Nightmares escrita por Rafú


Capítulo 10
Capítulo 10 - Karaoke


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal. Voltei com mais um capítulo para vocês. Espero que gostem. Boa leitura.



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Sou acordado com um golpe de travesseiro na minha cabeça e com a risada da Katniss em seguida.

— Acorda, seu tapado! – ela grita para mim.

Me sento na cama, assustado pois não esperava isto. Olho para ela que ainda ri segurando o travesseiro.

— Agora você vai me pagar. – aviso pulando da cama.

— Não! – ela grita indo em direção a porta, mas eu a alcanço e iço Katniss pela cintura a atirando na cama. Pego um travesseiro e golpeio ela, mas Katniss se mostra mais ágil e desvia, ficando de pé encima da cama.

Eu subo na cama, ficando de frente para ela.

— Agora vou ensinar você a não me acordar com um travesseiro. – afirmo. Ela apenas me mostra a língua.

Acerto o travesseiro nela enquanto ela revida com o outro. Eu me ajoelho na cama, desviando de um golpe e puxo Katniss pelos tornozelos a fazendo cair de costas. Ela tenta fugir, mas eu seguro seus pulsos os levando para acima de sua cabeça.

— Me solta. – ela pede rindo.

— Só se você me pedir desculpas e prometer não me acordar com travesseiradas. – falo, olhando os olhos cinzentos da garota.

— Nunca! – ela diz.

— Então vou ter que te morder até você prometer. – falo.

— Você não vai me morder.

Sorrio para ela e beijo seus lábios, puxando o inferior entre meus dentes.

— Me prometa. – falo afastando meu rosto.

— Não! – ela diz, mas não esboça nenhum sorriso.

Sorrio novamente e me aproximo, beijando sua bochecha e dando uma leve mordida ali. Volto novamente os olhos para a garota.

— Me prometa. – peço novamente.

— Não…. – ela sussurra.

Beijo novamente sua bochecha e desço até o pescoço da morena, beijando e deixando uma mordida ali.

— Vai me prometer agora? – pergunto.

— Peeta…. – ela chama, mas eu a ignoro e sigo dando algumas mordidas e sempre pedindo que ela me prometesse não me acordar com um golpe de travesseiro. A cada “não” que ela me dá, aumento a intensidade da mordida. Até que eu senti o corpo dela tremer e Katniss tenta se livrar a força de mim. – Para, por favor. Me solta! Eu prometo! Eu prometo! – ela grita desesperadamente.

Assustado com seus gritos a deixo ir, e Katniss se encolhe no canto da cama com os olhos arregalados em mim. Vejo lágrimas escorrerem pelas suas bochechas.

— Katniss? – chamo, ajoelhado na cama.

— Por que você ia me machucar? – ela sussurra.

— Eu não ia machucar você, Katniss. Era apenas uma brincadeira. Eu nunca faria mal a você. Você sabe disto.

— Você estava me machucando. O que eu fiz pra você querer me machucar? – tento me aproximar dela, mas ela entra em desespero e começa a gritar – Não chega perto de mim! Não me machuca, por favor!

Paro imediatamente e fico confuso. Ela continua a gritar ao ponto de tio Phil entrar no quarto.

— O que ela tem? – pergunta ele.

— Ela…. A gente estava... Então... Eu não sei. – falo em desespero.

— Vai lá pra baixo, Peeta. Deixa eu ver se consigo dar um jeito nisto. – diz ele.

Saio do quarto ouvindo os gritos de Katniss e vou para a sala tentando ver o que foi que eu fiz de errado. Era apenas uma brincadeira, eu não iria machucá-la de verdade. Eu nunca conseguiria machucar Katniss. Não me perdoaria se o fizesse.

Sento no sofá atordoado e espero tio Phil descer.

Após muito tempo ele surge e senta ao meu lado.

— Como ela está? – pergunto sedento por alguma informação.

— Ela dormiu. – ele diz olhando para a televisão desligada a nossa frente.

— Você conseguiu acalmá-la?

— Peeta, você não faz ideia do que está garota passou há algum tempo atrás….

— Espera! Ela contou pra você o que aconteceu quando tinha doze anos? – perguntei estupefato.

— Sim. Mas ela implorou que eu não contasse a você.

— Por quê? Por que não posso saber? Por favor, tio, me conte! Por favor.

— Peeta, entenda, eu prometi a ela que não contaria….

— Por favor, isto está me matando. Ela tem crises estranhas às vezes e eu não consigo ajudá-la. Eu quero ajudá-la, tio. Mas ela não me conta nada sobre ela.

Eu não entendia como Katniss podia contar o que aconteceu para o meu tio, mas não para mim. O que há comigo para ela me esconder este enigma? Ela não confia em mim? É isto?

— Peeta, eu….

— Por favor, ela….

— Peeta! Ela apenas não quer perder você! – tio Phil grita impaciente com minha insistência. – Ela não conta com medo que você não veja as coisas pelo ponto de vista dela. Eu não sei que tipo de relacionamento você tem com esta menina, Peeta. Mas tome cuidado, ela está gostando mesmo de você. Se você planeja deixá-la logo, então não demore, senão você irá magoá-la.

Mas eu não quero deixá-la! Eu não quero magoá-la! Eu quero ela para sempre. Eu a amo!

Abaixo a cabeça, confuso com toda esta situação. Tio Phil está errado. Katniss não está realmente gostando de mim. Ela não está se apaixonando por mim. Sou apenas mais um passatempo. O quarto passatempo, por sinal. E com certeza, não serei o último.

Katniss não quer me perder porque fui o único que a tratei direito. Fui o único que a mimei e fiz coisas que ela gostasse. Fui o único que a chamou por um apelido carinhoso. Fui o único que tentou entendê-la.

— Ela está dormindo? – perguntei apenas para confirmar.

— Sim, deixe ela descansar um pouco. – responde tio Phil.

Aceno com a cabeça e saio da sala, indo para a cozinha. Preparo sanduíches de queijo quente, lembrando que Katniss havia adorado eles quando os fiz. Preparei um suco de laranja e fui ao jardim atrás da casa procurando por uma possível rosa disponível nas roseiras que haviam por perto. Arrumo tudo em uma bandeja, colocando a rosa em um copo com água. Subo, vendo Katniss dormindo abraçada a um travesseiro. Deixo a bandeja na cômoda ao lado com um pequeno bilhete acompanhando:

 

Desculpa, Anjo.”

 

 

Deixo um raso beijo em sua testa, não querendo acordá-la e me sento na sacada com vista para o mar.

Tento pensar em mil e uma coisas que possa ter acontecido com Katniss para ela carregar consequências até hoje. Porém, nada me vem a mente. Apenas sei que, não importa o que for, eu não vou deixá-la como ela acha que vai acontecer. Mas não irei pressioná-la a nada. Quando Katniss achar que é seguro me contar, então ela contará. Simples assim. Vou parar de correr atrás das respostas das minhas inúmeras dúvidas. Desta forma, nunca acharei o fim deste labirinto.

Após algum tempo, Katniss aparece timidamente, carregando consigo, a rosa que deixei na bandeja. Ela para, apoiada no parapeito, virada de frente para mim e sorri fracamente enquanto olha a delicada flor em sua mão. Traz ela para perto do nariz, a cheirando.

— Uma rosa. – afirma ela, sorrindo para mim.

— Uma flor para outra flor. – sorrio em sua direção. – Os sanduíches estavam gostosos?

Ela acena com a cabeça, afirmando.

— Acho que você iria ganhar mais abrindo um restaurante do que sendo advogado.

— Quem sabe não viro um mestre cuca nas horas vagas então?

— Advogados não costumam ter horas vagas.

Eu rio, desviando meus olhos dela.

— Você tem razão. – assumo.

— E você não precisa se desculpar por algo que não foi sua culpa.

— Eu não sabia bem se era minha culpa, mas tentei me desculpar da mesma forma.

Ela sorri e se aproxima sentando ao meu lado.

— Deu certo mesmo não sendo sua culpa – sussurra ela e apoia a cabeça em meu ombro – E mesmo se fosse, daria certo do mesmo jeito.

— Eu machuquei você mesmo? – perguntei.

Talvez eu tenha realmente machucado ela sem ao menos notar.

— Não. Apenas esqueça o que aconteceu. Pode fazer isto, Peeta?

Não!

— Sim.

— O que faremos com o resto do dia que nos sobrou? – pergunta ela.

— Tem uma lanchonete aqui perto. Você quer ir? Podemos tomar um sorvete. – sugiro.

— Claro. Por que não? – Katniss se levanta mais animada.

Volto para o quarto e troco de camisa. Não tenho um motivo para trocá-la, mas senti a necessidade de fazê-la.

Katniss pega sua bolsa e tira algum tipo de caderno de dentro, abre e coloca a rosa dentro, guardando o objeto logo em seguida.

— O que é este caderno? – pergunto curioso.

— É tipo um diário. Minha psicóloga disse para eu fazer um. Até que não foi uma má ideia. – ela dá de ombros.

— Posso ver? – pergunto com um sorriso maroto.

— Claro que não. Você acha que sou a Anne Frank para escrever um diário e depois deixar o mundo inteiro ler?

— Mas Anne Frank morreu antes de saber que todo mundo leria seu diário.

— Dane-se! Toque neste diário e faço você em pedaços. – Katniss me ameaça e não parece estar brincando.

— Tudo bem. – falo levantando as mãos em sinal de rendição. – Não tocarei no seu diário.

— Ei! Está camisa realçou a cor dos seus olhos. – diz ela olhando da minha camisa para os meus olhos e dos meus olhos para a minha camisa. – Deveria usar azul mais vezes.

Reviro os olhos e rio.

— Vamos logo. – falo.

Caminhamos devagar, aproveitando o final da tarde. Mas chegamos rapidamente, pois a lanchonete era bem perto.

Peço dois sorvetes e sentamos em uma das mesas.

— Você vinha aqui com a sua família? – pergunta Katniss sem tirar os olhos de seu sorvete.

— Não muito. Eu vinha mais com os meus amigos. – rio.

— Qual é a graça? – pergunta Katniss desviando os olhos de seu sorvete e olhando para mim.

— Você olha para o sorvete como se fosse a invenção mais inteligente que o homem já fez.

— Mas é a invenção mais inteligente que o homem já fez. – diz ela como se fosse óbvio. – Existe algo melhor que sorvete?

Sim! Você!

— Claro. Tem a pizza... Hã... Doritos, Coca-Cola... Internet! Internet é a melhor invenção do homem.

— Mas a internet não enche a sua barriga. – contradiz Katniss.

— Depende. Você pode conseguir uma receita na internet….

— Não importa! Para mim, nada supera o sorvete.

Eu rio e me ergo, encostando meu sorvete na ponta do nariz da morena. Katniss fica vesga ao olhar para o próprio nariz e sorri para mim, antes de enrugar o nariz.

— Espera! Fica assim que vou tirar uma foto. – rio, pescando meu celular do bolso e tirando uma foto. – Pronto!

Estendo o aparelho para ela e Katniss ri ao se ver.

— Como sou ridícula. – afirma ela, pegando o guardanapo para limpar a sujeira.

— Para! – falo, segurando seu braço. – Eu sujei, eu limpo.

Me ergo, encostando meus lábios na ponta do nariz dela, mas Katniss levanta a cabeça, me fazendo trocar seu nariz por seus lábios.

Uma troca muito justa!

Sorrio contra sua boca ao pensar nisto.

Volto a me sentar, vendo que sujei mais do que limpei. Comecei a rir.

— Que foi? – pergunta Katniss.

— Você está mais suja que antes.

— Você também está. – ri ela.

Após nos limparmos e terminarmos os sorvetes, continuamos sentados, confabulando ideias geniais que não seriam nada úteis para a humanidade.

— E uma escova de dente que escova seus dentes sozinha? – sugere Katniss.

— Tipo, ela se mexe sozinha?

— É.

— Isto seria, no mínimo, diabólico. Eu sairia correndo se visse uma escova de dente se mexendo sozinha.

Katniss começa a rir, mas logo muda sua atenção para algo que está atrás de mim.

— O que é aquilo? – pergunta ela.

Olho para trás, vendo o pequeno palco com tela e microfones.

Um karaokê.

Lembrei das vezes que meus colegas cantaram desafinadamente obtendo as notas mais baixas que alguém poderia conseguir. Não pude evitar o sorriso que se formou nos meus lábios quando relembrei estes dias.

— É um karaokê. – respondi me virando para Katniss.

— Que legal! Vamos lá! – diz ela já se levantando e me puxando pela mão.

Eu não saí do lugar.

— Não! Por Deus! Eu não canto. Vai você. Eu vou apenas assistir.

— Qual é? Vamos! Por favor. – implora Katniss.

Eu sabia muito bem que se não fosse, ela ficaria ali até amanhã. Me levantei a contragosto, indo de mão dada com Katniss para o karaokê.

Na verdade, eu nunca cantei aqui. Eu sempre ficava sendo a plateia e rindo.

Subimos no pequeno palco já chamando a atenção das pessoas. Katniss me alcançou um dos microfones e ficou com o outro consigo.

— Meu Deus, Katniss! Não acredito que vai mesmo me forçar a fazer isto.

— Vou sim. – ri ela enquanto escolhia uma música

— O que vamos cantar? – pergunto com medo.

— Hmm... Ah! Billie Jean, Michael Jackson. – diz ela já selecionando a música.

— Não acredito nisto. – sussurro agarrado ao microfone enquanto ouvia o início da música.

— Começa você ou começa eu? – pergunta ela se sentindo bem à vontade.

— Deus…. Vai você, por favor. – quase imploro.

Ela ri antes de começar a cantar:

 

She was more like a beauty queen from a movie scene

I said don't mind, but what do you mean I am the one

Who will dance on the floor in the round

She said I am the one who will dance on the floor in the round

 

She told me her name was Billie Jean

as she caused a scene

Then every head turned with eyes that dreamed

of being the one

Who will dance on the floor in the round

 

 

Sua vez! – grita ela rapidamente.

Olhei para o chão, a fim de não encarar as pessoas que estavam na lanchonete.

Sabia a letra de cor, então nem precisei olhar para a tela para cantar:

 

People always told me be careful of what you do

And don't go around breaking young girls' hearts

And mother always told me be careful of who you love

And be careful of what you do 'cause the lie becomes the truth

 

Katniss me acompanhou no refrão:

 

Billie Jean is not my lover

She's just a girl who claims that I am the one

But the kid is not my son

She says I am the one, but the kid is not my son

 

Katniss continuou sozinha na próxima estrofe:

 

For forty days and forty nights

The law was on her side

But who can stand when she's in demand

Her schemes and plans

'Cause we danced on the floor in the round

So take my strong advice

Just remember to always think twice

(Do think twice)

 

She told my baby that's a threat

As she looked at me

Then showed a photo of a baby crying

Eyes were like mine

Go on dance on the floor in the round, baby

 

Antes que eu pudesse começar a próxima estrofe, Katniss puxou meu rosto, me forçando a fazer um contato visual. Ele falou apenas movendo os lábios: “Fique olhando para mim”.

Cantei a próxima estrofe mais confiante. Sem desviar meus olhos do olhar de Katniss.

 

People always told me be careful of what you do

And don't go around breaking young girls' hearts

She came and stood right by me

Then the smell of sweet perfume

This happened much too soon

She called me to her room

 

Katniss segurou minha mão e eu esqueci das pessoas a nossa volta. Apenas cantei da forma que eu cantaria se estivéssemos no quarto do chalé:

 

Billie Jean is not my lover

She's just a girl who claims that I am the one

But the kid is not my son

Billie Jean is not my lover

She's just a girl who claims that I am the one

But the kid is not my son

She says I am the one, but the kid is not my son

She says I am the one, but the kid is not my son

Billie Jean is not my lover

She's just a girl who claims that I am the one

But the kid is not my son

She says I am the one, but the kid is not my son

She says I am the one, she says he is my son

She says I am the one

Billie Jean is not my lover

Billie Jean is not my lover

Billie Jean is not my lover

Billie Jean is not my lover

Billie Jean is not my lover

Billie Jean is not my lover

 

Ouvimos os instrumentos ficando distantes. Não consegui, mesmo após o término da música, desfocar meus olhos dos olhos de Katniss. E ela também não, sorriu satisfeita pra mim.

Só então pude notar o som dos aplausos vindo das pessoas que nos assistiram.

— Eles estão nos aplaudindo. – afirmo olhando para nosso público.

— Claro que sim. – afirma Katniss – Somos artistas. Quer ver eles nos aplaudirem de pé?

— Como? – faço a pergunta, enquanto me viro para Katniss. Sou surpreendido por um beijo.

Ela abraça meu pescoço, eu abraço seu corpo, a puxando para cima, fazendo Katniss ficar na ponta dos pés.

Ouço os aplausos mais eufóricos ao fundo, mas não estou dando bola para isto agora. Meu único objetivo no momento é desfrutar ao máximo o beijo com gosto de sorvete de chocolate que esta garota está me dando.

Katniss vira o rosto, interrompendo nosso contato.

— Olha! – diz ela ofegante.

As pessoas realmente levantaram para nos aplaudir de pé. Eu ri para a cena, enquanto Katniss fugia do meu abraço e pegava minha mão, fazendo uma reverência para nossa plateia. Imitei ela e logo após vimos nossa pontuação na tela.

— Setenta e três não é nada mal. – comentei.

— Podemos gravar um CD. – ri ela.

Voltamos para casa em silêncio. Tio Phil não estava em casa. Mas havia um bilhete encima da mesa acompanhado de algumas notas de dinheiro:

 

Tive que sair.

Compre alguma coisa para o jantar de vocês.

Att. tio Phil

 

Eu rio para o cartão.

— Eu vou fazer panquecas em vez de comprar alguma coisa. – afirmo.

— Então eu faço um suco. – se oferece Katniss.

Faço a massa e coloco na frigideira.

— Já fez o suco? – pergunto.

— Sim. Só não entendi uma coisa.

— O que?

— Por que vamos comer o café da manhã na hora do jantar?

— Não sei. Mas que diferença faz?

— Nenhuma. Você consegue fazer aquele negócio de virar a panqueca no ar?

— Consigo.

Pego a frigideira e faço a panqueca dar duas voltas no ar antes de cair novamente dentro da frigideira.

Katniss bate palmas como se eu acabasse de fazer uma mágica.

— Bravo! – diz ela.

Eu rio e faço uma reverência.

Nós comemos as panquecas e deixamos algumas para tio Phil. Subimos, tomamos banho – não juntos, infelizmente – e deitamos na cama para ver algum filme. Eu que me apoiei em Katniss desta vez, me servindo como travesseiro para a cabeça. Ela ficou a acariciar meu cabelo até sua mão escorregar ao pegar no sono. Desliguei a televisão e dormi. Mas acordei sobressaltado com um pesadelo.

Sento na cama tentando reorganizar minha mente, mas sinto os olhos úmidos por ver minha família mais uma vez. Levanto, sem acordar Katniss, e vou para o banheiro.

Me olho no espelho, vendo que nenhuma lágrima havia escapado.

— Não ouse chorar! – afirmo para o garoto do outro lado do espelho, apontando para ele. – Você não vai chorar…. Não mais.

— É bem melhor soltar o choro do que prendê-lo. – ouço a voz da Katniss ao meu lado.

Não desvio os olhos de meu reflexo no espelho mesmo assim.

— Não! Eu não vou mais chorar por eles.

— Você os ama ainda?

— Claro que eu os amo ainda. Sempre irei amá-los.

— Então você deve chorar por eles. É assim que eles sabem que você ainda os ama.

— Eles estão mortos, Katniss! Eles não podem ver nada! – eu praticamente grito com raiva. – Eles não existem mais! Eles não sentem, eles não amam, eles não fazem mais nada agora!

Eu não permito que nenhuma mísera lágrima escape pelos meus olhos. Não ouso desviar os olhos do espelho, pois sei que se olhar para Katniss, estas lágrimas cairão.

— É claro que eles podem ver. – Katniss contradiz – Você me disse que acredita em Deus. E eu acredito que Ele vai deixar sua família ver você. Não importa aonde você esteja, eu sei que eles estão vendo você. Assim como a minha…. – ela desiste da frase rapidamente e logo em seguida, se aproxima, segurando meu braço, agora posso ver o reflexo dela junto ao meu. – Eles amam você ainda. – ela sussurra.

— Eu não quero chorar. Eu não quero ser fraco. – sussurro com a voz já embargada.

— O choro não significa que você é fraco, apenas que você é humano.

Olho para Katniss já me arrependendo disto, pois, como eu previa, as lágrimas começaram a cair.

— Mas…. – eu tento dizer.

— Está tudo bem, Peeta. – ela sorri pra mim e coloca as mãos no meu rosto, secando as minhas lágrimas.

Eu a abraço sentindo uma torrente de soluços chegar em mim. Katniss acaricia minha nuca me confortando com palavras que não faziam sentido para mim.

Ela me arrasta até a cama de volta e senta nela, deixando eu apoiar a cabeça em seu colo e chorar até meus olhos arderem. Ela fazia carinhos em mim e murmurava alguma música, como se eu fosse uma criancinha sendo posta para dormir.

— Isto dói…. – falo sem minha voz.

Acho que a dor física não chega aos pés da dor sentimental. Eu sinto que vou vomitar meu coração a qualquer momento.

— Eu sei, Peeta. Esta dor nunca vai passar…. Ela vai apenas ficar menor aos poucos.

— Como você sabe?

Ela suspira antes de dizer:

— Sabendo. Só fica quietinho chorando, ok? Eu prometo pra você que vai ficar tudo bem. Foi um pesadelo?

Eu assinto com a cabeça. Katniss abaixa a cabeça e deixa um beijo na minha testa.

Fecho os olhos, pensando em alguma coisa boa que me faça parar de chorar. Lembro da tarde de hoje que passei na lanchonete com Katniss. Cantando no karaokê. Sendo aplaudido de pé com nosso beijo.

Eu queria congelar naquela hora e ficar presa nela para sempre. Pois estava me sentindo tão livre naquele momento. Nada me atingia naquele instante, nem mesmo minha timidez. Esqueci de tudo naquela hora. Menos de mim e Katniss. Esqueci da minha família, do meu tio, de Greta, de tudo. Tudo o que existia era Katniss e eu.

Katniss e eu. Eu e Katniss.

Poderia ser assim para sempre. Poderia ter uma vida boa ao lado desta garota. Mas sei que este sonho está tão inalcançável quanto a Lua. Mesmo que eu tente não pensar neste futuro irreal, eu acabo imaginando. E naquele momento, na lanchonete, eu senti que Katniss era minha, apenas minha e de mais ninguém. Não existia nada deste negócio de passatempo. Nada de jogos. Apenas Katniss e eu. E eu e Katniss. Apenas um casal cantando e tomando sorvete. Não existia choro, nem crises, nem remédios. Não existia depressão por alguma coisa que passamos, nem Síndrome do Pânico. Só existia um casal agindo como um casal. Dois adolescentes normais. Algo que deveríamos ser….

Ouço uma batida na porta, mas não abro os olhos nem me mexo.

— O que está havendo aqui? – escuto a voz de tio Phil.

— Peeta teve um pesadelo, mas agora está tudo bem. Ele dormiu. – explica Katniss.

— Um pesadelo? Ele tem pesadelos? Pesadelos com a família?

— Sim, de vez em quando. Ele é um garoto forte. Apesar de ele mesmo não achar.

— Eu sei. Não é todos que suportam passar pelo que ele passou. Você também é muito forte.

— Sim, eu escolhi levantar em vez de continuar caída. A única que levaria as consequências seria eu mesma. Mas já passou cinco anos desde tudo isto, a ferida acabou fechando, apesar de doer de vez em quando.

— Espero que Peeta seja assim...

— Ele já é, Sr.

— Me chame de Phil, já disse.

— Ele já é, Phil. Eu no lugar do Peeta, estaria agindo como um zumbi. Não conseguiria nem as notas que ele consegue na escola. – ri Katniss.

— É. Peeta é um bom garoto. Nunca contei a nenhum dos outros é claro, mas... Dos meus quatro sobrinhos, Peeta sempre foi o que eu mais me apeguei. Acho que ficaria inconsolável se ele tivesse morrido junto naquela noite. Eu sei que nunca vou substituir o pai dele... Deus! Meu irmão era um pai incrível, mas eu apenas quero que ele sinta que pode contar comigo.

— Acho que ele sabe disto.

— Eu amo este garoto, Katniss. Cuide dele para mim, por favor. Não suporto vê-lo neste estado, com o rosto vermelho de tanto chorar.

— Eu vou cuidar dele... Até onde eu puder.

— Obrigado. – meu tio suspira antes de dizer – Bem, acho que vou dormir já que ele dormiu. Precisa de algo?

— Não. Tudo bem. Boa noite.

— Boa noite.

Katniss espera meu tio sair e começa a me sacudir.

— Peeta, eu quero deitar. – sussurra ela.

Eu finjo estar acordando e me espreguiço com preguiça.

— Oi? – sorrio.

— Oi. Eu quero dormir. – ela sussurra.

— Ah sim. – sento na cama, me ajeitando embaixo das cobertas junto com Katniss. Ela se vira de costas para mim e eu não me contenho em abraçá-la. – Obrigado. – sussurro, respirando seu cabelo.

— Tudo bem. – ela suspira.

Não fazia ideia de que tio Phil gostava tanto assim de mim. Sempre pensei que era apenas um fardo para ele. Algum tipo de consequência que venho junto com a morte do meu pai. Nunca teria me passado na cabeça que ele ficou comigo porque me ama, não por obrigação.

Eu o amo também. E eu sei que posso contar com ele para qualquer coisa. Mas às vezes parece ser tão mais fácil passar por tudo sozinho. Sem ajuda nenhuma. Este é um dos motivos de eu não contar tudo a ele. O outro seria por eu me sentir culpado, pois, como já disse, sempre achei ser um fardo para ele. Ele deve ter mais o que fazer do que se interessar pelos desabafos do sobrinho de dezessete anos.

Durmo pensando na sorte que tinha em ter ao menos meu tio para contar com qualquer coisa.

Além de ter Katniss…. Por enquanto….

Acordo ouvindo risos no andar de baixo. Katniss sumiu da cama e suponho que as risadas devem ter vindo dela. Acordo me sentindo um tanto alegre, não sei bem o motivo. Talvez seja porque dormi abraçado com Katniss, ou porque descobri que não sou um fardo para o meu tio. Não importa! O importante é que eu estou feliz.

Vou ao banheiro tomando um banho longo, coloco uma roupa confortável e desço ainda ouvindo a risada constante de Katniss junto com a voz de tio Phil:

— Mas é verdade, Katniss. Ele parecia um robozinho com defeito quando estava aprendendo a andar.

— Quem parecia um robozinho com defeito? – pergunto, já me dirigindo a um dos armários para pegar uma xícara.

— Você! – reponde Katniss ainda rindo, segurando uma xícara com as duas mãos.

— Eu? Por quê?

— Porque parecia. – disse tio Phil – Você dava um passo e caía. Era hilário. Eu tentava não rir, mas era inevitável. Sua mãe ficava tão braba por eu ficar rindo de você.

— Eu mereço. – reviro os olhos mas rio junto. Coloco a xícara com leite no micro-ondas e me dirijo a Katniss, deixando um rápido selinho em seus lábios. – Bom dia.

— Bom dia. Parece estar de bom humor. – Katniss sorri para mim.

— Algum problema com isto? – indago.

— Nenhum.

— Não esqueçam que vamos embora hoje. Arrumem logo suas coisas para não perdermos o avião.

Nem lembrava que já íamos embora. Eu poderia ficar mais tempo, desde que Katniss ficasse também. Iríamos voltar a nossa vida de livros e estudos. Após tomarmos o café da manhã, Katniss e eu subimos para arrumar nossas coisas. Arrumamos tudo rapidamente e deixamos o quarto do jeito que estava quando chegamos.

— Foi divertido. – afirma Katniss quando estamos no táxi, a caminho do aeroporto.

— É. Foi. – concordo.

Claro que não seria sem a Katniss. Se ela não fosse, eu ficaria preso no quarto, me enchendo de porcarias e vidrado na televisão até a hora de ir embora. Katniss foi a minha salvação de um feriado deprimente.

Logo já estamos dentro do avião, e este, por sua vez, já está levantando voo. Katniss e eu olhamos a paisagem de Atlantic Beach de cima, vendo o quão bonita é. Paraíso…. Como Katniss havia dito.

— Adeus, Atlantic Beach. Foi um enorme prazer conhecer sua beleza. – diz Katniss.

Tudo após isto, pareceu voar tão rápido quanto o avião em que estávamos.

Chegamos na casa de tio Phil e Katniss telefonou para seu avô:

— Oi, vô. É a Katniss... Sim, estou ótima... Nada de crises... Choros? Talvez... Por Deus! Calma! Eu tomei o bendito remédio... Não, o avião não caiu... Eu não estaria ligando se o avião tivesse caído... Vô! Escuta! Acontecem mais acidentes envolvendo carros do que aviões... Sim, já vou voltar para casa... Ok! Tchau. – Katniss coloca o celular no bolso. – Meu Deus! Ele está ficando cínico. Bem, Peeta. Vou ter que ir agora. Nós vemos mais tarde na escola.

Ela se aproxima de mim, me deixando um abraço longo acompanhado de um beijo.

— Tchau. – sussurro.

— Até mais tarde.

— Tchau, Katniss. Foi um prazer conhecê-la melhor. – diz meu tio apertando a mão da garota.

— O prazer foi meu. – sorri Katniss.

Katniss sai carregando sua bagagem e coloca no carro, ela acena sorridente para mim e entra no carro, dando ré e indo embora. Fiquei na sacada, vendo a garota de olhos hipnotizantes indo embora e me deixando sozinho mais uma vez.

Puxa vida! Já estou sentindo a falta dela.

Mas sei que vou vê-la logo na escola. E continuaremos a ser um casal anormal.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Até o próximo. Beijocas da Tia Rafú pra vocês. ;)



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