A Lenda dos Semi-Titãs escrita por TheGodessofElves


Capítulo 3
A sombra e sua aura: Milena POV




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Aproximei-me da fogueira e nela joguei minhas oferendas aos deuses; duas fatias de torrada e um ovo frito. A manhã estava fria, um vento gelado soprava nos rostos dos campistas. Eu e minha irmã sempre gostamos muito de dias frios, tenho a sensação de que em dias assim, meus nervos relaxam e consigo pensar com mais clareza.

Pensar com clareza...quem em plena morte do pai, consegue pensar com clareza?

Ao meu lado, alguém bufou. Parecia irritado, por ter que jogar sua melhor fatia de bacon no fogo. Olhei ao meu redor, vendo que em todos os pratos dos outros campistas, havia algum tipo de carne. Será que eu sou a única vegetariana neste acampamento?

– Milena?

Chamou-me uma voz masculina. Virei-me para trás e me deparei com Mathew Smith. Mathew e eu havíamos nos tornado grandes amigos, desde que passara a me recuperar do choque e da depressão profunda.

– Algum problema?

Perguntei-lhe.

– Bem. Você parece...distante. Está tudo bem?

Suspirei profundamente e o meu olhar se voltou involuntariamente na direção de minha irmã, sentada à mesa de Hécate; seu prato estava intacto, ela ainda nem ao menos fizera sua oferenda à mãe. Seus cabelos longos e levemente cacheados estavam visivelmente embaraçados e embaixo de suas pálpebras inferiores, enormes olheiras roxas se destacavam em seu rosto cansado. Desde que chegamos ao acampamento, ela tem sonhado com tudo o que aconteceu. Aquele dia...aquele momento...foi como se parte de mim tivesse desaparecido para sempre. Mas sei que para Maria foi muito pior, pois ela o viu morrer bem diante dos seus olhos, e como se não bastasse, ela culpa a si mesma por isso. Tenho medo de que ela mude sua personalidade por conta desta tristeza. Não posso julga lá, ele era tão importante para ela, quanto para mim, ele não teve medo de assumi-la como filha e a tratava com o mesmo amor que tinha para comigo.

Sinto tanta falta dele.

– São os pesadelos de sua irmã, não são?

– Mais do que isto, eu diria...

Mathew arqueou uma sobrancelha. Seus olhos azuis tinham um brilho curioso.

– Eu sei que esse assunto pode ser um pouco delicado, mas...Maria não é sua irmã de sangue, é?

Não consegui esconder o meu susto, tinha medo de que as pessoas entendessem esse fato de forma errada. Eu não queria que as pessoas vissem meu pai como um adúltero, ou como um vagabundo pervertido. A verdade é que ele queria ter pedido minha mãe em casamento, antes de ele saber quem ela realmente era.

– Por favor, Math. Não conte isto a ninguém... Poucas pessoas sabem disso.

Ele pareceu satisfeito com a resposta. Me preparei para defender a honra e a dignidade de meu pai, mas o garoto não demonstrou nenhum tipo de indignação ou desgosto quanto a ele.

– Claro, sabe que eu não faria isso. Só quero que você me conte o que aconteceu.

Eu hesitei por um instante, teria dito não. Mas antes que eu pudesse fazê-lo, Quíron bateu o casco no chão. No meio da algazarra, não notei uma menina que estava sentada ao seu lado na mesa em um banco de mármore. Ela parecia nervosa. Sua pele era morena e os cabelos curtos, que à primeira vista pareciam ser negros. Quatro mechas azuis – incluindo uma, que se podia ver em uma pequena e única trança. – decoravam-no de uma forma que Thalia gostaria. Vestia um colete de couro sintético preto, camisa branca, calças jeans surradas e um par de Sneakers azuis escuros.

– Heróis! Quero apresentar-lhes nossa mais nova campista. – ele voltou-se para a menina, logo em seguida. – Pode levantar-se, minha jovem.

A garota levantou-se timidamente, encarando as mesas com olhos redondos e escuros. Em seguida, Quíron continuou:

– Está é Jaci Joe, vinda do Japão. Espero que a recebam bem entre vocês.

Meu olhar se encontrou com o de minha irmã. Acho que ambas pensamos a mesma coisa. De qual dos deuses ela era filha?

Então percebi algo estranho, uma presença anormal. Olhei de soslaio para um conjunto de arbustos na base esquerda do pavilhão e distingui uma sombra estranha. Lembrei-me do que os irmãos Stoll me contaram. Depois do ataque do exército de monstros de Luke Castellan ao acampamento, as defesas mágicas ao redor nunca mais foram as mesmas.

Atenta, a qualquer movimento brusco da figura. Tirei lentamente a adaga da bainha em minha cintura e esperei.

De repente, uma enorme aranha gigante irrompeu do lado direito da colina. Todos levantarem-se com um salto, afastando-se rapidamente do alcance dela. Ela ficou imóvel por um momento, estudando as expressões assustadas de cada um. Para meu desespero, ao me focalizar, a aranha sentiu-se ameaçada pela adaga que eu trazia em minha mão esquerda e grunhiu horrivelmente como se dissesse: “eu vou acabar com você”.

Ela se impulsionou e saltou na minha direção com as mandíbulas abertas. É claro, eu não iria me deixar ser morta por uma simples aranha e certamente já tinha calculado um movimento de ataque que a mataria. Então a aranha, por um motivo misterioso, caiu no chão, dura como pedra. Sua boca peluda espumava e ela tremia como se fossem espasmos. Se não fosse impossível, eu diria que ela estava tendo um ataque de convulsão. Olhei para trás em direção dos arbustos, para checar se a figura estranha ainda permanecia lá, mas para minha surpresa, ela se fora. A aranha deu seu último grito de agonia, era como se alguém estivesse espremendo seu cérebro. Observei mais atentamente as pessoas ao meu redor, para procurar por quem estaria fazendo aquilo e percebi que Jaci Joe, durante toda a “convulsão” da aranha, mantivera seus olhos fortemente fechados e o cenho cerrado.

Todos testemunharam quando a saliva do aracnídeo finalmente cessou e quando os espasmos acabaram anunciando que a vida deixara seu corpo. Nem Quíron, nem nenhum dos campistas conseguiam se mover, seus olhos estavam arregalados, devido ao susto e a terrível cena de morte lenta do monstro. Poucos segundos depois, um brilho vermelho se fez por cima da cabeça de Jaci Joe, revelando uma única papoula: símbolo de Morfeu.

Todos sorriram ao ver aquilo. Ela, pelo contrário, pareceu assustada.

– O-que houve? P-por que estão olhando para mim d-desta m-maneira?

Gaguejou.

Quíron se aproximou dela e curvou-se rapidamente.

– Filha de Morfeu...agora está determinado.

O sorriso da menina foi de orelha a orelha, ela devia estar realmente feliz, por finalmente poder saber quem era seu progenitor. Tudo o que eu não consegui entender, foi o fato de ela já saber da existência de seus poderes. Como ela já poderia controla-los, se nem sabia de suas origens?

***

A hora do café da manhã havia acabado e todos nós descemos o pavilhão para começar nossas atividades diárias. Todos, menos Jaci Joe, cuja acompanhou Quíron, na direção de seu novo chalé. Maria e eu caminhávamos juntas em direção ao lago de canoagem, onde esperaríamos por dois amigos nossos: Mathew e Logan, o sátiro. Não fora ele quem nos trouxera para o acampamento, nós nos afastamos do mesmo que nos guiara, por conta da tragédia. Sabemos que ele não teve culpa de nada, mas decidimos nos distanciar de tudo que nos lembrasse àquele dia. Logan do contrário, nos deu muito apoio e muito ânimo nos terríveis primeiros dias, quando o desespero de realmente percebermos que nunca mais veríamos nosso pai nos atingiu. Ele tem uma natureza estranha, engraçada, mas estranha, posso dizer que ele é do tipo “estabanado”.

– Que manhã mais agitada...

Brinquei.

Maria não prestou atenção, continuou a andar, pensativa, com os olhos voltados para o chão.

– Minha irmã, por favor, esqueça esse sonho. Eu sei que-

– Não estou pensando no sonho.

Declarou ela, ainda olhando para baixo com o cenho fechado.

– Então... o que é?

Ela abriu a boca para dizer alguma coisa e antes que pudesse começar, olhou para trás, para ter certeza de que ninguém nos observava. De repente me puxou pela manga da camisa, aproximando meu ouvido de sua boca.

– Você viu aquela coisa, não viu?

Sussurrou.

– Ah, a papoula? É claro que sim-

– Não estou falando disso! Estou falando da sombra estranha atrás do arbusto, do outro lado de onde a aranha apareceu!

Minha expressão tornou-se séria. Afastei o ouvido e a encarei, cruzando os braços.

– Eu sabia que você iria vê-la...o que acha que é?

– Eu só tenho certeza de três coisas, era uma pessoa humana, era mulher e não estava ali com más intenções.

– Como sabe?

– A energia dela. É a mesma de quando você ou Mathew estão com medo. E a aura. A aura era rosa, isso quer dizer- AI!

Maria foi interrompida por um forte tapa dado em suas costas. Furiosa, ela assoprou a franja castanho-escura do rosto e virou-se para trás.

– Ih! Foi mal! Não sabia que poderia ser tão forte!

Explicou-se o jovem sátiro de cabelos negros esvoaçados. Ela o fuzilou com seus olhos negros e uma esfera de energia arroxeada começou a crescer na palma de sua mão.

– Logan, me diga. O que você pretendia com isso?

Perguntou-lhe em tom ameaçador. Levantando a mão enfeitiçada em sua direção, pronta para lhe jogar, o que quer que fosse aquilo. Assustado, Logan colocou os braços à sua frente, com a intenção de se proteger.

– Eu só queria, te assustar...me descul-

Maria estava para lançar a esfera, quando Mathew se pôs entre eles.

– Opa! Opa! Já tivemos muitas queimaduras esse mês, vamos dar umas férias para o curandeiro aqui, por favor!

Com um sorriso sarcástico, Maria desfez a esfera em sua mão; a energia extinguiu-se aos poucos em espirais, até desaparecer com uma pequena claridade.

– Lá vem o filho de Apolo. Como está Math?

Disse ela, cumprimentando-o com o punho.

– Cansado e um pouco impressionado pelo que vi hoje.

– N-não entendo. Que motivo a aranha teria para sair da floresta?

Indagou Logan, saindo de trás de seu amigo.

Minha cabeça pareceu dar um rápido “click” e então eu liguei os fatos. A aranha não queria nos ferir de início. Ela devia estar atrás da figura escondida nos arbustos. Mas o que atrairia uma atenção tão doce quanto a fúria daquela linda aranha? (sim, estou sendo irônica).

– Milena, o que foi?

A voz de Maria tirou-me de meus pensamentos. Voltei-me para o grupo e vi que todos me encaravam atentamente.

– Depois eu explico. Venham, vamos remar algumas canoas.

Todos se entreolharam, confusos, antes de me seguirem em direção ao lago.


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Notas finais do capítulo

Música tema: https://youtu.be/gdb9RDZp7Go



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