de ombros.

   ─ Não. E mesmo se fosse, eu não estou mais no jornal.

   Silêncio. Eu entendia um pouco da frustração de Peggy. Pela segunda vez ela tinha sido injusta só para ter conteúdo pro seu jornal. E todo mundo acabava falando mal dela pelo menos por um dia ou dois depois das discussões. Eu tinha tentado convencê-la quando a encontrei aos prantos no porão, dizendo que ela só tinha que ter mais cuidado, mas não funcionou muito. Ou seja, essa semana não teríamos jornal.

   ─ Bom, vamos ver depois do almoço, sim? ─ Dei de ombros, tentando não deixar o clima pesado de segundos passados. ─ Não se atrasem, a primeira impressão é a que fica.

   Acabei meu suco e juntei minhas coisas, indo para a sala. Passei no banheiro e então subi as escadas, entrando na sala ocupada pela diretora. Pedi licença e me sentei, um pouco tensa.

   O sinal tocou e a diretora esperou que todos tivessem se acomodado. Por último, entrou uma mulher de expressão severa e olhar duro. Opa, aquilo não parecia muito bom. A senhorinha pediu silêncio e apresentou a mulher ao seu lado.

   ─ Muito bem, todo mundo aqui. Essa é a nova professora de vocês, senhorita Delanay. Confio que fiz uma escolha excelente baseada no currículo excelente. Estão em boas mãos, meus queridos. Com licença.

   ─ Muito bem, acho que dispensamos mais apresentações e perda de tempo. Para minha aula, vão trabalhar em duplas, que eu mesma vou formar baseada num pequeno questionário que vou lhes entregar. Alguma pergunta?

   ─ E se não gostarmos da nossa dupla? ─ Fiquei um pouco chocada de ver que Rosalya teve a coragem de perguntar aquilo. A professora correu os olhos de cima a baixo antes de responder, séria.

   ─ O intuito não é fazerem amizade e combinarem de ir ao shopping, senhorita. Se o rendimento acadêmico for afetado, posso considerar trocar duplas, até lá…Mais alguém?Muito bem.

   Ela saiu entregando as folhas, ditando regras como se realmente fosse uma prova. Esperei o sinal e comecei a responder, estranhando as questões. Okay, a primeira metade ia medir o conhecimento médio de todo mundo, mas a outra metade eram questões de personalidade. Marquei o que me parecia mais condizente e entreguei, rezando para não formar dupla com alguém feito Ambre. Até ai, eu duvido que nossas personalidades fossem combinar.

   ─ Muito bem, soltem as folhas. Você também, senhorita. ─ Achei que ela fosse arrancar a caneta da mão de Iris. ─ Muito bem, esperem alguns instantes e já digo os resultados.

   Tensão geral, ninguém conseguia muito bem respirar. Eu pelo menos não conseguia. Olhei ao redor, pensando em quem eu poderia aguentar pelo resto do ano. É, pareciam ser mais opções do que as que eu pensaria em homicídio.

   ─ Já se sentem juntos quando eu disser seus nomes. ─ Ela murmurou. Silêncio total, de novo. ─ Kim e Li. Armin e Ambre. Rosalya e Alexy. Anna e Melody.

   Okay, aquilo poderia ter ido melhor. Não que Melody fosse má companhia. Só quando Nathaniel estava por perto, mas acho que em sala de aula eu estaria livre do mau humor. Bom, mais ou menos. Ela ainda estava um pouco irritada pelo que eu fizera com ele.

   Já não estava tão certa com os outros alunos. Bom, não que ela fosse mudar qualquer coisa agora. O sinal nos liberando tocou e ela nos dispensou com um movimento de mão. Deixei a sala, correndo para alcançar Rosa e Alexy, que tentavam acalmar Armin.

   ─ Aquela louca nem combina com ninguém, pelo amor. ─ É, ele estava bem irritado.

   ─ Você não é exatamente fácil de lidar, meu lindo. Além disso, é só você dar uma daquelas respostas afiadas nela e tudo se resolve. ─ Alexy respondeu, segurando o irmão pelos ombros.

   ─ Opa, alguém quer ver sangue. ─ Entrei na discussão. ─ Ele tem razão, Ambre não é muito inteligente, pelo menos não para conseguir responder suas tiradas. Relaxa.

   ─ Vocês estão falando isso porque não são vocês. Já deu pra mim, joguem essa velha na rua.

   ─ Já vi que não gostou dela, hein? E vocês?

   ─ Ela é bem severa, vamos ter que pensar até antes de respirar.

   ─ É, vendo assim. Só achei ela um pouco arrogante, mas parece saber o que está fazendo. ─ Rosa jogou o cabelo por cima dos ombros, cruzando os braços e dando de ombros. Armin voltou a ficar vermelho de raiva.

   ─ Ah, ela não faz ideia do que ela está fazendo.

   ─ Armin, fica quieto. Eu não quero chegar em casa e ter que te aguentar de mau humor.

   ─ Vocês são bem amigos da onça, hein? Você tem mais obrigação ainda de me apoiar, Alexy.

   ─ Bom, vou conversar com o resto da galera. Respira, gato, você dá conta do recado.

   Deixei os dois e acabei encontrando Kentin, caminhando na direção do trio. Aqueles três realmente não se largavam mais. Chegava a ser engraçado, principalmente quando se reparava em quão feliz Alexy ficava. Até demais.

   ─ Oh, oi. Armin está muito irritado?

   ─ Quem não estaria no lugar dele? E você, gostou da dupla?

   ─ É, vou ficar bem com a Iris.

   ─ Ótimo. O que você respondeu na sua personalidade, hein? ─ Não era para ele levar a pergunta a sério, mas ele pensou e me respondeu.

   ─ Sutileza. ─ Franzi o cenho, sem saber se era piada ou não. Pela cara de paisagem dele, não era. É, não era exatamente o forte dele, mas o que importa é o que a gente pensa de si mesmo, sim? Sorri e disse que tinha que ir ver Nathaniel antes de ir embora. Ele acenou e eu fui atrás do loiro, conversando com Melody. Opa. Tentei fugir, mas ele me viu e sorriu.

   ─ Oi, fofa. Parece que deu sorte na dupla, hum?

   ─ Melody me salvou duma roubada, hein? Obrigada, amiga.

   Ela sorriu, mas não sei se foi muito sincero. Eu me sentia mal por ficar tão na defensiva com Melody, mas ela simplesmente adorava me culpar sempre que algo acontecia. Era difícil continuar com uma amizade inabalável, ainda mais somando o ciúme que ela sentia de mim com Nathaniel.

   ─ É, sorte nossa ficarmos juntas. Bom, eu tenho que ir. Tchau, gente.

   ─ Tchauzinho. ─ Acenei, esperando ela sair para continuar. ─ Bom, e você?

   ─ O que tem?

   ─ O que achou da Delanay?

   ─ Bom, não sei muito bem se estou convencido com o método de ensino dela.

   ─ Ela te assustou também?

   ─ Ficou com medo? ─ Ele riu. Dei de ombros, sem fazer questão de disfarçar. ─ É, ela pode ser um pouco assustadora. Pelo menos ficou numa boa dupla.

   ─ É, podia ser sua irmã. E por falar nisso, Armin está quase botando um ovo.

   ─ É, ele está numa enrascada.

   ─ Acho que vocês dois se dariam bem numa dupla. Não que importe muito agora.

   ─ Acha mesmo? A gente não convive muito.

   ─ É, seria um bom começo. Oh, e como está a Branca?

   ─ Bem, já está acostumada com a casa. E ainda não tentou abrir um buraco no sofá.

   ─ Ela é educada igual ao pai.

   ─ Ora, obrigado. E por falar nela, tenho que ir para casa, ela já deve ter entornado a vasilha de água dela, de novo. Ou caído dentro dela.

   ─ Boa sorte.

   Sozinha no corredor, decidi ir logo para casa e aproveitar o resto do meu dia. Encontrei Lysandre e Castiel no meio do caminho e concluí minha pesquisa.

   ─ Chegou nosso projeto de Peggy. ─ Castiel falou, sorrindo. Ele tentou me ofender usando a Peggy ou foi só brincadeira mesmo? Deixei de lado e falei.

   ─ Oi pra você também. Ei, Lys.

   ─ Anna, tudo bom?

   ─ Não fiquei com Ambre, então sim.

   ─ Hum, aquela professora é louca. Só falta ela querer colocar a gente para entrar de mão dada também.

   ─ Seria meigo te ver com de mãos dadas com o Nathaniel.

   ─ Só nesses sonhos pervertidos seus. ─ Ele riu, me dando um empurrãozinho. ─ Sério agora, nem o Lysandre gostou dela.

   ─ Realmente, achei um tanto agressiva.

   ─ É, deviam avisar para ela que ter autoridade é diferente de ser arrogante.

   ─ Exatamente. Ela não impõe respeito, só medo.

   ─ É, falta de educação em pessoa. Bom, eu vou nessa. Você vem, Velho?

   ─ Sim, já sigo. Anna, até mais.

   ─ Tchau pra vocês. Eu devia ir também.

   Os dois saíram pelo corredor. Eu estava para seguir, quando a Melody me chamou um pouco nervosa. Esperei ela me alcançar, correndo pela escadaria.

   ─ Ufa, ainda bem que eu encontrei pelo menos uma pessoa aqui. Delanay esqueceu de avisar sobre o uniforme para a aula dela. Ela deixou os jalecos para venda com o Boris.

   ─ Venda? Sabe quanto é?

   ─ Não, mas ela disse que não deveria passar dos cinquenta. Bom, se conseguir avisar mais alguém…

   ─ Posso mandar uma mensagem pra galera depois, relaxa. Bom, eu já vou indo. Até amanhã.

   ─ Tchau. ─ Finalmente deixei a escola, caminhando distraída pela calçada, cantarolando junto com a música dos fones. Eu estava passando pela lanchonete, quando vi uma figura habitual.

   ─ Kentin! Achei que já tinha ido para casa. ─ Tirei os fones, olhando para ele. Vi que ele pegou seu copo de suco na mesma hora e começou a girar o suco com a ajuda do canudinho.

   ─ Só me refrescando um pouco.

   ─ A ideia é boa. Posso fazer companhia e seguir sua ideia?

   ─ Claro...se você prefere.

   ─ Okay, só vou pedir e já volto. Vigie minha mochila, rapidinho.

   Tinha algum tempo que eu não passava um tempo só com Kentin. Bom, pra ser sincera, daquele jeito, nunca. Na antiga escola, eu levava ele para tomar sorvete ou um suco depois que um dos meninos forçava muito a barra nas ofensas e deixava ele feliz com a companhia da paixão dele. Aleluia, aquela obsessão dele havia passado. Rosa sempre me falava que ele ainda gostava de mim, mas eu acho que só tínhamos continuado amigos.

   ─ Então, alguma novidade? ─ Reparei que ele estava rodando o copo entre os dedos, mal olhando na minha direção.

   ─ Nah, não da minha parte. E o Cookie?

   ─ Ele está bem. ─ Já comentei que o sorriso de Kentin era uma das coisas mais fofinhas do mundo? Porque era. ─ Eu sabia que um cachorro ia acabar animando a casa inteira, minha mãe adorou.

   ─ Oh, e a bagunça?

   ─ Imensa, ele começou a cavar buracos no quintal. Ou pelo menos tentar. Ele só está arrancando a grama.

   Não ficamos mais que vinte minutos conversando, mas foi divertido. Ele se ofereceu para me deixar em casa, e eu aceitei, atravessando o parque enquanto ainda falávamos do cachorro.

   Em casa, o dia foi parado. Sozinha em casa, eu aproveitei para dar uma ajeitada no quarto depois de avisar os meus amigos sobre o tal jaleco. Separei o dinheiro pro uniforme das minhas próprias economias e fui jantar, assim que meu pai chegou.

   Depois de uma bela noite de sono, lá fui eu de volta para a escola, deixado minha mochila na sala e indo procurar Boris. Fui direto até o ginásio, onde ele geralmente estava, mas nem sinal dele. Esperei alguns minutos, pensando que talvez ele ainda não tivesse chegado, mas nada. Procurei na sala dos professores também, mas só Faraize estava lá, e também não sabia do colega de trabalho.

   ─ Que inferno, onde aquele homem se meteu? ─ Bufei, voltando parada no corredor. Rosa e Alexy se aproximaram, enquanto Armin os seguia concentrado no PSP. Iris nos viu todos juntos e a minha cara emburrada e se aproximou.

   ─ Oi gente. Tudo bom? ─ A ruiva questionou.

   ─ Vai ficar melhor ainda se você me disser que viu o Boris hoje?

   ─ Não, estava procurando para comprar o uniforme.

   ─ Aproveitando a onda, falando em ver alguém... ─ Rosa começou, puxando Armin para dentro do círculo e esperando que ele desligasse o console. A contragosto, ele desligou. ─ Viram a Peggy esses dias?

   ─ Ela não quer mais escrever nada. O jornal vai acabar se for assim. ─ Alexy comentou. ─ O que seria uma pena, num geral ela sempre fala de coisas interessantes.

   ─ É, mas pode ser cruel às vezes. ─ Iris completou, dando de ombros. Falar sobre os outros parecia deixa-la nervosa.

   ─ Falando nela. Peggy. ─ Chamei, desencostando da parede e acenando para ela. Ela parou perto de nós, com os braços cruzados, esperando. ─ E o jornal?

   ─ Olha, podem insistir o quanto quiserem, eu não estou mais afim. E não sei porque tanta preocupação, não gerava renda nenhuma.

   ─ Não, mas você trazia boas notícias. ─ Alexy apontou. Eu voltei a falar, lembrando de uma das colunas do jornalzinho.

   ─ E faz bem para quem publica os poemas e contos.

   ─ Outra pessoa vai acabar assumindo, okay? Agora me deixem em paz, preciso escolher outra carreira.

   ─ Ah, fala sério, Peggy. Todo mundo tem um dia ruim na vida, não pode ser tão difícil escrever sobre algo interessante e ainda assim leve. ─ Assustei ao ouvir a voz irritada de Armin. Realmente, ele ficava bem bravo com rapidez.

   ─ Se é tão fácil, faça você.

   ─ Eu até poderia. Aliás, eu te faço uma aposta.

   ─ Manda. ─ Peggy sorriu. É, ela realmente adorava ganhar. Eu já tinha reparado naquilo, e ao que parecia, o resto da turma também.

   ─ Se nós cinco conseguirmos um furo de reportagem para você, você volta ao jornal. Se não, ficamos quietos e nunca mais tocamos no assunto.

   ─ Hum, tudo bem por mim. Talvez Anna salve vocês, ela escreve bem. Pelo menos bem redigido deve ficar. Agora, se querem que eu aproveite sua descoberta, precisam me entregar até o fim da aula. O jornal sai depois de amanhã.

   ─ Eu topo. ─ Ergui a mão, aceitando a proposta. Rosa e Alexy imitaram o gesto, sem dizer nada. E Iris concordou também, depois de uns instantes. Peggy suspirou e passou as condições.

   ─ Precisa ter pelo menos uma página de texto tratando sobre o assunto, e precisam me entregar até o fim do dia de hoje. Fora isso, façam o que acharem melhor. Recomendo usarem a hora do almoço bem. Boa sorte.

   Ela se afastou, deixando nosso grupo junto. Vi o sorriso vitorioso de Armin e dei um empurrão em seu ombro. Ele riu mais ainda, segurando meu pulso e me prendendo num abraço. Vi o olhar de Iris sobre a gente dar uma vacilada.

   ─ Eu sou um gênio, eu sei. Pode me agradecer depois, minha gata.

   ─ Oh Armin, me larga. A gente tem que planejar bem. ─ Ele me soltou depois de me apertar mais um pouco. Ri, arrumando meu cabelo. ─ Bom, do que vamos falar?

   ─ Precisamos encontrar algo para ser o assunto. Vamos fazer dividir em dois grupos. Um procura entre os alunos, outro entre os professores. E ai?

   ─ Deus me livre seguir professor! Iris e eu vigiamos os alunos. Anna, você vai com quem?

   ─ Acho que a sala dos professores parece mais provável, Rosa, vou com eles. Bom, vamos pesquisar na hora do almoço. Encontrem qualquer coisa e tragam para mim.

   ─ E que horas você vai escrever?

   ─ O que eu mais faço em sala de aula é escrever, Iris. Vai ficar tudo bem. ─ O sinal iniciando as aulas tocou. ─ Bom, vamos nessa.

   Em jornalismo, conseguir material devia mesmo ser péssimo. Era difícil. Tentamos escutar alguns professores pelos corredores, mas eles estavam falando de novela, provas, matéria atrasada. Nada de interessante. Corremos para encontrar Rosa e Iris, mas as duas também não tinham nada. Armin sorriu e falou seu plano, enquanto ainda estávamos no ginásio.

   ─ A gente faz assim. Vocês distraem os professores, eu procuro na sala. Calma, Alexy, ela sempre pega as informações dela de lá. ─ Ele olhou para a porta do ginásio, que se abriu no exato momento. ─ Aquele não é o Boris?

   ─ Uhum. Fazemos assim. ─ Passei meu dinheiro para Rosa. ─ Pega um pra mim, você sabe minhas medidas. Vou com os dois executar o plano, voltamos logo.

   ─ Boa sorte. ─ Puxei os gêmeos comigo de volta ao corredor. O plano parecia que não ia dar trabalho, até eu ver Delanay descendo as escadas. Alexy entrou em desespero e pulou na frente dela.

   ─ Boa tarde, professora. É, eu queria te fazer uma pergunta.

   ─ Pois então faça.

   ─ Hum, é que eu na verdade gostaria de saber se teremos aulas em um outro ambiente.

   ─ Outro ambiente? O laboratório é muito bem estruturado.

   ─ Soou errado. Eu quis dizer mais sobre uma excursão, sabe? ─ Comecei a me desesperar, quando Armin saiu da sala me empurrando na direção do corredor. Alexy teve que se manter fazendo sua pergunta imensamente tosca. ─ Tipo ao shopping.

   ─ Garoto, não devia aproveitar seu tempo livre para estudar um pouco mais? Me dá licença.

   ─ Desculpa o incômodo. Licença.

   Acabamos pouco antes do sinal reiniciando as aulas tocar. Encontramos as meninas na sala, Rosa já tinha deixado meu jaleco sobre a mesa, esperando novidades. Armin me entregou o que ele tinha achado. Parecia algo sobre um evento, mas não tinha muitos detalhes. Aproveitei a aula de história para redigir a matéria, concentrada.

   ─ E ai? ─ Os alunos estavam saindo da sala para subirem para o laboratório, quando meus companheiros jornalistas por um dia me abordaram. Entreguei a folha escrita para eles, que pareceram convencidos. Alexy sorriu. ─ Boa garota. Bom, vamos lá. Toma, pode guardar até falarmos de novo com Peggy.

   ─ Ok. Vamos logo, Delanay já deve estar na sala.

   Eu não estava muito errada. Chegamos meio minuto antes da professora. Ela sequer deu bom dia e começou a escrever alguma receita esquisita no quadro. Uma bem esquisita e confusa. Olhei ao redor pela sala, mas a reação geral era bem parecida com a minha.

   ─ Vão encontrar luvas e óculos de proteção nas gavetas das bancadas. Coloquem-nas de volta quando a aula acabar. Para nosso primeiro experimento, vamos sintetizar aspirina. Só sigam os passos com precisão. Podem começar.

   ─ Isso é sério? ─ Falei baixo, mas Melody me olhou tão assustada quanto e deu de ombros. ─ Bom, nos resta tentar.

   ─ Seus óculos. Pode ler os ingredientes, vou separando.

   ─ Hum, claro. Ácido salício? Não, salicílico. É, anidro...anidrido...Que letra horrorosa.

   ─ Eu sei, e ela escreveu tudo de forma tão vaga.

   ─ Senhora Delanay. ─ Faraize entrou na sala. Acho que nunca fiquei tão feliz com a presença daquele homem. Soltamos os tubos e tudo mais.

   ─ Pois não?

   ─ A diretora ainda precisa falar com você, e ela está exigindo sua presença agora.

   ─ Agora?

   ─ Sim. Bom, eu já dei o recado.

   ─ Obrigada. Vocês têm representantes de turma? ─ Vi Melody e Nathaniel erguerem uma mão hesitante, os dois em silêncio. ─ Muito bem. Vigiem os alunos, e nada de conversa. Concentrem-se no experimento.

   ─ Senhora, acho que a maioria está tendo dificuldade... ─ Melody arriscou, mas o olhar severo parou sobre nós.

   ─ Tente mais um pouco, senhorita. Volto logo. Vamos, trabalhem.

   ─ É, valeu a tentativa. Bom, que tal você tentar ler e eu separar?

   ─ Okay. ─ Eu e Melody obtivemos algum progresso, mesmo que mínimo. Vi Li andar até a bancada de Ambre e chamar Charlotte, e as três começaram o bate papo. Suspirei. Já era difícil de me concentrar sem aquelas três fazendo aquela algazarra toda.

   ─ Ei. ─ Kim ficou de pé e marchou até sua dupla, bufando. ─ Olha aqui, eu não dou a mínima para você, mas eu não estou afim de reprovar com essa louca e se você não vai me ajudar, vai parar de me atrapalhar. Volta pra bancada e fica de bico calado. Aliás, vocês todas.

   ─ E quem é você pra mandar em mim?

   ─ Ela eu não sei, mas a bancada é minha e eu estou te chutando. Andem, ralem. ─ Armin ficou de pé, gesticulando com a mão para afastá-las como se se tratasse de duas moscas. Elas resmungaram e deixaram a abelha rainha sozinha. Infelizmente, o silêncio não reinou. ─ Ambre, não coloca isso tudo.

   ─ Ela não indicou quanto era, vai que falta. E anda logo, aumenta o fogo desse treco.

   ─ Ambre, eu não acho que... ─ Iris tentou ajudar Armin, mas Delanay entrou pela porta, saindo da expressão neutra para a extremamente irritada.

   ─ O que é...? ─ Muito tarde. Sendo uma das bancadas mais próximas, só tive o instinto de me abaixar quando ouvi o som alto e o vidro quebrando. ─ Oh, minha nossa. O que fizeram?

   ─ É...explodiu! ─ Bia estava em pânico. Okay, eu não achava que ela era a pessoa mais corajosa do mundo, mas aquilo era pânico puro. Delanay falou mais alto, com as mãos perto da boca.

   ─ Por questão de segurança, evacuem a sala. Saiam todos com calma, por favor.

   Fiquei de pé na mesma hora, vendo aquela fumaça preta que começava a encher a sala. Nathaniel ajudou a professora a manter todos em ordem, seguindo-nos em seguida e guiando todos ao pátio. Fui ficando para trás, parecendo ser a única a lembrar da aposta. A matéria. É, eu não devia, mas eu voltei correndo para a sala.

   A fumaça parecia não acabar nunca. Tossi, tentando afastar a fumaça com a mão. Minha mochila tinha ficado no chão, ao lado da minha cadeira tombada. Abaixei, tentando abrir o zíper e ao mesmo tempo cobrir o nariz e a boca. Meus olhos começavam a arder, eu nem conseguia sentir direito o que era pano da mochila o que era papel dos cadernos. Puxei a folha solta, sentindo a cabeça começando a doer e a tosse piorar.

   ─ Anna. Castiel. ─ Aquilo era o Lysandre? Eu estava ficando tonta com tanta fumaça. Senti que agarraram meus braços e me arrastaram para o corredor.

   ─ Achamos a tapadinha. ─ Castiel, com certeza. Quis retrucar, mas o que consegui foi tossir um pouco mais. Lysandre continuava me apoiando, e continuou até chegarmos ao pátio, onde os outros esperavam.

   ─ Deixe ela sentada um pouco, longe do movimento. ─ Lysandre me sentou num lugar bem baixo, o meio fio da rua. Delanay se abaixou, pela primeira vez com o olhar preocupado. ─ Está sentindo alguma coisa?

   ─ A minha garganta... ─ Tive que ir interrompendo para tossir, mas ela esperou. ─ Secou. Muito. E meus olhos ardem, mas vai passar.

   ─ Tontura, dor de cabeça?

   ─ Um pouco, talvez.

   ─ Okay. Vou pedir um copo de água e te deixar aqui respirando um pouco. Fique de olho nela, rapaz, por favor.

   ─ Sim, senhora.

   A tosse foi ficando cada vez menos frequente, e eu já conseguia pensar de novo. Segurei a folha, checando se ainda estava inteira. Lysandre veio se sentar ao meu lado depois que foram buscar minha água.

   ─ O que foi isso?

   ─ Hum, é algo que eu fiz pra uma aposta. Eu esqueci na sala.

   ─ E decidiu voltar? Anna, você tem um pouco de juízo que seja?

   ─ Desculpa, acho que assustei vocês.

   ─ Você nos deixou preocupados, isso sim. Precisa ter mais cuidado.

   ─ Desculpa. Como você e Castiel me acharam?

   ─ Eu vi que você não estava na fila e comentei com a professora. Ela disse que tinha que deixar os outros alunos aqui fora antes, então eu e ele corremos de volta para a sala.

   ─ Você foi tão insensato quanto eu.

   ─ Eu só ia te tirar de lá, não ficar procurando um papel dentro da mochila.

   ─ Ok, eu entendi. Eu sei que foi bobo.

   ─ Ainda bem que você sabe. ─ Nathaniel parou de frente para mim, com uma garrafa de água. Até que enfim. Tomei um gole enquanto ele puxava as calças para cima para conseguir se abaixar de frente para mim. ─ Tem noção de que sua mãe vai surtar, sim?

   ─ Só se ela souber.

   ─ Anna, você é mais inteligente que isso. A escola vai ligar e ela vai te passar um sermão, e merecido dessa vez.

   ─ É, Nath, eu sei. Foi idiota, é o que eu geralmente faço, eu já cansei disso, ok?

   ─ Eu preciso ter sua paciência de vez em quando, Lysandre. Principalmente pra falar com essa cabeça oca aqui. ─ Ele resmungou, dando um peteleco no meu braço. ─ Você é a menina, a pessoa, mais inteligente que eu conheço, mas parece que só usa essa capacidade toda para pensar merda. Anna, ficamos preocupados, ok? Usa essa sua inteligência para crescer, garota.

   ─ Sou obrigado a concordar com ele, Anna. ─ Lysandre entrou na conversa. ─ Você só precisa acreditar em si um pouquinho mais.

   ─ Os dois senhores acabaram? Eu não faço por querer, só para constar. E eu só fiz isso hoje por causa da Peggy.

   ─ Espera, Peggy?

   ─ Fizemos uma aposta para convencê-la a voltar ao jornal. Se entregássemos a matéria, ela consideraria. Eu fui resgatar minha matéria.

   ─ Eu não sei se eu te dou um abraço de orgulho ou outro peteleco. ─ Nathaniel riu, ficando de pé de novo. ─ Lys, fica nas suas mãos. Vou falar com a professora.

   ─ Nath. ─ Chamei, quando ele estava para entrar na escola de novo. Mesmo com tudo que ele havia dito, eu sabia que era pensando em mim, no meu bem. Sorri. ─ Te amo.

   ─ Eu também, fofa.


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Notas finais do capítulo

sim, ta meio grande, melhor ainda rs
Se alguém conhecer uma música francesa boa, to aceitando indicações ♥ Agradecida :3