Nightmares escrita por Rafú


Capítulo 12
Capítulo 12 - Conversations and Lies


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! Peço mais de mil perdões pela demora. Minha net me deixou totalmente na mão e fiquei quase duas semanas fora da vida virtual. Mas voltei hoje com mais um capítulo atrasado e ao mesmo tempo adiantado, hahaha. Ah! Já que vocês ficaram esperando, irei postar mais um ainda hoje. Então, se liguem aqui! Em breve virá o capítulo 13.



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Acordo com o barulho do chuveiro, e logo após escuto o despertador. Acabo rindo pela incrível coincidência. Me sento na cama, criando coragem pra levantar e encarar mais um dia. Katniss abre a porta do banheiro com os cabelos enrolados em uma toalha.

— Bom dia. – ela diz sem muita empolgação.

— Bom dia. O que houve? – pergunto me levantando.

— Vamos receber nossas notas trimestrais hoje. – ela diz como se estivesse com medo.

Havia me esquecido completamente disto. Terminamos as semanas de provas há duas semanas e hoje receberíamos as notas.

Eu estava completamente tranquilo, tinha certeza que não pegaria nenhuma recuperação. Katniss, porém…. Bem, ela se esforçava. E muito! Mas ela tinha dificuldades, mesmo comigo ao seu lado ajudando.

— Ei! – eu caminho parando a sua frente e segurando seus ombros – Vai ficar tudo bem. Você se esforçou bastante.

— Meus esforços não costumam ter bons resultados. – ela sussurra.

Eu suspiro, derrotado.

— Vou tomar banho. – afirmo pegando a toalha.

Tomo o banho, dissipando o sono de uma noite mal dormida. Pesadelos novamente... Até quando isto irá durar?

Me visto e saímos do quarto indo para as nossas aulas. Ambos tínhamos de Química agora e Katniss parecia mais nervosa a cada passo que dávamos em direção a sala de aula.

Quando sentamos em nossa mesa, tentei manter algum diálogo com ela, a fim de distraí-la do problema. Mas sem sucesso.

— Bom dia, pessoal. – Sr. Johnson entra na sala carregando seus materiais – Aposto que a grande maioria está nervoso. – ele larga o material na mesa e puxa uma pasta amarela chamativa – Não vou torturá-los. Por tanto, quando eu chamar seus nomes, venham buscar sua notas. As provas de recuperação começam logo após as festas comemorativas.

Havia esquecido que já estávamos perto do Natal e Ano Novo. Nós íamos para a casa e só voltávamos no próximo ano.

Sr. Johnson me chama e eu caminho até sua frente e ele me entrega o papel enquanto sorri para mim.

— Parabéns, Peeta! Se continuar com suas notas assim, pode conseguir uma bolsa em Harvard.

Sorri como agradecimento, mas ri internamente. Não sou tão bom nos estudos assim para conseguir entrar na faculdade de Harvard.

Só quando sento na mesa que olho minhas notas. Realmente fui bem. Notas como A e B, cobriam a folha. Havia apenas um C, em Física. Única matéria que realmente gosta de me ferrar. Mas C em Física já me faz me sentir melhor.

— Suas notas são incríveis. Por que não posso ser você? – Katniss pergunta olhando para a minha folha.

Eu já ia responder, mas a voz do Sr. Johnson corta a minha própria voz, chamando por Katniss. Ela caminha até ele, mas o professor faz uma cara indiferente a ela.

Katniss volta com suas notas e senta no meu lado as vendo.

— Não está tão ruim. – a consolo.

— Tirei F em Química, Peeta. Estou ferrada nesta matéria.

— Eu vou ajudar você. Olha, você tirou um A também.

Ela ri.

— Um A em Educação Física. Nossa, que gratificante!

— Um aleijado não teria tirado A em Educação Física. – falo tentando parecer sério, o que a faz rir.

— Você acha que eu consigo recuperar esta nota? – ela pergunta.

— Tenho certeza.

O resto da aula se mantém normal. Encontramos Finnick no refeitório na hora do intervalo.

— Então... E as notas de vocês? Pegaram recuperação? – ele pergunta.

— Me ferrei em Química. – Katniss fala suspirando.

— Eu estou bem. – eu digo simplesmente.

— Bom pra você, pois eu vou ter que me esforçar mais em Física, Química e Matemática.

— Sinto muito. – afirmo.

— Eu sinto muito mais. Acredite. – Finnick afirma cutucando a comida com o garfo.

As aulas passam mais lentamente ainda. Todos os alunos comentam sobre suas notas. Alguns se vangloriam, outros se lamuriam. Mas eu não faço nenhum dos dois. Afinal, o que estas letrinhas vão nos importar quando formos médicos, advogados ou qualquer outra profissão? Tiro boas notas pois quero entrar em uma faculdade, não para esfregar na cara de quem não vai bem nos estudos.

Quando as aulas finalmente acabam, me dirijo ao refeitório a fim de encontrar algo para comer. Pego uma maçã e já estava saindo quando ouço alguém falar meu nome. Me viro e vejo Lili, a garota ruiva com quem conversei algum tempo atrás.

Ela vem correndo em minha direção, sacudindo seus cabelos ruivos. Ela usa uma touca na cabeça, afinal, o inverno chegou com tudo este ano.

— Oi. – falo.

— Oi, Peeta! Pra onde você vai agora? – ela pergunta.

— Estou indo pro meu quarto.

— Ótimo! Posso acompanhar você?

— Pode. – falo dando de ombros.

Caminhamos lado a lado, saindo do refeitório. Olho para os meus pés afundando na neve enquanto andamos.

— Então... Você foi bem? – ela pergunta se referindo as notas.

— Fui. – respondo sem olhar para ela.

— Puxa! Eu estou péssima em Biologia. O que você tirou em Biologia?

— B.

— Você não quer me dar uma mãozinha então? – ela pergunta nada discreta.

— Eu já vou ajudar a Katniss. Foi mal. – acho uma desculpa.

— Ah! Tudo bem. – Lili responde meio decepcionada.

Chegamos ao prédio E. Lili se despede rapidamente com um beijo na minha bochecha e eu subo ainda mordendo a maçã. Chego ao quarto e vejo Katniss com os cadernos abertos encima da escrivaninha enquanto sacode a cabeça negativamente.

— O que está fazendo? – pergunto tirando meu casaco.

— Tentando entender Química, mas está difícil.

— Tudo bem, eu ajudo você. – me sento ao seu lado, lhe dando uma pequena aula.

Era engraçado as reações que ela possuía. Quando ela entedia a explicação, sorria e soltava um “Ahhh”. Quando não entendia, fazia uma careta, encurvando a boca para o lado e semicerrava os olhos. Neste tempo notei em várias manias da Katniss além destas. Notei que ela mordia a parte de dentro da bochecha quando estava ansiosa. Enrolava uma mecha do cabelo quando estava nervosa. E o mais conhecido era os rabiscos que ela fazia no caderno quando estava entediada.

Depois de um tempo e muitas caretas ela pareceu entender ao menos parte do que expliquei.

— Obrigada! – ela afirma com um sorriso.

— Olha só: como meu tio vai ver as minhas notas? – pergunto.

Ela já ia responder, quando meu celular toca. Me levanto e atendo vendo que era tio Phil.

Peeta, meu garoto! Recebi um e-mail da escola com as suas notas deste trimestre.— minha pergunta acabou de ser respondida – Estou bastante orgulhoso de você. Espero que continue assim.

— Oi, pois é. Estava agora mesmo perguntando pra Katniss como você iria ver minhas notas. Mas você acabou de me responder. – ouço Katniss rir atrás de mim. – Eu também espero continuar assim. Meu professor de Química disse que se eu continuar assim posso conseguir uma bolsa em Harvard... Mas acho difícil.

Bem, eu acho isto bem possível.— ele ri.

— O Natal já está chegando. Vai me buscar, certo?

Claro, já comprei o presente. Que dia vão liberar os alunos?

— Semana que vem. – afirmo já ansioso.

Com o tempo, acabei me acostumando com a escola. Mas seria muito bom ter uma folga. As paredes mofas e úmidas enjoam. Vai ser bom ver televisão e usar meu notebook. A escola tem computadores, mas só podemos usar para pesquisas escolares. Eles trancaram qualquer site de rede social.

A única parte ruim seria ficar longe de Katniss.

Ok. Semana que vem estarei aí. Até mais, Peeta.

— Até.

Jogo o celular na cômoda e me atiro na cama. Katniss se aproxima e deita no meu lado.

— No que está pensando? – ela pergunta olhando o teto com tinta descascando comigo.

— Estou pensando que as paredes desta escola não deveriam estar úmidas, mofas e com tinta descascando, afinal, esta é uma escola particular e não pública.

Ela ri e eu passo meu braço pelo pescoço dela a trazendo para mais perto de mim.

— Que pouco-caso com as escolas públicas. Mas tenho que concordar, esta escola está caindo aos pedaços.

— Também estou feliz que o Natal esteja chegando, assim, vou poder ter folga deste lugar.

— Ter folga de mim também, como bônus. – ela afirma divertida.

Eu viro meu rosto e ela também vira, me encarando. Nossos narizes estão tão próximos que consigo sentir quando ela solta a respiração.

— Isto não é um bônus, é uma consequência. – afirmo.

Ela sorri, sem graça.

Eu termino a pequena distância que nos separava e uno nossos lábios. Eu engancho sua cintura com minha mão e pressiono o corpo de Katniss contra o meu. Ela segura meu braço, mas não de forma que significaria que ela estava me reprimindo. É apenas um carinho. Ela sobe a mão até chegar no meu ombro e escorrega até meus cabelos. Eu a puxo para cima de mim e me viro pra cima com ela por cima do meu corpo. Escorrego minha boca dos seus lábios para o seu pescoço, mas ela para logo em seguida, apoiando as mãos no meu peito e afastando seu próprio corpo de mim. Eu a encaro, arfando a procura de ar. Ela não diz nada por algum tempo, apenas me encara. Até ela piscar várias vezes e decidir falar:

— Hã... Vou tomar banho. – ela afirma pulando para fora da cama.

Katniss entra no banheiro e fecha a porta. Eu passo as mãos no rosto, frustrado. Ela sempre faz isto quando algum beijo nosso se aprofunda. Ela sempre dá uma desculpa e para. Sei que não posso obrigá-la a nada. Sei que não é justo com ela. Mas seria errado dizer que eu não a desejo. E como todo garoto, às vezes eu quero algo além dos beijos.

Mas como disse antes, não posso obrigá-la, não é justo com ela. Mas quem não deseja a garota que ama? Eu com certeza desejo.

E é nestas horas, nestes pensamentos que eu tenho que me lembrar de algo: eu a amo, mas ela não me ama. Eu estou apaixonado por ela, mas ela não está apaixonada por mim. Eu a desejo, mas ela não.

Minha cabeça está virando uma mistura de pensamentos. Meu coração um misto de emoções. Dúvida, paixão, desejo…. Tudo misturado dentro de mim. Me pergunto o que vai restar de mim no final disto tudo. Talvez apenas trapos e restos do que um dia foi Peeta Mellark.

Fecho os olhos e tento pensar em outra coisa. Penso no meu futuro. Um futuro bom. Um advogado feliz. Casado com uma mulher. Não posso saber o rosto dela, nem a conheço ainda. Mas espero amá-la tanto quanto amo Katniss.

Katniss sai do banheiro, desfazendo um coque improvisado do cabelo que, provavelmente, impediu os seus cabelos de ficarem molhados. Ela caminha pelo quarto, calçando botas, vestindo um casaco grosso, cobrindo a cabeça com uma touca e enluvando as mãos.

— Vai sair? – pergunto estupidamente. A resposta é óbvia.

— Vou. Eu vou ao refeitório comer alguma coisa. Eu volto daqui a pouco. – ela se aproxima de mim e me beija. – Volto logo.

— Tudo bem. – digo simplesmente.

Katniss normalmente me convida para ir ao refeitório com ela, mas sabendo como ela é, não estranho ela não ter me convidado hoje. Katniss é o tipo de garota que pode ter uma personalidade diferente para cada dia da semana. Na segunda-feira pode estar feliz e saltitante, mas na terça-feira pode estar triste e deprimida. Me acostumei com isto. Me acostumei com suas mudanças insanas de humor. E às vezes parece até ser divertido.

Me levanto da cama e ajunto as coisas dela da escrivaninha. É tão difícil assim guardar as coisas depois de usá-las?

Lembro de quando era pequeno e espalhava meus brinquedos pelo quarto enquanto brincava. Minha mãe me fazia guardar tudo no lugar quando eu decidia parar de brincar. Talvez Katniss não tenha sido educada desta forma. Então, agora, imagino uma versão menor da Katniss, espalhando brinquedos pelo seu quarto que, provavelmente, deveria ser cor-de-rosa, como de qualquer outra garotinha. Quando se cansa de brincar, ela simplesmente larga tudo ali e sai do quarto. Então imagino a mãe de Katniss entrando no quarto e arrumando ela mesma a bagunça. Acabo rindo da minha própria imaginação.

Quando termino de recolher as coisas da Katniss e empilhá-las na sua cama, pego meu caderno de Matemática e faço a lição. Demoro um pouco nas atividades complicadas e termino quando a tarde já estava caindo. Guardo minhas coisas estranhando Katniss não ter voltado para o quarto ainda. “Volto logo”. Foi o que ela me disse antes de sair.

Decido calçar meus tênis, vestir meu casaco e sair a sua procura. Abro a porta do prédio, recebendo uma rajada de vento no rosto. Vejo a neve cair, e olho para o chão vendo a camada branca grossa encobrindo tudo. Saio e fecho a porta atrás de mim, vestindo o capuz do meu casaco e amarrando a cordinha para que não voasse com o vento. Caminho até o refeitório e entro. Está vazio, exceto por uma mesa onde vejo Finnick. Katniss está a sua frente, de costas pra mim.

Finnick olha para mim e logo após olha para Katniss, dizendo algo a ela. Ela, por sua vez, vira para trás e sorri para mim enquanto acena para que eu me junte a eles. Caminho até a mesa e me sento.

— Você disse que já voltava. – eu começo – Mas como não voltou eu vim ver se estava tudo bem.

— Está sim. Eu acabei encontrando Finnick pelo caminho e começamos a conversar. – explica ela.

— Estávamos invejando suas notas. – confirma Finnick.

Eu acabo rindo mais tranquilo.

— É só vocês se esforçarem mais que conseguirão as mesmas notas. – argumento.

— Aí é que está! Nós nos esforçamos, mas não conseguimos as mesmas notas. – discute Katniss.

— Nós não somos tão inteligentes quanto você. – concorda Finnick.

— Sinto muito então.

— Não! Você não sente. – brinca Finnick.

Ficamos mais um tempo ali, falando sobre qualquer assunto que viesse a nossa mente. Finnick suspira em algum momento quando olha para fora.

— Já está escuro. Acho que já vou indo. Tchau. – ele diz já se levantando.

Nos despedimos de Finnick e voltamos para o nosso quarto. Katniss chega, atirando suas luvas e touca no chão.

— Por que você atira tudo no chão? – eu pergunto.

Ela ri pra mim enquanto ajunta as coisas e joga dentro do armário.

— Melhor assim? – pergunta ela.

— Não sei. Tenho medo de abrir seu armário um dia e tudo cair encima de mim igual aos desenhos animados. Já imaginou? Morrer afogado na sua bagunça?

Katniss gargalha enquanto senta na cama e empurra as coisas que deixei empilhadas lá para o chão. Eu bufo, fingindo estar irritado o que a faz rir mais.

— Mas qual é o problema? – ela pergunta – Você nunca arruma a sua cama também.

— Ok. Sei disso. Mas não atiro minhas coisas pelo quarto inteiro.

— Mas eu não atiro pelo quarto inteiro. Pode ver que o seu lado do quarto está limpo. Só o meu tem coisas no chão.

— E a escrivaninha? Tive que juntar todas as suas coisas hoje para fazer minha lição.

Ela suspira vendo que a venci e se debruça pegando sua mochila. Ela tira um giz de dentro e caminha até a escrivaninha. Faz uma linha reta no meio. Logo após coloca a mão no lado esquerdo.

— Meu lado. – diz ela e depois coloca a mão no lado direito – Seu lado. Pronto! Problema resolvido.

Agora quem ri sou eu. Ela faz uma linha no chão também. Separando o quarto em dois.

— Onde conseguiu este giz? – pergunto só pensando nisto agora.

— Peguei na sala de aula. – ela dá de ombros.

— Você já fez a lição de Matemática? É pra amanhã.

— Eu pego com o Peter antes da aula.

— E depois reclama das notas baixas...

— Ei! Estou mal em Química, não em Matemática.

— Mas seu D em Matemática está quase virando um F. – afirmo.

Ela suspira pesadamente. Ela sempre faz isto quando sabe que estou certo.

— Tudo bem. Pode me ajudar? – ela pergunta procurando pelo caderno no meio da bagunça.

— Por que não pede ajuda pro Peter? – eu debocho – Vamos acabar logo com isto.

Depois de um tempo conseguimos terminar a lição. Resolvo tomar um banho. Durante o banho lembro da briga que tive com Gale. Ainda não conversei sobre isto com a Katniss, mas volta e meia eu fico lembrando das coisas que ele me disse. Ouço batidas na porta e logo após a voz da Katniss:

— Você está vivo aí dentro?

— Sim, já vou sair! – falo olhando para as minhas mãos, notando que meus dedos estavam enrugados.

Saio do banheiro e Katniss abraça as minhas costas.

— Que cheiroso! – diz ela.

— Melhor tomar cuidado! Vai se apaixonar... – brinco.

Ela ri e me solta. Me sento na cama.

— Acho difícil. – ela afirma e senta ao meu lado.

— Não foi difícil para o Gale. – começo o assunto que adiei por tanto tempo.

Katniss desmancha seu sorriso e senta de forma mais concentrada na cama.

— Como assim?

— Gale me falou algumas coisas quando estávamos na sala do diretor, depois que brigamos.

Katniss fica tão tensa que sinto sua tensão me atingir, me deixando nervoso.

— E o que ele disse?

— Ele disse que se apaixonou por você. E foi por isso que você o deixou. Ele disse que o dia que declarou isto para você, foi o mesmo dia em que você me beijou.

— Isto não tem nada a ver. – ela tenta argumentar.

— Tem sim. Tem tudo a ver. Você só está comigo para não estar com ele.

— Isto não é verdade, Peeta! Ele que se apaixonou por mim. Não fui eu que me apaixonei por ele. Eu estou com você porque gosto de você.

— Talvez agora. Talvez agora seja por isso. Mas antes, no começo, você ficou comigo para impedi-lo de ele incomodar você. Você me usou. – eu falo a última frase mais baixo – Foi por isto que você ficou no mesmo quarto que o meu, foi por isto que você me beijou naquele dia.

— Eu só não queria magoar o Gale...

— Você já parou pra pensar que quanto mais você tenta não magoar as pessoas, mais você as magoa? – ela não responde, apenas fica em silêncio e desvia os olhos dos meus.

— Eu achei que estava fazendo a coisa certa... – ela sussurra.

— Mas não estava, Katniss. Você não pode fugir das pessoas simplesmente porque elas acabaram gostando de você mais do que deviam. Isto é errado. É errado trair alguém apenas para se livrar desta pessoa.

— Eu não fiz isto para me livrar de Gale. Pelo contrário! Eu fiz isto para ele se livrar de mim.

— Posso garantir que ele não iria querer se livrar de você. – eu falo e Katniss desvia o olhar do meu novamente. Ela fica no silêncio, mas tenho certeza que ela deve estar pensando em algo – Como você fez isto? Como conseguiu fazer com que ele aparecesse no quarto justo no momento que você me beijou?

— Isto é realmente necessário?

— É sim. Porque estou envolvido nisto. – eu falo tentando não perder a paciência.

— Tudo bem. Quando eu cheguei no meu quarto, Gale estava lá. Então ele me contou tudo. Contou que não deveria, mas acabou se apaixonando por mim. Eu não soube o que fazer, eu só queria sair dali e me livrar da situação.

— E foi então que você se lembrou de mim. – a interrompo.

— Sim, foi. Eu deixei ele no quarto e fui para o banheiro. Lembrei do teste de Matemática e liguei para você pedindo ajuda. Sobre isto eu não menti, eu realmente não estava entendendo a matéria. Bem, eu planejava que ele fosse junto e eu simplesmente beijaria você. Mas ele disse que precisava falar com Finnick sobre não sei o quê. Perguntei a ele que horas voltaria e só precisei me certificar que estaríamos nos beijando quando ele chegasse no quarto.

— E convocou todo o pessoal pra isto?

— Não. Não estava nos meus planos que todo mundo iria para o seu quarto. Aliás, até hoje não sei o que eles foram fazer lá. – eu não respondo mais e ficamos apenas nos encarando – Olha, Peeta, eu sei que o que eu fiz é injusto e errado. Mas eu fiquei com medo. Medo de magoá-lo mais. Me desculpa por ter feito você de idiota, mas eu juro que eu não estou com você agora porque quero manter Gale longe de mim. Estou com você porque gosto de você.

Gostar é diferente de se apaixonar. Gostar é diferente de amar. Como vou saber que ela fala a verdade? Ela mentiu antes. O que a impede de mentir agora?

— Como vou saber que você não está mentindo pra mim novamente? – pergunto.

— Porque não estou. Eu sei que agora você deve estar magoado comigo, talvez com raiva, mas eu juro que não estou mentindo agora.

Sim, eu estou magoado. Mas não estou com raiva. Apenas não compreendo. Não entendo porque ela fez tudo isto. Ela poderia simplesmente dizer ao Gale que não sentia o mesmo. Não precisava desse teatro todo.

— Tudo bem. – respondo. – Eu acredito em você.

Ela abre um pequeno sorriso para mim, porém sincero. Eu retribuo o sorriso da mesma forma. Ela se ajoelha atrás de mim e abraça meu pescoço.

— Obrigada. – ela sussurra tão baixo que eu quase não ouço.

Eu desvencilho seus braços do meu pescoço e me viro de frente pra ela, também me ajoelhando na cama.

— Prometa que não fará o mesmo comigo. – eu peço sem desviar meus olhos dos seus.

Ela deixa um pequeno sorriso escapar antes de dizer:

— Não se preocupe com isto. Afinal, você não se apaixonou por mim, não é?

— Não! – respondi firme e rápido antes que desse a resposta oposta e verdadeira.

Não desviei meus olhos dos seus, para tentar parecer mais convincente. Pareceu funcionar, pois Katniss ampliou seu sorriso.

— Então eu prometo. – ela sussurra sem desmanchar o sorriso e me abraça, afundando a cabeça no meu pescoço.

A abracei de volta, mas não estava tranquilo. Ela acabou de me perguntar se eu estava apaixonado por ela e fui forçado a mentir. Não queria ter de mentir. Queria poder dizer que me apaixonei perdidamente por ela. Mas isto significaria o fim do nosso relacionamento, algo, o qual, não quero romper por enquanto. Talvez eu nunca queira romper….

Katniss tira seus braços de volta do meu corpo e me dá um rápido beijo antes de levantar e buscar algo no armário. Ele pega alguma roupa, provavelmente um pijama, e se tranca no banheiro. Não vejo necessidade de ela se trocar no banheiro. Já a vi de biquíni. Que diferença seria vê-la de roupa íntima? Talvez este questionamento seja meio perverso e um tanto tarado. Mas sinto falta de ver o corpo que vi na praia.

Mesmo assim, basta eu fechar os meus olhos, e posso ver tudo nitidamente como se fosse o agora.

Katniss sai do banheiro e caminha direto para a sua cama, já se enrolando nos cobertores.

— Boa noite para você também. – falo ajeitando o despertador e me levantando para apagar as luzes.

— É, sei. – ela murmura já meio inconsciente, me fazendo rir.

Deito na minha cama e apago de imediato.

Mas tenho um pesadelo. Mais um para a coleção.

Mas não eram os meus pais o foco deste pesadelo. Era Katniss. No sonho, ela me falava que havia me avisado, que havia dito para eu não me apaixonar por ela. E eu atropelava as palavras tentando explicar para ela alguma coisa, mas não conseguia fazer as frases saírem com sentido da minha boca. Então ela apenas se virou e foi embora. E eu sabia, sabia dentro de mim que ela não voltaria. Então comecei a gritar seu nome, para que ela voltasse. Mas não saía do meu lugar, apenas passei a gritar seu nome desesperadamente.

— Peeta! Acorda! Acorda, Peeta! – ouço a mesma voz do meu sonho e caio da cama, parando com as costas no chão.

Me apoio nos braços e passo uma das mãos no rosto tentando despertar. A luz está ligada e noto que é noite ainda.

— Katniss? – falo sem saber o que dizer.

— Você está bem? – ela pergunta se aproximando e se ajoelhando ao meu lado. – Você estava sonhando comigo?

— O quê? – pergunto ainda perdido.

— Você estava gritando o meu nome. – ela explica juntando as sobrancelhas e formando uma ruga de preocupação.

Eu gritei no sonho, mas gritei na vida real também. Um erro que não pude evitar.

— Sim, eu... Eu sonhei com você. – eu afirmo me levantando do chão e sentando na cama.

Katniss continua ajoelhada no chão e me olha ainda preocupada.

— E sobre o que era o sonho para ter gritado o meu nome tão desesperadamente? – ela pergunta.

Encaro seus olhos por meio segundo antes de conseguir inventar uma mentira convincente.

— Hã... Era... Lobos! – exclamo.

— Lobos? – ela pergunta.

— Sim. Estavam por toda parte e estavam se aproximando de você. Pareciam famintos e rosnavam indo em sua direção. Eu gritava tentando avisar você, mas você não estava me escutando. E foi então que você me acordou.

Ela me encara por algum tempo e temo não ter sido convincente o suficiente a ponto de fazê-la acreditar.

— Oh, Peeta! – ela exclama se levantando do chão e sentando ao meu lado – Que coisa horrível. Eu estava sendo devorada por lobos?

— Quase. Porque você me acordou e interrompeu meu pesadelo.

— Então eu mesma me salvei. – ela sorri para mim.

— É. – sorrio de volta – Parece que sim.

— Você... Será que eu posso dormir o resto da noite aqui na sua cama com você? – ela pergunta meio sem jeito.

— Claro. Pode sim. – eu falo já me ajeitando na cama, enquanto Katniss se levanta para apagar a luz.

Katniss se ajeita ao meu lado, apoiando a cabeça e umas das mãos no meu peito. Coloco minha mão por cima da sua, notando que estava fria. Mas não é nisto que estou pensando.

Estou pensando em como consegui mentir tão facilmente para Katniss e ainda consegui fazer ela acreditar. Desde quando consigo mentir tão rapidamente? Apenas pensei rápido e falei.

— No que está pensando? – a voz dela interrompe meus pensamentos.

— O quê? – pergunto confuso.

— Você está suspirando como se estivesse em um conto de fadas.

— Estou pensando na neve. – mais uma mentira, preciso parar com isto.

Quem dera fosse tão fácil assim….

— Na neve? – indaga Katniss.

— É. Não estou acostumado com isto. Afinal, não costuma nevar na praia.

Ela ri, parecendo entender.

— É melhor se acostumar então. – ela afirma com a voz cansada.

— Estou tentando. – sussurro, sentindo o sono me atingir – Boa noite.

— Boa noite. – ela sussurra e sua voz parece distante demais.

Acordo antes que o despertador toque. Katniss ainda está deitada na minha cama, mas não está mais com a cabeça em meu peito. Levanto devagar, sem querer acordá-la e desligo o despertador antes que toque. Pego uma toalha e vou tomar um banho quente para acordar meu corpo adormecido. Saio do banheiro em menos de cinco minutos e visto uma roupa quente, me preparando para enfrentar o frio que deve estar na rua. Arrumo os cadernos com calma na mochila, pois ainda tenho tempo e só então me aproximo da cama para acordar Katniss.

— Katniss. – sussurro a sacudindo pelo ombro. Ela murmura e se vira de costas pra mim – Katniss, acorda. A gente precisa ir pra aula.

— Não quero ir hoje. – ela murmura.

— Precisa ir. Senão virão pra saber porque você não está na aula. Vamos, levanta! Toma um banho e se arruma.

Ela finalmente se levanta e caminha até o banheiro. Enquanto espero, resolvo fazer algo que nunca faço: arrumo a cama. Katniss sai do banheiro parecendo mais desperta.

— Olha só. Vai nevar três vezes mais agora que você arrumou a cama.

— Ah, cala a boca. – eu falo rindo. – Até porque não existe pessoa mais desorganizada que você.

— Tudo bem. Você ganhou. – diz ela, levantando as mãos em sinal de derrota.

Ela busca roupas no armário e entra no banheiro novamente para se vestir. Em pouco tempo ela está pronta.

— Acordei antes de você hoje. – comento enquanto nos encaminhamos para o prédio A.

— É, eu notei.

Fui para a minha aula e Katniss foi para a dela e a manhã passou como todas as outras. Quando voltei para o meu quarto, junto com Katniss, encontrei uma caixa com um envelope na minha cama.

— O que é isso? – perguntei retoricamente.

Peguei primeiro o envelope que possuía meu nome e abri lendo uma pequena carta:

 

Olá, Peeta. Decidi enviar uma carta, talvez soe mais épico assim (rsrsrs). Bem, o motivo desta e do seu presente de Natal estar no seu quarto, ou nas suas mãos (não sei bem como ou quando irão entregar isto a você) é que não poderei ficar com você no Natal. Sei que você ficará com raiva, chateado... E com toda razão estará! Mas vou precisar ir para Atlantic Beach novamente. Afinal, tenho uma casa semi queimada para reformar e vender, certo? Espero que você compreenda. Depois daquela explosão que você teve na última vez na cozinha do chalé, acabei me convencendo que você precisa de um tempo daquele lugar e que realmente forcei a barra te levando junto comigo. Eu estava errado. Eu não sinto o mesmo que você. Eu perdi um irmão, uma cunhada e sobrinhos. Mas você perdeu mais do que eu. Você perdeu seu pai, sua mãe e seus irmãos. Obviamente, dói mais em você do que em mim. Se quiser ligar para mim e gritar até faltar o ar, sinta-se livre. Mas saiba que amo você, não importa o que aconteça. Feliz Natal! Espero que goste do presente.

Com carinho,

Tio Phil"

 

Larguei a carta na cama e abri a caixa vendo um celular novo em folha. Larguei o celular na cama e sentei.

— O que houve? – perguntou Katniss e por um momento, achei que estivesse sozinho no quarto.

— Não vou para casa no Natal. Vou ter que ficar aqui. – falo frustrado.

Não estou com raiva. Não ligarei para tio Phil, xingando ele. Apenas estou chateado por não poder sair da escola. Não poder ir pra casa.

Katniss se aproxima pegando a carta e sentando ao meu lado. Ela lê rapidamente a carta e ia colocar no envelope novamente, mas ela para olhando dentro dele.

— Olha! – diz ela puxando alguma coisa de dentro do envelope. Eram notas de dinheiro – Feliz Natal. – ela diz ironicamente me alcançando as notas de dinheiro. Mas não queria dinheiro, nem mesmo o celular. Queria ir para casa – Ah, Peeta! Por favor! Não fica assim. Olha só. Tive uma ideia. Você pode passar o Natal na minha casa. O que acha?

— Na sua casa? – pergunto avaliando a proposta – Sua mãe não vai se importar não?

— Claro que não! Acho que ela iria gostar até.

— Mas e seu avô?

— Peeta, meu avô gostou de você. Ele não hesitaria em ter você em casa no Natal. Então, o que me diz?

— Bem... Será melhor que ficar na escola. – deixo um pequeno sorriso aparecer.

— Isso! – ela comemora já pulando da cama e pegando o celular – Vou falar com ele agora.

— Tem certeza, Katniss? – pergunto, mas ela apenas faz sinal para que eu fique quieto.

— Oi, vô... Estou ótima!... Era sobre isto mesmo que eu ia falar... Sim, eu vou para casa no Natal, mas eu queria saber se... Por favor, vovô! Me deixa falar... Eu queria saber se teria problema o Peeta passar... Peeta, vovô! O garoto loiro da cabana. Lembra dele?

— Estou vendo o quanto ele gosta de mim. Nem lembra quem sou eu. – comento.

— Cala a boca, Peeta!... Lembrou?...Sim, este mesmo... Eu sei, vovô. Eu também acho que ele é um bom rapaz. – ela revira os olhos – É o seguinte: Peeta não vai poder passar o Natal na casa dele, queria saber se tem algum problema ele passar o Natal com a gente. Então o que me diz?... Pode ser?... Eu sabia que você não veria problemas... Eu também te amo. Tchau. – Katniss solta o celular na cômoda e se vira pra mim – Eu falei que ele não veria problemas.

— E a sua mãe? – pergunto.

— Ah, ele vai avisar ela. Não se preocupe. Preparado para enfrentar o Natal com a família Everdeen?

Este é o tipo de pergunta que se faz com um sorriso debochado, mas, por algum motivo, Katniss falou tão séria que endireitei minha postura na cama e respondi igualmente sério:

— Sim.


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Notas finais do capítulo

O que será que vai ser deste Natal, hein? Curiosos? Bem, aguardem que em breve postarei o próximo. Beijocas da Tia Rafú pra vocês. ;)



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