Lá E De Volta Outra Vez escrita por Pacheca


Capítulo 1
De volta às raízes


Notas iniciais do capítulo

Olá, galerinha do bem :3 Aproveitando o último momento de 2015 para começar uma nova fic minha o/ Enfim, espero que gostem da Anna e de sua história < 3
Ps. A moça da capa não tem necessariamente a aparência da personagem ♥



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Logo cedo de manhã, o despertador tocou. Não que precisasse dele. Já estava acordada tinha um tempo. Só tinha conseguido dormir por volta das três da manhã, que foi quando tia Ágatha decidiu desligar a TV e ir dormir. Às três da manhã. E comigo dormindo na sala, num colchão atrás do sofá.

Sentada no colchão, com o cabelo todo bagunçado e uma cara de zumbi, dei um bocejo. Até dormiria mais um pouco, mas estava com medo de acabar apagando e perdendo o primeiro dia de aula. Fiquei de pé e fui para a cozinha, ainda com o conjuntinho do pijama.

Enchi uma caneca com suco de laranja e preparei um pão com manteiga. Outro bocejo. Sinceramente, que preguiça.

— Você consegue, Anna, força! – Tive que falar em voz alta para ver se me convencia. Voltei a comer, com os olhos pesados. Meu celular tocou e atendi sem olhar o visor. Não estava conseguindo ler mesmo.

“Bom dia, querida.” Era minha mãe. Devia estar em dúvida se eu sobreviveria vivendo uma semana com tia Ágatha. Comecei a achar que a resposta seria não. Em dois dias eu já estava morta de cansaço.

— Hey, mãe. – O terceiro bocejo. Que saco.

“Ânimo, garota. É só o primeiro dia. Você vai se virar bem, confio em você” Adorava o otimismo da minha mãe. Sorri.

— Sei bem. Seria melhor se tia Ágatha não tivesse ficado a madrugada assistindo à TV, enfim...

“Não se esqueça de conferir sua matrícula. E quero as novidades depois.”

— Você e papai ainda vão demorar? – Perguntei, como quem não quer nada, mas só ouvi a risada.

“Não vai escapar de tia Ágatha.”

— Bem, aceito. Eu preciso ir, mãe. Sabe, tomar banho, arrumar uma roupa bonitinha, pentear cabelo e blá blá blá. Até mais.

“Um beijo, meu bem. Se cuida.”

E desliguei. Dei um bocejo. Acabei de tomar o suco e fui tomar o bendito banho. A água morna serviu para me despertar. Vesti uma camiseta azul escura com uma calça jeans cinza e o par de sapatilhas azuis. Tão básico que ninguém ia me ver. Ótimo.

Consegui dar um jeito no cabelo, deixando-o solto mesmo sem gostar muito. A primeira impressão era a que contava, e meu cabelo solto passava uma impressão bem melhor.

Minha tia continuou dormindo, então peguei minha mochila e deixei a porta do apartamento destrancada. Os vizinhos dela já tinham até se acostumado a entrar sem bater.

Olhei bem a rua antes de colocar os fones de ouvido. Tinha um bom tempo que eu não vinha para a cidade, mas ela não tinha mudado tanto. O centro comercial, o parque, a lanchonete da senhora francesa que eu nunca gravei o nome e a escola.

Dei um sorriso fraco. O prédio tinha se expandido um pouco, mas continuava igual ao que estava em minha memória. O maior colégio da cidade, St. Andrew. Entrei, atravessando o pátio e parando no corredor movimentado. Nossa.

— Bom dia. – A diretora. Quando eu era criança, tinha muito medo da diretora. Ela era a velha doida que xingava todo mundo do nada. Aos seis anos, qualquer um ficaria apavorado.

— Ei.

— Senhorita...?

— Hum, Wright.

— Bom, querida, precisa encerrar sua matrícula.

— É, eu meio que sabia. – Murmurei, olhando a porta com a plaqueta metálica logo acima, onde se lia GRÊMIO. Fiquei ansiosa. E com vontade de correr e matar logo aquele sentimento meu. – No grêmio?

— O representante, Nathaniel, vai te ajudar.

— Licença. – Pedi e, segurando a alça da mochila, empurrei a porta da sala. Sorri ainda mais. – Nathaniel?

— Só um momento. – Ele falou, ainda de costas para mim. Cruzei os braços e esperei, estudando sua aparência. Os cabelos loiros bem cortados, a roupa extremamente passada, mais ou menos da minha altura... – Posso aju...Anna?

— Quem mais, meu bem? – Abri os braços e esperei. Ele deu um sorriso angelical e veio ao meu encontro, com o abraço que eu não recebia em anos. – Oh, senti tanto sua falta.

— Eu também.

Vivi muitos anos naquela cidade, num apartamento que hoje era da minha tia, antes de me mudar há uns três anos atrás. E desde criança, aquele rapaz loiro era meu melhor amigo. Ainda conversávamos pela internet, mas aquele contato era tão mais satisfatório.

— Você cresceu. – Ele comentou, se afastando para me estudar. Ri, dando de ombros. Nathaniel costumava ser bem maior que eu, então termos quase a mesma altura era estranho. – Está com o que, 1 e 70?

— 1 e 75. – Corrigi, rindo da cara dele.

— Ok, do que precisa? – Nathaniel respirou fundo e voltou ao trabalho. Bem diferente do que eu esperava dele. Aquele menino era o capeta em forma de guri quando éramos mais novos. Até ai, eu tinha conseguido notar a mudança em seus olhos cor de mel. Responsabilidade.

— Que você me ajude a acabar essa benção de matrícula.

— Ok, deixa eu só ver... – E passou a mexer numa pasta com meu nome colado numa fita crepe. – Preciso da sua ficha de inscrição preenchida, uma foto no tamanho polaroid e de 25 dólares.

— Que roubo. E tem certeza sobre a ficha? Fui eu quem ajeitei tudo...

— Tenho, não está aqui.

— Fala sério. Sério? – Comecei a desesperar. Não queria ficar uma hora com minha mãe gritando no telefone o quão irresponsável eu era. Ele começou a rir.

— Estou brincando. Ela está aqui, no meio dessa papelada. Só preciso achar. – Ele deu de ombros. E eu quis jogar um sapato na cabeça dele. Podia viver mais uma semana sem matar aquela saudade besta.

— Idiota. – Ele ainda ria, passando as folhas. – Vou procurar um lugar pra tirar essa foto e já volto.

O dinheiro eu até tinha comigo, tinha trazido exatamente com essa finalidade. Saí do grêmio e fiquei alguns segundos parada no corredor, como se a foto fosse aparecer entre meus pés magicamente.

— Anna! – Achei que fosse Nathaniel, mas a voz não era a dele. Quase engasguei quando vi a figura que se aproximava. Ken.

Ken era um garoto da minha escola na outra cidade, onde passei os últimos anos. Baixinho, com o cabelo castanho cortado no clássico corte de tigela e com os óculos de lentes tão grossas que chegavam a distorcer seu rosto, ele veio correndo na minha direção.

— Ken, oi. – O que aquela criatura estava fazendo ali? Não que eu não gostasse dele, é só que...

— Pedi meu pai para me transferir assim que soube que ia se mudar. Achei melhor vir junto. – Só que ele era completamente alucinado comigo. Podia ser porque eu era a única que o defendia daqueles imbecis do time de baseball. Podia ser só loucura dele.

— Uau. – Fiquei mesmo chocada. Tanto com a atitude dele quanto com a aceitação do pai. – Hum, fico feliz que esteja bem.

— Estou bem com você. – O bom é que ele já estava no estágio de loucura em que nem se disfarça mais quais suas intenções.

— Ok. Ah, eu preciso ir tirar uma foto, então... – Soltei-o de mim, com um sorriso fraco.

— Quer que eu te acompanhe? Tirei a minha no mercado de um senhor...

— Mercado de tudo. Melhor lugar para fazer suas comprar, eu sei onde é. Obrigada.

E meti o pé, antes que ele conseguisse me seguir. Sinceramente, Ken era super carinhoso e atencioso, mas eu não podia dar muita corda para ele. Não queria alimentar aquela obsessão.

Correr por um pátio razoavelmente cheio pode não ser uma boa ideia. Principalmente se nessa travessia você acabar dando um empurrão num garoto com cara de poucos amigos.

— Ei, presta atenção. – Ele se virou para mim, aparentemente irritado. Pedi desculpa e sai da escola, correndo até o mercadinho ali perto.

O atendente era o mesmo senhor de sempre, Louis. E não parecia ter envelhecido um dia que fosse nos anos em que estive fora. Pedi a foto, que ele bateu com o maior cuidado e paguei pelos três retratos da promoção de 3 por 10.

De volta ao colégio, com um pátio bem mais vazio agora, vi o menino do empurrão lendo uma revista, sentado num dos bancos. Não era da minha conta, mas ele notou meu olhar e ficou esperando alguma ação.

— Eu sinto muito mesmo. – Falei, parada de frente para ele.

— Não importa mais, já passou. Novata?

— Quase isso. Anna.

— Castiel. Parece familiar...

— Eu já estudei aqui. Porque já morei aqui. – Falei pausadamente. Não tive a impressão de conhecê-lo.

— Pode ser que eu já tenha te visto por alguma rua então.

— E se lembra de mim?

— Por que? Não preciso memorizar muita coisa, mas também não sou muito ruim nisso.

— Foi só uma pergunta. – Agressivo, já não gostei. Eu devia ter prestado atenção na sua aparência e ter corrido quando tive a chance. Ele se vestia de um jeito que berrava “BAD BOY ROCKEIRO”. Cabelo na altura dos ombros, jaqueta preta, camiseta de banda, calça preta com umas correntes presas.

— Quer que eu te conte que símbolo é? – Ele percebeu que eu estava com os olhos fixos em sua camiseta e, sem me mexer, respondi.

— Winged Skull.

— Ah, a novata gosta de rock então?

— Eles são grunge. – Completei, finalmente o encarando nos olhos. – Tenho o CD baixado.

— Nada mal...

— Tenho que ir, Castiel. Até mais. – Ou não. Arrogante.

Voltei para o grêmio, perguntando se Nathaniel tinha achado minha ficha. Ele me estendeu o papel escrito na minha caligrafia. Sorri e agradeci, voltando para o corredor.

Estendi a folha com as notas e a foto para a diretora, mas ela me lançou um olhar sério que me fez tremer na base. O meu pesadelo de seis anos de idade parecia prestes a se tornar real.

— Consiga um clipe de papel, sim? – Pelo menos ela não berrou. Só me deu trabalho mesmo. Revirei os olhos assim que ela se virou e fui caçar a porcaria do clipe.

Nathaniel não tinha nenhum com ele no grêmio, então fui checar na sala de aula. Imagino que eu passaria bastante tempo ali. Peguei o clipe em cima de uma das mesas e prendi a papelada, voltando ao corredor.

— Muito obrigada, querida. – A diretora pegou as folhas e me dispensou. Da próxima vez eu ia pedir meu pai para resolver isso de matrícula para mim. Chatisse.

— Ei, Anna. – Nathaniel saiu do grêmio, fechando a porta atrás de si. Esperei para ouvir o que ele tinha a dizer. – Vem cá.

E saiu pelo corredor. Suspirei e fui atrás, sabendo que ele não ia me contar se eu perguntasse. Parou de frente para um cômodo e mandou eu entrar.

— Seu paraíso. – A biblioteca. Sorri. Aquele garoto continuava me conhecendo melhor que qualquer um. – Meu também.

— Nathaniel, representante de turma, todo certinho. Está parecido com ele.

— Tive uma certa influência. Bom, vem cá. Deixa eu te mostrar onde eu escondo os livros bons. – Ri de novo, seguindo-o entre as estantes abarrotadas de livros de todos os jeitos.


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Notas finais do capítulo

Anna e Nathaniel amigos de infância, hahah, meiguinhos :3 Digam o que acharam e até o próximo :)