Lá E De Volta Outra Vez escrita por Pacheca


Capítulo 11
Férias, enfim!


Notas iniciais do capítulo

É povo, eu escrevendo de praia vendo essa chuvinha caindo na minha janela ;-; Saudades quando eu podia viajar .q Espero que gostem < 3



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Quando eu finalmente entrei de férias, a casa já estava uma bagunça. Minha mãe estava ajeitando as malas para levar na nossa semana de viagem e estava extremamente estressada.

Eu mesma ajeitei minha bagagem, tentando manter a paz reinando, na noite anterior. E pareceu funcionar, minha mãe ficou feliz com a minha responsabilidade.

Acordamos muito cedo naquela manhã, para não pegar trânsito na estrada. Meu pai ia levando tudo pro carro enquanto eu comia alguma coisa e recolhia meu celular e o carregador.

O som do motor somado à música nos fones me fizeram dormir o caminho quase inteiro. Não era muito longe, mas ainda assim foi um cochilo e tanto. Acordei com meu pai dando tapas leves no meu joelho, sorrindo pelo retrovisor. Dei um bocejo e soltei o cinto de segurança, seguindo-o para fora do carro.

O vento com cheiro de cachorro molhado continuava o de sempre. Cheiro de maresia, era isso. Tirei os óculos escuros, pegando minha mochila e indo para dentro da casa. A tinta estava descascando, as janelas de alumínio todas fechadas, os degraus parecendo a ponto de quebrar. A casa de praia da vovó. Sorri.

Minha mãe abriu a porta e mandou eu entrar primeiro. Passei por ela, reprimindo um bocejo astronômico. A sala simples continuava do mesmo jeito de sempre, com a TV coberta por um lençol.

Passei direto e fui pro quarto no fim do corredor, o que tinha duas camas de solteiro. Respirei fundo e larguei a mochila em cima da cama que ficaria vazia. Já tirei de dentro da mala o biquíni roxo que tinha ganhado de natal da vovó e o protetor solar.

Em menos de meia hora, depois de ligar todas as chaves e escancarar as janelas, tomar um café da manhã decente e acabar de tirar as malas de dentro do carro, minha mãe falou.

— Você devia aproveitar esse sol maravilhoso. – Ela murmurou, olhando para mim. – Por que não dá uma volta pela praia? Aproveita a tarde.

— Não querem vir? – Perguntei só de confirmação. Os dois negaram com a cabeça, esperando minha resposta. E por sorte eu sabia bem quando estava empatando o caminho. Fiquei de pé e fui pegar a sacola para levar comigo.

De bolsa no ombro e chinelinho no pé, com uma saída de praia branca, eu sai de casa e olhei para o mar. Eram dez da manhã. Eu podia voltar às cinco. Tudo certo.

Depois de caminhar um pouco pela areia, encontrei o lugar mais quieto e estiquei a toalha e me sentei por cima, ainda com os óculos de sol. Ia ser uma longa tarde.

E meu maior aliado seria o protetor solar e o livro que eu trouxera. Claro que se eu conseguisse passar protetor nas costas. Que saco. Tirei os chinelos, passei o creme nas pernas e nos braços, na barriga e no rosto. Só faltavam as costas.

Eu podia pedir para alguém, mas não tinha muita coragem para isso. Suspirei. Alguém tinha que cair de paraquedas ali e me ajudar.

— Anna? – Olhei por cima do ombro. Nathaniel. Gente, que boca santa a minha. Ele se aproximou, só de bermuda. – Não sabia que vinha para cá.

— Foi o passeio mais em conta. Com a loja do meu pai abrindo mês que vem, não podemos gastar muito ainda.

— Empresta o protetor?

— Passa nas minhas costas? – Ele concordou e tirou meu cabelo do caminho, esfregando creme nas mãos e então nas minhas costas. – Também não disse que vinha.

— Ah, ideia da Ambre. Ela disse para minha mãe que estava precisando de um bronze natural e não sei mais o que, então a gente veio. Só que meus pais não quiseram vir e me deixaram com ela.

— Cade ela?

— Bem ali. – Ele apontou a garota deitada de costas para o sol, de olhos fechados e fones enfiados nas orelhas. E que biquíni era aquele, senhor? Dava para ver até o coração dela, olhando direitinho.

— Gostei do modelinho.

— E adianta falar que é vulgar? – Ele resmungou, sentando para passar protetor em si mesmo. – Só não quero que ela me dê trabalho.

— Passam muito tempo juntos agora? – Na infância eles não podiam nem se ver que acabava em choro e castigo. Ele deu de ombros.

— Hum, a gente convive mais do que antigamente, mas não é tanto assim. A parte difícil agora é ela, pra piorar. – Peguei o protetor e o ajudei com as costas. Quando foi que ele ficou tão definido assim? – Sei lá, gosto de lembrar que somos irmãos, querendo ou não.

— Verdade que não pode reclamar muito disso. – Suspirei, fechando o vidrinho do protetor. Ele me olhou, preocupado. – A casa ainda está com as duas camas.

— E sentiu saudade.

— Era sempre ele quem me levava pro mar e ficava me segurando para eu não tomar um caldo. – Nathaniel riu, suspirando em seguida. Limpei as mãos na toalha e troquei de assunto, aliviando o clima. – Meus pais me botaram para fora.

— Querendo tempo sozinhos?

— Deve ser, minha mãe nunca quer sair da praia. – Ele riu, apoiando os braços nos joelhos. A conversa foi desenrolando naquele jeito só nosso de falar. Sem esconder nada.

— Sabe, eu acho estranho. Que você me conte tudo desse jeito. Parece conversa de menina.

— Quer que pare? – Perguntei, vendo as ondas quebrando na areia. Ele negou com a cabeça.

— Eu te conheço mais do que a mim mesmo. Não dá pra simplesmente parar agora. – Sorriu. É, ele sabia tudo mesmo de mim. Mesmo. Até do meu ciclo ele sabia mais que eu. Quando eu estava de tpm, era ele quem me avisava. – E você já sabe muito também.

— Verdade, senhor. – Tombei sobre seu ombro, rindo. Ele colocou a cabeça sobre a minha por um segundo, num quase abraço figurado. Ri, esticando as pernas. – Quer fazer alguma coisa?

— Não sei, eu... – Acabou a paz. Ambre vinha na nossa direção, igual um frango irritado. Nathaniel suspirou.

— Nath, você prometeu que ia ficar comigo. – Ela cruzou os braços, olhando para ele.

— E eu te disse que ia dar uma volta. Estava te vendo daqui.

— Ainda assim, você veio comigo, não com essa...

— Ambre, menos. Você estava se bronzeando, Anna estava aqui, só isso. Quer que eu faça algo?

— Quero brincar. Nós dois. – Ela deixou aquele dois bem claro com o olhar que ela me mandou. Concordei, pegando meu livro na bolsa. Nathaniel suspirou e ficou de pé, seguindo a irmã.

Era até bonitinho, os dois indo jogar frescobol ali perto. Dei uma bela espreguiçada e fui ler. Silmarillion. Leitura um pouco difícil, mas ainda assim interessante.

Eu tinha lido umas duas páginas, quando Nathaniel me chamou. Ergui o rosto e tomei uma bela bolada no nariz. A bolinha bateu no livro, derrubou-o das minhas mãos, rolou um pouco e parou do meu lado. Vi Ambre rindo, mas só sentia o nariz doendo.

— Ai. Podia ter me machucado, ridícula. – Peguei a bolinha e joguei de volta para Nathaniel, que olhava preocupado comigo. – Não conseguiu. E mira melhor na próxima.

Recolhi meu livro, guardei, fiquei de pé. O nariz ainda doía. Limpei a areia do corpo e fui andando pela praia, deixando os dois para trás. Aquela menina era louca, não tinha condição.

Coitado do Nathaniel. Ele merecia um descanso daquela doida varrida. Voltei até onde deixei minhas coisas, peguei o dinheiro que eu tinha trazido e fui comprar sorvete.

— Posso ajudar? – O senhor com o carrinho perguntou, sorrindo para mim. Sorri de volta, com as mãos na cintura.

— Três de chocolate.

— Com castanha? – Era daqueles que vinha coberto por chocolate com castanhas. Concordei, sorrindo. Ele me entregou os três sorvetes e pegou a nota de dez, me devolvendo o troco.

— Obrigada. Boa tarde.

Nathaniel segurou a bolinha quando viu que eu me aproximava. Passei pelo grupo de rapazes tomando água de coco, vendo um deles me olhando. Nathaniel viu também.

— O que é isso?

— Sorvete. Trouxe pra gente. – Ambre cruzou os braços. – Pra você também, garota. Toma.

Indignada, ela pegou o dela e rasgou a embalagem, sentando-se na toalha. Nathaniel pegou o dele e agradeceu. Sentamos os três, olhando o mar. Bom, na verdade a atenção não estava no mar.

Ambre olhava para um dos carinhas ali perto. E que cara. Loiro, com o cabelo preso, um monte de tatuagens. Por um acaso, o que tinha me encarado mais cedo.

— Eu não acredito que vou ficar esperando minha irmã ficar com um estranho.

— Podia ser pior e você estar sozinho. – Comentei, tentando ver no que ia dar aquele rolo. – Acha que ele está afim?

— Acho que não. Ele não olhou pra ela. – Ele resmungou. Nathaniel mal humorado era raro.

— Como não? Ele não parou de olhar para cá. – Respondi, embolando o plástico do sorvete. Nathaniel deu outra mordida, me encarando e não disse nada. – Por falar nisso...Ambre?

Ela estava com uma cara horrível. Parecia meio tonta. Nathaniel olhou para ela, alarmado.

— Estou meio zonza. Deve ser o calor. – Ambre resmungou, tentando se abanar com a mão. Mão meio vermelha e inchando. Arregalei os olhos, lembrando qual o problema.

— O sorvete tinha...castanha. – Comentei, vendo Nathaniel checando a embalagem. – Caramba, eu matei sua irmã.

— Não, calma. Eu trouxe o antialérgico dela, vai ficar tudo bem. – Ele ficou de pé e puxou Ambre, levando-a para um lugar sombreado. Fiquei de pé também, mas não os segui. Ela ia ficar louca de raiva. E o pior é que nem fora de propósito.

— Sua amiga está bem? – O garoto loiro perguntou, todos os cinco agora me encaravam. – Parece meio...

— Ela não é minha amiga, mas acho que vai ficar bem. Eu espero. Não quero ir presa. – Eles riram, o loiro ficando de pé. Ele era bem maior do que eu imaginara, uns quinze centímetros maior que eu. Olhei para cima.

— Até antes do incidente, você é bem mais bonita. – Ele sorriu para mim, passando um braço pelos meus ombros e me levando para longe. – Prazer, Dakota. Chame de Dake, é melhor.

— Hey, Dake. Anna. Eu devia ir...checar... Ambre.

— O nome dela, é? O irmão dela parece ter tudo sob controle, viu? – Ele me virou para ver meu amigo lá, colocando Ambre para dormir. E com o olhar mais assassino que ele já me lançou.

Fiquei assustada. Ele devia estar achando que foi de propósito. Aproveitei o garoto dando em cima de mim e sai rapidinho de perto.

— Dake, você é daqui?

— Sou, mas faz tempo que não moro aqui. Fui para a Austrália com meus pais quando era molequinho. E você, linda?

— Sou, moro na cidade vizinha.

— Meu padrinho dá aulas por lá. Um tal de...st. Andrew. Tio Bóris.

— Ele é seu padrinho? – Meu professor de educação física preso nos anos passados era parente daquele deus grego? – Ele é gente boa.

— Estuda lá, é? Eu bem que podia ver se ele me arruma uma vaga.

— Ah, deixa disso. A Austrália deve ser tipo...incrível. – Até que ele conseguia ser legal. Sorte minha. Férias ganhas. Gato na praia, me dando mole. Incrível.

— Você é mais. – Ele me puxou para ele, mas não tomou nenhuma atitude. Como se quisesse me fazer vontade. – Então, o que leva uma garota tão linda a realmente dar mole para um mero surfista estrangeiro?

— Maravilhoso. – Respondi, perdida naquele tanquinho tatuado. – Digo, o design da tattoo ficou demais.

— Gostou? São bem comuns por lá, pelos maori. Peguei deles. Gosta de tatuagens, é?

— Bastante. – Só faltou eu começar a babar, perdida naquele peitoral, descendo para a tatuagem no umbigo. – É, Dake, adorei sua companhia, mas eu preciso mesmo ir ver a menina lá.

— Trocado por uma menina, é? Vou te dizer, eu te ensino a surfar, você fica. Pode ser?

— Está tarde para surfar, não?

— Não está forte ainda. Vem, vamos. Só o básico.

— Eu tenho que ir... – Que sofrimento, decisão difícil. – E quero aprender...

— Vem, eu vou com você e depois a gente vai para a aula. – Ele foi me puxando de volta para Nathaniel, sorrindo sempre pra mim.

— Anna, você...quem é esse?

— Nathaniel, Dake. – Apresentei-os, vendo Ambre dormindo na sombra. – Nathaniel, juro que eu esqueci...

— Ok, mas vem cá. Licença. – Ele me soltou do braço de Dake e me puxou. – O que está fazendo?

— Tentando ficar com um cara, por quê?

— Ele parece um bosta.

— Ele é meio...confiante demais. Não quero um namorado, ele é bonito. Fim.

— Ainda assim, eu acho que... – Ele olhou para mim e revirou os olhos. – Não acredito que agora você fica com gente assim.

— Eu fico com quem me quer, meu filho. – Rebati, cruzando os braços. – Olha, você devia levar ela para casa e deixar ela descansar. E finge que eu nunca soube da alergia.

— Ok, vou sair do caminho. – Ele bufou e foi juntar suas coisas. Voltei para perto de Dake, vendo o sorriso perverso dele.

— O que foi?

— Amigo ciumento esse seu. Eu também seria, se fosse ele...Pena que agora você é minha. Vem.

Ele pegou minha mão e me puxou para a beirada do mar, indo buscar a prancha. Sem entender bem, vi Nathaniel indo embora com Ambre ainda meio tonta.

Dake até explicava bem, mas eu não ouvi muito. Foi por isso que ir para a água foi a maior tragédia. Por isso e por falta de equilíbrio mesmo. Eu cai de cima da prancha, em cima dele.

— Que micão. – Ele fingiu que nem me ouviu e me puxou para perto, parando de ficar fazendo vontade. Com as mãos segurando meu rosto, ele me deu um beijo muito bom. – Está...ficando...tarde...

— Quer que eu te deixe em casa? – Ele perguntou, mordendo meu lábio inferior. Nem consegui pensar direito. Concordei, saindo da água. Ele pegou minha mão de novo e foi comigo recolher meus pertences.

A casa estava quieta quando eu cheguei. Dake me puxou para o lado da casa, me prensando contra a parede. A gente deve ter ficado ali por uns dez minutos, sem dizer uma palavra.

— Hum, você deveria ir também. – Comentei, vendo o sol se escondendo atrás do mar. Ele me soltou, olhando par ao céu também.

— Vai ficar por aqui mais dias? – Ele perguntou, segurando meu rosto. Concordei, sem falar quantos exatamente. – Vamos sair amanhã. Vai ter um luau lá na praia de noite. Quer ir?

— Posso te encontrar lá. – Comentei, vendo-o sorrir. É, as férias iam ser bem legais. E eu ainda ia poder esfregar na cara de Ambre que eu era mais bonita que ela. – Tchau.

Ele me deu mais um beijo e foi embora, soltando o cabelo loiro. Entrei em casa, vendo meus pais deitados no sofá, juntinhos. Minha mãe sorriu para mim, distraindo do filme.

— Achou agrado, hein?

— Oh. – E como. Não que eu fosse falar daquela parte assim. – Nath veio para cá também.

— Ah, que bom. – Ela sorriu para mim, com o olhar de “sei bem”. – Já vamos fazer o jantar, pode ir tomar banho.

Concordei e fui para o quarto, toda sorridente. É, realmente seria muito bom passar as férias ali.


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Notas finais do capítulo

Nathaniel, coitado hauhuahuha



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