Minha História no Mundo Olimpiano escrita por Vencedora de Lesmas


Capítulo 19
Enrolação


Notas iniciais do capítulo

Após tanto tempo sem postar, aí vai.



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  O velho se recostou na cadeira, rindo maldosamente. Senti meu velho sangue raivoso começar a ferver, misturado com ódio e angústia. A cada segundo, minha situação piorava. Eu não sentia o joelho esquerdo, minhas costas queimavam, minha cabeça latejava e minhas roupas pareciam que iriam cair a qualquer momento, de tão rasgadas e sujas de sangue e lama que estavam. Fui responder, e tentar explicar o objetivo de estarmos ali para os garotos, mas mais sangue brotou de meus lábios, descendo pelo meu queixo e respingando o chão, tocando a terra.

  - Então – começou o velhote – acho que terei que me apresentar e dar as explicações á vós, já que essa incompetente não serves para nada, como talvez servisse outrora.

  Limpei o sangue do canto da boca com as costas da mão. Trinquei o queixo, um rosnado baixo brotando de minha garganta.

  - Eu sou Cornelius Maximus César Augusto III – disse o velho – E sou o avó desta abominável criança.

  - E eu sou neta deste abominável homem – cuspi as palavras.

  Recebi um rápido olhar de ódio mortal, mas logo meu avó continuou.

  - Estão aqui, nobres semideuses, porque necessito-lhes ajuda. Uma busca, para ser exato.

  Só podia ser brincadeira!

  - Que tipo de busca? – intervi.

  - Uma busca que não lhe interessa nada.

  - Oi?

  - Sim, você ouviu.

  Comecei a oscilar de um lado à outros, ameaçando desabar.

  - Qual... o... seu... problema? – disse lentamente, franzindo a testa e cerrando os punhos.

  Seus olhos cintilaram.

  - Impulsiva como sempre. – ele me sorriu.

  - Irritante como sempre – lhe devolvi o sorriso maldoso.

  - Claro, claro... – ele gesticulou a mão e levantando-se da cadeira – Mas o que eu quero, sim, você sabe...

  - Sim, eu sei. – assenti, embora achasse que minha cabeça não voltaria ao lugar.

  - ALGUÉM PODE, POR FAVOR, ME DIZER O QUE É ISSO? – explodiu Percy. Ô moleque estressado.

  - A Espada de Aahbran – suspirei. Quando disse seu nome, ouvi um estalido longo e distante. E, de repente, uma luz se acendeu.

  - A Espada de Garras e Feroz do Grande e Forte Aahbran – corrigiu-me o velho.

  - Puuuf – resmunguei.

  Minha mente começou a fervilhar enquanto eu pensava nisso. Espada foda.... Aahbran.... será que...? Não... não... será?

  - ... e com isso, a espada foi considerada o maior artefato levado por anos pelas mãos de um mortal. – Só então eu percebi que meu vô estava contando a história da espada pros outros. Eu deveria ter aprestado atenção. Mentira, eu nunca presto atenção em nada do que aquele velho fala.

  - Então... você quer que a gente encontre essa espada para você? – indagou Nico, que parecia estar interessado.

  - Exato – Assentiu o velho cravando os dedos nos braços da poltrona e sentando-se novamente.

  - Para que você quer isso? – indaguei.

  Ele deu de ombros.

  - Não é da sua conta – então virou-se para os garotos – O que me dizem?

  - O que ganhamos em troca? E por que você quer essa espada? – interveio Annabeth. Pelo menos na cria de Atena ele não iria passar a perna.

  - Bem, minha menina, o que acharia da glória eterna? – Muito Harry Potter. Muito O Cálice de Fogo, hum.

  - Não precisamos disso – apressou-se Percy. Annie parecia considerar, o que resultou nessa reação do namorado.

  - É mesmo, Percy? – os olhos de meu vô se tornaram azuis, literalmente.

  - Eu.... – os olhos de Percy se tornaram opacos, e o filho de Poseidon ficou com a boca aberta sem terminar a frase - Onde está a espada?

  O velho cínico sorriu.

  - Estão no caminho certo. Apenas sigam o sol.

  - O sol? – entrei no meio da conversa – E o que Apolo tem haver com isso?

  - Ora, minha detestável neta, ele apenas está atrás da espada, também. – ele dizia isso como se fosse a coisa mais óbvia do mundo – Claro, eles estão tramando mais um jogo de poder, esses deuses...

  - Um jogo de poder? – perguntou Nico – Já?!

  - Claro. Um jogo de poder sempre é disputado pelos deuses, principalmente agora que Hades possui um trono no Olimpo. Agora é crucial que os deuses deixem claro suas forças para serem reconhecidos pelos outros.

  Era como se alguém tivesse fincado uma faca no estomago e torcido fundo.

  - E então, vós irão se inclinar à minha busca? – as sobrancelhas grisalhas se uniram à cima dos olhos azuis que si difundiam e se untavam em um vermelho acastanhado.

  - Sim – disse Percy, virando-se para os outros com a intenção de pedir, ou melhor, mandar que aceitassem também.

  - Sim – murmurou Nico.

  - Sim – respondeu firmemente Annie.

  - Sim – concordou Tyson, tomando a coragem grupal para si.

  - Então, que assim seja. Sigam com o poder de meu coração, semi-divindades. Tenham a bênção de Remo e a força de Rômulo.

  Uma fina neblina esverdeada saiu do fogo crepitante, serpenteando pelo chão. Minha nuca arrepiou-se. A fumaça enrolou-se nos tornozelos dos meio-sangues, subindo-lhes pelas pernas e escorregando até alcançarem o pescoço. Annabeth segurou um grito, Percy prendeu a respiração, Tyson fechou o olho e Nico permaneceu completamente calmo. Sem nenhum temor, sem nenhuma reação. Minhas mãos fecharam-se em punho e começaram a tremer.

  Não passaram-se 10 segundos e eu estava sozinha com o velho. Minha garganta contraiu-se e minha nuca arrepiou-se.

  - Tudo está acontecendo muito rápido esses dias – comentei. Meio que uma piada interna, pois não pude conter um risinho.

  Pervertida, grunhiu Odisseu, entrando na caverna e encolhendo suas asas. Ele deitou-se ao meu lado, a cabeça atenta por cima das garras dobradas.

  - Começou – disse meu vô, seus dentes se expondo, ignorando minhas palavras com o grifo.

  - O quê? – franzi o cenho – O Apocalipse?

  Seu sorriso desdenhoso desapareceu.

  - Que tal parar com as gracinhas e prestar atenção no assunto sério?

  Ergui as mãos em sinal de desistência.

  - Desculpe, desculpe... poderia me dizer o quê Hades começou?

  - Hades, não, Zeus.

  - Perdão?

  Ele respirou fundo, revirando os olhos.

  - Conhece a história de Aahbran, não?

  - Não – lhe sorri maldosamente – A propósito, não vai me convidar para sentar? Beber algo? Sempre pensei que os romanos fossem hospitaleiros...

  - Quieta! – ordenou ele, agitando sua mão direita no ar.

  Instantaneamente senti um contorno formar-se em tornou de minhas pernas. Joguei meu corpo para trás, embora isso não necessitasse muito esforço, e caí na poltrona de couro negro como breu.

  - Para beber, dar-lhe-ei nada.

  - Também te amo.

  Ele bufou, juntando as mãos e encostando as costas no encosto de sua poltrona.

  - Continuando ei de faze-lo – Sua respiração tornou-se suave – Aahbran era um filho de Zeus, e um dos bastardos inglórios.

  - Ei – interrompi – Isso não é um filme sobre o nazismo com o Brad Pitt?

  O homem bufou. Novamente. Nada melhor para sua auto-estima do que ver que alguém demonstra de modo óbvio que você é uma decepção, não?

  - Bastardos Inglórios – ele continuou – São filhos de Júpiter...-

  - Zeus – interrompi mais uma vez.

  - Júpiter.

  - Zeus.

  - Por que insiste em usar o nome grego?

  - Por que insiste em usar o nome romano, velho?

  - Por que insiste em recusar sua descendência romana?

  - Filhos de Zeus, continuando... ?

  Ele limpou a garganta antes de continuar.

  - São filhos que não foram reconhecidos por Júpiter.

  - Zeus.

  - Senti-te a vontade de parar?!

  Eu ri.

  - Nem um pouco. Mas, você disse que são filhos não reconhecidos, certo? Isso é normal. Então por que eles são considerados bastardos?

  - Se você usasse a cabeça, já saberia.

  - Grata – resmunguei.

  - Eles são bastardos porque Júpiter se recusou a reconhecê-los. Ele sabia que eram seus filhos. Todos sabiam. Mas o Senhor Dos Deuses se recusou.

  - Se recusou?!

  - Sim, não está prestando a devida atenção?!

  Revirei os olhos.

  - Como eu estava a dizer, ele se recusou, pois seus filhos eram arrogantes e desrespeitosos.

  - Novidade. Arrogantes são os semideuses de Zeus, e os desrespeitosos são os deuses mesmo.

  Um trovão retumbou lá fora.

  - Alguns – repeti, enfatizando a palavra – Não todos. E o senhor Zeus tem razão em não aceitá-los, pois a combinação desses dois pecados pode ser desastroso. Senhor Zeus sempre faz o certo.

  Mestre no puxa-saquismo, muito prazer.

  Não dava para ver o dia lá fora – ou estado de espírito de vô Zeus – mas tenho certeza que já estava melhor.

  - Você é uma mau-caráter de marca maior – a boca do velho se entortava enquanto falava, em sinal de nojo e vergonha.

  Dei de ombros.

  - COMO EU IA DIZENDO – ele tomou a palavra novamente, deixando claro que ele não queria ser interrompido novamente. O que eu iria fazer com mais freqüência agora, claro – Ze... Júpiter se recusou. E isso causou a revolta de seus filhos. Ao todo, eram cinco.

  “Para se virarem contra o pai, eles se uniram com águias. Uniram seus corpos e almas, adquirindo suas habilidades e...

  - Um momento – pedi – Você está dizendo que eles fizeram... zoofilia?!

  - VÁ PARA O HADES!!!! – as bochechas dele ficaram vermelhas. Engraçado como ele não se sente a vontade nesse tipo de assunto. Melhor eu continuar com isso.

  - Não quer dizer Plutão? – zombei.

  Sabe quando você está na presença de uma pessoa com um nível de irritação avançado que chega até a preencher o ar com seu ódio? Então.

  - Posso terminar?

  - Por favor, só estou esperando isso para dar o fora.

  Odisseu ergueu a cabeça. Ele parecia interessado. Levei minha mão até sua nuca e afaguei suas penas.

  - Bem – ele tossiu – NÃO ERA ZOOFILIA. Eles uniram suas almas no Styx. Ninguém sabe como, antes que você pergunte. Mas um fato curioso, é que um deles, era parente de Remo e Rômulo, Aahbran. Um jovem grego. Ninguém sabe como, também. Mas há indícios de que sua mãe tenha fugido para a Grécia após descobrir que estava grávida de Z... Júpiter! Mas o caso é, Aahbran é o mais novo dos cinco, e os mais poderoso. Os outros não tem importância. Aahbran é importante porque ele faz parte de nosso clã e..-

  - Seu clã, e pare de enrolar. Acabe logo com isso – rosnei.

  - Ele consegue se transformar em águia por inteiro. Mas isso era pouco para derrotar o Senhor do Olimpo. Então ele conseguiu adquirir a forma de outros seres. Igual a nós.

  - Você – corrigi.

  - Você também – retrucou ele, firmemente. – Ou já esqueceu? Faz tão pouco tempo.

  Estremeci.

  - Sim, virei um lobo. O que de mais tem nisso?

  - E quando você criou chifres? Você já se tornou um touro, recorda-te?

  - Não.

  - Pois você era pequena. Mas já se transformou em um touro. Como aqueles que carregam o sangue dos faraós, aqueles que um dia já possuíram um deus egípcio dentro de si.

  - Ah, por favor! – comecei a rir – Quer me dizer que deuses egípcios existem?! HÁ HÁ!!! Sinceramente, acho que tem alguma erva no seu fumo.

  - Está bem. Ria. Agora já sabe quem ele é.

  - Oi? – parei de rir e franzi a testa – Como assim? Já terminou?

  - Não. Mas você não me dá escolha. Ah, e o que começou é a revolta de Aahbran. Ele voltou do submundo. E tudo indica que ele quer sua ajuda.

  - Posso saber por que?

  - O que é mais raro que uma caçadora grávida?

  - Uma filha do deus ferreiro – minha espinha tornou-se gelada – Mas por que? Como ele? E a espada dele?

  - Ache-a antes dele. Não converse com estranhos (lê-se: deixe de ser criança) e o mais importante: não escolha um lado. Às vezes, os deuses só se preocupam consigo mesmos, e eles irão usá-la. Só preste serviço para o que irá favorecer você.

  Senti meu sangue ferver.

  - Não. Irei ajudar minha família. Meu pai e meus meio-irmãos. Eles são tudo o que tenho. Agora, se não se importa, gostaria que me mandasse para o local dessa maldita espada.

  - Por que não me dá ouvidos?

  Um zumbido raivoso começou a tomar conta de minha audição.

  - Me manda para lá!

  - Não. Não te mandarei para lá, mas para alguém que talvez faça sua mente funcionar. Alguém que talvez você escute.

  - Poupe o tempo de Atena. – rosnei, levantando-me – Mande-me para lá!!!

  Odisseu também se levantou, abrindo o bico com a língua serpenteando para fora, farejando o ar que tornava-se estranhamente frio.

  - Atena? Não, não – ele parecia calmo. Seus olhos tornaram-se amarelos, como os de um sapo – Nada de gregos.

  - Então poupe o tempo de Minerva, então!!!

  - Não, não... – ele parecia que iria rir – Nada de Grécia, nem Roma! Hora do Egito! – ele agitou suas mãos no ar, rindo feito um tolo.

  - Mas o que.... ?-

  Antes que eu pudesse dizer outra coisa, esmurrar o velho ou até mesmo morder a perna dele (não sei porque estava com essa vontade),  a mesma fumaça que havia levado os semideuses começou a se enroscar ao meu redor e ao de Odisseu.

  Eu agitava os punhos furiosamente, ele bicava a névoa raivosamente, mas nada adiantava. A fumaça me cercou. Totalmente.

  Senti-me sufocada. O ar faltava-me nos pulmões e minha visão ficou turva. Não demorou muito para eu deixar de sentir o chão sob meus pés.  Tudo rodou. Já senti coisas parecidas, mas dessa vez era pior. Como se já não bastasse meu estado atual, né.

  As voltas se tornaram violentas a ponto de eu perder a consciência. A última coisa que me lembro era de Odisseu ter bicado fortemente meu braço para não nos separarmos. Entendo seu ato, mas aquilo doeu e me custou sangue.

***

Quando acordei, se é que pode dizer que eu estava dormindo, pois minha mente só havia se distanciado um pouco da sanidade, foi por causa de uma pancada forte em minhas costas.

  - Ai – gemi.

  Com certeza irei ficar paraplégica antes da droga dessa missão acabar. Tentei me mexer, mas uma dor horrível em meu braço esquerdo apoderou-se de mim. Fiquei feliz por ver Odisseu ao meu lado, ainda me segurando, mas a dor era insuportável.

  A consciência começou a se esvair de mim novamente, mas não antes do GPS de Hermes apitar em meu bolso.

  - Memphis – informou a voz do sensual deus dos viajantes.

  - Memphis... ? Ah..... merda....!

  Meu corpo não estava agüentando, nem minha mente. Meus olhos pesaram e estavam se fechando em tornou de uma quadra de basquete que havia aparecido diante de mim. Ok, isso poderia ser normal. Mas só se não tivessem os babuínos jogando basquete como estavam ali. Um deles, com pelo dourado, aproximou-se de nós.

  Odisseu, felizmente, soltou meu braço e grasnou para o macaco. Ele grasnou um “Agh!” de volta. Não me lembro de mais nada, apenas escuridão e dos barulhos de meu grifo conversando com o maior babuíno que eu já vira.


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Notas finais do capítulo

E como o próprio título já disse, isso foi uma baita enrolação.