Nightmares escrita por Rafú


Capítulo 14
Capítulo 14 - Merry Christmas


Notas iniciais do capítulo

OIZINHO! Voltei para a alegria de vocês! Não é natal, mas vamos fingir que é, ok? Hahaha.
Boa leitura.



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Eu estava na praia. A água do mar nunca esteve tão brilhante e tão vívida. Meus pés afundavam na areia fofa e quente. Me senti em casa novamente. Olhei para os lados procurando alguém. Olhei em todas as direções cardiais possíveis, mas não havia vivalma. Apenas eu, o céu e o mar. Ouço meu nome sendo chamado ao longe. Me virei a procura de quem me chamava, mas não havia ninguém. Eu conhecia a voz, tinha certeza. Mas a quem pertencia? A voz se multiplicou para duas vozes. Duas vozes distintas, mas eu conhecia ambas. “Peeta...”, ouvi a voz bem perto de mim. Me virei e vi minha mãe bem a minha frente com seu gentil sorriso no rosto. Meu extinto natural seria me atirar em seus braços e provar do calor do seu abraço novamente, porém eu estava petrificado pelo momento. Petrificado com o fato de estar vendo ela mais uma vez. Não da forma que os pesadelos me mostram, mas da forma que eu quero me lembrar. “Peeta...” sua voz soou doce e calma, acordando-me dos meus devaneios. “Peeta, eu sou seu passado, não fique se lamuriando por ter perdido a mim, ao seu pai e seus irmãos. Não pense mais em nós. Não pense mais no seu passado. Pense no seu futuro.” Ela olha para algo atrás de mim, me fazendo virar. Katniss estava a alguns passos de mim, com as mãos abraçando os próprios braços e um sorriso no rosto.

Sorri instantaneamente ao vê-la na minha frente. “Ela é seu futuro.” A voz da minha mãe soou mais uma vez atrás de mim, mas quando me virei ela já havia ido embora.

Abri os olhos e lamentei ter sido apenas um sonho. Poderia ser real, mas não era. Sorri, olhando o teto. Mas outra coisa ocupou a minha mente. A noite que tive com Katniss. Prometi que eu tiraria seu medo. Ao menos este. Será que eu realmente tive sucesso com isto?

Me virei para o lado, com a intenção de abraçá-la, já que acabamos dormindo na mesma cama. Porém minhas mãos entram em contato com o colchão já frio. Me levantei confuso, dissipando o sorriso que ainda estava mantendo no meu rosto.

Olhei ao redor do quarto, mas estava tão escuro que não enxerguei nada. Levantei, tateei a parede até achar a porta do closet, quase caí lá dentro pois a porta estava aberta. Liguei a luz e puxei uma calça e um moletom da minha pilha de roupas.

Saí do quarto e olhei para o corredor. Será que é infantilidade demais ficar com medo de um corredor rodeado pela escuridão da noite? Espero que não, pois estou com vontade de voltar para a cama e me esconder embaixo dos cobertores quentes.

Decidi não voltar. Quero saber onde Katniss está. Andei devagar pelo corredor, com a mão apoiada na parede, por não enxergar nada. A parede chega ao fim e abaixo a mão até encontrar o corrimão das escadas. Desço degrau por degrau com calma. Deus me livre de cair desta escada! Seria uma queda e tanto. Na metade da descida comecei a ouvir um barulho. Parecia ser um piano. Não reconheci a música de imediato. Terminei de descer as escadas e segui o som do piano. Fui levado pelo doce som até uma outra sala. Avistei Katniss de costas para mim, sentada enquanto tirava notas do grande instrumento.

Ela toca piano!

Fiquei em silêncio até que ela parou de tocar e se ajeitou mais no comprido banco e levantou as mãos por cima do piano, parecendo decidir qual seria a próxima canção que tocaria.

Então, seus dedos mais uma vez tocaram o instrumento e ela tirou mais notas do piano. Em pouco tempo sua voz se juntou ao som que ela reproduzia:

 


The smell of your skin
(O cheiro da sua pele)
Lingers on me now
(Persiste em mim agora)
You're probably
(Você provavelmente)
On your flight
(Está no seu voo)
Back to your hometown
(Voltando pra sua cidade natal)
I need some shelter
(Eu preciso de algum abrigo)
Of my own protection, baby
(Para minha própria proteção, querido)
Be with myself in center
(Estar comigo mesma)
Clarity, peace, serenity
(Claridade, paz, serenidade)

 

Já ouvi Katniss cantar muitas e muitas vezes. Talvez mais do que eu poderia querer, diga-se de passagem. Porém, nenhuma daquelas vezes se compara a esta. Naquelas vezes em que ouvi, ela cantava descontroladamente, desafinando em quase toda a música. Pulando partes. Totalmente descontraída e sem se importar se estaria incomodando alguém. Mas agora, neste instante, junto ao piano... Nunca ouvi voz tão linda quanto a dela. Nunca a vi cantar desta forma. Com coração, alma e corpo. Nunca a vi cantar de verdade. E este momento, é algo que não trocaria por nenhum tesouro. É algo tão lindo de ouvir, que poderia ficar bem aqui – junto a porta – apenas para escutá-la durante horas a fio.

 


I hope you know
(Espero que você saiba)
I hope you know
(Espero que você saiba)
That this has nothing to do with you
(Que isso não tem nada a ver com você)
It's personal, myself and I
(Isso é pessoal, eu mesma e eu)
We got some straightening out to do
(Nós sempre temos algo a ajeitar)
And I'm gonna miss you
(E eu sentirei sua falta)
Like a child
(Como uma criança)
Misses their blanket
(Sente de seu cobertor)
But I've gotta
(Mas eu tenho)
To get a move
(Que seguir em frente)
On with my life
(Com minha vida)
It's time to be
(Chegou a hora de ser)
A big girl now
(Uma garota grande)
And big girls don't cry
(E garotas grandes não choram)
Don't cry
(Não choram)
Don't cry
(Não choram)
Don't cry
(Não choram)

 

E garotas grandes não choram.” Que tolice, Katniss! As garotas grandes são as que mais choram.

 


The path that I'm walking
(O caminho que estou trilhando)
I must go alone
(Eu devo seguir sozinha)
I must take the baby steps
(Devo engatinhar)
'Til I'm full grown
(Até eu ser adulta)
Full grown
(Adulta)
Fairy tales don't always
(Contos de fadas nem sempre)
Have a happy ending, do they?
(Tem finais felizes, tem?)
And I foresee
(E eu vejo)
The dark ahead if I stay
(A escuridão a frente se eu ficar)

 

Talvez não! Talvez não tenha que seguir sozinha. Por que não pode ser diferente comigo? Poderíamos continuar juntos após a formatura. Alguns contos de fadas possuem finais felizes, eu poderia nos dar um final feliz. Ah, Katniss! Se ao menos você sentisse por mim o mesmo que eu sinto por você….

 


I hope you know

(Espero que você saiba)
I hope you know
(Espero que você saiba)
That this has nothing to do with you
(Que isso não tem nada a ver com você)
It's personal, myself and I
(Isso é pessoal, eu mesma e eu)
We got some straightening
(Nós sempre temos algo)
Out to do
(A ajeitar)
And I'm gonna miss you
(E eu sentirei a sua falta)
Like a child misses their blanket
(Como uma criança sente de seu cobertor)
But I've gotta
(Mas eu tenho)
Get a move on with my life
(Que seguir em frente com minha vida)
It's time to be a big girl now
(Chegou a hora de ser uma garota grande)
And big girls don't cry
(E garotas grandes não choram)

 

— Lindo, não é? – alguém sussurra atrás de mim.

Olho para trás vendo Frank observando Katniss junto comigo enquanto ela cantava o refrão da música.

— Lindo. – concordo em um sussurro também olhando para ela.

— Fui eu que a ensinei a tocar piano. Ela aprendeu tão rápido. Era uma garotinha muito esperta aos cinco anos. – Frank sorri, parecendo ver o que me contava – Bem, vou voltar a dormir. Tenha uma boa noite.

Eu sorrio e aceno com a cabeça em resposta e ele some no meio da escuridão.

Volto minha atenção para Katniss, mas ela já havia terminado a música. E restava apenas o som do piano e em segundos o silêncio.

Sorrio e entro na sala em silêncio.

— Não sabia que tocava. – afirmo a alguns passos de Katniss.

Ela se vira para trás parecendo surpresa em um primeiro instante, mas isto logo muda.

— A quanto tempo está aqui? – pergunta ela.

Eu rio e sento ao seu lado.

— Eu ouvi a música toda. – Katniss solta um pequeno sorriso.

— Meu avô me ensinou a tocar piano quando eu era pequena. – ela justificou.

— É lindo! – afirmo passando os dedos pelas teclas do piano. – Por que nunca me contou?

— Bem, basicamente, ninguém sabe disso.

— Por que não?

— Porque este é um pedaço da personalidade da verdadeira Katniss.

Oh, certo. Esqueci completamente! Existem duas Katniss: Katniss pré-trauma e Katniss pós-trauma.

— Eu queria poder conhecer mais da personalidade da verdadeira Katniss. Porque se tiver mais disto, - aperto uma tecla do piano – não deve ser tão ruim assim.

— Na verdade, você tem razão. Não é tão ruim. Mas a Katniss falsa é a que agrada mais as pessoas. A Katniss verdadeira é legal, mas... É um tanto mais melancólica, amarga. A Katniss falsa sorri mais que a Katniss verdadeira.

— Você é confusa, sabia? – pergunto fingindo confusão, mas sorrio para me contradizer.

— Sinto muito. – ela ri levantando as mãos como se estivesse se rendendo.

Eu rio junto e seguro sua mão, brincando com seus dedos.

— E o seu medo? Consegui fazer ele abandonar você? – pergunto.

Ela sorri e olha para algum ponto distante e logo após foca seus olhos cinzentos em mim novamente.

— Sim. Conseguiu. – ela afirma com um sorriso.

Meu sorriso alarga e eu seguro sua nuca a puxando e beijando seus lábios macios. Depois de um tempo, separamos nossos lábios, mas deixo nossas testas juntas enquanto respirávamos o ar um do outro, e eu podia jurar que não havia ar mais puro que não fosse o que fornecíamos um ao outro.

— Feliz Natal... – falei, lembrando que já deveria ter passado da meia-noite.

Ela se afasta de mim com um sorriso e se levanta, se esticando sobre o piano e pegando algo de dentro e me estendendo.

— Feliz Natal! – ela repete a frase que eu falei e me estende um embrulho vermelho, cheio de flocos de neve.

Não posso negar…. Adoro papel de presente com tema de Natal!

— Pra mim? – pergunto já rasgando o embrulho.

Katniss afirma com a cabeça, mordendo o lábio em expectativa enquanto olhava de mim para o embrulho e do embrulho para mim.

Termino de rasgar o embrulho e vejo que é um álbum de fotografias. Sorrio e abro a capa.

Vejo a foto. A primeira foto que tiramos juntos. Foi quando ela fez eu queimar metade do meu álbum de fotografias. No mesmo dia em que falei a ela sobre o que aconteceu em minhas férias de verão. O que ela disse mesmo quando tiramos aquela foto? Ah, sim! “Ficamos bonitos juntos.” Foi exatamente isto que ela disse. Sorri para a foto e virei a página.

A próxima era uma que tiramos do celular de Finnick. Estávamos no refeitório e nos ajeitamos atrás de Katniss para tirarmos a foto. Só para deixar uma observação: Finnick saiu vesgo na foto…. E foi de propósito. Acabei rindo desta e Katniss sorriu junto comigo.

A terceira é uma de mim dormindo na cama da escola. Olhei para a foto e olhei para Katniss surpresa. Ela ri.

— O que? Já disse: você fica fofo dormindo. – ela justifica a foto.

— Tudo bem então. – eu ri e virei a página.

A quarta foi a que tirei da Katniss com a câmera fotográfica que ela havia ganhado do avô. Ao lado desta, estava a que tiramos juntos. E na página seguinte era a de nós dois se beijando. As fotos acabaram ali, mas restaram espaços em brancos para futuras fotos.

— Olhe a contracapa. – ela diz.

Eu viro o álbum, vendo vários rabiscos de Katniss. Eu gargalhei a fazendo rir.

— Rabiscos de Katniss Everdeen... Não poderia faltar, não é? – ironizo. – Eu adorei, Katniss. Obrigado.

— Eu aproveitei que você tinha saído com meu avô e comprei o álbum e revelei as fotos. Escondi no piano já que não achei um lugar mais seguro. Agora você pode construir um novo álbum de fotografias. E quando não nos vermos mais, após a formatura, você poderá descontar a sua raiva nas fotos em vez de tentar socar a minha cara.

— Eu não vou socar a sua cara... – argumentei.

— Gale disse a mesma coisa.

— E você deu um álbum de fotos para Gale?

— Se tivesse dado, talvez não tivesse levado um tapa na cara. – ela ri e eu rio junto. – Você vai adicionar mais fotos ao longo do tempo.

— Sem dúvida. – concordei olhando para o álbum em minhas mãos, até que lembrei que também havia comprado algo para ela – Eu também tenho um presente para você! Vamos subir?

— Tudo bem. – ela fala se levantando e desligando a luz da sala.

— Hã... Katniss?... Não vejo nada. – falo me levantando, mas não ando um passo.

Ouço sua risada próxima de mim e sinto sua mão sobre a minha.

— Vamos. – diz ela me puxando.

Ando pelo escuro, sendo guiado por Katniss que parece conhecer cada centímetro da casa. Chegamos ao quarto dela e Katniss liga a luz. Me acostumei tanto com o escuro que pisquei várias vezes quando tudo ficou claro. Ela senta na cama, dobrando as pernas uma sobre a outra. Eu busco o presente na minha mochila e me aproximo dela, sentando ao seu lado.

— Feliz Natal. – falo estendendo o embrulho.

Ela sorri e começa a rasgar o papel. Ela abre a boca em surpresa quando consegue ler o título e passa a mão pela capa.

— Oh... Meu Deus! Que lindo! – ela exclama, passando os dedos delicadamente no título do livro.

— Agora você não precisa depender da biblioteca para ler O morro dos ventos uivantes. — afirmo – Gostou?

Ela afirma com a cabeça várias vezes ainda olhando para o livro e o folheando.

— Adorei, Peeta! Obrigada. – ela fala, finalmente olhando para o meu rosto. Katniss boceja, sinalizando que estava com sono.

— Que tal dormirmos? – sugiro.

Katniss guarda o livro enquanto eu guardo o álbum de fotografias. Apagamos as luzes e nos aconchegamos um no outro embaixo das cobertas.

— Boa noite. – ela diz as palavras emboladas, sendo levada pela inconsciência.

— Boa noite, anjo. – sussurro, mesmo sabendo que ele provavelmente não tenha ouvido.

Acordo antes de Katniss de manhã. Ela ainda está com a cabeça encima do meu peito, o braço em volta do meu quadril e uma das pernas sobre as minhas. Eu sorrio do estado em que me encontro, mas me preocupo em achar um jeito de sair daqui sem acordá-la. Ela está com quase todo o corpo por cima do meu.

Começo tirando sua perna de cima da minha, depois desenrolo seu braço do meu quadril e me arrasto para o lado, segurando sua cabeça. Troco meu corpo pelo travesseiro e ela se mexe, apertando o travesseiro, porém não acorda.

Pego uma roupa, a toalha, escova de dentes e saio do quarto me dirigindo até o banheiro. Entro no banheiro espaçoso e escovo os dentes. Tiro minha roupa e entro embaixo do chuveiro, sentindo a água morna relaxar todos os músculos do meu corpo.

Ouço o barulho da porta sendo aberta e fechada. Me assusto e abro um pouco a porta do box, vendo Katniss dentro do banheiro. Ela olha para mim e sorri.

— Bom dia. – diz ela, pegando a escova de dentes.

— Bom dia. – respondo.

Depois de alguns minutos quando eu já ia desligar o chuveiro eu escuto a seguinte pergunta:

— Quer companhia no banho?

Minha mão parou encima do registro de desligar o chuveiro e fiquei me perguntando se era coisa da minha cabeça. Coloquei a cabeça para fora e olhei para Katniss que me lançava um sorriso malicioso.

— Hã? – foi tudo que consegui perguntar.

— Quer companhia no banho? – ela pergunta novamente.

— Sério? – eu pergunto sem conseguir acreditar se era verdade.

Em resposta, Katniss ergue uma sobrancelha e tira a camisa.

Oh, Deus! É sério! Muito sério!

— Vou entender se você não quiser...

— Eu quero sim. – respondo rápido demais.

Katniss sorri e termina de tirar o resto da roupa e se junta a mim no banho.

Fiquei olhando ela, sem acreditar que isto estava realmente acontecendo comigo. Nunca tomei banho com uma garota. Katniss envolve meu pescoço com seus braços e aproxima os lábios dos meus.

— Por que está olhando para mim como se tivesse visto um fantasma? – ela pergunta enquanto a água cai por cima de nossas cabeças.

— Porque eu nunca tomei banho com uma garota. – respondo com a voz um tanto rouca.

Ela ri, parecendo se divertir.

— Que coincidência! Eu nunca tomei banho com um garoto. – ela afirma, roçando os lábios nos meus.

Ela me beija com tanta calma que as gotas do chuveiro caem em câmera lenta…. Ao menos é o que aparenta ser. Afastei meus lábios dela.

— Cuidado. É melhor não brincar com um homem deste jeito. – aviso ela.

— Um homem? – ela sorri levantando uma sobrancelha.

— Um garoto... – conserto.

— Garoto?

— Menino? – ela torce a boca sem desfazer o sorriso – O que eu sou, então?

— Você é apenas... Você. – ela responde. – Não há forma melhor de explicar. – ela afirma com os lábios próximos dos meus novamente, mas as batidas na porta nos assustam.

— Katniss? – ouço a voz do Frank no lado de fora.

Eu ia falar algo, mas Katniss fecha minha boca com a mão.

— Sim, vô. Sou eu. Estou no banho. – ela grita.

— Tudo bem. Eu uso o outro banheiro então. – ele avisa.

— Se ele ouvisse a sua voz iria entrar e ver nós dois embaixo do chuveiro e não seria nada legal depois. – ela diz, sussurrando.

— Tudo bem. – afirmo.

Katniss sai do box, me deixando com uma cara decepcionada. Ela se seca e sai do banheiro e eu logo faço o mesmo.

Vou ao quarto de Katniss, mas ela já deve ter descido. Paro perto da porta da cozinha e paro para sacudir um pouco os cabelos que estão meio úmidos. Consigo ouvir a voz de Natalie de onde estou, mas ela não consegue me ver.

— Muito bonito seu namorado. – ela diz, muito provavelmente, para Katniss.

— É. – Katniss responde sem muita empolgação.

— Por que você deixa ele perder tempo com você?

— Mãe, por favor... Ainda é de manhã e é Natal. – Katniss pede com paciência.

— Não se preocupe. Vou sair daqui a pouco para visitar seu pai.

— Claro que vai. – ela diz, bufando.

— Você o colocou lá, não deveria revirar os olhos.

— Ah, por favor! Ele se colocou lá. – Katniss fala irritada, mas continua sem levantar o tom de voz.

— Você que acha... Bem, espero que seu namorado note o quão suja você é, antes que as coisas piorem para o lado dele. Não seria surpresa nenhuma se você conseguisse colocar ele na cadeia. Já que conseguiu colocar seu pai.

— Meu padrasto. Ele nem sequer é meu pai. – Katniss a corrige.

— Seu namorado tem muito azar em conhecer você.

Juro que tentei entender o lado de Natalie. Sei que a filha dela morreu, foi mãe muito cedo, o marido foi pra cadeia. Mas ela estava começando a me irritar profundamente ao desprezar Katniss. Eu sei como ela é. Ela não é suja. Ela é doce, linda, engraçada e sabe ser uma boa companhia. Eu tenho é sorte de conhecê-la e não azar.

Irritado com a mãe de Katniss, entrei na cozinha, ignorando-a e indo direto para Katniss com um sorriso no rosto. Ela segurava uma xícara nas mãos e estava encostada no balcão junto a pia. Ela larga a xícara e olha para mim, devolvendo o sorriso.

— Oi. – digo a ela, abraçando a cintura dela e beijando ela o máximo de tempo que pude.

Segurei a cintura dela com um braço e sua nuca com a mão livre. Ela colocou os braços ao meu redor e respondeu ao beijo.

— Oi. – ela disse sem ar algum quando rompemos o beijo.

Viro o rosto para Natalie, como se houvesse notado sua presença só agora.

— Bom dia, Sra. Everdeen. – falo ainda abraçando Katniss.

— Bom dia, Peeta. – ela fala um pouco abismada, não sei se foi pelo que acabei de fazer – Pode me chamar de Natalie. – ela se recompõe tão rápido quanto um piscar de olhos – Nada de Sra. Everdeen, senão me ofende.

— Tudo bem. – afirmo, enquanto Katniss me forçava a soltá-la.

— Café? – Katniss pergunta se esticando para pegar uma xícara em uma prateleira alta da estante.

— Quero sim. – respondo.

— Eu já vou indo. Vovô ficará em casa. – Natalie afirma largando a xícara na pia e saindo. – Tchau.

— Tchau. – digo, mas Katniss não lhe dá atenção.

— Com leite? – Katniss pergunta se virando para mim com uma xícara de café fumegante.

— Pode ser. - digo me escorando no balcão da pia. – É tudo mentira.

— O que é tudo mentira? – pergunta Katniss enquanto colocava açúcar no meu café com leite.

— Já está bom de açúcar. Não pretendo ter diabetes tão cedo. O que sua mãe falou, é tudo mentira. Você não é suja. Eu tenho sorte em conhecer você. Não escute ela.

Katniss riu enquanto terminava de mexer com uma colher o líquido da xícara e me estendeu ela.

— É feio ficar ouvindo as conversas dos outros, Peeta. – ela me xingou como se eu fosse uma criança, mas ainda ria. Eu peguei a xícara confuso – E nem me importo mais com o que ela fala. Depois de cinco anos ouvindo isto, me acostumei.

— Mas ela...

— O que você quer comer? Está tudo aqui na mesa é só se servir. – ela me lançou um olhar ameaçador que indicava de uma forma subliminar a seguinte frase: “Mais uma palavra sobre este assunto e você morre.”

Então mudei meu foco para a mesa que parecia possuir tudo que é tipo de comida para o café da manhã. Me deixei contentar com biscoitos em forma de árvore de Natal e sentei à mesa.

— Isto é bom. – falei.

— Minha mãe que fez. Ao contrário de mim, ela cozinha bem.

Ela lavou a pouca louça enquanto eu me empanturrava com tudo que havia na mesa. Ajudei ela a limpar a mesa depois e fomos para o quarto dela.

— O que vamos fazer agora? – pergunto me atirando na cama.

— Que jogar alguma coisa? – pergunta Katniss.

— Você tem jogos?

— Mais do que possa imaginar.

Me levantei e segui ela até o closet onde havia, em um canto, um tipo de armário cheio de jogos.

— Deus! É muito jogo. – falei sem acreditar no que via. - Ok. Que tal... Banco Imobiliário?

— Certo. – ela concordou, pegando a caixa do jogo e voltamos.

Jogamos por muito tempo. Até meu celular tocar.

— Alô. – atendi sem ver quem era.

Peeta. Liguei para desejar um Feliz Natal. – ouço a voz de tio Phil no outro lado.

— Oi, tio. Obrigado. Feliz Natal para você também.

Como está indo aí? A família da Katniss é legal?

Sim. A mãe dela é uma pessoa adoravelmente maternal, que morre de amores pela filha e a respeita e compreende acima de tudo.”

— Sim. É legal.

E teve uma noite tranquila? Dormiu bem? – pergunta tio Phil parecendo interessado.

A noite foi incrível. Transei com Katniss e ouvi ela tocar piano enquanto cantava. Depois trocamos presentes e dormimos. Ainda tomei banho com ela de manhã.”

— Sim. Dormi bem. – adoraria dar detalhes. Mas não pelo telefone e não na frente da Katniss.

E o jantar? Foi bom?

Tirando o fato de ter acontecido uma discussão entre mãe e filha, que acabou forçando Katniss a me contar toda a história do que houve a cinco anos atrás…. É, foi bom.”

— Foi sim.

Tudo bem, então. Preciso desligar. Tchau, Peeta.

— Tchau. – desligo o celular e o jogo na cômoda. Quando me viro, vejo Katniss pegando uma nota de cem do banco – Ei! Você está roubando.

— Quem? Eu? Estou nada! De onde você tirou isto? Sou um anjo. – ela se defende.

— Roubou sim. Me dê aqui esta nota. – me aproximo dela, mas ela foge, subindo na cama.

— Não vou devolver nada. Esta nota é minha.

Eu corro até ela. Katniss tenta seguir para a porta, mas eu seguro ela pela cintura e a puxo para trás.

— Não é não. – argumento, puxando ela para a cama.

A jogo no colchão e paro encima dela, a enchendo de cócegas.

— Para! Eu devolvo! Chega! – ela grita enquanto ria.

Eu paro ao ver que ela ficava ser ar.

— Ninguém ensinou que é feio roubar nos jogos? – pergunto, me sentando.

— Ensinaram, mas nunca dei ouvidos. – ela diz. – Cansei de jogar isto.

— Eu também. Até porque você está roubando. – rio me sentando na cama.

Guardamos o jogo e sentamos na cama, olhando para a cara um do outro.

— Então? Vamos fazer algo além de olhar para a cara um do outro? – pergunta Katniss.

— Não sei. O que você costuma fazer?

— Eu gosto de passar trotes. – ela diz com um sorriso perigoso e estreitando os olhos.

— Trotes? Eu não costumo fazer isto. – falo contra a ideia.

— É divertido. Vem. – ela me puxa pela mão. Atravessamos o corredor até chegar em outro quarto – Este é o quarto da minha mãe. Eu só entro aqui quando ela não está.

Ela pega o telefone e aperta alguns números. Logo após ela aperta a opção Viva voz.

— Vai mesmo fazer isto? – ela afirma com a cabeça – E pra quem está ligando?

— Não sei. – ela diz.

Alô? – ouço a voz de alguém no outro lado da linha.

— Olá, boa tarde! – Katniss começa com uma voz amistosa – Nós somos da Companhia de Água e estamos ligando para todo seu bairro, houve um vazamento de água em uma das nossas distribuidoras de água. Você não poderia fazer um favor?

Sim.

— Vá até a torneira mais próxima e verifique se está saindo água normalmente.

Sim, só um minutinho! — a voz do outro lado fala.

— Não é possível. – afirmo.

— Shhh. – Katniss fala.

Alô? – a voz de nossa vítima volta.

— Oi.

Aqui está saindo água normalmente.

— Ah, sim?

Sim.

— E o que você queria que saísse? Leite? – Katniss pergunta segurando o riso.

Não acredito, nisso! Você não é da Companhia de Água, não é? – a voz parece irritada.

— Talvez eu não seja. – Katniss fala.

Eu mereço isto! Vá achar o que fazer! — e a ligação cai.

— Sacanagem fazer as pessoas de trouxa no Natal. – afirmo, mas estou rindo junto com Katniss.

Estou rindo, mas não gosto muito de trotes. Talvez tenha graça para quem está passando. E para a pessoa que está recebendo o trote?

— Tudo bem. Você não está gostando. O que faremos então? – Katniss pergunta.

— A gente poderia fazer biscoitos? O que acha?

— Ah, por que não? Vamos lá! Só não sei se temos tudo de que precisaremos.

Descemos para a cozinha e felizmente havia todos os ingredientes. Espera um pouco….

— E o açúcar mascavo? – pergunto olhando para tudo encima da mesa.

— Açúcar mascavo? Vamos precisar disto? – pergunta Katniss.

— Sim, vamos precisar disto. – falo, me desanimando.

— Tem um mercadinho no fim da esquina, vamos lá comprar. – Katniss diz animada.

Olho para a rua pela janela, não me agradando muito.

— Mas deve estar fazendo mil graus abaixo de zero lá fora... – reclamo.

— É só um friozinho. Veja! Nem nevando está. – Katniss parece não desistir – Vamos. É só nos agasalharmos bem.

— Tudo bem. – falei a contragosto.

Vestimos muitas roupas e calçamos botas para a neve não molhar nossas meias. Passamos pelo que eu acho que é o quarto de Frank. Katniss dá duas batidas na porta e entra. Ela deixa a porta aberta, mas eu fico no lado de fora.

— Vovô, vamos ao mercadinho comprar açúcar mascavo. – ela diz alegre.

— E o que tenho a ver com isso? – pergunta Frank.

— Vô! Dinheiro. Para. Ir. No. Mercadinho. – Katniss fala cada palavra pausadamente.

Ouço Frank bufar.

— Pegue na carteira no bolso daquela calça. – diz ele.

Katniss sai do quarto e vamos para a rua, sendo recebidos pelo frio. Caminhamos um pouco até chegar ao mercado, mas finalmente chegamos. Procuro o açúcar mascavo rapidamente para voltar logo para a casa aquecida. Estávamos na fila, para pagar quando alguém chama Katniss:

— Katniss! – uma voz feminina soa atrás de nós.

Viramos para trás ao mesmo tempo e me deparo com uma garota de cabelos tão escuros quanto a noite e lábios grandes pintamos de vermelho.

— Brenda! – Katniss exclama a abraçando – Este é o Peeta. – ela fala apontando para mim.

— Ui, certo... Nossa, que lindo! Prazer, Peeta! Sou Brenda. – ela diz apertando a minha mão.

— O prazer é meu? – sim, foi uma pergunta. Aquela garota me deixa confuso.

— Eu espero que seja. – ela pisca para mim – A fila andou.

Me virei com o açúcar em mãos e deixei as duas conversarem. Coisas como: “Katniss, ele é tão lindo!”, “Você é uma filha da mãe com muita sorte!” ou “Se não estivesse com você, estaria comigo”, saiam da boca de Brenda a conversa toda.

Paguei o açúcar e nos despedimos de Brenda, indo embora.

— Brenda é uma velha amiga minha. – Katniss fala enquanto voltamos com os pés afundando na neve – E sim, ele é sempre atirada assim. Ela só não se jogou em você porque eu estava junto e ela me respeita.

— Entendi. – falei.

Voltamos para a casa de Katniss e descobri que não estava disposto a trocar este calor por nada que tivesse lá fora.

Fizemos os biscoitos, e fizemos muita bagunça também. Deus! Como Katniss consegue ser tão atrapalhada? Acabamos rindo depois de fazermos uma guerra de farinha e parecíamos fantasmas. Limpamos a cozinha enquanto os biscoitos assavam. Fiz chocolate quente e chamamos Frank para lanchar conosco. Ele aceitou e elogiou meus biscoitos a cada cinco minutos.

A tarde se passou agradável e comecei a me habituar com aquela família, ela tinha lá seus defeitos, mas as qualidades falavam mais alto.


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Notas finais do capítulo

Já estamos na reta final da fanfic. Mais seis capítulos e ela acaba. :'( Só eu estou triste com isto?
PS.: A música que a Katniss canta é "Big Girls Don't Cry", da Fergie.
PS².: Não passem trotes, não é legal!
PS³.: Não roubem no Banco Imobiliário, não é legal!
PS4.: Passem alegria e roubem sorrisos, é legal! *-*
Pessoal: cadê meus comentários lindo e maravilhosos? 35 acompanham e 8 favoritaram. Cadê este povo? Vamos fantasminhas, apareçam! Não vou ligar para os caça-fantasmas.
Até o próximo capítulo. Beijos. :)



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