A Lenda dos Semi-Titãs escrita por TheGodessofElves


Capítulo 5
Visão do passado: Jaci POV




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Eu e Quíron andamos por alguns pontos do acampamento, enquanto ele me contava sobre como era a vida de um semideus e sobre o meu treinamento. Confesso que fiquei muito assustada, com todas aquelas profecias mortais e destinos horríveis. Eu sabia que era uma semideusa desde pequena, meu tutor, Chad, nunca me escondeu isto, mesmo assim, não queria ser alvo daquelas coisas, nunca pensei que a vida de alguém como eu, poderia ser tão perigosa. Mas...pensando melhor...em meus sonhos mais secretos, sempre desejei em ter uma vida completamente diferente da dos outros. E aqui estava a minha chance. Neste acampamento.

Estávamos em silêncio, apenas observando a agitação dos outros campistas. Eu havia conhecido todos os chalés, desde o meu – no qual as paredes eram feitas de quartzo e as portas e janelas de granito cinzento, nuvens formavam o teto e os dois degraus na frente da porta. Fiquei um bom tempo pulando entre eles, subindo e descendo, alegre como uma criança. – até o de Hades, onde só havia apenas um garoto. Ele parecia ser extremamente solitário, pensei que talvez fosse uma das características de um filho de Hades, além dos olhos tristes e da pele pálida, mas ao examinar seu inconsciente, percebi que poderia ser muito mais do que isto. Quero saber mais sobre ele.

– Ahn, Jaci Joe...

Começou Quíron, desconfortável. Eu sabia que ele estava prestes a entrar em um assunto delicado. Chad, quando queria conversar comigo sobre algo que eu não me sentia à vontade, começava desta mesma forma.

– Sim?

– Bem...eu gostaria de conversar com você, sobre...sobre os seus poderes...como filha de Morfeu.

Parei de andar repentinamente e voltei minha total atenção a ele. Sempre quis saber sobre o que eu podia fazer e quais eram minhas origens. Ser reclamada como filha de Morfeu aliviou metade desses questionamentos, só queria saber até que limite meu poder poderia chegar e os mistérios que os rondavam.

– O que têm eles?

– Bom...você sabe algo sobre seu pai?

Fiz que não, com a cabeça.

– Seu pai, Morfeu, ele é o deus dos sonhos.

Meus olhos se arregalaram, tanto de alegria quando de interesse. Agora muitos fatos sobre mim faziam sentido. Não vou dizer que não tive vontade de chorar por ter tantas perguntas que me agonizaram a minha existência inteira, respondidas em uma e simples frase. Prático, não?

– É claro! Agora eu sei! Sei porque sempre consegui apenas examinar o inconsciente das pessoas, por que eu conseguia controlar meus sonhos da forma que queria e por que também conseguia ferir pessoas através de pesadelos!

Gritei, animada.

– Espere ai. Você sabia como ferir mortais através de seus poderes?

Opa...eu não deveria ter mencionado este último detalhe. Sua voz era autoritária, como se estivesse me dando bronca, coisa que eu odeio.

– Sim...mas só quando elas me faziam mal.

Respondi encabulada.

Quíron suspirou profundamente, recuperando o seu foco.

– Jaci, o que quero lhe perguntar é, como você sempre soube controlar perfeitamente os seus poderes sem saber as suas origens e sem receber o treinamento adequado?

Eu esperava que ele me desse a resposta para essa pergunta. Ah que derrota! Estava mais confusa do que nunca.

– Eu não sei...talvez...por que sejam poderes psíquicos?

– Mesmo que sejam, isso é raro. Seis em cada meio milhão de semideuses têm essa perfeita habilidade precoce. Você já desenvolveu mais poderes em treze anos, do que uma semideusa como você, que tenha recebido o treinamento desde muito cedo.

– Como, você sabe o quanto eu me desenvolvi?

– O suficiente para que causasse uma espécie de “convulsão” em um aracnídeo.

Rebateu, cruzando os braços e me encarando.

– A verdade, é que não sei como faço essas coisas e nem como as controlo. Por favor, Quíron, me ajude, preciso saber o que eu sou.

Suspirei. Me senti tão insegura, o que Quíron havia dito me causou muito estranhamento, senti-me como se estivesse sendo pressionada contra algo. E se esse “controle perfeito dos meus poderes” fosse para o meu mal? Para a minha destruição?

Está bem, eu digo: eu fiquei com medo.

Quíron sorriu e pôs a mão em meu ombro.

– Criança, não se preocupe, é para isso que estou aqui. Se estiver com medo, enfrente-o! Encare-o frente a frente! As recompensas são maiores para aqueles que temem o que pode lhes acontecer, mas mesmo assim lutam até a morte. Conheço um bom exemplo, talvez você o siga quando o conhecer também.

Eu sorri. Suas palavras aliviaram meu coração. Ele conseguiu realmente me confortar.

– Claro...mas sem a parte do “até a morte”.

Brinquei.

– Está certo.

Riu ele.

– Obrigada Quíron.

Quíron apenas assentiu, mas podia ver um brilho de felicidade em seus olhos. Talvez, acho que ele não consiga convencer os outros campistas com suas palavras, ou acho que talvez ele seja muito sincero com relação aos seus destinos. Para mim, ele foi como Chad. Um amigo.

Andamos por mais alguns pontos, até chegarmos ao campo de morangos. O aroma das frutas era simplesmente delicioso. Ali, Quíron me deu as últimas boas vindas e se despediu, indo até os seus afazeres e me deixando respeitosamente sozinha à beira da floresta. À beira da floresta...olhei com pretensão para a densa vegetação. Não queria que minhas explorações acabassem por ali, muitas outras coisas interessantes deveriam haver dentro dela. Olhei para os lados, para ter certeza de que ninguém estava me olhando e sem pensar duas vezes, adentrei rapidamente na mata.

***

A natureza sempre me trouxe paz interior, era incrível como o ser humano poderia ser tão otário, tão inútil, a ponto de destruir lugares tão pacíficos como aquele. Às vezes, penso que os verdadeiros monstros não são as dracaenas ou os minotauros, somos nós. Nós, que destruímos a cada dia, nosso próprio lar e tudo o que nele vive. Pensando nisso e em como fiquei satisfeita por ter tido àquela conversa com o meu diretor de atividades, andei sem rumo até uma linda clareira. Inspirei e respirei fundo, sentindo o frescor das árvores e os poucos raios de sol que atingiam meu rosto com delicadeza.

De repente, senti como se tivesse levado uma martelada na cabeça. Uma forte vertigem apoderou-se de mim. Imagens confusas começaram a passar pela minha mente com tanta rapidez que eram quase que indistinguíveis. Vozes misteriosas juntaram-se a elas, ecoando cada vez mais alto em minha cabeça. Visualizei uma enorme safira repousando em mãos pálidas e delicadas, enquanto as vozes ficavam mais vívidas, até o ponto em que achei que meus tímpanos iriam explodir. Pontos arroxeados misturavam-se às imagens, como se eu estivesse levando múltiplos socos.

Alguém gritou em desespero...e enquanto perdia os sentidos, percebi que fora eu.

***

Lestrigões e gigantes apertavam-se em uma câmara de gelo, estalactites apontavam para suas cabeças ameaçadoramente. Uma elevação de cristal encontrava-se a frente de uma cratera escura e intimidadora. Eu assistia, em meio aquele tumulto, a chegada da convidada de nosso mestre. Uma bela mulher; penetrantes olhos cor púrpura, cabelos lisos e negros como a madrugada e pele pálida surgiu ao lado do comandante de todo aquele exército, o titã Crio. Espere ai...como eu sabia disso?

Eu não sabia como não conseguia controlar meu próprio corpo, e como aqueles gigantes não me atacavam. Queria correr, mas em vez disso, caminhei mais a frente para observar o plano que seria apresentado. Ué, como que eu sabia que um plano iria ser apresentado? Onde estou?

Eu não conseguia me lembrar de nada depois de meu grito agonizante. Aparentemente, eu estava inconsciente. Depois eu não tinha explicação do porque de estar ali.

Foi então que percebi.

Esse corpo não era meu. Eu estava vendo tudo através dos olhos de um lestrigão! (QUE NO-JO). Podia sentir tudo, mas não podia me mover ou falar. Era como se eu fosse um fantasma que compartilhava a forma daquele monstro, apesar de perceber que a verdade poderia ser mais complicada. Este "jovem" lestrigão, era o espírito e ao que parecia, tudo a minha volta também. Eu deveria estar dentro de seu subconsciente em algum acontecimento passado. Em uma memória.

– Atenção idiotas! Todos vocês!

A voz de Crio, sombria e fria, causou arrepios em minha espinha. Bem, eu teria sentido arrepios...se pudesse sentir minha espinha.

– Creio, que todos sabem o propósito para ter trazido vocês até aqui. Estão com a safira de Perséfone?

Um grupo de lestrigões passou abrindo caminho em meio à multidão. Um deles tinha um lenço dobrado na mão gigantesca. Este se curvou aos pés de Crio e ofereceu-lhe o embrulho e eu já sabia o que estava por vir, (ou a outra consciência sabia o que estava por vir...tanto faz). O titã levantou um pedaço do tecido, revelando uma safira que irradiava poder. A princípio, um poder que deveria ser usado para o bem, eu suspeitei. Em seguida, entregou-o a bela mulher, que já não era mais tão bela assim depois de eu ter percebido suas intenções.

Todos assistiam inquietos, enquanto ela pronunciava algumas palavras que eu nunca tinha ouvido, uma espécie de feitiço. Uma energia sombria rodeou a safira, deixando toda a câmara escura. Todos estavam assustados, para o lestrigão em que minha consciência se hospedara, era como se aquela foça sombria estivesse sugando-o. Eu observei o sorriso maléfico de Crio crescer cada vez mais, enquanto novamente, os meus sentidos se esvaíram e tudo escureceu.

***

Meus olhos se abriram ao poucos, eu finalmente acordara do que quer que tenham sido aquelas memórias. Minha visão estava turva, demorou um pouco até que ela se estabilizasse. Quando isso aconteceu vi-me rodeada por várias pessoas, que olhavam atentamente para mim. Dentre elas, estavam: uma menina de cabelos castanho-escuros levemente cacheados, que mantinha uma expressão dura no rosto bonito - tenho certeza, de que se não soubesse que era uma campista, eu poderia facilmente confundi-la com uma estudante de escola militar. Com ela, estava um garoto cujo aparentava ser mais velho apesar de sua estrutura física indicar apenas 16 anos de idade; seus cabelos eram encaracolados, cor de caramelo, seus olhos eram de um profundo azul e os traços de seu rosto eram finos e elegantes, como aqueles filhos de Duques e Duquesas da época vitoriana em que vemos na TV. No meio deles se encontrava...aquela garota na qual eu havia salvo da aranha gigante nesta manhã e um sátiro jovem, que parecia estar pensando nas piores coisas que poderiam ter acontecido comigo.

Quíron e o Sr. D observavam a confusão, um pouco mais afastados. Mas, uma figura em particular entre eles, me chamou a atenção: outro garoto que estava com o grupo, cujo parecia ser realmente um pouco mais velho. Não era um garoto qualquer, seu corpo parecia ser formado por milhões de raízes, cada uma de um tom de verde e marrom diferente. Usava um trapo costurado em volta da cintura que lembrava vagamente uma bermuda; seus olhos eram de um amarelo vivo e parecia que depois de olhar muito tempo para eles, você ficava literalmente hipnotizado. Seu cabelo, obviamente, tinha um tom de verde, mas era tão escuro quanto as folhas dos pinheiros, como se fosse formado por outros milhões de fios de folhas de louro... e seus dentes...seus dentes eram inteiramente brancos, tão brancos que brilhavam na luz do sol. Algo surreal! Sei disso, porque ao ver que eu havia acordado, ele começou a sorrir com entusiasmo, como uma criança que acabara de abrir seu tão desejado presente de natal.

– Que bom que acordou! Já estava começando a ficar preocupado!

Disse ele com um pequeno risinho. Algo que achei fofo e assustador ao mesmo tempo.

– O-onde eu estou? O que aconteceu?

– Eu também não sei dizer muito bem... Eu apenas a vi cambaleando de dor, quando você desmaiou e resolvi te trazer até eles, pedindo ajuda.

Respondeu ele, apontando para o grupo.

A garota loira pôs-se a frente deles e ajoelhou-se a minha frente, estendendo a mão.

– Você realmente nos assustou. Obrigada por ter salvado a minha vida hoje de manhã.

Fiz esforço para tentar me sentar e peguei sua mão, permitindo que ela me ajudasse a ficar em pé.

– Realmente, não foi nada...qual é o seu nome?

Perguntei-lhe constrangida.

– Milena. E estes são Mathew. Minha irmã, Maria Helena, nosso amigo Logan e este que nós acabamos de conhecer se chama Nolan.

Ela apontou para cada um deles, enquanto os apresentava.

Nolan deu um passo à frente e curvou-se dramaticamente.

– Espírito da natureza, ao seu dispor...

Soltei um pequeno risinho, divertindo-me.

– O que aconteceu com você, naquela clareira?

Perguntou o garoto conhecido como Mathew.

– E-eu não sei ao certo. Me lembro de sentir uma forte dor de cabeça, quando- Argh...

Cambaleei para frente, enfraquecida. Milena e sua irmã, me impediram de cair.

– Você, realmente não está bem, precisa descansar.

Disse Maria Helena, passando meu braço por cima de seu pescoço e segurando-me pela cintura. Nolan fez o mesmo, sem nem perguntar ao menos se ela queria que ele a ajudasse, mas ela não pareceu se incomodar. Juntos, eles me levaram até o meu chalé, onde um grupo de garotos abriu caminho para nós passarmos, Quíron nos acompanhava logo atrás.

Ao finalmente deitar a cabeça no travesseiro, uma das imagens que eu havia visto, de repente me veio à mente. A imagem da safira nas mãos da bruxa.

– Quíron! – sentei-me na cama, exaltada – Tenho algo para lhe falar!

Ele virou-se pacientemente.

– Agora não, minha jovem. Você precisa dormir um pouco. Nos falamos mais tarde.

Antes que eu pudesse sequer protestar, ele fechou a porta. Bufei e me joguei de volta no colchão, irritada e exausta.

– Quem sabe se eu dormir um pouco, posso pegar mais informações sobre aquelas visões.

Sussurrei a mim mesma.

Realmente, eu precisava mesmo dormir. Aquela estranha "viagem mental" havia esgotado todas as minhas forças. Não demorou muito para que meus olhos finalmente se fechassem.


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Notas finais do capítulo

Música tema: https://youtu.be/80y9h-MwXlk



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