POV ANNIE

Acordei já sentindo o cheiro do chocolate quente que minha mãe preparava, abri lentamente os olhos e os forcei a permanecerem abertos, minha cama estava tão quente e confortável que cogitei se eu realmente precisava de um diploma, eu precisava. Por esse motivo levantei da minha adorada cama e um frio percorreu meu corpo quando meus pés descalços tocaram o chão, corri na ponta dos pés até o banheiro e liguei a água quente do chuveiro, enquanto me despia reparei que estava pálida... com o inverno rigoroso se aproximando o sol não aparecia muito no céu de Ohio, dando a impressão de que eu era feita de porcelana.

O contato da água quente com meu corpo parecia uma massagem, não queria sair dali e de novo pensei se ir para a escola era realmente necessário. Era. Vesti uma calça jeans, um suéter e uma bota preta, não era nada extravagante e bem meu estilo, já que nunca gostei de chamar muita atenção para mim. Passei uma maquiagem básica para dar um pouco de cor ao meu rosto.

Desci lentamente as escadas, meio em protesto por ter que sair de casa em um dia perfeito para ficar debaixo das cobertas e dormir, entrei na cozinha. Minha mãe sorriu para mim e me entregou uma caneca com o chocolate quente perfeito, que só ela conseguia fazer.

— Bom dia, querida. Dormiu bem?

— Bom dia, mãe! Dormir sempre é maravilhoso. Acordar que é o sacrifício!

Ela deu uma risada e balançou a cabeça concordando.

— Verdade. Ainda mais nesse frio... hoje a temperatura caiu para 10°C.

Não me surpreendi, estávamos no início de novembro e a tendência era a temperatura cair cada vez mais. Dei um gole no espetacular chocolate da minha mãe, meu Deus! Estava muito bom! Soltei um suspiro enquanto o saboreava. Outro gole.

— Mãe isso aqui está maravilhoso! Eu preciso de vários desse todos os dias!

— Vai com calma Annabeth! – Ela sorriu brincalhona – Se beber tudo isso vai ficar uma bola e aí o Percy te larga.

— Athena, comida é uma das coisas que mais me traz felicidade, problema é dele se não quiser mais ficar comigo, mas eu não vou me negar esse prazer.

Ela riu enquanto eu terminava de beber, depois me olhou dos pés à cabeça e ainda sorrindo disse:

— Eu estava brincando, querida. Você é linda. E mesmo se não fosse, é boa demais para ficar com alguém tão superficial a ponto de só gostar de você por sua aparência.

— É, bom... ele não é.

— Sei que não, você é muito esperta para ficar com qualquer um.

Dei um beijo em sua testa e sai em direção ao meu quarto, escovei os dentes peguei minha mochila e fui esperar Hazel na sala.

— Por que não vai a pé, Annie? – Athena se sentou ao meu lado.

— Hazel tirou carteira há um mês, e semana passada ela ganhou um carro... está toda animada e fala disso o tempo todo! Hoje ela fez questão de nos mostrar o carro e nos levar para a escola. Eu, ela e Piper vamos passar em uma loja e pegar alguns enfeites de natal para o Glee antes de ir para a escola.

— Mas agora? Faltam 45 minutos para a aula começar...

— Eu sei, é que Quíron já deixou tudo reservado, é só passar e pegar... nem 5 minutos! E é tudo perto da escola.

— Certo.

— E aliás, ela quer muito usar esse carro. – Ouvi uma pitada de inveja na minha voz, minha mãe também reparou pois me lançou um olhar de pena.

Eu não tinha um carro, mas todos tinham. Não que fosse ESSENCIAL ter um carro para mim, mas já fazia alguns meses que eu havia tirado carteira e o máximo que meus pais me deixaram dirigir foi o carro da minha mãe para ir até um hospital na esquina, e só porque foi em um momento de urgência...

Uma buzina estranha interrompeu meus pensamentos e eu soube que ela havia chegado, ao passar pela porta todo resquício de inveja foi embora, ouvi minha mãe prender uma risada e voltar para dentro de casa, fechando a porta atrás de si.

Tive vontade de gargalhar, deitar e rolar no chão de rir... Comparada com a situação de Hazel me senti muito, mas muito grata de não ter um carro. Era um fusca meio marrom, mas não acreditava que essa tenha sido sua cor original, estava caindo aos pedaços e eu realmente não conseguia crer que ele tinha aguentado andar de sua casa até aqui. O vidro estava um pouco rachado e haviam várias marcas em diversas partes do carro, atrás estava escrito “Nas curvas de seu corpo capotei meu coração”.

Mordi os lábios na tentativa de segurar o riso. Ela abaixou a janela com certa dificuldade e disse:

— Não é maravilhoso?

Assenti e mordi mais forte os lábios “NÃO PODIA RIR, NÃO PODIA RIR” ela me mataria, estava tão feliz que se eu debochasse estragaria com a alegria.

Ela saiu do carro para que entrasse, quando foi levantar o banco para que eu fosse para os de trás, teve dificuldade. O banco emperrou. Decidi tentar ajuda-la, puxamos com força, mas nada acontecia, Piper, que até então não havia reparado na sua presença, deu um longo suspiro, ela estava no banco de carona. Ela empurrou de um lado enquanto eu pressionava o botão e fazia muita força, em um som rangido e alto o banco foi para frente. Entrei tentando não reparar como os assentos estavam rasgados, me sentei no meio. Hazel empurrou o assento e entrou fechando a porta, que bateu com um baque seco. Procurei o cinto de segurança, porém o que encontrei foram apenas resquícios de cintos, que deveriam ter protegido alguém na década de 80.

Piper usava um capuz que cobria seus cabelos e parte de seu rosto, também usava óculos de sol.

— O que é isso, Pipes?

— Me recuso a ser vista nessa lata velha. Não quero que me reconheçam.

Ela era o tipo de pessoa que falava o que todo mundo está pensando, mas ninguém tem coragem de dizer. Comprimi mais ainda meus lábios, abaixei a cabeça e cobri o rosto com as mãos eu estava a ponto de ter uma crise de risos ali. Teria achado a fala de Piper grosseira se a situação não fosse tão cômica.

Já um pouco melhor me recostei no banco, notei um pé de cabra atrás de mim.

— Ãn... para que isso Hazel?

— Oi? – Ela levantou os olhos da ignição – É do meu avô, ele usava para espantar ladrões... pode ser útil.

Troquei um olhar com Piper e não aguentei mais, começamos a rir desesperadamente.

Não sei o que era mais engraçado naquela situação toda... O fato de Hazel ainda não ter conseguido dar a partida no fusca, o pé de cabra ou Hazel nos xingar cada vez mais, só que, quando ela ficava nervosa sua voz afinava, tornando tudo muito mais divertido.

— Cala a boca! – Hazel dizia com uma voz extremamente fina e estalando os dedos – Cala a boca!

— Dá para encontrar carros em melhores condições no lixão! – Piper disse

— Mclean não fale mal do carro! Era do meu avô!

— Percebe-se!

— Piper! Não insulte o fusca! – Eu disse enquanto a lançava um olhar ameaçador – Jesus Cristo andou nele!

Ela deu uma gargalhada e se contorceu para trás de tanto rir, eu não estava em uma situação diferente. Hazel começou a nos dar tapas no braço, mas ela era tão fraca que não tinha nenhum efeito.

Quando o carro finalmente deu um sinal de vida estávamos mais calmas, Hazel tinha uma expressão como pedra e provavelmente queria voar em nossos pescoços. O fusca seguia em uma velocidade de 40km/h, o que era rápido para seus padrões.

Cada morro que subíamos era uma vitória, ao chegar na loja, Hazel e Piper foram buscar os enfeites e eu decidi esperar no carro, que cheirava gasolina. Quando elas voltaram jogaram tudo no banco de trás, já que o porta malas se recusava a abrir, me espremi entre os enfeites de natal e fomos em direção a escola.

— Hazel, você pode estacionar aqui, vamos seguir a pé pelo resto do caminho.

— Por que? Faltam dois quarteirões ainda para chegarmos.

— Você não está falando sério, não é? Não está realmente pensando em chegar na escola nesse carro?

— Ah, por favor! Vai querer andar dois quarteirões com todos esses enfeites?

— Hazel Levesque! Você não vai me proporcionar essa humilhação!

Eu só observava.

— Escuta aqui Piper, eu sei que você é uma menininha mimada que acha que tudo tem que ser do seu jeito, mas eu não vou parar o carro!

— Você quer acabar totalmente com nossa reputação no colégio! Primeiro o Glee e agora isso! Tenha dó! Pare o carro!

— Se o mundo girasse ao seu redor, sua opinião até valeria alguma coisa! Mas não gira! O carro é meu e eu paro onde eu quiser!

— Argh! O que as pessoas vão dizer?!

— Eu não dou a mínima!

— Eu sim! Se você não parar... eu vou pular do carro!

— O que?!

— Para ou eu pulo!

— Você não é maluca a esse ponto!

— Quer me testar?!

— Que saco! Para de drama!
— Eu vou pular em 5.. 4... – Piper colocou a mão na porta

— Para!

Hazel soltou a mão do volante na tentativa de conter Piper, o fusca perdeu o controle o colidiu com o carro mais próximo. Fui lançada para frente.