Uma Semideusa Inadequada escrita por Geek Apaixonada


Capítulo 17
Verdades




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No momento em que vi o fogo começando, soube o que aconteceria. Só tive tempo de agarrar o pulso de Juliet e erguer o outro braço protetoramente contra o rosto. Criei uma barreira de gelo em torno do supermercado bem a tempo, um milissegundo antes do posto de gasolina explodir também.

— Ah meus Deuses! - ela se soltou de mim, correndo de encontro à parede de gelo. – O Trent está lá fora! Ele está lá fora!

— Eu sei...

— TRENT! – ela gritou. – TRENT!

Pisquei os olhos e ele estava lá, vindo em nossa direção. Mancava de uma perna e seu braço estava pegando fogo, mas ele parecia não perceber. Juliet continuou gritando. Deixei as barreiras diminuírem um pouco de altura e Trent finalmente se tocou que estava pegando fogo. Ele se jogou no chão e começou a rolar. Juliet pulou a barreira e correu até ele, enquanto eu ia mais calmamente.

— Temos que sair daqui. – falei, tirando um pacotinho de néctar do bolço no meu casaco. – Passe isso nele, rápido.

Ela obedeceu e assim que terminamos, saímos o mais depressa dali antes que a policia ou os bombeiros chegassem. Chamei um táxi qualquer, quando já estávamos bem longe do posto, e dei o endereço da morada de Despina.

 

Quatro meses atrás

 

— Raio de sol?

— O que? – murmurei, estava quase pegando no sono.

Nós dois estávamos em uma das várias mansões dele e de todas, aquela era a minha favorita. Ficava na Austrália, de frente pro mar. De modo que ventava bastante, e não fazia calor. Aliás, eu odeio calor. Odeio suar. Prefiro muito mais o frio. Mas Apolo não. Então a mansão da Austrália era o meio termo para nós dois.

Lá fingíamos ser um casal normal e ter preocupações normais. Comíamos pizza assistindo séries na televisão, ficávamos acordados até tarde, aos namoricos, e acordávamos entre uma e duas da tarde. Quer dizer, eu acordava. Apolo acordava quando ainda estava escuro e saia pra trabalhar, pra fazer o sol nascer. Depois, a tarde ele voltava e me acordava.

— Eu estava pensando, sabe...

Abri os olhos. Ele estava olhando pro teto, como fazia quando estava nervoso em me dizer alguma coisa.

— O que você pensou? – me inclinei, apoiando a cabeça na mão e olhando para ele. – Desembucha.

Apolo olhou para mim, mas logo desviou, voltando a fitar o teto.

— Nós já estamos juntos há oito meses... E eu já apresentei você pra minha mãe...

— Sim?

— Este é um relacionamento sério, não é?

— É.

— Então por que você não me apresentou pra sua mãe até agora?

Voltei a deitar a cabeça no travesseiro e comecei a olhar pro teto também.

— Quer dizer, não que eu faça questão de conhecê-la. Sei que ela não é lá... muito amigável... Mas já passou da hora de você tentar me convencer do contrário. E além do mais, estamos namorando escondido dela. Isso não é muito... hã... estranho? Não deveria ser eu a querer nos manter em segredo?

 

Presente

 

Desci do táxi, ajudando Trent a descer também. Ele estava bem melhor. As queimaduras haviam sumido graças ao néctar e ele estava bonito novamente.

— Obrigada – falou, com um braço sob meus ombros. – Parando pra pensar agora, acho que essa é a primeira vez que você me toca. Não, teve aquela vez no grifo, mas não conta por que você tava segurando no meu pé e...

— Trent – falei. – Fica quieto.

— Adoro garotas mandonas.

— Fica. Quieto.

— OK. Você que manda!

Conduzi eles até os grandes portões negros do palácio de Despina, deixando pegadas na neve.

— Mãe – falei no interfone. – Sou eu, pode abrir.

Houve uma pausa e então mamãe perguntou:

— Qual é a sua saga de filmes favorita?

— Harry Potter.

Ouvi um click e o portão se abriu automaticamente. Continuei ajudando Trent a andar, com o braço dele em torno dos meus ombros.

— Me dá uma chance e eu juro solenemente não fazer nada de bom. 

Dei risada e ele sorriu satisfeito.

— Sério – falei, sem conseguir evitar um sorrisinho. – Cala a boca.

— Ok.

Mas é claro, não demos nem cinco passos e ele voltou a falar.

— Sabe, eu posso ser seu elfo doméstico. Eu farei tudo que você quiser e não preciso de roupas.

Não consegui evitar outra risada. Juliet se aproximou, curiosa. – Do que vocês estão rindo?

— Das minhas artes das trevas. – Cooper respondeu.

Ri mais ainda. Ela franziu o cenho, sem entender. Passei-o pra ela e segui na frente. Se Apolo soubesse disso ele iria falar, falar, falar... Ou pior: e se ele fritasse o Trent?!

Entrei no castelo e conduzi meus amigos até a sala do trono. Despina estava jogada nele, mexendo em seu celular. Ela parou de repente, levantou-se e caminhou sorridente até mim, me abraçando. Me senti segura por um momento. Segura e confortável.

— Mãe, eu preciso te contar uma coisa...

Despina me soltou e me encarou com as sobrancelhas franzidas.

— O que você fez?

Abri a boca, mas não saiu nada.

— Vamos, Trent... – ouvi a voz de Juliet. – Tracy precisa ficar sozinha com a mãe dela.

— Mas por quê?

— Apenas me obedeça, seu cabeça-dura!

Aos xingamentos e petelecos, eles saíram da sala do trono e fiquei sozinha com minha mãe.

— O que você tem pra me contar, Tracy?

Sua voz era suave e sua expressão preocupada. Senti a culpa me subindo a garganta.

— Eu estou namorando um cara e já faz um ano.

Ela ficou me encarando, esperando pela parte ruim, mas como eu não tive coragem de continuar, ela falou:

— É aquele rapaz que veio com você?

— Não. Meu namorado é um deus grego.

Despina deu um passo para trás, como se eu houvesse lhe esfaqueado. – Quem?!

Engoli em seco, o coração quase saindo pela boca. Ela começou a olhar para meu peito e de repente percebi que meu pingente estava brilhando. Despina estalou os dedos e ele saiu de dentro da blusa, onde estava escondido, e ficou flutuando no ar, preso pela corrente.

— Mãe, eu posso explicar... A senhora tem que me ouvir...

— Como você pôde?! Eu pensei que você fosse inteligente, Tracy! Pensei mesmo. Mas pelo visto é tão burra quanto Perséfone! Se envolver com Apolo? Apolo?! O DEUS MAIS MULHERENGO DO OLIMPO, O DEUS DAS PRAGAS, DAS DOENÇAS...

— Mãe, nós já estamos juntos há um ano. Nós somos felizes juntos!

Ela me encarou por um longo período e então balançou a cabeça.

— Se procura minha aprovação, não terá. Está sendo burra. Vai acabar grávida dele, e então, ele irá te abandonar. É isso o que vai acontecer.

Senti um líquido quente escorrendo pelo meu rosto e percebi que estava chorando.

— Suma daqui — disse Despina. – Não quero mais olhar pra você.

— Mãe...

— VÁ EMBORA!

Tentei me aproximar, mas ela ergueu a mão e eu me senti flutuando para trás até passar pelas portas, que se fecharam na minha cara.

 

Quatro meses atrás

 

— Tudo bem. – Apolo falou. – Se nós continuarmos juntos, ela vai descobrir e vai ter que aceitar.

— Se nós continuarmos juntos.

Ele finalmente olhou para mim, porém com uma expressão magoada.

— Assim você quebra meu coração...

Me inclinei sobre seu corpo novamente, depositando um beijo em seus lábios. – Vou colar todos os pedacinhos. Prometo.

 


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