Lá E De Volta Outra Vez escrita por Pacheca


Capítulo 27
Novas Fases


Notas iniciais do capítulo

Olás, pessoas. Como estão? Bom, fico feliz de ter passado da fase "Debrah" da história. Enfim, espero que gostem. Mais calminho, ainda assim importante ♥ Bjs :3



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  Depois de toda aquela confusão na escola, mesmo de detenção, meus pais me liberaram do castigo. Eu tinha esquecido de comentar que eles ficaram muito bravos quando a senhora Shermansky ligou, dizendo que eu tinha atacado uma colega com um balde. Minha mãe chegou a berrar que ela não me reconhecia mais. Doeu. Pelo menos agora passara.

  No sábado, antes que o sol aparecesse, meu pai foi me acordar. Ainda eram cinco e meia da manhã, mas eu tinha prometido ajudar. Fiquei de pé, escolhendo a roupa mais confortável que eu tinha. Tomei um café da manhã reforçado e fui com ele para a loja.

  – Isso ficou muito bom.

  – Obrigado. Quer cuidar do caixa, ou quer atender?

  – Eu atendo. Eu vou poder ler alguns dos exemplares de caixas?

  – Vá trabalhar, que tal?

  E finalmente ele abriu sua adorada loja de livros, A Yellow Pages. Ele tinha ganhado renome na antiga cidade por vender livros antigos, que quase ninguém mais tinha. Por isso o nome da loja era aquele. Coloquei o avental preto de pano e fui para a entrada.

  Sorri, contente, ao ver os primeiros clientes, passeando pelas prateleiras. Perguntei se poderia ajudar, mas a maioria dizia só estar olhando. Eu sorria, observando de longe. O sorriso que meu pai dava para cada um que parava no caixa me enchia de felicidade. Por mais que ele fosse negar, eu sabia que para ele aquilo ali era seu recomeço na cidade em que tudo tinha dado errado. Era parte da minha nova tentativa.

  – Licença. – Coloquei as mãos nos bolsos do avental e fui até o senhor que entrara na loja. Ele queria uma edição antiga de um livro pouco conhecido. Pedi ajuda para meu pai, que me indicou a prateleira.

  Passei a manhã inteira de pé, ajudando da melhor forma que eu podia. O movimento até estava bom. Talvez porque aquela parecia ser a única livraria daquela região. Pelo menos a única com uma aparência tão humilde e acolhedora. Meu pai me deixou ir almoçar. Como eu estava perto de casa, fui correndo para lá.

  Minha mãe tinha deixado uma lasanha de caixinha dentro do congelador para mim. Sorri e coloquei a comida no microondas, aproveitando o tempo breve para ir ao banheiro. O dia estava sendo até bem divertido, mesmo com o cansaço que agora começava a chegar devagar. Não me demorei com a comida e, levando uma marmita para ele, voltei para a loja do meu pai.

  Até reconheci alguns rostinhos da escola. Um dos meninos da minha turma, que eu não sabia o nome, um japonesinho fofo, Alexy. Ele arrastava o irmão consigo, procurando um dos romances super badalados dele. Encontrei o tal livro numa das prateleiras e o entreguei. Ele ficou super empolgado com meu emprego provisório. Mais até do que eu.

  Foi um bom dia. Quando já estávamos para fechar, minha mãe parou o carro na porta e sorriu para nós. Meu pai acabou de trancar tudo e entrou no carro, com o olhar cansado. Aceitei a carona também, quase cochilando no banco de trás. Foi a primeira coisa que fiz chegando em casa, ir dormir.

  Na segunda, eu já estava exausta pelo trabalho. Meu pai disse que poderia aguentar aquele movimento por conta própria, mas que eu podia ir quando eu quisesse. Concordei, indo para a escola. Rosalya me esperava na entrada, séria.

  – Brigou com seu noivo?

  – Que? Ah, não. Não é isso. Eu estava pensando era em você mesmo. Alexy me disse que está ajudando seu pai na livraria.

  – É. Ele disse que ia aumentar um pouco minha mesada. Então eu topei.

  – Agora vai ter dinheiro para dar uma atualizada no seu armário, eu espero. Principalmente aquela aberração que você chama de gaveta de calcinhas.

  – Eu vou ganhar um pouco a mais, não na loteria.

  – A gente bem que podia ir dar uma passeada na loja do Leigh. Eu nem sei como ele consegue pensar tantos modelos femininos.

  – Ele espia suas gavetas.

  – Ha ha, ele não faria isso nem que a carreira dele estivesse em risco. E ai, quer passar lá mais tarde?

  – É, pode ser. Mas sem me fazer gastar todo o meu dinheiro.

  – Você diz o limite.

  – Vamos para a aula, garota.

  Ela ficou satisfeita com a ideia de sair. Eu, por sorte, tinha trazido um dinheiro meu para depositar na poupança. Minha mãe não se importaria de me ver jogando alguns modelinhos velhos fora. Foi por isso que eu aceitei. Logo depois que as aulas acabaram, ela me arrastou para fora da escola, já dizendo seus planos de compras.

  – Um vestido não te faria mal. Ou pelo menos umas camisetinhas novas, nunca são de mais. Ah, e a roupa de baixo, óbvio. Chocolate, tem que ter uma chocolate.

  – A gente não pode só olhar as roupas chegando lá?

  – Sem graça.

  Sem muita demora, entramos na loja. Ela foi dar um beijo rápido em Leigh, enquanto eu já ia passeando pelas araras. Até tinha umas roupas muito bonitas. Bom, a maioria delas. Algumas eu só não teria coragem de usar.

  Enquanto Rosalya pegava vários conjuntos de lingerie, eu fui olhando alguns vestidos. Encontrei um que era uma gracinha, na altura dos joelhos, azul e preto. Mostrei para ela, esperando uma reação positiva. Ela sorriu.

  – Hum, não te lembra do Lys-fofo? Faz o estilo dele, eu acho.

  Eu não tinha olhado por aquele ponto. O vestido era bonito, mas depois que ela falou, eu notei o estilo peculiar. A gola fechada com um botão grande, as mangas compridas, tudo. Estranhei. Não imaginava que eu e Lysandre tivéssemos o mesmo gosto pra roupas. Eu realmente nunca imaginaria.

  – Olá, Terra chamando Anna. Anda, vamos experimentar. E pode levar, vai ficar bonito.

  Nem respondi. Entrei com as peças que ela me deu na cabine e fui vestindo. Preciso dizer que ela errou a numeração do meu sutiã? Ficou apertado. Ela riu e foi buscar um maior, enquanto eu colocava o vestido azul. Eu achei um pouco mais comprido do que eu planejara, mas ela voltou e abriu a cortina de uma vez. Com um sorriso satisfeito, ela me convenceu de que tinha ficado muito bom.

  – Confiando em você. E vou levar a sua tão amada lingerie chocolate, agora a gente pode ir? Eu ainda quero juntar dinheiro.

  – Nossa, sai tanto, precisa demais guardar para as baladas. Vamos.

  O bom de ir com Rosalya na loja de Leigh é que ela sempre oferecia um desconto. Não era grande coisa, mas sempre tirava uns cinco do total. E eu que não era boba, agradecia sempre. Ela me entregou minha sacola e agradeceu por deixá-la me ajudar. Eu dei de ombros e fui embora. Passei na agência bancária para depositar o que tinha sobrado do meu dinheiro e só então fui para casa.

  Subi pro meu quarto, cortei as etiquetas das roupas novas e as guardei. E como eu sempre dizia que faria, escolhi um conjunto de roupa de baixo mais velhinho e coloquei numa sacola para jogar fora, junto de uma camiseta furada que eu não usava há anos.

  Sem ter o que fazer, eu fiquei organizando algumas das minhas gavetas, com o notebook ligado reproduzindo uma lista aleatória de músicas. Minha mãe chegou mais cedo que meu pai, falando ao celular. Esperei ela vir atrás de mim no quarto.

  – Olá, meu bem. Como foi seu dia?

  – Eu sai com a Rosa, a gente comprou umas roupas. Eu trouxe um vestido com aquele dinheiro da poupança. Ai só depositei o que sobrou.

  – Hum, uma roupinha nova não mata ninguém. Posso ver?

  – Claro.

  Ela sorriu com o vestido azul, aparentemente satisfeita. Sorri também e o pendurei de novo no guarda roupa. A noite parecia ser bem tranquila. E foi. Meu pai chegou e, bem rapidinho, fez uma panela de macarrão para nós três. Ele estava ficando cansado com a loja, mas satisfeito. E eu ficava feliz por ele.

  No dia seguinte, eu fiz o que Rosa tinha sugerido e fui com o vestido novo para a aula. Calcei uma sapatilha preta e joguei o cabelo por cima do ombro direito. Por sorte, não estava um dia quente.

  O sorriso que ela deu foi animador. Alexy até me fez dar uma voltinha, assobiando. Dei de ombros, falando que os créditos deviam ser do Leigh. Verdade seja dita, o sujeito tinha talento quando se tratava de design.

  – Aposto que vai ficar todo mundo babando. Bom, vamos para a aula?

  – Claro. Eu só vou passar no grêmio antes.

  – Ai, tudo bem. Até logo.

  Abri a porta, vendo Melody conversando animada com um Nathaniel nem tão animado assim. Ou simplesmente desinteressado. Eu achava Melody uma boa pessoa, mas a falta de desconfiômetro podia irritar alguns.

  – Anna, nossa. Roupa nova?

  – É, vai ter que decorar a lista toda de novo.

  – Eu não sei todas as suas roupas assim.

  – Claro. Mel, você pode me dar uma licença, rapidinho?

  – Ah, claro. Já está quase na hora da aula. Eu já vou indo.

  – Valeu. – Esperei ela fechar a porta e me virei para ele, suspirando. – Posso te perguntar algo?

  – Depende.

  – É sobre o que rolou com Debrah e tudo mais.

  – O que tem?

  – Não acha que pode conviver com Castiel agora? Digo, sem ele querer te matar.

  – Anna, ela era só parte da raiva. Eu não gosto dele. O que muito me deixa intrigado, porque nem você é amiga dele.

  – Eu posso ficar muito irritada com ele, e querer esganá-lo. E tem o fato dele me tratar que nem um cavalo, mas até ai, eu me preocupo com ele. E com você.

  – Comigo?

  – Você também me maltrata às vezes.

  – Ah, só eu? Se eu bem me lembro, alguém adora ficar jogando meus defeitos na minha cara.

  – A gente discute, ocasionalmente, então eu ainda assim me preocupo. Você entendeu e está fugindo da pergunta.

  – Não estou, não. Eu já te disse que não era só por isso. A gente não se dá bem, fim.

  – Okay, entendido. Não vou perguntar mais.

  – Acredite, até faz um certo bem ter alguém para odiar. Dá para descontar a raiva de muita coisa.

  – Ridículo. Vamos.

  Rindo, ele acabou de guardar seus papéis e me acompanhou até a sala de aula. O dia passou sem grandes alarmes, até a hora do almoço. Eu caminhava com Alexy e Rosa pelo corredor, quando Faraize passou com um outro homem, carregando um amontoado de caixas. Abrimos caminho, tentando descobrir o que eram as caixas, mas sem pista alguma.

  Foi ai que Peggy chamou todos os alunos da turma até uma das salas, séria. Por pura curiosidade, nós fomos. Ela esperou Castiel entrar por último, com Lysandre, e começou a falar.

  – Quando achamos que essa escola não consegue piorar, os professores me aparecem com uma ideia dessas. Senhores e senhoras, eu quero combinar aqui com vocês um boicote à aula de biologia.

  – Peggy, dá pra ir do início. Por qual motivo teríamos que ir contra a aula?

  – Porque, Anna, minha querida, aquelas caixas suspeitas estão cheias de coelhinhos fofinhos. E sabe o que eles querem? Que a gente os mate e abra seus corpinhos para ficar cutucando um coraçãozinho que nós mesmos paramos.

  Iris ficou horrorizada. Coloquei uma mão em seu ombro e tentei convencê-los de que a escola não faria isso, mas Peggy já fazia seu discurso inflamado sobre como tínhamos que mostrar que não éramos monstros nem nada assim. Então eu acabei concordando em ajudar, só para mostrar que eu não era uma má pessoa.

  Peggy já tinha até feito o plano. Íamos soltar os coelhos da sala de ciência em pares, tomando cuidado para não sermos pegos, óbvio. E de preferência antes que o horário do almoço acabasse. Em turnos, a gente foi saindo da sala e subindo para o segundo andar, abrindo as caixas. Sorri, vendo um dos coelhinhos com o pelo branquinho. Nathaniel saiu antes de mim, então eu esperei. Lysandre entrou, como se estivesse distraído.

  – Já posso ir?

  – Acho que...

  Era a voz de Faraize. Gelei. Eu quem nem queria estar naquele plano agora agia como se estivesse numa grande missão pró-vida. Lysandre reagiu mais rápido que eu e me puxou para trás de uma parede. Com o coelho colado no meu peito e Lysandre quase tão colado quanto, eu esperei. Vi Faraize pegar um papel sobre a mesa, só então notando a caixa vazia.

  – Mas o que? Ai, não.

  E, desesperado, ele finalmente saiu da sala. Eu ainda não respirava. Lysandre estava estático na minha frente, olhando para a porta. Eu nunca tinha reparado quão mais alto que eu ele era. Uns quase dez centímetros. Ou já reparara, mas não com tanta relevância.

  – A gente pode ir.

  – Ah, vamos.

  Correndo pelo corredor vazio, chegamos à entrada, onde Peggy vigiava os coelhos resgatados anteriormente. Comentei sobre a cena com Faraize, e todo mundo ficou feliz. Menos eu, óbvio. Ele parecia realmente preocupado. Peggy disse que ia levá-los até o pet shop mais próximo e então estariam todos bem.

  Faraize entrou na sala cabisbaixo, buscando uma forma de se desculpar. E então, de uma só vez, ele disse que a aula prática não poderia acontecer, depois que todos os coelhos sumiram. Peggy, radiante, disse que nós tínhamos resgatado os bichinhos dos planos maléficos dele.

  – Perdão?

  – A gente não ia abrir aqueles seres fofinhos.

  – O que? É claro que não. Muitos de vocês provavelmente não suportam sangue e afins, porque eu mandaria fazerem isso? Era só para observarem os coelhos fora de habitát, como eles reagiriam.

  – Como é?

  – Eu avisei.

  Ah, o prazer de ser a certa no meio de vários errados. Ela simplesmente me ignorou.

  – O que fizeram com os coelhos? Temos como recuperá-los? Minha nossa, eles eram emprestados.

  – De onde?

  – Do pet shop.

  – Bom, coincidências são incríveis mesmo. Eu os deixei lá, dizendo que eram da escola. Acho que só adiantei seu serviço.

  – Ufa. Bem, eu sou obrigado a reconhecer que a motivação de vocês por outro ser vivo chega a ser bonita. Parabéns. A diretora vai compreender, ou assim espero.

  Bom, aula teórica então. Ele foi obrigado a passar um quadro cheio de matéria, mas ninguém se importou. Até porque, por sorte do destino, nenhum prejuízo ocorrera. E, no fim do dia, a diretora até achou graça da nossa proeza. Sorte. Muita sorte.

  Foi divertido, apesar de tudo. Quando a aula terminou, eu fui guardar meu material. Notei Lysandre ali perto, distraído. Fechei o armário e parei do seu lado. Ele me notou, calado.

  – Que foi?

  – Oi? Ah, nada.

  – Sério, que foi? Não é de ficar assim, tristonho.

  – Castiel. Ele está...distante.

  – Ele faltou ontem, os últimos acontecimentos foram ruins. Ele só precisa de tempo.

  – Reparou que ele faltou?

  – É, acredita? Eu sentiria mais se fosse você, não se preocupe. – Aquele era o tipo de brincadeira que eu faria com Nathaniel, mas eu agia tão naturalmente com Lysandre que chegava a me assustar. Ele sorriu, olhando pro chão. – Ainda preocupado com ele?

  – É, na verdade sim. Não sei se ele vai melhorar.

  – Ele precisa de um tempo. Para entender que a errada da história era Debrah, não ele. Ele deve estar se sentindo idiota, bocó, o que ele é...

  – E você bem que gosta.

  – Oh, oh, não. Eu sempre quis ser amiga do Castiel para ver se ele consegue ser legal, mas é bem difícil.

  – Ele gosta de você. Pode não parecer, mas acredite, eu já me acostumei às demonstrações não tão afetuosas dele.

  – É. De todo jeito, acho que devia agir naturalmente. Tempo cura tudo.

  – Cura?

  Podia ser impressão, mas a pergunta me parecia muito provavelmente sobre Viktor. Suspirei, achando uma forma convincente de respondê-lo. A única que achei foi a que eu disse.

  – Pode não cicatrizar, mas pelo menos estanca o sangue. A dor e a ferida são distintos.

  – De vez em quando eu esqueço que você consegue dizer coisas tão bonitas.

  – Você esquece muita coisa.

  Ele riu. E eu também. Dando um tapinha leve em seu ombro, receosa de como ele poderia reagir, e sem graça também, eu fui embora. Direto para a academia. Queria treinar um pouco, tirar um pouquinho de carga emocional de mim. Sempre me fazia bem. Fui sorridente, assobiando pelo caminho.


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Notas finais do capítulo

Próxima meta: 1500 acessos



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